Capítulo 40 - Exauridos

Sinceramente não soube como sobreviveu a aqueles dias, mas tinha conseguido chegar vivo até a quinta-feira.

Seus pensamentos já estavam tão embaralhados que nem as vozes que gritavam ele conseguia distinguir mais o que diziam. Não dormia há dias e isso o estava deixando exausto.

Estava agradecido pelo tempo frio e por poder cobrir seus braços, não havia cedido aos impulsos de tirar a própria vida, mas infelizmente isso ainda não o impediu de se machucar, a agonia que sentia era tanta que começou a arranhar seus braços, quando percebeu, já havia feito em sua pele grandes sulcos avermelhados e inchados de sangue.

Não contou, nem mostrou isso a Helena, continuou fingindo que estava tudo bem, por que a cada dia que passava, a cada dia que ele a via, ela estava mais feliz com a presença de David, dizendo que estava quase o sentindo, quase sentindo seu toque, seu calor...

E por mais que isso doesse, a felicidade de Helena o fazia aguentar e por ele aguentar e não demonstrar, ele podia manter a falsa ilusão de que era mais forte do que ela imaginava, dar a ela essa falsa tranquilidade de que estava tudo bem e que continuaria assim.

Ele pensava nisso enquanto limpava os machucados, gemendo quando jogou a água oxigenada e tudo começou a arder, quando terminou passou uma pomada e enfaixou os dois braços, olhou para si mesmo rindo da situação.

"Tô parecendo o Rock Lee."

Incrível como era tão nerd que até em uma situação dessas conseguia fazer piadas consigo mesmo, mas pensando bem, talvez isso que o manteve são até agora.

***

Depois de ter passados uns três dias e Dan ainda estar vivo e bem, Helena podia enfim relaxar um pouco, tinha passado os últimos dias totalmente focada em estudar o ritual e se preocupar com Dan.

Mas a realidade era que ela estava se forçando a focar somente nisso e não na presença cada vez mais tangível de David.

A cada dia que passava ele parecia mais real, ainda tinha todas as habilidades de fantasma, por assim dizer, mas estava cada vez mais sólido e menos translúcido, cada vez mais Helena conseguia sentir a sua presença em torno de si e cada vez mais isso fazia seu coração disparar.

"Cinco centavos pelos seus pensamentos."

David sussurrou em seu ouvido, Helena sobressaltou-se, ele estava deitado em sua cama, mas levantou e ficou em pé ao seu lado, Helena estava sentada na cadeira em sua mesa, de frente para o notebook e estava viajando em seus pensamentos faziam alguns minutos.

"Hum... nada demais realmente, só pensando."

David balançou a cabeça como que dizendo "ok".

"Na verdade, eu só estava..."

Seu celular começou a tocar, era Dan, ele ficou de ir na casa dela para eles repassarem seus planos para o ritual, Helena levantou para ir até a porta, David a seguiu sentando no sofá e pegando o controle da TV, ele disse que se ele se concentra-se já conseguia tocar nas coisas, por mais que ainda não estivesse sentindo tudo.

"Lena! Estou aqui."

Dan gritava da porta.

"Já tô indo."

Quando abriu a porta, o rosto de Dan pareceu se iluminar, mas assim que entrou e viu David sentado de pernas cruzadas no sofá, pareceu fechar a cara um pouco.

Dan sentou no outro sofá e ficou encarando David que vasculhava os filmes entre os vários Streamings.

"Ah como eu queria ter tido isso na minha época, seria muito mais prático sem dúvida."

Enquanto isso, Helena pegava suas anotações e colocava na mesa de centro para Dan ver. David passava agora pela lista de filmes assistidos e exclamou.

"Os Espíritos! Amo esse filme, não importa o que digam, foi um dos melhores que vi no cinema."

E sorriu satisfeito. Dan parou de repente e o encarou.

"No cinema? Esse filme lançou nos anos 90."

"Ah sim claro, mas eu vi no cinema com meus amigos quando teve uma maratona de filmes de terror dos anos 90, já que é meu gênero favorito, não podia perder."

Dan acenou como se dissesse que era uma informação inútil que ele já estava excluindo do armazenamento do seu cérebro. Suspirou observando os papéis.

"Você falou que eu iria conseguir atrair ele se eu fingisse que ia me matar, não é? Já que ele gosta de assistir."

David acenou, ainda olhando para a TV e lendo os títulos dos filmes enquanto passava rapidamente pelas listas.

"E você vai atrair os outros caras do submundo..."

"Guardas."

"Que seja. Pois eles vão estar te caçando?"

"Hum hum, sim."

"Os tais guardar tudo bem, eles ainda não sabem da gente, mas o assassino, ele não pode simplesmente já saber desse plano, já que ele deve estar tipo me seguindo por aí? Ele já não pode simplesmente evitar o ritual."

David parou, agora sério ele olhava para Dan.

"Sim, você tá certo, na verdade ele já deve até saber de tudo, mas a questão não é esconder e executar esse plano sem ele saber, a questão é que em vida ele era sedento por causar morte, isso se tornou o seu vício, não há nada mais doce para ele do que matar, sendo assim em morte essa necessidade só se intensificou, não importa se ele saiba ou não, o que importa é que ele é um viciado irracional que não vê as consequências de seus atos, desde que consiga um pouco da droga que almeja, nada mais importa para ele."

Dan encarava, ainda insatisfeito.

"Você parece saber muito sobre como ele se sente."

O olhar de David ficou sombrio.

"Infelizmente, tive a oportunidade de conhece-lo de perto."

Os dois se encaravam de forma hostil, a expressão de Dan também tinha mudado drasticamente, Helena sentia o ar pesado entre os dois, David piscou deixando de encarar Dan assim que as luzes falharam por um momento e voltaram.

Dan ainda o encarava com uma expressão desconfiada, talvez o humor de Dan não estivesse tão bom quanto ela imaginou, Helena suspirou cansada, só queria que tudo aquilo acabasse para ter sua vida de volta como era, nunca pensou que almejaria a tranquilidade de uma vida comum, mas agora, ela sentia saudades de como era antes.

Bem, não queria exatamente tudo como era antes, tinha de admitir para si mesma que o que realmente almejava, era a vida de antes, mas agora com a presença de David, ela o queria em sua vida, como nunca quis alguém antes. 

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