Dan parecia incrivelmente mais otimista quando Helena fez a chamada de vídeo, já devia ter mandado umas quinhentas mensagens, a cada meia hora perguntava como ele estava, e ele somente respondia que sim, no começo ficou com medo de chateá-lo com isso, mas quando já era quase meia noite e resolveu ligar, ele parecia muito melhor.

"Passei a noite estudando esse ritual, por incrível que pareça, David disse que um que eu encontrei na internet era o certo, pelo que parece, de vez em quando alguém se esbarra em uma informação verdadeira."

"Certo, manda pra mim o link."

Dan estava deitado na cama, estava sem camisa, Helena conseguia ver os ombros nus, quando atendeu pareceu aborrecido, mas depois de Helena começar a chamada com "Hey Dan, Dan" e fazer uma cara fofa, ele não conseguiu deixar de sorrir.

"Sério, tô tendo que quase morrer pra ver um dia a dona Helena ser fofa."

E lançou um olhar zombeteiro.

"Palhaço, dona Helena é a velhinha da esquina, aff nunca mais me chame assim, me senti uma senhora de 70 anos agora."

Dan riu.

"Tá bom, foi maus aí."

E parecendo se levantar, pois sumiu da tela por um momento, revelando o quarto escuro, Dan foi até a mesa onde ficava seu computador.

"Ok, vamos ver esse ritual, bem, parece aqueles lances básicos de fazer o circulo e prender o espírito."

"Na verdade, banir, a gente quer mandar ele de volta para o inferno."

"Eu quem diga."

Sua expressão pareceu morrer novamente, mas só por um momento, logo se recuperou. Helena disse em um tom mais ameno.

"Você está bem?"

Dan pareceu tentar olhar algo atrás de Helena.

"Ele tá por aí?"

"Não, ele já foi, já consumiu a energia de hoje."

Ele somente acenou.

"Os sussurros... ainda continuam muito ruins."

Dan pareceu ponderar. Sorriu fracamente.

"Sim, mas nada que eu não possa lidar..."

Ficaram em silêncio, pelo que pareceu horas. Helena estudava os desenhos e a mandou as anotações das correções que David disse que teriam de fazer.

"Helena..."

Olhou para tela resmungando.

"Hum"

"Eu..."

"O que Dan?

"Só que, se acontecer o pior..."

Ela arregalou os olhos.

"Nem vem, não vai acontecer nada, nem começa com lance de despedida."

"Não é isso... é sobre..."

Ele pareceu voltar a si, sacudiu a cabeça e disse.

"Deixa pra lá, enfim, pelo que tô vendo, a gente tem que selar a sala com essas marcas, runas, sei lá o que seja, e tem algo sobre sal?"

"Não, por quê?"

"Sei lá, sempre tem sal envolvido."

"Bem, não dessa vez?"

Exclamou decidido.

"De qualquer forma, vou comprar sal, proteção nunca é demais, não é? E além disso, se vou fazer um exorcismo com um espírito que tá tentando me matar, que eu tenha o meu momento do círculo de sal, nada mais justo."

"Você quem manda."

Os dois riram se divertindo como antes de toda aquela loucura começar acontecer.

***

Estava se sentindo mais forte, mais vivo, mais real a cada segundo.

A ligação era como um conta gostas, no começo ele não conseguia sentir muito a diferença, estava começando a ter uma percepção maior dos sentidos, mas ainda não o suficiente.

Entretanto agora ele se sentia inflar, se sentia preencher como um balão, ele quase podia sentir o respirar do seu pulmão e isso estava começando a deixa-lo eufórico.

***

Quando desligou a chamada seu sorriso sumiu no mesmo segundo. Quando estava com Helena, quando ouvia sua voz, quando podia sentir sua presença, ele poderia suportar, ele sentia que conseguiria suportar, mas assim que desligou a chamava de vídeo, teve de voltar a enfrentar seus demônios sozinho.

"Não adianta, não vai ser hoje que vou me entregar, então pode ir se ferrar sozinho."

Disse em voz alta, quase pode sentir uma risada ecoando, estremeceu com a sensação a ignorando.

Agora pelo menos tinha algo em que pudesse focar, estava estudando os desenhos que Helena enviou para se preparar, junto com as explicações de como fariam o ritual, de fato parecia algo não muito difícil de executar, talvez aquele David não fosse tão ruim assim.

Deixo-o rouba-la de você então.

Ele já é muito melhor que você morto, em vida você não tem chance.

Poderia acabar agora com isso, por que não...

"Que se dane, foda-se essa merda de voz, não vou fazer nada disso."

Quase gritou irritado.

Tem certeza?

A voz perguntou e Dan congelou, uma coisa era os sussurros em sua mente mandá-lo fazer coisas outra era uma voz responder, quase como se estivesse ao seu lado, falando no pé do seu ouvido.

Reunindo toda a sua coragem, como nunca havia feito antes, respondeu.

"Tenho, como nunca tive antes, pode apostar."

Uma risada macabra soou ao seu lado, e pareceu ser levada com o vento, que soprou de forma tão forte, fazendo bater a sua janela.

E no mesmo instante, a enxurrada de vozes o atingiu.