Capítulo 34 - Agouro
Estava no lugar certo, na hora certa para presenciar uma ambulância saindo pela rua. Dan tinha acabado de sair de casa, estava indo para casa de Helena.
Passou o sábado todo afastado, somente conversando por mensagens ou ligando para verificar a cada três horas mais ou menos, tinha de colocar a cabeça e alguns planos no lugar.
No domingo de manhã, quis sair o mais cedo possível, quando estava se dirigindo para casa de Helena, tinha odiado deixa-la o dia todo sozinha com o tal de David, mas tentava não pensar nisso, viu uma ambulância saindo de uma casa, ele reconhecia a casa de algum lugar, mas não lembrava ao certo.
Ficou próximo de duas mulheres idosas que conversavam sobre o ocorrido.
"Meu Deus, ficou sabendo o que aconteceu?"
"Ontem fui dormir cedo, nem vi nada."
"A mocinha que mora aqui, sabe, aquela morena bonitona?"
"Ela trabalha na escola né? É professora?"
"Não, acho que é na secretaria que ela trabalha, algo assim."
"Mas então, o que aconteceu?"
"Parece que uma amiga veio aí cedo deixar uns documentos e encontrou ela morta, toda cortada."
"Mas menina, que horror."
"E o pior foi que disseram que ela mesmo fez isso."
"Mas era tão bonita, tão boazinha, os braços tudo limpinho, nunca nem vi nada de errado com ela."
"Eu também não, era uma moça tão boa, mas disseram que ela cortou toda a barriga."
"Ai não quero mais nem saber, só de ouvir já me dá uma coisa..."
Dan parou de ouvir e se afastou, já tinha ouvido o suficiente para suspeitar que aquela não fora mais uma morte comum.
Uma voz no fundo de sua mente começava a dizer que eles não iriam conseguir, começou a dizer que eles morreriam antes de conseguir salvar mais alguém.
Aquilo já estava começando a sair totalmente de controle.
***
"Você acha que ela pode ter sido a vítima de número três?"
Dan estava sério enquanto contava o que tinha ouvido.
"Infelizmente, acredito que sim."
Helena estava extremamente infeliz com a situação, sua expressão era de dor e impotência, Dan odiava vê-la dessa forma.
"Obrigada David."
Além de odiar vê-la assim, odiava mais o fato de não poder ou ouvir o que tal de David dizia, seus instintos estavam gritando desde o começo que não era para confiar nele, mas como poderia convencer Helena?
"David disse que vai investigar, ele consegue ir procurar nos hospitais próximos para verificar se foi suicídio e se tem alguma conexão com o que aconteceu com os outros alunos."
Dan acenou concordando.
"Ok."
"Quanto tempo acha que consegue?"
Helena perguntava a David.
"Certo, volte assim que conseguir. Ele já foi."
Disse agora olhando para Dan.
Uma voz ainda dizia em sua cabeça: deixe de ser um merda e diga a ela ou deixe-a de uma vez com o outro, você é fraco, covarde...
Tentando ignorar a voz que gritava em sua mente, Dan somente acenou.
"Tube bem?"
Parecendo preocupada, Helena perguntou.
"Sinceramente, não sei, parece demais pra gente lidar, não acha?"
"Sim, coisa demais pra processar em tão pouco tempo."
Ela esfregou o rosto com as duas mãos, como se pudesse se livrar daquele mau agouro, suspirou e continuou.
"Acha que a gente consegue?"
Percebendo sua expressão de angustia, Dan tentou fazer as coisas parecerem melhores.
"Com toda certeza, é fichinha pra gente, já tá praticamente resolvido, pode confiar."
Helena sorriu, seu sorriso tímido favorito.
"Você mente muito mal."
***
Já estava cansando de atingir somente de longe, ele queria um alvo perto, um que fosse doer muito, um que estava em seu caminho também.
Percebeu quem seria assim que o viu novamente naquela manhã, ele seria perfeito, o típico garoto que não tinha coragem de admitir seus sentimentos, que era covarde demais para tomar para si aquilo que desejava.
As vezes ele sentia pena das pessoas, diferentes dele, que não saciavam seus desejos, que estavam presos em convenções humanas e em seus princípios falhos, que só lhes serviam para quando lhes era conveniente.
Com ele resolveu ir mais divagar, fez com que a sua voz que o influenciava parecesse sair de seu subconsciente, iria aos poucos, o perturbando, o deixando irritado, fazendo-o perder a cabeça com que ele mais amava.
Sim, o jogo continuaria, ainda não tinha enjoado desse jogo e de qualquer forma, tinha de matar o tempo com alguma coisa, não é?
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