Capítulo 24 - Impacto

Claro que o que aconteceu foi tratado como suicídio, todos que viram a cena acontecer disseram que a garota andou de costas em direção à rua, como se quisesse ser atingida. Mas Helena sabia a verdade, sabia o que realmente havia acontecido.

Todos foram dispensados da aula no dia seguinte, foi chocante demais, os pais ficaram preocupados com o estado de espírito dos filhos e em como eles reagiriam a morte. Muitos deles nunca tiveram que lidar com o sentimento, então era algo novo para sentir, mesmo aqueles que não conheciam a garota, assim como Dan e Helena, ainda conseguiram sentir o impacto.

Por outro lado, Helena não se deixou sofrer mais, ela tinha que fazer alguma coisa, nem que fosse somente descobrir quem ele era, talvez conseguisse descobrir algo que a ajudaria a bani-lo de alguma forma, ela tinha que descobrir qualquer informação que seja, era o mínimo que poderia fazer.

Antes de começar, com o pouco de esperança que restava, Helena sentou em seu quarto e chamou por David, ela o chamou e esperou por ele, mas ele não veio. Helena suspirou. Estava sozinha nessa.

***

"Helena, onde você vai? Lena?"

Abriu os olhos, aquela cena não saia de sua cabeça, como Helena pareceu cruzar a multidão em direção à rua a direita, Dan a seguiu com alguma dificuldade, chamava por ela, mas Helena não pareceu ouvir, ela olhava fixamente para uma garota perto da rua, Dan percebeu, quem é ela? Por que Helena está olhando para ela? Então a garota virou encarando Helena com um olhar frio.

Assim que Dan alcançou Helena e tocou em seu braço, foi o tempo de piscar, e a garota deu um passo de costas em direção à rua e o carro a atingiu.

Dan lembrava do choque do momento, das pessoas gritando e correndo, algumas em direção ao corpo caído no meio da rua, outras em direção ao motorista que tinha aberto a porta e estava de joelhos na rua em desespero.

E lembrou da reação de Helena, que não desviou o olhar sequer por um momento, nem quando a garota foi atingida, ela simplesmente ficou encarando o mesmo espaço vazio por um tempo.

Devido ao choque e em como tudo se desenrolou depois, Dan não pensou muito nisso, mas agora em seu quarto, sozinho, ele podia pensar e a única coisa que se perguntava, era por que, justo naquele momento, Helena encarava aquela garota? Por que ela parecia agir como se soubesse que algo iria acontecer? Que algo iria acontecer justamente com aquela garota? Era o que Dan queria descobrir.

***

Não tinha planejado exatamente, a ideia veio assim que a viu, ele queria causar um impacto, queria causar o choque e o pânico logo na primeira jogada, então a ideia simplesmente surgiu em sua mente, aquele filme, lembrava de tê-lo visto no cinema a muito tempo, em uma vida antiga e perdida.

Então ele escolheu alguém, queria que fosse alguém que faria ela sofrer, mas que ainda não fosse próximo, então ele a achou chorando no banheiro. Ela estava sozinha, agachada no último boxe, soluçando e tentando limpar as lágrimas.

Ela parecia tão inocente e fraca, ele chegou perto e sussurrou uma ideia em seu ouvido, pessoas de mente fraca e fragilizada, sempre eram suscetíveis a acatarem esses sussurros de morte, viu quando ela parou de chorar e olhou para o vazio, então riscou a sua testa com o sangue que estava em suas mãos, um sangue que seria invisível para todos, exceto para uma pessoa.

Assim que terminou a garota levantou, enxugou as lágrimas, pegou a mochila e saiu caminhando, ele a seguiu de perto, queria que acontecesse exatamente como imaginou e queria ver sua expressão assim que ela visse seu trabalho.

***

Estava tão imersa nas pesquisas, indo cada vez mais fundo em artigos policiais e conspiratórios sobre assassinatos em série que levou um susto quando bateram à porta, parou a música e tirou um dos fones para ouvir, não sabia se tinha imaginado.

E novamente o toque toque na porta.

"Lena? Posso entrar? É o Dan."

Dan? Mas o que ele está fazendo aqui?

"Lena?"

"Ahh, entra, tá aberta, pode entrar."

Helena sentou na cama, estava deitada com o notebook na frente, assim que Dan entrou, Helena olhou a tela que tinha esquecido de minimizar e baixou a tela para Dan não ver o que estava pesquisando.

"Você não mandou mensagem dizendo que tava vindo."

"É, foi mal."

Ele dizia distraidamente, olhava ao redor, parecia querer evitar o assunto principal. Helena esperou, Dan pegou uma cadeira e sentou com o encosto pra frente, apoiando os cotovelos e bagunçando o cabelo, ele fazia isso quando estava nervoso.

"Certo, olha, pode ser paranoia minha, eu posso estar vendo demais, mas... Lena, a forma que você olhou pra garota... parecia que você sabia o que ia acontecer. Eu..."

Ele parou, suspirou, parecia tentar organizar as ideias.

"Eu sei que parece idiota... droga, nem eu sei o que tô fazendo aqui. Desculpa."

Ele parecia tão confuso, com a situação, consigo mesmo, com Helena que sempre enfrentava tudo sozinha, nunca pensando que se compartilhar com alguém, talvez o fardo fosse mais fácil de carregar, mas naquele momento ela sentiu que deveria contar tudo a Dan, que eles eram melhores amigos e ele não diria que ela era louca, ou que era tudo culpa dela, ele simplesmente a ajudaria.

Se decidindo, ela suspirou tomando coragem.

"Você pode ficar?"

Dan a encarou piscando.

"Eu, ahh..."

"Precisamos conversar, você tem razão, eu sei o que aconteceu e por que."

Dan continuava encarando parecendo aliviado e espantado ao mesmo tempo.

"Vou falar com Alan, você pode dormir no sofá."

Ele somente acenou um sim, Helena levantou para conversar com Alan e quando saia do quarto, ouviu Dan mandar mensagem para os pais dizendo que ficaria com Helena, pois ela estava muito abalada e tals, ele era bom em inventar uma desculpa rápida.

***

Dan processava todo o relato que Helena havia feito enquanto mastigava uns amendoins que ele encontrou em um dos armários, ele gostava de ter alguma coisa para mastigar enquanto pensava.

"Então, ele foi embora de vez?"

"Acho que sim."

"E o assassino voltou."

"Hum, hum."

"E tá marcando pessoas que nem naquele filme? Os Espíritos?"

"É, meio que sim, pelo menos a garota tinha uma marca."

"E ele tá meio que te perseguindo agora? E vai começar a matar pessoas para te atingir? E esse tal de David, se é que ele diz a verdade, não vai voltar por que ele acha que é perigoso demais pra você? E ele achou que sumindo o assassino também sumiria? E você acha que tudo isso é sua culpa? E..."

"E você tem que se lembrar de respirar? Sim, você tem."

"Tá, certo."

Ele mastigava avidamente os amendoins, Helena ainda se perguntava se tinha sido uma boa ideia envolver Dan nisso tudo, mas no fundo sabia que precisava dele.

"Então, o que você acha? Eu pirei de vez?"

"Totalmente."

Ele disse de forma tão séria, que Helena se sentiu mal, ele nunca acreditaria nela. Dan soltou o pacote pousando na mesa, afastou a cadeira se inclinando um pouco para trás e encarou Helena.

"Mas eu acredito em você."

Mexeu no cabelo bufando, como que dizendo se não tem o que fazer, vamos logo com isso.

"Qual é o plano então?"

Helena sorriu, por mais que a situação fosse ruim, por mais que se sentisse completamente desnorteada e assustada, agora que Dan estava ao seu lado, talvez tudo pudesse se resolver.

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