Capítulo 23 - Culpa
Já faziam dois dias, dois dias que ninguém tinha notícias de David, parecia que com ele, tinha ido embora todo o ânimo da escola e todos pareciam sentir sua falta.
Mas tudo aquilo era ainda pior para Marcos, ele se sentia culpado, sentia que se tivesse chegado alguns minutos antes, nada daquilo teria acontecido.
Ele fora tão idiota naquele dia, estava sentindo algo diferente vir de David desde o encontro fracassado dele, algo que lhe deu uma certa esperança, mas ignorou totalmente, eles eram melhores amigos e era isso que sempre seriam.
Naquele dia ele se sentia mentalmente cansado, então andou mais devagar do que o normal, sabia que estava atrasado, mas não correu, David disse que compraria algo para eles comerem e pediu para Marcos escolher os DVDs que assistiriam, então quando chegou a casa de David e ninguém atendeu quando ele bateu, não achou estranho, David devia ter esquecido de comprar e ter ido em cima da hora.
Marcos olhou o relógio do celular, eram 19h15, mandou mensagem para David perguntando se chegaria logo, mas ele não respondeu, então ligou, de longe ouviu o toque de celular de David, olhou para um lado e outro da rua, mas não o viu, se aproximou novamente da casa e ouviu o toque mais alto, o idiota esqueceu o celular.
Bufando irritado Marcos praguejou.
"Ah David, sempre me fazendo esperar."
Resolveu não se estressar e sentou no degrau da porta, ficou mexendo no celular sem perceber o tempo passar, até ver um carro estacionar, eram os pais de David chegando.
"Olá Marcos, tudo bem? O que faz aqui fora?"
O pai de David perguntou.
"Esperando o David, ele disse que iria comprar alguma coisa pra comermos na noite de filmes."
Levantou a sacola com os DVDs.
"Ah sim, noite de filmes no meio da semana, legal, ele já deve estar chegando..."
Marcos o cortou, tinha notado a hora, já era quase 20h.
"Na verdade, ele está demorando mesmo, eu estou aqui desde as 19h15."
"O que? Mas que estranho, o mercado é logo ali na esquina, ele nunca demoraria tanto para chegar. Vou ligar pra ele."
A mãe de David pareceu preocupada, o pai a olhava ansioso, mas Marcos teve de falar antes dela ligar.
"Eu tentei, parece que ele esqueceu o celular, quando liguei ouvi o toque vir do quarto dele."
E assim que ele disse, a ligação completou e todos começaram a ouvir o toque do celular, o pai de David se apressou para abrir a porta, a mãe correu em seguida, eles começaram a gritar o nome do filho, agora Marcos estava realmente começando a ficar preocupado, será que David tinha caído e se machucado?
Marcos esperou que eles voltassem do andar de cima, o pai de David já vinha com uma expressão ansiosa.
"Ele não está aqui, Marcos, tem certeza que ele não disse mais nada?"
Marcos estava muito nervoso agora.
"Eu... tenho... certeza, ele só disse que ia comprar algo para gente comer só..."
"Vou até o mercado para ver se alguém o viu."
"Eu vou com o senhor."
Marcos correu junto com o pai de David, somente para chegar até o mercado e ele estar fechado, o pai dele olhou ao redor como se procurasse qualquer pista sobre o filho, Marcos se sentiu desolado, a ficha caindo finalmente, seu amigo não estava atrasado, ele não o fizera esperar, no seu âmago sentiu uma dor profunda, como se sentisse que nunca mais iria vê-lo, como se sentisse que...
Que David não voltaria.
***
Foi tão fácil, muito mais fácil do que imaginou que seria, depois de observar por umas duas semanas, ele começou o entender, percebeu como ele parecia fazer tudo pelos outros, como era o típico bom garoto, sem sequer uma mancha, que era sempre bonzinho e empático, ajudando como pudesse quem quer que seja.
Deixou de segui-lo nos últimos três dias, deixando ele ter o sentimento de alívio, perdendo a paranoia e o senso de perigo. Se contentou em observar os outros amigos e com isso descobriu os planos para a quarta-feira daquela semana e finalmente, tinha seu plano.
Ele apelaria para o lado bom do garoto, e torcia para esse lado ser tão ingênuo quanto ele imaginava ser.
Depois de ver ele chegar da escola, deixou o carro estacionado na frente do mercado para ele não o ver, e ficou observando da esquina, assim que o viu sair pelo portão, correu para o mercado, já tinha seu plano pronto, havia entrado antes e sabia exatamente o que comprar.
Foi numa prateleira com coisas infantis e pegou aqueles kits de princesa e uma barra de cereal e foi até a caixa. Contava os passos lentamente e assim saiu bem a tempo de ver David parar de correr pelo canto do olho, ele fingiu não o ver, já sabia que o garoto ficaria alerta a sua presença e como esperado, o personagem que ele criou foi suficiente para engana-lo e ele parecer despreocupado.
Entrou no carro e baixou o pino, trancando sua porta, ainda não tinha olhado nenhuma vez para ele, e não olharia, mordeu a barra de cereal de forma dramática, estava pronto para apresentar sua melhor performance e assim o fez, começou a fingir estar engasgando.
Por um momento terrível, pensou que o plano não iria dar certo até David correr para o carro e começar a bater no vidro, ele fingiu não conseguir abrir a porta e continuou com a encenação do sufocamento, até David resolver dar a volta no carro e entrar pela porta do passageiro.
Nunca imaginou que seria assim tão fácil, tão fácil que não se conteve, assim que David entrou e o encarou, ele sorriu com a sua sorte, o garoto levou segundos preciosos para entender a situação, mas já era tarde, ele tinha todo o controle.
Em um movimento rápido com o cotovelo, bateu com toda força no queixo de David, o deixando desorientado, tempo suficiente para ele o apagar de vez, pegou o pano preparado e tapou sua boca e nariz, ele nem se contorceu, nem conseguiu se mexer, e desmaiou rapidamente.
Sorriu satisfeito, olhou rapidamente ao redor, não havia ninguém.
"Perfeito."
Se inclinou e fechou a porta, depois colocou o cinto, se alguém visse de fora, David pareceria seu sobrinho talvez, que estava cansado demais e dormia tranquilamente no banco do passageiro.
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