Capítulo 22 - Captura
Finalmente aquilo tinha acabado, agora David podia relaxar, já tinha tomado banho e estava jogado na cama ignorando as mensagens que chegavam em seu celular de seus amigos perguntando como foi o encontro.
Ele bufou, tinha muito o que pensar naquele momento, muito para pensar sobre si mesmo, fazia muito tempo que estava ignorando essa parte da sua vida, essa parte dos seus... sentimentos.
David odiava decepcionar a família, sentia que a vida toda estava sendo condicionado a ser o filho perfeito, não que seus pais tivessem essa culpa ou se eles tivessem feito de propósito e causado essa necessidade no filho, mas era assim que se sentia, não podia evitar, infelizmente, e também não podia isentar os pais da culpa.
David adiou durante tanto tempo sequer pensar nisso, pensar naquele dia... eles tinham decidido que seria tudo como sempre, David disse isso, por que naquele momento ele queria isso, mas agora não tinha mais certeza de mais nada.
Como se sentia idiota, simplesmente idiota, tentou lembrar da sensação do beijo de Bia, quando ele deixou que ela o beijasse, ele simplesmente deixou, mas não estava ali de verdade, não sentindo, ele sentiu algo somente quando lembrou de outro beijo e isso deixou sua mente confusa, que o fez inventar uma desculpa para ela e terminar o encontro naquele momento.
Mordeu o lábio, pegou o celular, pensou em ligar mas... algo bateu em sua janela o assustando, David levantou para verificar, era noite e a rua estava pouco iluminada, a lâmpada da frente de sua casa que até ontem estava acessa, agora estava apagada, a rua estava completamente escura, não podia distinguir nada.
Por alguns minutos encarou a escuridão, encarou tempo suficiente para vê-lo, era um vulto, mas David tinha certeza, tinha alguém o encarando na escuridão, ele fechou a cara, não sairia correndo com medo, ele deixou a janela aberta e o encarou em tom de desafio uma última vez antes de voltar para cama.
***
Ele estava perdendo o medo, sentia isso, ele estava começando a enfrenta-lo, e isso não era bom, nunca era bom encoraja-los a enfrenta-lo, não, a hora tinha chegado enfim.
Quando pensou que poderia pega-lo ali naquele mesmo momento, somente teria que escalar e subir pela janela aberta, sua sede as vezes o impedia de ver os obstáculos e as consequências, ele queria tanto, mas o destino pareceu lhe sorrir quando viu uma garota andar apressada pela rua escura sem o ver, ela ia em direção ao seu carro.
"Aproveite seus últimos dias, serei gentil em deixa-lo viver por mais um tempo."
E começou a correr em direção a garota antes que ela passasse pelo carro, a agarrou por trás sem ela perceber, agarrou seu pescoço tampando sua boca, ela se contorcia sob seu aperto, ele apertou ainda mais até sentir ela perder o fôlego e seu corpo ficar mole em poucos minutos.
Pegou a chave do carro e abriu o porta malas, jogou a garota dentro e fechou a porta, entrou no carro e saiu antes que qualquer um pudesse ver. Sorriu no volante olhando pelo retrovisor, seria uma noite divertida.
***
Já faziam três dias que estava se sentindo bem, não na totalidade da palavra, mas bem o suficiente, ainda não tinha resolvido todas as questões em sua mente, mas pelo menos nos últimos dias já não sentia a paranoia de ser seguido, ser observado.
Estava começando a pensar que tinha imaginado tudo aquilo, que nunca ninguém o havia perseguido, ele só estava com a cabeça cheia de pensamentos e ficou confuso, se sentindo paranoico.
Olhou a hora, tinha combinado com Marcos de ver uns filmes no meio da semana, Bruno não iria conseguir vir, seriam somente os dois, David sorriu com o pensamento.
Pulando da cama, havia esquecido de comprar algo para comerem, eram umas 19h, logo Marcos chegaria, David colocou os tênis e saiu apressado, não tinha ninguém em casa, então tinha de correr para não deixar Marcos esperando do lado de fora.
Saiu tão apressado que esqueceu o celular, só pegou a carteira e correu para o pequeno mercado próximo a sua casa, estava andando apressado, quase correndo, quando parou de repente.
Ele estava lá, o mesmo homem que os três haviam ajudado há umas semanas atrás, estava saindo do mercado, carregava uma sacola com um daqueles brinquedos de plástico, era um kit de princesa, com coroa rosa e tudo mais. David relaxou lembrando que ele disse que a filha estudava ali perto da casa dele, imaginou que ela devia estar esperando no carro.
Ele olhou o homem ir em direção ao carro e começou a andar devagar para o mercado enquanto observava, os vidros de trás eram mais escuros que os da frente, se a filha estivesse ali, David não conseguia ver, o homem entrou, colocou o cinto e mordeu uma barra de cereal.
David suspirou se sentindo idiota e continuou a andar em direção ao mercado, deu uma última olhada para o carro antes de entrar, o homem parecia tossir, estava agarrando a garganta, David deu dois passos a frente para ver melhor, o homem pareceu sufocar, estava ficando vermelho.
Alarmado, David olhou para o mercado, mas tinha somente uma mulher no caixa e estava longe e não olhava para ele, olhou de volta para o homem que sufocava ainda mais, David correu e começou a bater na porta tentando abrir.
O homem estava completamente vermelho parecendo não ter mais ar, ele bateu no vidro e disse para o homem abrir a porta, mas ele não conseguiu devido ao sufocamento, David notou então que a porta do passageiro estava com o pino levantado, correu pela frente do carro, abriu a porta e entrou.
Sentou no banco e se aproximou do homem para ajudar, assim que entrou e ficaram frente a frente o homem o encarou, parou de sufocar naquele mesmo instante e o encarou com um sorriso sinistro.
O corpo de David gelou instantaneamente, ele sentiu como se sua alma o abandonasse assim que percebeu o erro, pelo canto do olho via cordas e facas no banco de trás.
Tentou se virar para correr e sair dali, mas o homem era tão rápido e forte e acertou com o cotovelo o seu queixo, David sentiu vertigem no mesmo instante, perdendo por alguns segundos os sentidos, o suficiente para o homem tampar sua boca e nariz com algo que o fez ficar ainda mais tonto.
Não demorou nada até David perder completamente os sentidos, a última percepção que teve antes de seu cérebro desligar completamente, foi o peso do corpo do homem que se inclinou sobre ele para fechar a porta, o cinto que sempre fora sinônimo de proteção, agora se tornar um obstáculo para sua fuga e uma última lágrima escorrer pelo lado direito de sua face.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top