O encontro não tinha saído tão bem como esperado, David não sabia exatamente o porquê, mas não conseguiu se soltar, não estava conseguindo se abrir, na verdade achou que poderia sentir algo por ela, ele queria sentir algo por ela, queria que despertasse algo nele, mas não foi o que aconteceu.

Claro que pra ela tudo parecia bem, David era um ótimo ator, sempre foi, desde que descobriu que falar a verdade sobre o que sentia poderia machucar os outros, ele passou a aprender o que ele poderia ou não dizer para cada pessoa em sua vida.

Para Bia ele interpretou o papel do cara legal e charmoso que sabia ser engraçado.

Ele passou na casa dela para eles irem juntos para um shopping, ficaram jogando conversa fora enquanto seguiam o caminho, depois foram até o boliche que David deixou reservado e os dois jogaram e se divertiram.

David saiu por um momento para ir ao banheiro e sentiu ser observado, a semana toda estava sentindo isso, mas era a primeira vez aquele dia, pois estava distraído demais com o encontro, um homem entrou no banheiro depois de David, ele pareceu se demorar encarando as costas de David, ele só conseguia ver o vulto no reflexo do espelho, não era nítido, depois do que pareceu uma eternidade que incomodou muito David que só esperou, o homem entrou num box.

Rapidamente David saiu do banheiro, estava tenso encarando a porta do banheiro, ele queria ver o homem sair e se certificar de que suas suspeitas estavam certas.

"Tudo bem David? O que acha de comer alguma coisa? Já está com fome ou quer começar com a sobremesa? Um sorvete talvez?"

Bia dizia flertando com David, ele encarou uma última vez o banheiro e então se virou sorrindo para Bia.

"É, acho que um sorvete ia bem agora."

Não foi a resposta que ela queria, ele percebeu isso, mas não estava mais com cabeça para estar num encontro, só queria que acabasse.

Ela sorriu de volta, ignorando a decepção, Bia segurou no braço de David e o puxou para a praça de alimentação.

***

Esperar, esperar, esperar, ele só tinha que esperar pelo momento certo, já estava ficando impaciente, o seguia a todo lado agora, podia ver que ele estava começando a sentir sua presença, ele parecia procurar algo, sempre olhando ao redor.

Ele gostava quando isso acontecia, quando suas presas sentiam sua presença, sentiam que ele as perseguia, ele gostava de saber que mesmo elas estando esperando por ele, elas nunca conseguiam escapar.

Para cada vítima ele elaborava um plano completo, não era divertido somente chegar e mata-los, não, quando isso acontecia ele perdia toda a parte emocionante e não gerava a adrenalina que ele queria, então com esse ele estava sendo mais do que paciente.

O seguiu durante o encontro, o tempo todo o observou do bar onde estava bebendo, quando finalmente ele saiu para ir ao banheiro, não resistiu e o seguiu, quando entrou ele estava de costas, ficou parado à quase um metro dele, queria que ele sentisse sua presença, olhou para o espelho e certificou-se de que o boné que usava não permitia que visse seu rosto, então depois de ver os ombros dele tensos, sorriu e entrou em um box.

Ouviu ele se virar e sair rapidamente, sorriu ao sentir o desespero da vítima em tentar fugir, respirou fundo, gostava da sensação da perseguição, isso o fazia se sentir tão vivo, tão completo, tão... tão saciado, mas não totalmente, a sua sede somente seria saciada quando acabasse.