Capítulo 20 - Atordoada

Uma onda de azar parecia estar cruzando seu caminho ultimamente, pensou que poderia ter um dia no cinema, só ele e Helena, pensou que o que aconteceu na água, poderia acontecer novamente, mas tudo parecia conspirar para não dar certo, tudo parecia conspirar para afastar Danilo de Helena, e isso era extremamente frustrante.

O banho demorado que tomou aquela tarde não foi suficiente para fazê-lo relaxar e não era somente essa urgência em admitir seus sentimentos para Helena, algo no fundo o fazia sentir que se não o fizesse, seria tarde demais.

A sensação de que perderia Helena era tão intensa quanto a do amor ainda não correspondido.

Se jogou na cama, olhava para o teto, não tinha muito o que queria fazer naquele dia, então simplesmente se deixou ficar ali deitado, imaginando, desejando ser mais corajoso, ter mais atitude.

Adormeceu pensando que só queria ter um pouquinho da coragem que, tantos personagens de HQ que admirava, tinham.

***

A vida não era fácil, não mesmo, pessoas iam e vinham, sempre, umas demoravam mais que outras, mas em algum momento, sempre partiam.

Era isso que Helena dizia a si mesma, que era algo normal, mesmo assim, algo se revirava dentro de si, um sentimento ruim igual o que tivera quando sua mãe partiu, naquela época ela não pode fazer nada por ela e quando David surgiu em sua vida e ela poderia fazer algo por ele, Helena se sentiu bem por ter esse poder.

Mas agora ela se sentia miserável, ele havia ido embora e Helena não soube se para sempre, não sabia o que mantinha David nesse plano espiritual, pensou e se eu era a única coisa que o segurava? E se agora, ele se foi para sempre? Não conseguiu deixar de imaginar que era culpa dela ele não poder ter sua vida, que fora roubada, de volta.

***

Não teve uma noite boa, não conseguiu desligar os pensamentos nem sequer por um minuto, ficou rolando na cama até amanhecer, levantou automaticamente, como todos os outros dias, tomou café, se arrumou e quando saiu se deparou com Dan esperando na frente de sua porta.

Por um momento Helena parou para se lembrar como foi grossa com o amigo no dia anterior e em como ele não tivera culpa de nada. Se aproximou, Dan virou para Helena, já ia começar a falar quando ela simplesmente o abraçou, ele não precisava saber o porquê exatamente, somente teria que estar a seu lado.

Ele não a abraçou de imediato, pareceu absorver o que estava acontecendo, devagar e delicadamente, quase como se soubesse que Helena estava com as costas machucadas, Dan a abraçou.

Aquela sensação de conforto era tudo de que ela precisava naquele momento, talvez com isso, ela conseguiria banir o sentimento de culpa.

"Tudo bem?"

Ele sussurrou em seu ouvido. Helena balançou a cabeça levemente indicando que não estava tudo bem.

"Se quiser conversar, sabe que tô sempre aqui pra você, mas..."

Ele suspirou a aconchegando mais.

"Se só precisar de um abraço, também pode contar comigo sempre."

Helena sentia Dan sorrir, ele estava com o queixo encostado em sua cabeça, afagando seu cabelo. Recuperando o fôlego Helena se afastou devagar, segurando as lágrimas, Dan não disse nada, simplesmente esperou Helena se recuperar e foram andando fazendo seu caminho até a escola.

Chegando tudo pareceu a Helena tão normal, tão comum, mas era assim que acontecia sempre, o mundo não parava toda vez que uma alma boa o deixava, toda vez que uma vida era perdida.

Tentou voltar ao seu normal, mas durante todo o dia ela se lembrava, as lembranças de David vinham tão fortes e reais, sua mente não conseguia conceber o fato de que ele não era um humano normal, como Dan, em suas lembranças ela o imaginava como deveria ser, o imaginava como viu nas fotos dos artigos.

No final do dia pensou que poderia passar por isso, que poderia simplesmente continuar, esquecer David e fingir que nunca aconteceu, sabia que suas lembranças se desgastariam, que o sentimento aos poucos apagaria, que a dor consumiria a si mesma até deixar poucos resquícios de sua presença.

Mas quando caminhavam saindo pelo portão da escola, entre tantos outros alunos, Helena sentiu o frio, um frio percorrer sua espinha, todos ao seu redor sentiram pensando ser um vento normal devido a aproximação do inverno, mas Helena sabia o que esse frio significava, e por um momento uma chama de esperança surgiu.

Então aconteceu, Helena viu a marca, um risco na testa, uma garota mais nova estava com o risco fantasmagórico em sua testa, Os Espíritos, Helena olhou curiosa se lembrando do filme que viu alguns dias atrás, parando no meio da multidão, a garota se afastava, aos poucos Helena a seguiu, Dan percebeu que ela se afastava e começou a segui-la chamando por Helena.

Não sabia porquê mas sabia que tinha que alcançar a garota, tentou transpor a multidão a garota continuava a seguir em direção à rua, antes de atravessar, ela olhou diretamente para Helena, seu olhar era vazio.

Tudo aconteceu ao mesmo tempo, assim que Dan a alcançou a garota atravessou a rua ainda encarando Helena e um carro a atingiu, Helena arregalou os olhos, Dan parou com a mão em seu braço. As pessoas começaram a gritar e correr.

Helena não conseguiu se mover, não conseguiu deixar de encarar o mesmo ponto que a garota tinha sido atropelada, por que, bem ali, assim que seu corpo foi violentamente jogado, uma sombra ficou, como se tivesse sido arrancada dela, um espírito, ele encarou Helena e sorriu desaparecendo.

O que foi que eu fiz?

Helena estava atordoada demais para compreender o que estava acontecendo, a única coisa que Helena compreendia naquele momento, era que David havia ido embora, mas antes eles haviam libertado o espírito do assassino e o feito matar mais uma vez, e agora, Helena sentia o sangue da morte de alguém em suas mãos.

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