Capítulo 2 - Irrelevante
O sol não aparecia muito nos últimos dias, o tempo estava nebuloso de chuva com algumas nuvens negras cobrindo o céu. Era uma manhã fria de outono, poucas árvores começavam a deixar suas folhas cair, a maioria as mantinha, muitas ainda verdes, as amareladas e marrons que eram arrastadas pelo vento no chão, já haviam caído há algum tempo.
O aspecto era de uma cidade fantasma, construções cinzas, uma ou outra com alguma cor, portões fechados e crianças para dentro, não havia ninguém na rua, não era de se estranhar por sua casa ficar afastada, mais perto da represa e da mata que da cidade.
Conseguia ver o reflexo da água enquanto caminhava em direção ao seu tormento diário, Helena tinha de percorrer esse caminho todos os dias para chegar à escola, muitas vezes desviava de seu caminho e não chegava ao seu destino.
Helena não era uma má estudante, nem uma pessoa ruim, estava na média, cursava o último ano, não era notada e ninguém sentia sua falta, irrelevante, exceto pelo melhor amigo Danilo. Os dois eram muito diferentes, Dan gostava de RGP e jogava com os outros geeks, era o típico nerd de óculos, Helena era a garota de preto do fundo da sala.
Não era exatamente bonita, não se senta bonita, tinha um aspecto relativamente comum, se não fosse o vitiligo na pele parda que atingia parte do seu rosto do lado direito em volta do olho e no nariz como sardas brancas na pele parda, cabelos castanhos escuros volumosos e encaracolados, olhos negros como tempestade e lábios eram naturalmente avermelhados e cheios se destacando em seu rosto.
Enquanto caminhava pela rua Helena não pensava em nada em particular, só caminhava com seus velhos coturnos pretos, sua camiseta do Red Hot e uma jaqueta de couro falso, com uma calça rasgada. Seus passos eram lentos e descuidados, com as mãos nos bolsos, olhou para o céu e parou por um momento para ouvir o assobio do início da música Patience do Guns.
Essa era sua rotina, nunca mudara desde que sua mãe se foi e o padrasto cuidava dela, Alan não era realmente um cara ruim, nunca a tratara mal nem nada do tipo, sempre gentil, ele só tinha alguns problemas com a bebida desde que sua mãe morrera. Alan sofrera com sua morte até mais que Helena, o câncer veio de mansinho e a levou rapidamente sem avisar.
O fim da rua que parecia deserta tinha chego, agora Helena já podia ver a movimentação de carros pela manhã, todos apressados em chegar a algum lugar ou encontrar alguém. Caminhando só mais algumas quadras, chegou à escola, muita gente já estava lá, o primeiro sinal já tinha tocado, mas os alunos se demoravam do lado de fora.
Indo em direção ao grupo dos geeks, Helena parou ao lado de Dan e esperou ele terminar uma discussão sobre "como as tartarugas ninjas se transformaram do mesmo jeito que o demolidor ficou cego e conseguiu seus poderes". A discussão durou alguns minutos a mais, naquele grupo, quando Helena chegava todos a olhavam espantados e ficavam babando por ela, devia ser pelo fato dela ser a única garota que chegou perto o suficiente deles e que frequentava sebos e lojas de quadrinhos.
Dan finalmente ganhou a discussão e notou Helena encostada na parede ao seu lado, seu olhar zombeteiro em direção a camiseta dela.
"Hey, como estamos hoje? Deixe-me ver... tão depressivos quanto os emos que não sabem usar uma camiseta de banda decente?"
Helena sorriu ponderando. Dan tinha esse dom sobre ela, o único que a fazia sorrir.
"Talvez ou estamos com a alma tão negra e maligna quanto um doppelganger."
"Uhh, boa referência."
Dan disse enquanto eles já caminhavam em direção ao portão da escola para entrar antes que ficassem para fora, o que já tinha acontecido uma vez ou outra.
"Então vamos ver o que temos hoje, ahh droga de aula de matemática, história com o professor paranoico e teorista da conspiração, depois inglês com a professora gostosona e educação física para ser massacrado pelos 'atletas bonzões', a não ser que você os afugente com esse seu delineado sombrio."
Sorriu com a piada, e completou.
"É, será um ótimo dia."
"Um ótimo dia para não ter vindo, você quer dizer né?"
Dan sorriu com o sarcasmo de Helena. Ele não era feio, era magro, alto e um pouco desajeitado, de um jeito fofo esquisito, mas seus olhos verdes e cabelo loiro envolta de um rosto suave compensavam pelo resto. Helena nunca soube o porquê de eles terem se tornado amigos, nem lembrava direito como começou a amizade, não sabia o que ele via nela para querer estar a seu lado.
Chegando na sala, Helena o olhou e disse em um tom apelativo.
"Tem certeza que não dá pra fugir? Só por hoje?"
Dan levantou uma sobrancelha.
"Pelo que me lembro, foi o que você disse das últimas três vezes."
"Qual é Dan, você é o cara mais inteligente daqui, com certeza não vai se prejudicar com uma falta ou duas."
"Cinco já."
"Quem está contando?"
"Ah, os professores, coordenadores, direção, todo mundo nessa escola?"
Dan segurou em seus ombros e a girou para sala a empurrando devagar enquanto ela fingia cair.
"Vamos, Lena, é só mais um dia, logo isso acaba e estaremos sozinhos e perdidos em um mundo cruel e devastador."
Ele soava dramático.
"Do jeitinho que você sempre quis."
Helena riu com a piada, sem se importou com os olhares atravessados que recebia de alguns na sala.
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