As pesquisas sobre o sequestro e assassinato de David levaram o resto da tarde, tinha sites demais e notícias demais para ler, e por mais que Helena se sentisse de alguma forma mais inteligente perto de David, por ela saber de coisas que ele não sabia, Helena sabia muito bem que ela não era boa em pesquisas, aliás, sempre foi Dan que fazia as pesquisas para os trabalhos e Helena redigia os textos.

Assim que lembrou do amigo, algo pareceu bater no fundo de seu peito, um sentimento estranho, um sentimento que a dizia que ela deveria falar com Dan, que deveria ficar perto dele.

Claro que o sentimento passava a todo momento que David interagia e sorria para ela, era um sorriso doce que sempre a fazia estremecer. Helena estava tentando ignorar a sensação e a vontade que tinha de tentar tocá-lo, quanto mais tempo passavam juntos, mais Helena tinha essa necessidade e desejo.

"Aqui, acho que encontrei alguma coisa, sobre um caso que aconteceu há uns dez anos atrás."

Dez anos? David era dez anos mais velho? Helena olhou de lado enquanto ele se aproximava dela para olhar a tela do notebook bem, ele parece ter não mais que dezoito.

"Dez anos? Em que ano foi?"

"2010."

"Espera, estamos no ano de 2020?"

Ele piscou absorvendo as informações, falou quase em um sussurro.

"Dez anos."

Helena se sentia mal por ele.

"Desculpe, deve ser demais para você, melhor não ler mais esse artigo."

"Não, tudo bem. Vamos continuar, por favor."

Eles continuaram lendo o artigo, depois encontraram outros similares em mais uns cinco sites, todos diziam praticamente as mesmas informações, David foi sequestrado em uma quarta-feira no meio do dia, o que foi muito suspeito, principalmente por não ter tido nenhuma testemunha, câmeras ao redor captaram somente David saindo de casa para ir ao mercado como sempre fazia, e não voltando.

No começo a polícia cogitou que David tinha fugido de casa, como um adolescente revoltado, mas devido aos relatos dos familiares e dos amigos da escola sobre a personalidade de David, eles descartaram essa possibilidade e começaram a especular que David fora sequestrado.

Outros artigos mostravam a área onde a polícia vasculhou, Helena descobriu que a escola particular de David ficava do outro lado da cidade, do outro lado da represa, não era tão longe na verdade, talvez uns quinze minutos de carro e uns quarenta a pé.

Nos artigos mais recentes da época, um dos últimos a serem publicados sobre o assunto, mostravam que a polícia já tinha descartado encontrar David vivo e eles começaram a buscar um corpo.

Em outro site, Helena descobriu que alguém tinha conectado o caso de David com outros assassinatos, onde os corpos foram encontrados na represa ou perto dela, um em uma caixa, uma garota que foi esquartejada e havia poucas partes restantes, só foi encontrada devido a um projeto de pesquisa que remexeu o fundo da represa e a caixa apareceu e outro um homem de meia idade, encontrado enterrado depois de uma tempestade desenterrar parte de seu corpo, sem os dentes e todos os dedos das mãos e dos pés.

Naquele site também especulava sobre outros desaparecimentos que aconteceram a partir da década de 70, dizendo que todos foram feitos pela mesma pessoa, devido a forma que o homem foi encontrado e examinado, o culpado deveria ser um homem jovem, alto e com boa forma física.

"Aqui não diz se encontraram meu corpo?"

"Não, já li quase todos os artigos, e parece que depois de um ano e meio, você foi declarado morto e sua família fez um funeral."

David não disse nada, somente ficou olhando para a tela do computador.

"Eu sinto muito."

Helena pensou no que poderia fazer para consola-lo ou ajudar de alguma forma.

"Você quer ir até a sua antiga escola? Ou ver sua família?"

Ele sorriu fracamente, tremulando. Helena imaginou que manter a sua forma dependia dos seus sentimentos, e quando David ficava abalado, aquela sua forma tremeluzia como um holograma.

"Sim, acho que isso seria bom, recuperar algumas memórias das pessoas que deixei para trás e ..."

Parou abruptamente, como se desistindo da ideia.

"O que?"

"Nada, só uma coisa idiota que pensei."

"Pode falar, não tem problema."

David pareceu ponderar, e de uma forma um pouco sem graça continuou.

"Recuperar algumas memórias e talvez descobrir o que aconteceu de verdade comigo, talvez encontrar o local... mas por ter passado tantos anos, duvido que tenha algum vestígio."

"Bem, mesmo assim, ainda podemos investigar, não vejo por que não. Podemos começar amanhã na sua escola."

David sorriu.

"Só depois de você ir para sua."

Helena bufou e revirou os olhos.

"Isso é bem mais importante que não perder aula."

"Talvez, mas eu me sentiria culpado se você faltasse mais."

"Tá, tudo bem, depois da aula a gente sai para investigar."

"Combinado."

***

Era um tanto estranho, ter sua vida conectada com a de outra pessoa, de uma forma literal, naquela noite Helena somente conseguia pensar em David enquanto estava deitada em sua cama tentando dormir.

Sabia, não, sentia que ele estava por perto, mesmo ele prometendo que não entraria em seu quarto, mas por um momento Helena desejou que ele viesse, que somente ficasse ali, lhe fazendo companhia.

Nos últimos dias, Helena realmente se sentia sozinha antes de David aparecer, mesmo que tivesse Dan e Alan, ela sentia que faltava algo ou alguém, sentia que não fazia diferença no mundo, que se ela sumisse de repente, ninguém notaria. Mas agora com David era diferente, ela se sentia bem em ajuda-lo, em ter esse poder, de algum modo estava feliz por ter sido escolhida.