Capítulo 15 - Ligação

Acordou antes do despertador, abriu os olhos e não se moveu, aos poucos sua mente processava o que tinha acontecido no dia anterior, Helena tentava separar o sonho da realidade, saber se o que aconteceu foi mesmo real.

Ela suspirou, o tempo estava frio, ela não queria levantar, não queria conversar com ninguém, nem mesmo Dan, olhando para o celular resolveu desligar os despertadores, não iria para a escola novamente, tinha muito o que pensar, e sua cabeça já estava girando o suficiente sem ter que se preocupar com a escola também.

Seu momento de tranquilidade não durou muito, Alan bateu a sua porta.

"Lena? Tudo bem? Você vai se atrasar se não levantar agora."

"Não estou me sentindo bem para ir hoje, não se preocupe, Dan pode me passar a matéria depois."

"Certo, tudo bem, qualquer coisa me liga."

"Tá bom, brigada."

E o silencio voltou, Helena só pegou o celular para avisar Dan para não vir busca-la, disse que ficaria em casa, que estava um pouco ruim de ter mergulhado ontem, talvez uma alergia, Dan foi insistente dizendo que viria para ficar com ela, mas Helena conseguiu convencer ele a não vir.

Passado mais uma hora, Helena finalmente resolveu levantar da cama, colocou roupas quentes, arrumou a cama, depois sentou tomando coragem.

"Bem, ele disse que era só chamar, não é? Certo, coragem Helena, vamos ver se não foi só um sonho."

Ela respirou fundo e chamou o nome como uma invocação.

"David? Você está ai?"

Nada aconteceu, Helena olhava ao redor do quarto e nada dele aparecer.

"Então foi um sonho mesmo?"

"Sinto lhe dizer que não."

De repente ele estava lá, encostado na janela atrás dela. Helena teve um sobressalto.

"Caramba, você me assustou."

"Desculpe."

"Onde você estava? Quer dizer, onde passou a noite?"

David pensou um pouco.

"Na sala talvez? Lembro que sai para fora por um momento e depois você me chamou, na verdade, parece que acabamos de nos falar, para mim não foi como se tivesse passado horas."

"Interessante."

Os dois ficaram quietos por um momento. Até David voltar a falar.

"Então, você já se decidiu?"

Helena realmente tinha pensado muito sobre isso, pensado se estava fazendo o certo, depois pensou se pudesse ter a mãe de volta, se pudesse fazer qualquer coisa para tê-la de volta, ela faria, depois pensou que David também gostaria de reencontrar a família, e em como ele pediu sua ajuda, então Helena finalmente decidiu confiar nele, decidiu que o ajudaria.

"Sim, eu vou te ajudar, eu vou fazer a ligação."

***

Suspirou ao receber a mensagem, seu primeiro impulso foi ir mesmo assim para casa de Helena, mas ela foi muito incisiva em ficar sozinha, dizendo que queria um tempo para ela, então Dan como sempre, respeitou sua vontade.

Chegou na escola cedo demais, quase ninguém tinha chego ainda, ele resolveu dar uma volta na biblioteca para ver se conseguia se distrair, ver se conseguia parar de pensar em Helena. Depois de folhear uns cinco livros diferentes, desistiu, não conseguia tirar os pensamentos de Helena, pegou o celular, selecionou o contato dela para mandar uma mensagem, começou a escrever, leu e apagou tudo.

Caramba, Dan, você está tão dependente dela que não consegue passar um dia sem? Tá pior que um drogado. E Dan se sentia exatamente assim, como um dependente químico que ficava com abstinência toda vez que ficava tempo demais sem ver Helena.

O restante do dia passou como um borrão, ele não se concentrou realmente no que tinha que fazer, a única coisa que desejava assim que o sinal da última aula tocou, era correr para a casa de Helena, mas ele não o faria, não imporia sua presença, nunca o fez, e não ia começar agora.

Chegando em casa se jogou na cama, lembrava do dia anterior, em como estavam próximos de uma forma que nunca estiveram antes, de como se atraíram um ao outro, de como quase um beijo aconteceu. Dan lembrava do toque quente da palma da mão de Helena em seu ombro, de como ela tocou seu rosto pegando seus óculos.

Parecia que todos os sentimentos que andou guardando nos últimos anos, ameaçavam transbordar de uma só vez, Dan não sabia por mais quanto tempo conseguiria esconder, nem sabia se deveria, algo dizia que ele deveria confessar tudo a Helena, e que mesmo que ela não sentisse o mesmo, eles não deixariam de ser amigos.

Bufou rindo de si mesmo, quantas vezes eu já não decidi me declarar? E todas ele tinha sido um covarde e não contara, sabia que se continuasse assim, de uma forma ou de outra alguma hora, Dan perderia Helena.

***

A ligação começou, ele sentia a força vital correr para seu corpo fantasma, sentiu pouco a pouco uma energia se alastrar pelo seu ser, mas percebeu que não poderia sugar tudo de uma vez, nem rápido demais, ou isso teria consequências para Helena e ele não conseguiria completar a transição.

Então a solução seria ir devagar até a ligação estar completa e para isso, teria de passar o máximo de tempo possível perto dela e teria de fazer isso antes deles notarem.

Felizmente, parecia estar se dando bem, após concluírem a ligação, Helena acabou dormindo por algumas horas, seu corpo ainda tinha de se acostumar a dividir a energia de sua força vital, quando acordou, ela o atualizou sobre as novas tecnologias e tudo mais que tinha mudado e evoluído durante o tempo que esteve fora daquele plano terrestre.

Não foi de todo ruim passar aquele tempo com ela, era útil e instrutivo, mas percebeu como Helena encarava o celular, tentada a enviar uma mensagem para seu amigo. Ficou preocupado se isso afetaria a ligação, se afetaria o quanto de energia Helena doaria a ele, afinal, ela tinha que querer trazê-lo de volta, ela tinha que o desejar, então teria de fazer com que ela somente tivesse olhos para ele, que todo o seu tempo e energia seriam gastos para ele, e para isso, talvez, fosse melhor Helena se afastar um pouco daqueles que poderiam atrapalhar.

***

A ligação foi fácil, como David disse que seria, assim que Helena permitiu, assim que ela desejou ajuda-lo, David conseguiu se conectar a ela. Quando aconteceu a sua imagem tremulou como uma miragem, desfocando, Helena também sentiu-se enfraquecer no começo, pouco a pouco, como se sua vida fosse sugada de si, isso a assustou, mas David sorriu gentilmente a confortando e disse que ficaria tudo bem se ela somente descansasse um pouco.

Assim que acordou, ele ainda estava lá sentado, olhando para o nada, ele explicou que não consumiria muito força vital em um dia, que consumiria o necessário até ser suficiente, então nada aconteceria a Helena.

David também explicou a origem de sua força vital, em como os humanos absorviam essa energia sem perceber e, portanto, mesmo dividindo essa energia com David, Helena ainda teria muita energia para si mesma.

Conforme a tarde passou, Helena foi ensinando a David sobre algumas coisas novas que ele não conhecia, ele não sabia exatamente o ano em que morreu, mas devido a seu desconhecimento sobre Wi-Fi, streaming e redes sociais, Helena conseguiu ter uma ideia.

"Eu não sei se você vai querer, nem sei se vai ser bom saber, mas você gostaria que eu pesquisasse sobre a... a sua..."

"Morte?"

Helena assentiu. David pareceu suspirar, ele tinha passado os últimos quinze minutos analisando e lendo todos os títulos de livros da pequena estante de Helena.

"Bem, você acha que seria bom saber o que aconteceu? E se ele não tiver morrido ou sido preso? E se ele ainda estiver por aí?"

Helena ponderou.

"Sei que pode ser difícil, mas já pensou o que você poderia fazer para ajudar? Já pensou que se seu assassino ainda estiver vivo, você poderá não só vingar sua morte, mas também ajudar próximas vítimas?"

"Não, na verdade, não pensei não."

Ele tinha um olhar triste.

"Esquece o que eu falei, foi idiota desculpe."

"Não, não foi, talvez você esteja certa, talvez eu possa salvar outros e impedir que tenham o mesmo destino que o meu."

Sua expressão pareceu se animar, ele sorriu levemente.

"Então, por onde podemos começar? Ir na biblioteca? Pesquisar em jornais antigos as notícias?"

Ela sorriu, pegou o celular e clicou na tela, depois virou a tela para David ver.

"Conheça o Google, a ferramenta de busca mais famosa do mundo, se em algum lugar tiver informações sobre o seu caso, com certeza encontraremos aqui."

David olhava com uma sobrancelha levantada, duvidada que ali continha tanta informação assim, mas Helena o olhava com confiança, então ele sorriu e se aproximou sentando ao seu lado e Helena começou sua pesquisa.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top