Capítulo 13 - Seguida

Ela estava lá, olhando diretamente para ele, havia encontrado quem deveria encontrar, quem ele sentiu que o puxava, quem estava no final da linha. Do outro lado da margem ele podia sentir o coração dela pular de medo, sentir cada palpitação em seu peito, a respiração ficar cada vez mais acelerada.

Eles pareceram se encarar por uma pequena eternidade, ele não tinha certeza se ela realmente tinha consciência da sua existência, se realmente conseguia o ver, mas algo dizia que sim, podia sentir. Ela balançou a cabeça, piscando para tentar confirmar se o que estava vendo era real.

Não fazia sentido assustá-la mais daquela forma, de algum jeito ele desejou que ela não pudesse vê-lo, e de repente percebeu que estava ainda mais translucido que antes, quase desaparecendo totalmente.

Percebeu que deu certo, pois ela não estava mais o encarando diretamente, mas sim olhando confusa como se o procurasse, desistindo, ela pareceu suspirar e pegou a mochila saindo com o rapaz que estava com ela.

***

"Você tem certeza?"

"Absoluta."

Dan perguntava encostado na porta do banheiro de sua casa, eles resolveram ir para casa dele primeiro, Helena ainda não queria voltar para sua casa.

Lá Dan deixou ela tomar um banho no banheiro do seu quarto e ele foi usar o de seus pais. Já vestida com roupas de Dan, Helena estava sentada no vaso sanitário secando o cabelo com uma toalha enquanto Dan estava apoiado no batente da porta com uma expressão pensativa, ele estava sem os óculos e com o cabelo ainda meio molhado caindo pelo rosto.

"Dan, olha, sei que pode ser coisa da minha cabeça, mas tenho certeza que vi ele hoje também, ele parecia nos observar do outro lado da margem."

Helena levantou segurando a toalha.

"Ontem à noite também, eu ouvi os passos, eu vi a maçaneta mexer."

Ela parecia mesmo aflita, Dan nunca tinha visto Lena ficar com aquele olhar de medo.

"E se a gente ligar para o Alan e dizer que você vai ficar aqui essa noite? Tenho certeza que meus pais também não vão se importar, minha mãe te adora."

Dan sorriu, agora olhando diretamente para Helena.

"Brigada, mas tá tudo bem, eu acho melhor voltar hoje, nós já cabulamos aula, lembra? Além disso, é melhor não deixar o Alan sozinho também."

Ele cruzou os braços.

"Tudo bem então. Tá com fome?"

"Na verdade, tô sim."

Dan descruzou os braços e bateu as palmas das mãos as esfregando.

"Beleza então, vou fazer alguma coisa pra gente comer, pode deixar a toalha pendurada aí que depois eu coloco pra lavar."

Ele saiu deixando Helena sozinha no banheiro novamente, ela encarou seu reflexo no espelho, seu rosto parecia pálido e cansado, ela respirou fundo, deixou a toalha e saiu fechando a porta.

A fumaça do banho já tinha dispersado a muito tempo, mesmo assim, quando Helena saiu e fechou a porta, o espelho ao qual ela encarou, embaçou visivelmente, como se tivesse algo ou alguém, que havia olhado para a mesma direção que ela no espelho, que a havia encarado de perto.

***

Depois de comer, Helena resolveu que já era hora de voltar, e Dan a acompanhou até em casa.

"Lena, eu preciso resolver umas coisas ainda hoje que meu pai tinha pedido, mas não quero te deixar aqui sozinha, o Alan já tá vindo?"

"Pera, deixa eu ver."

Helena tinha mandado uma mensagem fazia dez minutos e foi verificar o celular, agora já em suas roupas, assim que chegou se trocou e devolveu as roupas de Dan.

"Sim, ele disse que chega em cinco minutos. Pode ir, eu sobrevivo cinco minutos sozinha."

Dan a encarou com um olhar de dúvida.

"Eu espero."

"Vai logo, eu vou ficar bem."

"Certeza?"

"Absoluta."

"Tá, mas tranca a porta, falou?"

"Pode deixar, já tá na mão a chave. Vai logo, pode ir."

Dan foi em direção a porta e a abriu, virou olhando para Helena.

"Certeza?"

Helena segurou a porta, fechando lentamente.

"Tchau Dan."

"Qualquer coisa me liga."

"Tá bom. Até amanhã."

Helena fechou a porta e Dan não se moveu até ouvir Helena virar a chave trancando a porta. Ele suspirou olhando para o céu que escurecia com o crepúsculo e saiu andando pela rua deserta.

Assim que Dan saiu, o celular de Helena apitou, era uma mensagem de Alan dizendo que iria se atrasar, no mesmo instante, quase automaticamente, Helena foi até a porta e a abriu, com esperança de ainda ver Dan, ainda chegou a correr para a rua com a intenção de chama-lo, mas se impediu.

Por um momento ficou no meio da rua se perguntando qual era o problema com ela, nunca teve medo de ficar sozinha em casa e não era agora que começaria a ter medo.

Suspirou voltando para casa, antes que chegasse a porta ouviu um miado baixo, parecia vir de trás da casa em direção a mata que ficava nos fundos. Helena trancou a porta e deu a volta na casa em direção ao miado.

Ele parecia cada vez mais longe, se afastando dela, Helena entrou um pouco na mata, não se afastando muito da casa.

"Ei gatinho, eu não vou te seguir se você for mais fundo."

O miado cessou, Helena ficou em pé tentando ouvir, de repente um vento frio a fez ter um calafrio, desistindo, ela se virou para voltar para casa, enquanto caminhava lentamente olhando distraidamente para as árvores, as folhas no chão, Helena congelou.

Do canto do olho ela o viu, ele estava parado ao lado da sua casa na parte da frente, da onde ela estava sua única saída seria correr no meio da mata, sabia que em algum momento encontraria a rua principal, sem pensar mais, Helena começou a correr.

Sem parar de correr ela olhava para trás para ver se não estava sendo seguida, seus batimentos pulsavam em seus ouvidos, Helena ofegava enquanto corria em desespero.

O pânico alastrou-se em Helena assim que percebeu que a silhueta, aparentemente imóvel, ao invés de se afastar se aproximava, mesmo sem dar nenhum passo em sua direção, ele estava a dez, cinco, um metro de Helena até que de repente ele apareceu a sua frente, ela tentou parar, mas caiu em cima dele, passando através de seu corpo que tremeluzia.

Caída no chão Helena olhou para o cara que a encarava, seus olhos azuis como gelo prenderam seu olhar, ele tinha a pele muito branca, era alto com ombros largos e músculos rígidos abaixo da camiseta preta de manga comprida, seu coração disparava em seu peito.

Ela começou a se arrastar se afastando, se virou para levantar e correr, mas ele estava lá na sua frente novamente, voltou seu corpo para o outro lado e como um flash, ele estava lá de novo, seu olhar parecia triste, apelativo.

"Por favor... não tenha medo."

Helena arregalou os olhos, pois enquanto ele falava, seu corpo tremeluzia, como se sua imagem tivesse falhando como a recepção ruim de uma TV antiga.

"Por favor, não tenha medo, eu preciso de você."

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