Capítulo 10 - Prelúdio
A noite estava tempestuosa, raios iluminavam e trovões a faziam ser barulhenta, o sono não queria vir, Helena estava se mexendo de um lado para o outro na cama, a imagem do homem a observando, mesmo borrada em sua mente, ainda a perturbava.
Nunca antes se sentiu assim, tão insegura, paranoica, não desde a morte de sua mãe, ela teve que lutar muito para sair daquele estado depressivo em que se encontrava e não queria voltar para ele.
Suspirou pegando o celular e o fone, acho que não vai rolar dormir hoje, colocou uma música numa lista aleatória do Spotify e começou a passar por fotos de diversas pessoas no Instagram, até acabar achando uma postagem de Dan daquele dia, era uma foto engraçada dos dois rindo no sofá.
Helena sorriu, gostava de passar esses momentos com Dan, talvez, uma ideia passou pela sua mente, não uma ideia, um sentimento, talvez estivesse começando a sentir alguma coisa por aquele nerd.
Riu, virando para o outro lado da cama, em direção a janela escura, quando um relâmpago cruzou o céu a iluminando, uma silhueta apareceu na janela, atrás da cortina, Helena gritou e correu para chamar Alan.
Quando voltaram e Alan foi até a janela verificar, não havia mais ninguém. Helena engoliu em seco, talvez não seja somente paranoia.
***
"Qual é, vamos logo, se não a gente se atrasa!"
Dan gritava da porta, depois do que aconteceu no dia anterior, Alan não queria que ela fosse sozinha para a escola, e Helena não queria que ele a levasse para não atrapalhar no trabalho, então pediu para Dan vir.
"Saindo!"
Helena gritou de dentro da casa, saiu trancando a porta, Dan estava de costas olhando em direção a represa.
"Cara, finalmente, pra que se arrumar tanto? Você não detesta a escola?"
Ele disse e se virou, parou por um momento ao ver Helena caminhando em sua direção, o cabelo encaracolado e volumoso solto emoldurando o rosto, pigarreou tirando a expressão boba do rosto e começaram a caminhar.
"Eu não fico me arrumando, se acha que é fácil lidar com essa juba aqui?"
"É, não deve ser fácil não ser naturalmente maravilhoso como eu."
Ele balançou o cabelo fingindo estar em comercial de shampoo, fazendo caras e bocas.
"Aww, fofa essa sua autoconfiança, continue assim."
"Besta."
Dan bagunçou seu cabelo jogando para frente, Lena empurrou seu braço e ele a girou, ela quase se desiquilibrou e caiu, mas Dan a segurou em um abraço, Lena estava rindo e tentando tirar o cabelo do rosto, quando conseguiu se viu encarada por Dan, que tinha uma expressão suave.
Helena piscou encarando seus olhos, o olhar de Dan parecia tão intenso, eles começaram a se aproximar...
Uma moto passou buzinando e os dois se afastaram apressados. Voltando a andar, Dan puxou assunto.
"Então, me conta direito o que rolou ontem. Você disse que viu o cara na sua janela?"
Helena caminhava olhando para o chão, chutando as pedrinhas que apareciam em seu caminho.
"Não exatamente, eu vi uma silhueta, parecia me encarar detrás da cortina, olha eu sei, parece paranoia..."
"Não acho que seja."
Helena o encarou, ele estava realmente sério.
"Bem, só vamos tomar cuidado, não quero que você fique com medo nem nada, mas é bom ter uma noção de perigo de vez em quando. Olha, eu vou dar uma pesquisada, procurar na internet se tem algum caso de algum fugitivo ou sei lá, tá bom?"
Sorriu concordando.
"Certo."
"Enquanto isso, sabe que tô aqui sempre pra te proteger, eu sou faixa azul em artes marciais."
Ela riu.
"Desde quando?"
"Quando eu tinha cinco anos? Sei lá, mas serve pra alguma coisa, só sei que ninguém mexe com a minha garota aqui."
Puxou Lena para um abraço, a envolvendo com um braço só enquanto ainda caminhavam.
Minha garota. Helena sabia que Dan disse em tom de brincadeira, mas não conseguiu se impedir de imaginar se ele não estava, lá no fundo, falando sério.
***
Os ânimos estavam exaltados naquele dia, Bruno e Marcos pareciam mais animados para o encontro de David do que ele próprio. Ele não gostava de ficar ansioso e ficar pensando em tudo o que poderia acontecer, então, ele sempre tentava agir normalmente, sem expectativas.
Mesmo assim, não conseguiu evitar pensar no encontro do dia seguinte, as aulas passaram rápido naquela sexta-feira, David estava disperso demais para prestar atenção, muitos pensamentos ecoavam em sua mente.
"O que vai ser?"
"Hum?"
David caminhava alheio sem prestar atenção em Bruno.
"O encontro, vão fazer o que?"
"Ah, provavelmente, boliche, não sei ao certo."
Marcos cutucou David com o cotovelo.
"Boliche? Por que não vai no cinema?"
"Você sabe que não curto muito cinema."
David ainda parecia não prestar muita atenção no amigo.
"Tá tudo bem? Você tá distraído o dia todo, aconteceu alguma coisa?"
Realmente nada havia acontecido, David só se sentia meio pensativo sobre o futuro e sempre ficava assim no caminho para casa, naquele dia, no entanto, tinha a companhia dos amigos, eles iriam fazer uma tarde de jogos ou filmes.
"Não, eu tô bem, só pensando em nada demais."
"Hum, sei."
Os três continuaram o caminho com conversas leves e despreocupadas, Bruno segurava seu celular e o de Marcos para passar as novas músicas que Marcos baixou, pelo bluetooth, quando faltava poucas ruas para chegarem à casa de David, viram um homem agachado perto de um carro xingando enquanto tentava trocar a roda.
"Droga de macaco barato."
Marcos que gostava de carros se aproximou.
"Precisa de uma ajuda aí, amigão?"
"Ah, bem na verdade sim, se puderem me ajudar a erguer mais um pouco, parece que o macaco quebrou e não levanta mais que isso."
Ele apontou para o macaco que não levantou o carro o suficiente para conseguir trocar a roda.
"David, Bruno, ajuda aqui."
Os três se juntaram para erguer um pouco o carro e o homem conseguiu tirar a roda e logo depois colocar a nova, enquanto ele colocava os parafusos Marcos analisava o carro.
"Boa pintura, tá bem conservado, é todo original?"
O homem respondia ainda agachado colocando os parafusos.
"Sim, todinho, orgulho do meu velho."
"Legal, Ford Scort 83?"
"Não, 84."
Eles ainda trocaram mais algumas palavras sobre carros, David estava com uma sensação estranha na boca do estômago.
"Vocês moram por aqui?"
"Não, só o David, mora ali na rua da creche."
"Ah, a mesma que levo a minha filha. Bom, muito obrigada, vocês realmente me ajudaram muito."
O homem apertou a mão de Bruno e Marcos, e quando apertou a de David ele o encarou com olhos intensos e um aperto forte, David ficou incomodado e puxou a mão rápido se despedindo e empurrando os amigos para saírem dali.
"O que foi cara, ele até que era bem simpático."
Marcos dizia.
"Você sempre diz isso, todos são simpáticos para você né, o que foi? Uma quedinha pelos olhos verdes, ham?"
"Panaca, vai ficar jogando na cara? Mas se quer saber, eu até que pegava mesmo."
"Eu disse, não precisa de muito pra te conquistar, qualquer par de olhos claros já te deixa todo apaixonadinho. Quer voltar e pegar o telefone dele é? Ele não parece o tipo papa anjo."
Bruno riu com a provocação. Marcos zombava de Bruno fazendo uma voz idiota.
"Olha quem fala o cara 'ela é a mais linda que já vi na vida, é minha alma gêmea, tô certo dessa vez', isso pra qualquer garota que tu acha que te deu mole."
Marcos tentava bater em Bruno que desviava correndo pela rua, os dois fingiam brigar, mas estavam se divertindo como sempre, enquanto David ainda sentia uma sensação estranha.
Olhou para trás e o carro ainda estava lá parado, de alguma forma, ele sentia que o homem ainda o encarava de dentro do carro, como se algo em seu interior soubesse que havia algo de perigoso em alguém que se mostrava tão gentil e simpático.
***
Naquele mesmo dia, quase anoitecendo, assim que Bruno e Marcos foram embora, David ficou sozinho em casa, sentou em sua mesa para estudar um pouco, seu quarto ficava no segundo andar, à frente da mesa tinha uma janela que podia ver a rua, bem em direção a creche.
Enquanto olhava para fora distraidamente, viu o mesmo carro de mais cedo, daquele homem, algo no fundo da sua mente soava como um alarme de atenção dizendo que ele deveria se preocupar e por um momento ele ficou apreensivo, mas assim que viu as crianças saindo, se lembrou que o homem disse que a filha estudava lá, então ignorou a paranoia fechando a cortina para se concentrar.
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