Novath
Novath Longstrider
Vilamar, território de Beymuth em Valanthar
A noite pareceu chegar mais rápido em Vilamar ao final daquele dia. Os últimos raios de sol já se despediam no horizonte quando enfim as centenas de pessoas começavam deixar a tão conhecida vila-comércio de Beymuth.
Os intermitentes sons dos pássaros piando em suas gaiolas, os vendedores anunciando seus produtos em diversas línguas diferentes e os mais variados latidos dos cães vindos das ruas, aos poucos davam lugar aos longínquos uivos dos lobos vindos da Floresta da Paz, a leste de Vilamar; anunciando que mais um dia de negociações chegava ao fim.
O que há pouco era um frenético vai e vem e um festival de sons dissonantes, agora transformara-se em esporádicos grupos concentrados nas tavernas e nos poucos sussurros noturnos de quem ainda se aventurava na sinistra noite da vila comercial.
Vilamar de dia parecia um enxame de abelhas devido ao frenético fluxo de pessoas indo e vindo trocando e comercializando intensamente, mas quando a noite ameaçava cair, como num passe de mágica todos iam sumindo aos poucos.
Alguns simplesmente se recolhiam para suas casas na região, mas muitos retornavam para pequenas aldeias mais distantes.
Essa prática era diária desde que a famosa vila comercial havia sido estabelecida séculos atrás.
Pessoas vinham de todos os lugares de Valanthar fazer negócios ali, e muitos vinham até mesmo de fora do continente.
Não se sabe ao certo porque Vilamar recebera esse nome, já que o mar ali estava há milhas de distância, mas a alcunha tornara-se tão natural, que as pessoas sequer questionavam sua origem.
Desde criança os irmãos Longstrider ouviram dizer que há muito tempo o mar inundara toda aquela região, mas se ali esteve, a única prova que deixou foi apenas o nome.
O comércio a base de trocas era quase milenar em Vilamar, e ia desde animais, tecidos, comidas, sexo, e claro, escravos.
Nos tempos do rei Reston de Brunne, tal prática era punida com a morte, mas depois da Unificação eles podiam ser trocados ou vendidos como mercadorias sem nenhuma punição.
Novath Longstrider, o mais velho dos irmãos que protegia o rei, lembrava do lugar de uma forma bem diferente da que via hoje; naquela época havia mais pudor e boas regras, que dignificavam o ambiente e o tornavam propícios até mesmo a receber um monarca, como o próprio Reston de Brunne fizera algumas vezes.
Hoje, o grupo liderado por Novath só havia parado ali por ser o último lugar que ainda tinha quartos para repousar, antes que enfim caíssem de vez na estrada por um longo tempo.
O pensamento de dias passados sobre Vilamar deixou o cavaleiro triste de uma forma que não podia explicar, mas afinal, não havia tempo a perder com memórias antigas, tudo o que importava agora era o rei e a irmã.
O lugar em que eles haviam se hospedado fedia a porcos e estrume, e ainda assim tiveram sorte de encontrar um quarto, tamanho era o alvoroço naqueles dias conhecidos como dias verdes;
A época era o tempo das colheitas no oeste do continente, por consequência, tempo de grande movimentação na Vila-comércio.
Os produtos ali vendidos em sua grande maioria eram originários de outros territórios, mas principalmente vinham de Bérniff, o território mais abastado de todos os tipos de alimentos.
O continente valantariano era conhecido por suas grandes plantações, minérios, animais e um belo povo, e isso atraía todos aqueles que tinham algo para gastar. Aqueles que não tinham nada iam para vender o que quer que tivessem à mão, ou em sua grande maioria, para mendigar ou se prostituir, e infelizmente, boa parte dos que faziam isso atualmente eram beymutitas, legado da Unificação; o evento que transformou a vida de todos daquele lugar.
Fato era que em todos os ciclos da lua durante todo o ano, Vilamar jamais ficava vazia.
Quando bem jovens, os irmãos Longstrider estiveram ali algumas vezes com seus pais. A pequena Lenna Longstrider adorava ver os animais exóticos, comprar sedas e experimentar as diferentes comidas trazidas pelos neruítas, mas isso havia sido em outra vida, em um reino bem diferente.
Hoje eles retornavam a Vilamar para pôr em prática a arriscada missão para à qual haviam sido designados: conduzir Rikkar, filho de Reston de Brunne, o rei assassinado, até o território de Bérniff, há milhas de distância dali.
Mas a viagem começava a se mostrar muito mais difícil e perigosa do que Novath imaginava, pois quando a noite enfim caíra em Vilamar ao final daquele dia, ele viu o sinistro grupo chegar. Cinco homens com mantos púrpuros, rostos sisudos, e montados em fortes corcéis de guerra adentrando os portões em forma de barcos se cruzando.
A chegada dos homens o deixou mais inquieto que achava poder ficar. Por isso ergueu a cabeça para observar o caminho à sua frente e tentar retornar a pousada o mais breve possível, e sem chamar a atenção de nenhum deles.
Foi quando inesperadamente os homens se separaram indo em cinco direções diferentes.
Era comum soldados mantos púrpuros andarem em duplas em suas rondas noturnas por Beymuth, mas nunca ouvira falar sobre andarem sozinhos tão longe das muralhas da cidade; ainda mais montados em fortes corcéis de guerra. Até mesmo eles mantinham algum receio da noite beymutita e do ódio que o esfacelado povo nutria por aquela cor.
O fato deixou o já normalmente apreensivo Novath Longstrider ainda mais atento. Achou melhor retornar para junto de sua irmã e do rei o quanto antes. Aquilo poderia não ser nada, mas como lhe era peculiar, optou pela precaução; os suprimentos, motivo pelo qual havia se separado do grupo, podia esperar um pouco mais.
Fora da pousada boa parte da tarde, ele não queria chamar a atenção para si naquele lugar, por isso vestia um simples gibão cinza e calças pretas. Nas costas, uma capa marrom escondia parcialmente sua longa espada muito bem afiada; uma vestimenta comum para um homem tão bem nascido, mas isso não importava agora, pois tudo o que possuía atualmente era sua vida e sua honra; e ele as mantinha com um único propósito: proteger o rei.
Quando Novath ergueu os olhos e viu a pousada de quatro andares onde sua irmã e o rei estavam, decidiu pôr o capuz e andar ainda mais rápido. Porém, seu coração disparou quando percebeu que da janela do último andar começou a sair fogo; era a janela onde os dois estavam.
Então ele baixou o capuz sem mais se importar se o reconheceriam, sacou a espada e correu o mais rápido que pôde.
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