Iryna


Risco Calculado



Realmente não sei como agradecer! E-Eu não tenho palavras! Pessoas como vocês não se encontra todo dia por aí! Saibam que nunca, nunca, nunca esquecerei o que fizeram por mim!

— Não estou tentando ser modesto, moça, quando digo que não quero nada em troca estou falando a mais pura verdade, realmente não precisa agradecer. Fiz o que faria por qualquer pessoa na mesma situação, mas se realmente quer agradecer alguém, agradeça a Brett, ele lhe tem em mais alta conta.

Iryna lançou um terno olhar para o garoto que estava sentado à mesa e foi até ele.

O jovem se levantou e a abraçou pela cintura sem nada dizer.

— Você é o rapaz mais corajoso que já conheci, e um dia será um homem tão bom quanto seu pai!

Brett se afastou um pouco de Iryna.

— Você não precisa ir, Dhemer... Pode ficar com a gente! Meu pai não negaria. Diga a ela, pai! Diga! — Brett encarava o pai com olhos marejados enquanto suplicava.

— Brett, eu...

— Olhe pra mim, Brett. — As palavras de Iryna ajudaram Merthan a se livrar da enrascada.

— Não cobre tanto seu pai, Brett, ele não tem culpa... eu é que não posso permanecer aqui. Pela minha segurança, e principalmente pela de vocês. Depois de tudo o que fizeram por mim, jamais poderia colocá-los em perigo novamente.

Brett foi até a cadeira e se sentou.

— Não ligue pra mim, Dhemer, é só que... Acho que acabei me acostumando com você aqui dentro, mas não quero colocá-la em perigo, se precisa ir... Que a Cobra Mãe a proteja.

Iryna estava com o coração apertado. Havia se afeiçoado bastante às pessoas que a salvaram, mas precisava ir para que não corressem mais perigo, e também por que ainda tinha uma missão a cumprir.

Era estranho o fato deles saberem que ela era mulher e ainda o chamarem de Dhemer, porém, a beymutita achou melhor que não soubessem de nada que pudesse comprometê-los ainda mais, caso chegassem até eles.

De repente a porta da cabana se abriu e um terror tomou conta de todos.

— Mamãe! Já disse para a senhora bater três vezes antes de entrar enquanto Dhemer ainda estiver aqui!

A idosa olhou para Iryna com pouca emoção.

— Achei que ela já tivesse ido embora.

Iryna se aproximou de Lalah.

— Muito obrigada por tudo, senhora... Nunca esquecerei.

Lalah olhou Iryna dos pés à cabeça.

— Hum... Estou vendo que fica bem melhor vestida de mulher.

Iryna passou a mão em seu vestido como se tivesse esquecido que o estava usando.

— Obrigada, Lalah... Muito...

— Chega de agradecer, garota. Já te salvamos, te curamos, te demos um vestido e até uma peruca! Se está realmente grata, parta agora, antes que os guardas acabem batendo em nossas portas.

Diante daquelas palavras, Iryna não teve argumentos para contestar, então foi até Brett e o abraçou novamente.

— Me faça um último favor, meu amiguinho corajoso; vá lá fora e observe se está tudo bem para que eu possa sair sem ser vista.

O garoto assentiu e foi para fora. Depois de algum tempo entreabriu a porta e falou com voz sussurrante:

— Venha Dhemer, está tudo tranquilo.

Iryna deu uma última olhada para Merthan e sua mãe e lhes lançou um singelo sorriso de agradecimento, em seguida virou-se em direção à porta e saiu.

Tudo estava tranquilo, e com exceção de algumas crianças brincando na rua, nada estava fora do normal.

Iryna aproximou-se de Brett e deu uma leve coçada em sua cabeça.

— Cuide-se rapaz... E cuide daqueles dois também. Que os Antigos os protejam! E mais uma vez... Obrigada!

Brett fez um movimento como se fosse abraçá-la, mas ela o repeliu.

— Não é prudente, Brett.

— Você tem razão... — Disse o garoto meio constrangido. — Bem, então é isso, não é? Que a santa Cobra Mãe a guie.

Após falar, Brett deu um derradeiro sorriso e voltou para sua cabana.

Iryna ajeitou um pouco sua peruca com fios castanhos escuros e também seu simples vestido cinza, depois começou a descer a íngreme estradinha de barro que a levaria para longe da região praiana. As dores abdominais a incomodavam bastante, assim como o ferimento em seu braço, mas o que podia ser feito já havia sido feito, então era só uma questão de não realizar grandes peripécias, e com o tempo tudo voltaria ao normal.

A escolha por sair da cabana somente à noite havia sido sábia. Os pescadores costumavam dormir cedo por conta de seus matutinos horários, e naquela hora o caminho estaria livre para que ela passasse sem ninguém a incomodar. Seus passos eram firmes e objetivos, e em sua mente só havia um lugar em que ela poderia ir naquele momento: o Castelo Leyfout.

Se havia alguém naquele território que ainda poderia de alguma forma ajudá-la, era o Dominante de Léssia; ele tinha poder para aquilo e também para pôr um fim ao sumiço das crianças.

O mandatário precisava saber o que seu conselheiro Jasnic Sommier vinha fazendo com a ajuda de Fausto.

Era bem verdade que o convite que ele lhe fizera para conhecer o jardim de seu castelo já fazia algum tempo, mas agora ela já não sabia mais o que fazer, pois tudo estava de cabeça para baixo.

Era bem provável que seu disfarce como Dhemer Mornoff tivesse sido descoberto por Jasnic Sommier na noite em que foi atacada, pois só um tolo não ligaria o exímio artista da trupe a alguém atirando facas com tamanha precisão.

Sua situação naquele momento era a mais crítica até então; ela estava sendo perseguida, não podia mais recorrer a cobertura que a trupe lhe dava, não sabia o que havia acontecido com Annya, além de todo seu dinheiro ter se perdido no rio; agora sequer podia contar com o irritante Clasnitt, pois ao que parecia, ele já havia conquistado seus objetivos. Ela estava sozinha, sem amigos, sem recursos ou qualquer tipo de proteção, portanto, agora era tentar entrar no castelo Leyfout ou voltar para casa de mãos abanando. A decisão estava tomada, mas o que o futuro lhe reservava só o tempo diria.

Ela estava decidida a usar o pretexto de conhecer os jardins do Dominante para tentar uma última cartada sem revelar sua verdadeira identidade. O intuito era entrar no castelo e procurar a espada, e também tentar resolver o mistério do desaparecimento das crianças da cidade, mas se ao final de tudo ainda não obtivesse sucesso, estava disposta a revelar a Hamudd Leyfout sua verdadeira identidade para ver o que aconteceria a partir dali. Ele parecia ser diferente dos outros Dominantes, já que não havia entrado na guerra por vontade própria e também era avesso à violência. Sem sombras de dúvidas Hamudd Leyfout era sua última cartada com tudo dando errado.

A guerra já havia sido anunciada e ela não queria de maneira alguma voltar de mãos vazias para casa, sem qualquer coisa para contribuir com a causa. Não bastava ter perdido Annya, perder seu disfarce na trupe e quase ter morrido no rio, ainda teria de voltar para a Ordem e comprovar o que muitos achavam dela: que não tinha capacidade de grandes feitos apenas por ser mulher? Não! Definitivamente isso estava fora de questão.

Iryna andou por um longo tempo até chegar ao cais, e ali notou que a movimentação era bem mais intensa que na orla marítima, e a frequência com que os guardas com capa vermelha caminhavam para lá e para cá parecia estar maior que o normal, algo dizia que aquilo tinha a ver com ela.

Enquanto se misturava em meio às pessoas, ela notou muitos olhares curiosos sobre si, então puxou umas mechas de cabelos da peruca e pôs em frente ao rosto, tentando esconder parcialmente sua face. A beymutita sabia que todos procuravam Dhemer, um rapaz franzino e vestido de homem, mas nunca uma bela morena de vestido cinza, por hora o disfarce a manteria a salvo.

Ela seguiu em frente e desceu o canal do pescador, até que passou por uma afastada taverna de onde vinham sons bem animados, então observou que havia muitos cavalos nas baias ao lado, e o pensamento de roubar um deles foi inevitável. Montada em um daqueles animais ela ganharia um enorme tempo e poderia chegar ao castelo Leyfout assim que amanhecesse, o risco valia a pena.

Quando Iryna se aproximou da taverna, ela notou que as pessoas lá dentro estavam muito animadas, e provavelmente bêbadas, era um bom cenário para que pudesse roubar um dos cavalos sem ser vista.

Como quem não queria nada, a beymutita esgueirou-se pela lateral da taverna indo parar direto nas baias.

— Perdeu alguma coisa, moça?

Iryna deu um salto com tamanho susto que levou ao ouvir aquela rouca voz.

Havia alguém sentado no fundo do lugar, parcialmente escondido pela escuridão, e que ela não havia visto.

Seu rosto só apareceu um pouco quando ele tragou seu fumo e alguma luz emanou do tabaco.

O homem levantou-se, e então ela pôde ver que ele já passava dos cinquenta anos e vestia roupas bem desgastadas.

— Fiz uma pergunta, moça.

— Err... Não, não perdi nada. Na verdade, só procurava um lugar para me aliviar.

O homem sorriu revelando um sorriso marrom.

— Não fique acanhada, moça... Faça aí mesmo, eu vigio para que ninguém se aproxime.

Iryna conhecia bem aquele tipo de homem; era o mesmo tipo dos guardiões mantos púrpuros.

Se não fosse neta de quem era, provavelmente teria sido estuprada por diversas vezes em Beymuth, entretanto, ela sabia como lidar com homens assim, pena que não tinha nenhuma faca naquele momento.

— Vou ser sincera... Não estou aqui para isso, estou aqui para roubar um desses cavalos.

O homem deu outra tragada e em seguida baixou o fumo, soltando uma baforada de fumaça.

— Aí temos um problema, moça, já que eu estou aqui para protegê-los. — Ele andou até ela. — Mas quer saber, acho que podemos fazer um trato...

Iryna já sabia o tipo de trato que ele queria, mas tinha que entrar no jogo.

— Que trato?

— Assim como você, também tenho que me aliviar, moça. Sabe... Já faz algum tempo que não me alivio. Levante seu vestido e fique de costas, não vou demorar, depois deixarei que leve um dos cavalos e direi ao dono que ele fugiu.

Um nojo indescritível subiu pela garganta de Iryna, mas a situação exigia algum sacrifício e sapiência.

— Faço outro trato com você: deixo-o olhar os meus seios e nada mais. Pegar ou largar.

O homem deu outra longa tragada em seu fumo.

— Quer saber... Faz tanto tempo que não vejo uma puta nua, acho que vai valer a pena; ainda mais uma com a pele tão clarinha como a sua.

Iryna sentia vertigem ao imaginar aquele homem a olhando, mas a decisão havia sido tomada. Ela baixou a parte superior do vestido e revelou perfeitos e pequenos seios rosados com bicos amarronzados.

O homem entreabriu a boca e deixou o fumo cair sem que sequer percebesse.

— Você vai tocar fogo no lugar. — Ela falou mostrando-lhe que a palha abaixo de seus pés começava a se incendiar.

O homem pisou no fumo meio assustado e apagou o fogo.

— Você é a criatura mais perfeita que os deuses já puseram nessa terra, moça.

Ele se aproximou de Iryna e tocou seus seios com suavidade e perícia, enquanto estremecia durante o ato, até que levou a boca aos pequenos bicos avermelhados e começou a sugá-los com fervor.

— Agora já chega! Não foi o que combinamos! — Disse Iryna, se afastando dele.

— O que acha que está fazendo, sua putinha? Pensou mesmo que eu a deixaria levar um cavalo somente por olhar os seus peitinhos? Eles foram só o começo, agora quero ver essa sua bocetinha que também deve ser bem vermelhinha. — Após dizer as palavras, o homem avançou e a agarrou.

Iryna tentou se soltar, mas ele era mais forte e a derrubou no chão.

Ele já baixava suas calças e tentava se por entre as pernas dela à força, mas a beymutita viu ao lado de sua cabeça um ancinho de juntar feno.

Ela pegou o utensílio pelo meio e o cravou no pescoço do homem, então ele a largou imediatamente.

Iryna se levantou um pouco assustada, enquanto o homem gesticulava para ela com o instrumento cravado em si.

Ela aproveitou o momento e desamarrou um dos cavalos, depois o montou e saiu em disparada rumo a colina das flores, onde ficava o castelo Leyfout.

Tinha que ser rápida, pois logo os soldados lesinenses estariam ali para averiguar o ocorrido.

Enquanto cavalgava com velocidade, as pessoas se apressavam em sair do seu caminho.

Seu corpo tremia com tanta adrenalina pelo que havia feito, que sequer sentiu o latejar de suas feridas e o sangue que de lá começava a escorrer.

Talvez tivesse matado o homem, e se pegassem-na seria condenada e executada, mas agora já não importava mais, tudo o que queria era sair dali e encontrar Hamudd Leyfout.



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