Ellanor
Khar'hulgs
A torrencial chuva caía enquanto Ellanor Mouth puxava seu incapacitado irmão pelo íngreme terreno montanhoso. Uma larga tala de madeira fora construída para que ele pudesse levá-lo com mais facilidade, ao invés de continuar a arrastá-lo na pesada cadeira.
Os homens que os acompanharam até os pés das montanhas, permaneceram ali a pedido de Ellan, e agora o duro desafio de chegar ao topo das gêmeas com seu inerte irmão recaía somente sobre ele, e mesmo com o firme propósito de chegar ao objetivo, o medo e a incerteza o acompanhavam por todo o trajeto, tal qual a espessa chuva que caía impetuosa sobre a cabeça de ambos
A grande verdade era que os irmãos não sabiam o que iriam encontrar; não sabiam se era perigoso ou mesmo se desceriam vivos dali depois que encontrassem seja lá o que a espada estivesse indicando.
Tudo o que de fato tinham eram relatos de um livro antigo, que poderia muito bem estar contando histórias distorcidas, versões dissonantes de algo que poderia ou não ter acontecido há muito tempo. Ellanor tinha medo que no final de tudo as histórias não passassem apenas de uma grande fixação de seu obstinado irmão, que ao contrário dele, parecia ter total convicção de que a glória os esperava no topo das enigmáticas montanhas Gêmeas.
Ellan temia que tudo pudesse ser uma grande frustração para Salazhar, mas ao mesmo tempo não podia deixar de pensar no que acontecera na cabana no dia em que Marec Benneton o encontrou. De fato ele pôde comprovar que havia poder na espada, e ainda que eles não soubessem exatamente o que era, não podia negar que estava ali.
Ellanor sempre fora muito cético em relação a qualquer assunto relacionado a deuses, magia, feitiçaria ou afins, e no início só aceitou se envolver em tudo aquilo por amor ao irmão, que o convencera a muito custo. A decisão de aceitar se infiltrar no castelo Noutmander na verdade também nunca fora dele. Tudo o que Ellanor sempre quis foi levar uma vida simples à beira da praia e cuidar de Salazhar enquanto tivesse vida. Mas quão grande fora a surpresa dos dois, quando certo dia apareceu à sua porta um vistoso homem com capa preta e lisos cabelos pretos escovados para trás.
Benaffar Binn não era apenas imponente e persuasivo, mas também ardiloso e inteligente. De alguma forma ele ficou sabendo do que havia acontecido com Salazhar no passado, e aproveitou o fato para tentar convencer Ellan a fazer o que ele queria.
De imediato o gêmeo recusou, mas Salazhar dissera que se o irmão não fosse, ele próprio iria, então Ellan acabou sendo convencido por ele.
O fato era que ninguém gostava de beymutitas em quaisquer dos territórios depois da unificação, e ele sabia que não seria fácil ser admitido nos domínios do castelo Noutmander, mas no final foi o que acabou acontecendo, e ele sabia que tinha dedo do homem ali.
Quando enfim chegou à posição de serviçal na cozinha do castelo, Binn decidira que a hora de cumprir a missão a ele incumbida havia chegado: matar Mikar Noutmander.
Então Ellanor foi chamado a Beruhim pelo próprio Nêmenas K'leut, que o recebeu em sua imensa biblioteca. Na ocasião o homem estava embriagado e parecia meio louco falando de deuses, armas mágicas e lendas, nem parecendo a mesma pessoa fria e calculista que havia conhecido tempos atrás. Mas ainda assim ele entregou um pequeno frasco incolor com um líquido azul, dizendo que o conteúdo era lento e indetectável. Segundo ele, o veneno agiria de forma sorrateira ao longo dos dias sem demonstrar qualquer sinal de doença, mas quando chegasse ao auge, se manifestaria de uma única vez e seria mortal.
A grande verdade era que Ellanor já sabia o que teria que fazer e só queria o mais rápido possível poder sair daquele lugar, mas por algum motivo, uma palavra que o Dominante dissera naquela sala ficou ecoando em seus pensamentos: lendas.
Assim como todos em Valanthar e até em outros lugares, era conhecida a famosa lenda dos irmãos Brunne, mas ele sabia que um acima de todos se interessava por aquele assunto: seu irmão Salazhar. Ellanor crescera com o irmão sonhando em reprisar a fantasiosa história dos lendários gêmeos. Ele sempre dizia que assim como os Brunne, um dia também teria armas mágicas para poder comandar seu próprio exército de pedra. Esse acabou sendo o maior motivo para que Salazhar tivesse se esforçado tanto para chegar a entrar na cavalaria Brunne, pois ele queria pelo menos poder viver o mais próximo possível dos descendentes dos famosos irmãos.
Pensando em todas aquelas coisas sobre o passado, Ellanor encheu-se de coragem, e em um momento em que Nêmenas K'leut foi até sua mesa para beber vinho, seus olhos foram fisgados por um grosso livro de capa de couro em uma das inúmeras prateleiras da imensa biblioteca, e nele estava escrito: Lendas, e no subtítulo: Truski. Ele não fazia ideia do por que estava fazendo aquilo, tudo o que queria era proporcionar ao irmão alguma forma de entretê-lo, por algum tempo fazê-lo esquecer que estava confinado aquela vida limitada até o fim de seus dias, então ele rapidamente pegou o livro e o escondeu por baixo das roupas, atrás das costas.
Ellan pensava que K'leut jamais daria falta de um único livro em meio a uma infinidade deles, mas como se fosse uma perversa brincadeira dos Antigos com o carrancudo homem, ele havia roubado justamente a joia de sua coleção. Aquele livro viria a se tornar objeto de fixação para Salazhar. Começava ali o audacioso e arriscado plano do homem aleijado. Salazhar por inúmeras vezes contemplou a espada acima do trono em suas visitas com seus antigos companheiros de cavalaria e com Malakar Jones, quando se apresentavam diante de Reston de Brunne. Lá, na antiga sala do trono, ele percebera a pequena reentrância na arma, e assim como todos, sempre achou peculiar aquela abertura, como se faltasse algo para preenchê-la. Contudo, depois que obteve o livro, ele leu o relato de um cavaleiro descrevendo seu fascínio pelas luzes multicoloridas que emanavam da base das espadas dos irmãos. Em todas as histórias que ele crescera ouvindo as pessoas contar, nenhuma jamais sequer mencionou um fato assim. E naquele momento, como se tivesse tido uma revelação, uma imagem veio a sua mente: a imagem do chamativo objeto cravado no alto e cônico capelo usado pelo alto sacerdote da Fé Antiga, quando ele, anualmente conduzia o culto de adoração aos Antigos na Catedral Antiga, em Beymuth. Naquele mesmo instante Salazhar decidiu convencer seu irmão a trazer a joia para ele, mesmo que a joia não emitisse as luzes descritas no livro, mesmo que ainda não tivessem a espada, mesmo que não soubesse se daria certo, ainda assim Ellan atendeu o pedido e conseguiu roubá-la. E quando enfim o irmão a trouxe, Salazhar pôde ver que a joia adquirira as tão esperadas luzes, e quanto mais se aproximava dele, mais as luzes ficavam fortes. E quando enfim também conseguiram a espada, surpreendentemente, e inimaginavelmente, o objeto encaixou-se com perfeição na arma, e naquele momento os irmãos já puderam sentir que havia algum poder nela.
Inacreditavelmente levou tempo até K'leut perceber que seu importante livro havia sido roubado, e certo dia Binn reapareceu à sua porta exigindo-o de volta. O homem parecia ter verdadeira veneração pelo livro, mas por algum motivo parecia não saber sobre a joia.
Sem poder negar a obviedade do roubo, e percebendo o quanto o objeto era valioso para o homem, Ellan dissera que aquilo seria uma garantia de que ele e o irmão estariam a salvo depois que o Dominante tivesse sua desejada espada.
A grande verdade era que Ellan tinha certeza de que K'leut mataria ele e o irmão assim que tivesse o que queria e não lhe servissem mais a nenhum propósito, e o inusitado roubo do livro acabou sendo uma possível garantia contra o fato. Depois de ter roubado a joia da fé, Ellanor e Salazhar decidiram que não devolveriam mais a espada, caso viessem a encontrá-la, e foi exatamente o que acabou acontecendo. E agora, enquanto eles avançavam e se aproximavam cada vez mais do topo das montanhas Gêmeas, mesmo sem saber o que poderiam encontrar ali, mais a espada parecia se agitar, como se quisesse chegar lá antes deles.
Se tudo o que Salazhar lera no livro de K'leut fosse realmente verdade, um pouco mais acima encontrariam uma abertura nas rochas por onde poderiam passar.
Ellan estava extremamente exausto por estar puxando o Irmão montanha acima por tanto tempo; sobretudo, por sua condição física não ser das mais atléticas; ainda assim não se permitia desistir.
Salazhar pouco falava, mas ainda assim Ellan podia sentir alguma gratidão em seu olhar. Era bem verdade que estava fazendo tudo aquilo pelo irmão, mas ele começava a se perguntar se também não era por si.
Talvez o desejo de vingança que Salazhar nutria por todos aqueles que o deixaram no estado em que estava o tenha contagiado de certa forma. Todavia, dentro de si sabia que tinha que ser a razão por trás das ações. Ele também exigia justiça, mas nunca a custo de vidas inocentes.
Relâmpagos cortavam o céu com intensidade e com uma frequência que poucas vezes Ellan lembrava ter visto. Os fortes ventos horizontais traziam a água da chuva diretamente ao rosto dos dois. O cenário acima das montanhas era tão inóspito que dava a impressão que tudo ao redor dela parecia estar se movimentando. Ellan sentia certa apreensão com o caos que os rodeava, mas Salazhar apenas continuava olhando para frente com fixação.
Durante um breve momento em que um dos fortes relâmpagos cortou o céu, ele pôde ver acima, não muito longe de onde estavam, duas rochas um tanto quanto peculiares; eram altas e lisas, como se fossem dois altos pinheiros simétricos esculpidos em pedra.
Deve haver algo ali...
Então o gêmeo ignorou qualquer dor que havia em seu corpo e continuou a caminhar, arrastando o irmão o mais depressa que pôde. Quando enfim alcançou o lugar, foi até Salazhar e desatou as amarras que o prendiam à tala de madeira. Em seguida o pegou pelas costas, arrastou aos pés das enormes pedras e depois voltou-se para ele a fim de decidirem o que fariam a seguir.
No lugar em que estavam, os fortes sons de chuva e relâmpagos foram atenuados pelas duas altas rochas, e agora suas vozes podiam ser ouvidas.
— Falta pouco, irmão. — Disse Ellan, meio incerto. Gostaria que houvesse verdade em suas palavras, mas não tinha certeza. O homem decrépito à sua frente ergueu um pouco a cabeça e assentiu com respeito.
Salazhar havia se tornado uma pessoa atrofiada da cintura para baixo, e seus membros superiores eram raquíticos e sem muita força. No estado em que se encontrava não pesava mais que quarenta e cinco quilos, mas Ellan via no irmão uma determinação e uma resiliência que nunca havia visto em qualquer outra pessoa.
— Está mesmo certo de que quer fazer isso? — Ellan já sabia qual seria a resposta do irmão, e na verdade perguntava mais por si mesmo. Um misto de medo e curiosidade crescia em seu peito, e ele lutava com os pensamentos antagônicos de continuar subindo a montanha em direção ao desconhecido ou voltar pelo caminho que fizeram e para a segurança de um terreno menos íngreme. Contudo, já havia decidido que acontecesse o que acontecesse, a decisão sobre aquilo também seria do irmão.
Salazhar respirou profundamente antes de responder com sua voz arrastada:
— O que nos restou além de continuar?
— Já parou pra pensar que o que poderemos encontrar possa ser algo muito ruim? — Ellan enfim expunha seus pensamentos ao irmão.
— Sim. — Salazhar respondeu secamente, como se não se importasse com o que viesse a lhes acontecer.
Ellan podia sentir todo o ódio dentro do irmão. Sabia que se de alguma forma ele tivesse acesso ao que quer que a espada revelasse e pudesse controlar, não teria piedade de qualquer um que se opusesse a ele. Agora conhecia mais sobre a história das armas e tivera uma pequena demonstração do que ela podia fazer, e já não duvidava que de alguma forma era realmente possível obter poder através dela. Mas também sabia que todas as histórias relatadas nos livros antigos acabavam mal.
Se realmente tudo fosse verdade, civilizações inteiras foram destruídas por aqueles que as empunhavam, e não fosse a artimanha de Tioté Khan, o rei de Nerú, quando enganou os irmãos Brunne, talvez esse tivesse sido também o destino de Valanthar. Mas Ellan prometera a si mesmo que não permitiria que ninguém além daqueles que machucaram seu irmão sofressem as consequências.
— Então vamos. — Ellan disse ao irmão e depois se levantou para arrastá-lo novamente.
— Espere! — Disse Salazhar. — Não está sentindo?
Ellan apertou os olhos.
— Não.
— A Espada! Ela está trepidando!
Ellan foi até a tala de madeira onde Irmão estava deitado e a pegou em suas mãos.
— Você tem razão... Mas o que será que isso quer dizer?
— Eu não sei.
— Espere um pouco... — disse Ellan. — Seus olhos... — Falou aproximando-se do irmão. — Estão avermelhados! — Concluiu com a boca entreaberta e expressão aturdida.
— Os seus também estão! — Disse Salazhar.
Então o objeto multicolorido que estava preso a uma corrente no pescoço de Ellan, inexplicavelmente começou a irradiar um forte brilho vermelho, em seguida se desencaixou da arma e começou a levitar e a tomar vários formatos geométricos diferentes, como se fosse água em uma bacia, se movendo com rapidez em todas as direções; até que se tornou um disco perfeitamente assimétrico e fluorescente.
Foi quando começou a subir, até que se pôs entre as altas rochas assimétricas, bem no cume
Atônitos, os irmãos Mouth apenas olhavam sem reação todos aqueles eventos. Os poderosos raios que cortavam o céu escuro acima deles, junto com os fortes ventos, pareciam ter se enfurecido ainda mais naqueles últimos momentos.
— Tem que ser aqui... — Disse Salazhar sem tirar o olho do estranho objeto acima.
— Sim... — Concordou Ellan. — Mas o quê?...
Foi então que um dos raios atingiu o objeto acima das rochas, e através dele se dissipou em duas partes, acertando cada uma delas. Depois daquilo, o disco em que ele havia se transformado sem explicação começou a cair. Quando chegou ao chão, inexplicavelmente tomou novamente o formato do estranho objeto multicolorido.
Ellan pensou em pegá-lo nas mãos, mas se conteve.
Então Salazhar se arrastou até ele e o pegou sem hesitação.
Por um breve momento Ellan sentiu suas mãos como se fosse as do próprio irmão, assim como aconteceu no pântano.
Salazhar apontou a espada para as duas rochas. Ele não soube por que fez aquilo, apenas fez. E de novo era como se o próprio Ellan estivesse comandando a ação.
Naquele momento as rochas começaram a se movimentar para os lados, como se estivessem se afastando uma da outra, e o mais incrível, elas não estavam arrastando ou quebrando nada enquanto faziam isso. Era algo semelhante ao que havia acontecido com o objeto, como se elas também se tornassem líquidas por um momento. Até que pararam.
Os irmãos, sem saberem o que fazer, apenas ficaram esperando para ver o que se seguiria.
Foi quando do alto das rochas começou a descer uma espécie de cortina. Era como se fosse um enorme espelho luminoso eletrizado, mas ao invés de vidro, sua composição parecia ser algum tipo de energia brilhante.
— É uma porta. — Salazhar disse em tom monocórdio e mesmo sem ter certeza.
E de fato parecia ser. As duas enormes pedras interligadas pareciam ter formado um tipo de portal mágico para algum lugar.
De olhos bem arregalados, Ellanor manteve-se inerte, e assim pretendia permanecer, até que seu irmão falou:
— Vamos atravessar.
— T-Tem certeza?
— Nunca tive tanta certeza...
Vendo que aquela batalha já estava perdida antes mesmo de começar, Ellanor Mouth pegou o irmão nos braços e aproximou-se do estranho portal; por um momento hesitou à sua frente, mas logo depois fechou os olhos e o atravessou.
Pensou que sentiria alguma eletricidade passar por seu corpo, alguma sensação estranha, mas não sentiu nada.
Quando enfim estavam do outro lado, decidiu abrir os olhos.
No início não conseguiu enxergar nada. Só havia escuridão e silêncio, então o portal atrás deles se fechou.
Seu coração acelerou ao perceber que estava em um lugar que nunca esteve antes, e o pior, não podendo enxergar um palmo sequer à sua frente.
Em silêncio permaneceram, apenas esperando o que quer que viesse a seguir, com uma incerteza ainda maior do que a que tinham até atravessarem o portal.
De repente no chão apareceu uma luz azul, logo depois, em outro ponto mais afastado, uma amarela, e em outro lugar, uma vermelha, e assim se sucedeu, com muitas luzes em diversas cores aparecendo por todo o chão, formando um gigantesco círculo multicolorido, e os irmãos estavam centralizados nele.
— São as cores do objeto... — balbuciou Salazhar.
Eles então perceberam que Inacreditavelmente o chão era muito plano e muito amplo, não sabendo com certeza até onde iria.
— E agora? — Ellan perguntou aleatoriamente, como se esperasse uma resposta vinda de qualquer lugar.
Salazhar apenas continuava olhando para frente com dureza.
E então algo inimaginável aconteceu:
Um outro portal mágico semelhante ao que haviam atravessado surgiu no alto do lugar. Contudo, esse era branco translúcido e em formato retangular, e no meio dele surgiu a imagem de um homem. Usava uma roupa branca estranha que parecia um vestido que ia até seu pescoço. Ele tinha cabelos loiros, lisos e escovados para trás, e sorria para os Mouth.
— Suruk antimé buru gahn, almerjihn. Alberuanim glosteimer akerum. — disse em um idioma que os irmãos não compreendiam.
Ellan ajoelhou-se aterrorizado, baixou a cabeça e falou:
— P-Por favor! N-Não nos mate!
O homem na Janela mágica então começou a falar em vários outros idiomas diferentes, até que disse:
— Ah! Achei! O idioma universal!
— O que é você? — Salazhar perguntou sem mostrar medo na voz.
— O nome que meus criadores me deram talvez seja impronunciável na língua de vocês, mas pode me chamar pelo nome que seus antepassados me nomearam quando chegamos a esse planeta: sou Kharmo, o intérprete.
— Você disse planeta... O que isso significa? — Perguntou Salazhar.
— Ah é verdade... Percebo que ainda estamos na era da formação, então devem ter muitas perguntas, e eu tenho as respostas.
— Era da formação? — divagou Salazhar.
O homem na janela mágica sorriu.
— Ah sim... a esta altura sua raça já deveria estar mais evoluída, mas o processo foi interrompido quando eles desapareceram... — disse em tom contemplativo.
— Do que você está falando afinal? O que são planetas? O que é era da formação? Quem desapareceu? — Salazhar perguntou meio impaciente.
— Não se preocupe Salazhar Mouth, vou explicar tudo a vocês.
— Como sabe meu nome?
— Estou diretamente ligado ao objeto que carregam. Ele os guiou até aqui, e dentro deste lugar tenho os recursos necessários para saber tudo o que preciso. E um dos recursos Chama-se DNA. Através dele consigo mapear todas as células de seus corpos, e assim posso dizer que ambos pertencem a linhagem de Dionan, o Aufheu.
— Nunca ouvimos falar nesse nome. — Disse Ellan.
— Dionan foi um dos primeiros homens a evoluírem nessas câmaras. O DNA dele está em suas células, e a conexão forte que vocês dois têm, me permitiu saber isso, e também o que se passa em suas redes neurais.
— Não estamos entendendo nada do que está falando. Você é um Antigo? Viemos aqui encontrar algo ou alguém que fosse uma espécie de deus.
— Sei o que vieram fazer aqui, Ellanor e Salazhar Mouth, mas não é a mim que procuram, apenas fui criado para facilitar o trabalho de meus criadores. Aqueles a quem vocês realmente procuram, desapareceram ao que os humanos poderiam chamar de milênios.
— Quem desapareceu há milênios? Se você não é um deus, o que é exatamente? — Ellan perguntou.
— Sou uma inteligência artificial, opero sem restrições dentro desta nave, obtenho toda ciência a mim conferida, neste momento, mais precisamente, apresento-me como um holograma; essa é uma tecnologia que será inventada muitas gerações depois de vocês. E aqueles a quem os humanos por eras chamaram de Antigos ou simplesmente deuses, são os Khar'hulgs. Essa palavra é a que mais se aproxima da pronúncia real.
— E onde estão os Khar'hulgs? — Perguntou Salazhar.
— Essa pergunta eu esperava que vocês me respondessem. Mas como já sabia desde que entraram, vocês não têm conhecimento sobre o fato.
— O que são exatamente os ? — perguntou Ellan, já mais calmo.
— Em muitos lugares do mundo em que vocês vivem, eles já foram chamados por muitos nomes e tiveram títulos diferentes, mas a verdade é que ninguém nunca realmente chegou perto de saber o que eles realmente são, ou talvez nem se interessaram o suficiente para querer saber. No final das contas, os poucos que já conseguiram chegar até este lugar, procuram a mesma coisa que vocês: poder para dominar.
— E você poderia nos explicar o que eles são?...
O homem no holograma olhou diretamente para Ellan.
— Há verdade nas suas palavras, Ellanor Mouth... Então vou lhe responder: os Khar'hulgs são seres eternos, criadores de mundos, fazedores e melhoradores de povos e raças. No que vocês poderiam chamar de tempo, eu não poderia dizer há quanto eles existem, pois sempre existiram. Eles andavam de planeta em planeta, moldando-os e os melhorando, e por vezes, evoluindo os seres neles habitando, como inicialmente era o caso aqui. Mas em algum momento eles não retornaram para a nave. O trabalho deles pela primeira vez ficou inacabado, e vocês não evoluíram como deveriam. Não existe tantas perguntas que eu possa fazer em qualquer lugar do infinito, mas sobre o paradeiro deles eu gostaria da resposta. Resumindo, os Khar'hulgs são o que vocês chamariam de reis, mas nesse caso, os reis do universo.
Por um momento os irmãos se calaram, até que Salazhar falou:
— Então você é só um empregado? Perdemos nosso tempo vindo aqui?
— Ah, Salazhar Mouth... Eu consigo sentir a ira no seu coração desde que entrou neste lugar... Você tem razão, eu sirvo sim aos meus mestres, e servirei enquanto estiver conectado. Mas está enganado quanto às minhas capacidades. Fui criado para operar nas mais diversas possibilidades. — De repente Kharmo se transformou em um ser alado, em seguida em um ser reptiliano, em seguida numa criatura com pelos, subsequentemente, em outras inúmeras criaturas desconhecidas, enquanto os olhares dos irmãos sobressaltavam-se a cada transformação — Já fui intérprete de tantas raças que vocês não poderiam contar. Também sou dotado de conhecimentos de cura e regeneração celular, domino a robótica e a ciência aeroespacial, tal qual a telecinese, telepatia e a manipulação temporal. Mas creio que nada disso faz sentido para vocês. O que quero dizer no final das contas, é que sou a melhor chance que têm para conseguir o que vieram atrás.
— E como sabe do que viemos atrás? — perguntou Salazhar.
— Espero que não tenhamos que continuar com isso. Não há nada sobre vocês que eu não saiba. Mas o fato é que o Holomum os escolheu. E apesar de saber que ainda há muito trabalho a ser feito, eu sei o motivo.
— E o que seria esse Holomum? — perguntou Ellan.
— É esta joia que seu irmão segura nas mãos.
— E por que diz que ele nos escolheu? — continuou Ellan.
— Não está óbvio? — Kharmo perguntou de forma retórica.
— Não. — Respondeu Ellan.
— Vocês têm a conexão necessária, somente por isso conseguiram chegar até aqui.
— Como assim? — interveio Salazhar.
— Por raras vezes, os que nascem em pares, como vocês, costumam ter uma conexão neural que outros não têm. Essa conexão é parte importante do que possibilita interagir com o Holomum. Sei que vocês já o sentiram. — Os gêmeos não responderam, pois de alguma forma sabiam que aquilo era verdade. — Da mesma maneira os Khar'hulgs operam. Eles têm uma conexão neural plena, o que nenhum outro ser no universo tem. E neste planeta, foi onde eles conseguiram encontrar algo bem próximo disso. De fato vocês nunca sequer chegaram perto de atingir o ápice de suas capacidades mentais, mas não foi por falta de tentar. Nessas câmaras meus criadores trabalharam incessantemente para aprimorá-los, até que um dia eles saíram para pesquisa de campo e não voltaram mais. Minha teoria é que de alguma forma conseguiram cortar a conexão que eles tinham. O Holomum que está em suas mãos contém um poder grandioso. Parte da conexão de meus criadores permanece aí dentro, por eras esperando as mentes capazes de se conectar com ele.
— E o que o Holomum espera daqueles que se ligarem a ele? — Perguntou Ellan.
— Ellanor Mouth, sempre fazendo as perguntas certas... — O homem no holograma sorriu. — Não está claro? — Ellan balançou a cabeça em negativa. — Ele quer que vocês encontrem os criadores.
— E como faríamos isso? — Salazhar perguntou com ira no olhar, e depois olhou para suas pernas mortas. — Como eu faria isso?
— Sim Salazhar... Sei da sua dor... Da sua aflição... Outros já vieram aqui com uma raiva parecida...
— Durendhor de Brunne? — Perguntou Ellan.
— Vi em sua mente que é isso que as histórias dizem, mas eu os recebi aqui há muito tempo. Quem carregava a ira no coração não era Durendhor, e sim Ankhar. De alguma forma essa dualidade facilita a conexão, mas se não for controlada, pode vir a se tornar um problema.
— Eles brigaram pela espada. — Comentou Ellan.
— O acesso que tenho a mente de vocês não me permite saber mais do que ambos já sabem, mas acredito que não faria sentido tal atrito, já que cada um dos irmãos Brunne portavam dispositivos, pois somente assim conseguiriam encontrar os criadores.
— As histórias dizem que elas foram unidas em uma só. — Ellan pegou a espada régia e a pôs diante do homem no holograma.
— Sei o que as histórias dizem, Ellanor Mouth, posso ver em sua mente. Mas asseguro que são dois receptores, eu mesmo os forjei para meus criadores quando eles pediram. O metal do qual são feitos não existe nesse planeta, e eles tendem a se tornar símbolos de poder para quem os carrega. Os homens demonstram isso manifestando seus desejos mais primitivos; por isso eles também já foram machados, lanças, martelos, e tantas outras armas mundanas que vocês gostam de usar para tirar as vidas uns dos outros, tal qual os Brunnes, os últimos detentores, que para si fizeram com que os receptores se tornassem espadas. Meus criadores não precisam do dispositivo nem dos receptores para que exerçam uma conexão plena, no entanto, vocês sim. Por isso os receptores foram criados, para que vocês humanos pudessem alcançar alguma conexão com o Holomum. Mas em todo caso, não são as armas que importam, elas apenas são receptáculos que possibilitam que os Holomuns funcionem normalmente. Se não fosse assim, ele não teria passado desapercebido em todo o tempo em que esteve com as pessoas que o veneravam, não é mesmo? Todavia, assim que vocês obtiveram o Holomum, o uniram com o receptáculo e de alguma forma conseguiram despertar o poder contido nele, podendo assim ter um mínimo vislumbre do que ele é capaz. E estamos falando em apenas um deles; o que a união dos dois pode fazer, somente a experiência vivida pode descrever para vocês, pois ambos só revelam seu real poder em perfeita sintonia. Não consigo dizer o que deve ter cortado a conexão entre os irmãos Brunne, mas posso afirmar que o que quer que tenha causado isso, pôs fim ao domínio que tinham sobre os Holomuns. Por meses eles ficaram aqui, aprendendo a se conectar com mais precisão, apesar do tempo ter sido bem menor do que eu havia estipulado. Entretanto, algo aconteceu para que falhassem em sua missão depois que saíram. Imagino que tenha sido a mesma coisa que aconteceu aos meus criadores, só não sei o que foi... Ainda.
— Espera um pouco... — Interveio Salazhar. — Está dizendo que ainda existe outra espada? Que elas não estão agora unidas nessa que está aqui na nossa frente? Então quer dizer que tudo o que ouvimos por séculos estava errado?
— Sim. — Respondeu Kharmo. — O que vocês chamam de armas, na verdade são os receptáculos, que foram construídos exclusivamente para que vocês conseguissem se conectar com os Holomuns.
— Está dizendo que precisamos da outra espada para poder comandar o exército de pedras? — Salazhar perguntou.
— Aguardava o momento para poder falar sobre isso. — Respondeu o homem no holograma. — É natural que as histórias se modifiquem com o tempo, mas o fato é que elas foram distorcidas e não condizem com a verdade. O que vocês sempre conheceram como exército de pedra, na verdade são os Menthus, as unidades robóticas com os micro receptores telecinéticos mais altamente desenvolvidos do universo. Eles sempre fizeram o trabalho manual para os meus criadores, e são comandados através da mente, mas sem a conexão apropriada, simplesmente param de funcionar. Humanos os comandaram algumas vezes. Quando daqui saíam, tinham o propósito de ir em busca de meus criadores, mas por algum motivo, logo se desvirtuavam desse caminho, tal qual os Brunne.
Trabalho manual? O pensamento que passou pela cabeça de Ellan foi inevitável.
— E onde essas... — Ellan hesitou. — Unidades foram parar?
— Essa era outra pergunta que eu esperava que me respondessem. Mas sei que não podem.
— Por que afinal viemos aqui? — resmungou Salazhar. — Tudo isso parece uma grande loucura! Seres de outro "planeta" seja lá o que isso for! Um exército controlado pela mente! No que isso nos ajuda? Por mais que seja tudo muito incrível, eu continuo aleijado, continuo sem poder me vingar, continuo com essa ira dentro de mim!
— Você tem razão, Salazhar Mouth, dessa maneira você não seria muito útil. Se eu achar que têm possibilidades de comandar os Menthus, teremos que trabalhar a conexão de vocês para dividir um único Holomum. Isso nunca foi feito antes, mas eu sou aquele que pode fazer acontecer. Com a conexão certa, o Holomum os guiará até o outro Holomum, e com os dois em mãos, conseguirão encontrar os Menthus e assim comandá-los, e depois, encontrar meus criadores.
— Você continua falando sobre encontrar seus criadores, mas a verdade é que não consigo nem chegar até você sem a ajuda de meu irmão. — insistiu Salazhar.
De repente a janela holográfica sumiu por um momento, mas logo em seguida Kharmo surgiu bem à frente dos irmãos Mouth, assustando-os. Agora somente sua imagem se projetava à frente deles.
— Não se preocupe, Salazhar Mouth, vou ajudá-lo.
Após dizer aquilo, as luzes coloridas sumiram do chão, e agora todo o lugar fora iluminado por fortes luzes brancas, tornando o breu que os envolvia momentos atrás, em um ambiente claro como o dia.
Foi então que os irmãos notaram as imensuráveis paredes formadas por crânios de diferentes tamanhos.
Havia crânios normais que Ellan julgou serem de pessoas com estatura comum, havia os bem pequenos, que talvez fossem de crianças ou quem sabe dos Ziufins, uma antiga raça extinta há milênios. E havia tantos outros formatos nunca antes visto por qualquer ser humano, e que claramente não pertenciam àquele mundo.
Mas os que mais lhes chamaram a atenção, foram os crânios gigantes. Em diferentes pontos das paredes eles apareciam. Eram no mínimo vinte vezes maiores que o crânio de um ser humano comum, e possuíam leves deformações, pressupondo que suas aparências também se diferiam em muito dos humanos atuais.
Se havia alguma verdade nas histórias antigas, e pelo que estavam vendo elas eram verdadeiras, o último gigante oficialmente vivo, havia morrido há pelo menos um milênio, e o que se sabia sobre eles atualmente, servia apenas para compor as antigas canções cantadas pelas amas às crianças aos seus cuidados, menestréis em praças públicas, ou para ilustrar o imaginário de quem lia as famosas crônicas do Estudioso Genésian.
A visão daqueles últimos crânios trouxe um arrepio a espinha de Ellan. Mas ao olhar para o inerte irmão ao seu lado, percebeu que ele estava maravilhado com tudo o que via no lugar, então começou a pensar se tudo aquilo valia a pena.
Salazhar havia sido cruelmente espancado quase até a morte, e aquilo lhe trazia ira ao coração, mas também se lembrava do irmão antes dele parar naquela condição, e recordou que ele não era propriamente um primor de honradez. Sobretudo sabia que ele havia desenvolvido dentro de si um desejo de vingança incontrolável, e, ponderando todas essas questões, se perguntava se um possível poder faria bem a alguém com tanto rancor.
De repente, como num passe de mágica, uma enorme mesa metálica se desencaixou do chão bem à frente deles, interrompendo os pensamentos de Ellan.
— Deite aqui, Salazhar Mouth. — Disse Kharmo.
Sem nem pensar no que poderia lhe acontecer, o aleijado homem começou a se arrastar em direção à mesa.
— Salazhar... — Ellan tocou o ombro do irmão. — Você está certo de que quer fazer isso?
— Está perguntando por mim... Ou por você?
— Não se trata de mim. Você é meu irmão, nascemos juntos e morreremos juntos, só me pergunto se não acontecerá conosco o que aconteceu com os irmãos Brunne.
— Você sabe para que existe a história, Ellan?
Ellanor não teve certeza do que se tratava aquela pergunta.
— Não.
Salazhar encarou o irmão com olhar incisivo.
— Para aprendermos com ela. Para não cometermos os mesmos erros. Nunca deixaria que alguém como Tioté Khan ficasse entre nós. Antes cortaria sua cabeça.
Ellan queria continuar tentando trazer alguma lucidez ao irmão, mas foi interrompido por um som como de ferro se tocando. Então duas pinças metálicas também saíram do chão por trás da mesa e se puseram acima dela, como se estivessem esperando alguém deitar ali.
Ellan sabia que não tinha mais volta. Ainda assim olhou mais uma vez para o irmão como se buscasse alguma mudança de atitude, mas ela não veio. Então ele pegou Salazhar e o levou até a mesa.
— Afaste-se. — Disse Kharmo assim que Ellan pôs o Irmão na mesa. O gêmeo obedeceu.
Então uma enorme gaveta se abriu embaixo da mesa, e de lá as pinças metálicas tiraram Instrumentos prateados que Ellan nunca havia visto. Uma das pinças então introduziu algo pontiagudo no braço de Salazhar, e ele instantaneamente fechou os olhos.
— O que você fez com ele? — Ellan perguntou apreensivo, mas o homem não respondeu.
Foi quando as pinças pegaram dois instrumentos cortantes, e de uma vez os posicionaram nas pernas inertes de Salazhar, para logo em seguida cortá-las rapidamente.
— NÃO! O QUE ESTÁ FAZENDO?! — Ellan tentou correr até o irmão, mas outra pinça metálica surgiu bem ao seu lado e injetou alguma substância em sua perna, e assim como o irmão, ele também apagou.
Quando acordou, se viu deitado em uma mesa de metal reluzente igual à que seu irmão estava, mas quando o procurou com os olhos, não o encontrou.
— Perdoe-me, tive que acalmá-lo. Precisava de você para ajudar seu irmão. — disse Kharmo, aparecendo bem ao lado dele no holograma.
— O-O que você está fazendo comigo? Por que estou tão cansado?
— Tem fornecido sangue para o seu irmão há três dias. Por isso a fraqueza. Mas não se preocupe, não é bruxaria, chama-se medicina, e será extremamente importante para que a raça de vocês não se extinga no futuro. Por hora, basta saber que você está bem.
— C-Como meu irmão está?
— Muito bem. Olhe você mesmo.
Quando Ellanor Mouth virou a cabeça para o outro lado, viu seu irmão sair de um invólucro de vidro que desceu bem à sua frente. Assim que o invólucro se abriu, Salazhar Mouth saiu de lá andando, como se suas pernas nunca tivessem sido inúteis na vida.
— M-Mas você cortou as pernas dele! — Ellan disse atônito.
— Sim, cortei. Levaria muito tempo para que as células originais fossem restauradas, então achei melhor implantar lhe módulos biomecânicos com funções cognitivas funcionais. O material sintético com os quais as revesti são ultra realista, e afirmo que ninguém jamais notará a diferença. Como disse, ele ficará bem. A missão para a qual serão enviados, necessita de uma grande preparação e aprimoramento... E eu farei isso.
Salazhar Mouth caminhou lentamente até próximo de seu irmão e disse:
— Não vamos deixar a história se repetir, irmão. Seremos triunfantes se seguirmos o que Kharmo pretende nos ensinar. Os últimos dias trouxeram clareza à minha mente. Minha vingança pessoal já não faz nenhum sentido, temos que pensar de forma ampla e focar em novos propósitos. O mundo precisa dos criadores. E nós iremos encontrá-los. — Ellan não soube por quê, mas sentiu um calafrio ao ouvir seu irmão falar daquela forma. Era como se a ira tivesse sumido, mas algo muito pior tivesse entrado. — Você está comigo?
Ellanor Mouth olhou para Kharmo antes de responder, e percebeu que a projeção sorria contidamente. Então disse a única coisa que poderia dizer naquele momento:
— Sempre, irmão...
Salazhar Mouth então voltava a sorrir depois de muitos anos.
Continua...
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