Dhemer


Água Rubra


O dia a dia em Léssia havia se tornado um pouco melhor para Dhemer depois que ele conheceu Kikki, a pequena órfã.

Em algumas noites, assim que os espetáculos noturnos começavam, e uma nova leva de pessoas vinha assistir, Junto com elas também vinham os ratinhos das multidões; as crianças sujas e maltrapilhas que geralmente eram órfãs ou simplesmente abandonadas por seus pais.

Enquanto as pessoas assistiam os espetáculos, não podiam relaxar sequer por um segundo, ou os ratinhos as roubavam.

Certo dia, entre um espetáculo e outro, uma dessas crianças, uma pequena garotinha com cabelos muito negros, lisos e sujos chamada Kikki, tentou roubar Dhemer. Mas o que ela não imaginava era que os reflexos dele fossem ainda mais rápidos que os dela.

Contudo, ao invés de Dhemer entregar a menina às autoridades competentes, ele lhe deu comida e roupas novas.

Desde então, em certas noites, Kikki aparecia ao fim de suas apresentações e o encontrava próximo a uma velha laranjeira em busca de algo para comer, como no final da apresentação de hoje.

— Olá moço bonito! — Disse Kikki ao se aproximar de Dhemer.

— Olá pequena ladra! — Ele respondeu com um meigo sorriso. Adorava quando ela o chamava assim, e esperta como só a pequenina podia ser, costumava dizer exatamente o que Dhemer queria ouvir.

— O que trouxe para mim, moço bonito?

— E quem disse que trouxe algo para você, ratinha?

A menina calou-se, mordeu os lábios e olhou pro chão ao ouvir aquilo.

— Não gosta mais de mim?

Dhemer sentiu tristeza na voz dela e, por isso levou uma mão vazia às costas, depois a trouxe de volta com um pequeno embrulho marrom.

A menina levantou o olhar e pegou o embrulho rapidamente.

Ao abri-lo, seus olhos voltaram a sorrir e ela começou a comer o sanduiche com avidez.

— Porque demorou a voltar, Kikki? — Dhemer perguntou com uma sobrancelha levantada.

— Fausssto precisouuuu... de... nóssss. – Ela respondeu entre uma bocada e outra.

— Quem é Fausto? Nunca havia falado sobre ele.

Depois de engolir mais um pedaço a menina respondeu:

— Ele nos dá trabalho às vezes... — de repente ela fez uma pausa. — Mas eu não gosto muito dele...

Dhemer ajoelhou-se junto a ela.

— E por que não, Kikki?

De súbito a menina empalideceu. Era a primeira vez que ficava assim.

— Tenho medo dele.

— E por quê?

— Já faz alguns dias que não vejo Nelay... Ela é minha melhor amiga... — Disse com os olhos marejados.

— Você sabe o que aconteceu com ela, Kikki?

— Fausto disse que encontraria uma família para cuidar dela depois do último trabalho.

— E você acha que foi realmente isso o que aconteceu?

A menina deu de ombros.

Dhemer a segurou levemente pelas mãos.

— Se este tal Fausto o tentar fazer mal, me procure.

Kikki assentiu sem tirar os olhos do sanduíche.

Dhemer se levantou.

— Tenho um trabalho para você, Kikki.

Ela o olhou desconfiada.

— De novo?

— Sim, Kikki, de novo. — Dhemer sorriu.

Vez ou outra, quando não podia ele mesmo comprar alguns suprimentos, como pedra de amolar, tecidos ou mesmo tinta para escrever, Dhemer mandava a menina trazê-los; e ela sempre cumpria as tarefas com perfeição.

— O que quer que eu faça agora?

Dhemer levou uma mão dentro da camisa e retirou um papel dobrado e selado. Ele achou propício terminar a carta inacabada depois que havia confirmado a história do soldado, e agora estava ávido por enviar alguma esperança àqueles que precisavam.

— Quero que entregue isto ao capitão do Corcel do Mar, no porto. Ele já foi devidamente pago, e só está aguardando minha encomenda. Tudo o que tem a fazer é entregá-la pela manhã, antes que ele parta para Beymuth. Consegue fazer isso?

— Hum... — A menina levou uma mão ao queixo e o coçou como se tivesse pelos a incomodando. — Isso te custará mais que um sanduíche de atum!

— Sua pequena ratazana... — Dhemer disse com um quase sorriso. Depois pegou uma moeda e entregou à Kikki.

A pequena mordeu a moeda como se realmente soubesse a diferença entre uma falsa e uma verdadeira, depois sorriu e desapareceu na noite lesinense com o papel nas mãos.

Enquanto Dhemer observava a menina sumir, sua atenção foi quebrada por uma voz de mulher.

— Já checou seus bolsos?

Ao virar-se, Dhemer deu de cara com Annya. Seu coração saltou dentro do peito e teve que respirar fundo para não deixar transparecer. Ele vinha fazendo de tudo para que pudesse sumir da vista da mulher assim que o espetáculo terminava, mas sabia que em algum momento isso não seria possível, como a presença dela ali indicava. O beymutita notou naquele momento que o olhar da moça parecia estar menos impiedoso que nos últimos dias. O clima entre os dois havia ficado estranho depois da forma como ele a deixou na taverna. Quem sabe ela não tenha assimilado melhor a situação? Talvez tenha entendido de uma vez por todas que não conseguirá o que quer e me deixa em paz.

Talvez eu esteja pedindo demais...

— Não há necessidade de verificar meus bolsos, Annya, eu confio na Kikki.

— Então quer dizer que a ratinha tem nome? Hum, que interessante...

— Não está com ciúme de uma criança, não é?

— Eu?!! — Annya riu. — Imagina... Já superei você. O recado foi bem claro na última vez. Não se preocupe mais comigo, Dhemer, vou seguir em frente.

— F-Fico feliz em ouvir isso, Annya. Não tenho nada a oferecer a você. Merece alguém que possa te dar tudo aquilo que deseja. — Ele não sabia porque, mas dizer aquelas palavras o deixava muito triste. Sabia que era a coisa certa a se fazer, mas ainda assim não estava sendo fácil.

— Enfim... — A lesinense desdenhou do comentário. — Só passei para deixar um recado de Mitrick.

Dhemer engoliu em seco e revirou os olhos ao ouvir aquilo. — O que aquele homem quer agora? Não! Deixe-me adivinhar! Quer que eu limpe a jaula da Bella? Não é isso?

Annya sorriu.

— Dessa vez não, Dhemer. Se bem que a jaula daquela ursa sapeca precisa mesmo de uma limpeza. Mas não será dessa vez. Ele apenas me pediu para avisá-lo que deve comprar uma roupa nova.

— Uma roupa nova? — Dhemer ficou muito intrigado com aquilo. — E por quê?

— O vi conversando com um soldado. Ele veio trazer um recado do Administrador do Dominante. Não disse qual seria o dia, mas é certo que o homem fará uma visita em breve. Acho que quer que façamos uma apresentação em um casamento, e pelo que entendi, a atração principal será você.

— O Dominante vai se casar?

— Não, creio que não, mas pelo que pude entender, será alguém muito importante, já que o próprio Administrador do Dominante está à frente de tudo.

Dhemer ficou pensativo ao ouvir aquilo. Talvez fosse outra oportunidade aparecendo. Talvez uma até melhor que a do soldado beberrão, mas teria que esperar. Era melhor garantir o que já estava em curso que acabar ficando sem nenhuma das opções.

— Obrigado por me avisar, Annya. Fico muito feliz que não tenha ficado ressentimentos entre nós. Afinal de contas, eu atiro facas em sua direção todos os dias.

Annya rasgou o ar com uma sonora gargalhada!

— Além de bonito ainda é engraçado! É realmente uma pena que não tenha dado certo, Dhemer...

Sim... É realmente uma pena...

Era o que ele queria dizer, mas no fim apenas disse:

— Tenha uma boa noite, Annya. — Após falar, virou-se para ir em direção ao acampamento.

— Vai sair essa noite? — Ele a ouviu perguntando por trás dele.

— Sim, estou pensando em passar no Filhos da Cobra mãe outra vez para tomar um vinho. Por que a pergunta? Também está pensando em sair?

— Eu? Nãaaaooo... Só perguntei por curiosidade mesmo. Tenha uma boa noite, Beymutita. — Após falar ela virou-se e partiu.

Você também, lesinense... — Ele falou sussurrando para que ela não ouvisse.

Dhemer demorou-se ali mais alguns instantes e depois também partiu.

Algumas horas mais tarde já havia tomado banho, se trocado, tomado seu vinho na taverna, e agora chegava em frente ao isolado estábulo que o homem havia combinado de encontrá-lo.

Havia um clima tenso no ar, e aquela penumbra sinistra que invadia o estábulo não estava ajudando em nada.

Bem, se morrerei esta noite não será sem lutar.

Ele desabotoou sobretudo marrom que estava usando e pôs as suas mãos nos cabos das facas; somente depois começou a entrar no lugar.

A cada passo que dava seu coração parecia que sairia pela boca. Havia dez baias ali pelo que pôde contar, todas estavam sem animais, mas não queria dizer que estavam vazias. Seria muito fácil alguém se esconder nelas e saltar sobre ele a qualquer momento enquanto estivesse passando.

Gotas de suor frio começaram a descer pelo rosto do Beymutita. Sua vontade era dar meia volta e partir dali o quanto antes, mas quando percebeu já estava na metade do lugar, então decidiu falar:

— Há alguém aí?

Não houve resposta.

— Olá!!! Soldado sem nome, você está aí?

Depois de algum tempo de silêncio alguém falou:

— Mas é claro que sim, Beymutita. Não falei para você que sou um homem de honra? Eu cumpro com a minha palavra.

Dhemer aproximou-se dele com toda cautela, e enquanto fazia isso continuava atento a todas as direções.

— Pelo veneno da Cobra Mãe, Beymutita! Quem além de você usaria um casaco em Léssia? — O homem falou saindo da última baia.

— Fica mais fácil esconder as facas. — Disse Dhemer com ar sombrio. — Mas de qualquer forma eu o deixarei aberto...

— Não precisará disso, Beymutita, garanto a você. Mas pela santa Cobra Mãe, homem, tire isso ou irá derreter aqui!

— Não se preocupe comigo, estou bem. Vamos ao que interessa.

— Sempre direto, não é, rapaz? Não posso dizer que não gosto disso.

— Já pude confirmar que realmente é um soldado no castelo Leyfout, esse é um bom começo, mas além disso, o que você pode oferecer a mim?

O homem sorriu antes de continuar.

— Primeiro me diga... Onde quer ir e o que pretende fazer?

— Achei que estava aqui para negociar, não para ser interrogado.

— Não me entenda mal, não o estou investigando. Só pergunto porquê dependendo da parte que você queira acessar no castelo, e do que pretende fazer, determinará o quanto de ouro requererei de sua pessoa.

Dhemer tomou aquela resposta por razoável, então achou melhor dar ao homem algo em que pudesse acreditar.

— A verdade é que sou um ladrão. Mas não cometo roubos pequenos, ou roubo de gente que não mereça ser roubada. Há anos ouço falar das enormes riquezas escondidas no castelo Leyfout, só gostaria de poder confirmar com meus próprios olhos.

— Foi o que imaginei... — o homem pigarreou antes de continuar. — Devo alertá-lo, Beymutita, colocá-lo no palácio não será grande problema, mas se por acaso planeja matar o Dominante... Aí sim será um grande, enorme, gigantesco problemão! Não que eu me importe se esta criatura morrer. É que pelo que ouço falar, ele perambula pelo castelo sempre acompanhado por seus assistentes. Fora os guardas, você teria que matar a todos se quisesse chegar até Leyfout.

— O que você quer dizer com assistentes?

— É assim que são chamados oficialmente na presença do Dominante, mas longe dele são apenas os acólitos de Hamudd, ou os carniceiros de Hamudd, como preferir.

— Carniceiros?

— Dizem que os carniceiros do Dominante gostam de fazer experiências com pessoas. Ninguém nunca soube ao certo do que se trata, mas o fato é que histórias sinistras são ouvidas em algumas tavernas e vilarejos. Só estou contando tudo isso por que não quero que entre para não mais sair. Portanto, recomendo que realmente seja um ladrão. Entre, roube e fuja! Não faça nada mais drástico que possa chamar a atenção e acabe descobrindo por si próprio que as histórias são verdadeiras.

Dhemer não sabia o que pensar sobre aquilo. De fato, já tinha ouvido um sussurro ou dois sobre o tema na taverna, mas achou que não passava de papo furado de bêbados sem assunto. Agora ficaria alerta sobre tudo o que viesse a ouvir sobre o tema.

— Sei que está grandemente preocupado com minha segurança, senhor sem nome, mas não se preocupe, só quero realmente roubá-lo e não o matar.

— Acredito em você, Beymutita, vejo que é um bom rapaz. — Ele sorriu com malícia através dos lábios finos. — Só espero também que seja um bom ladrão.

— E como pretende me ajudar a ser um bom ladrão afinal de contas?

— Ah é verdade! Havia me esquecido. — O soldado pigarreou outra vez. — Eu lhe darei passagem segura por aquele trecho da muralha em que patrulho.

— Só isso não irá me ajudar.

— Calma rapaz, nem esperou eu concluir!

— Perdão, continue.

— Também lhe darei acesso direto ao quarto do Dominante.

— E como fará isso? — Dhemer perguntou sem deixar transparecer sua excitação com aquela possibilidade.

— Eu conheço um certo jovem de cabelos azuis na rua das rosas que de tempos em tempos é visitado por um desses carniceiros do Dominante. Parece que ele é chegado num belo moçoilo, e o moçoilo em questão tem o privilégio de ser o único que ele procura quando vai lá. E por acaso, este fogoso carniceiro tem a chave que abre os aposentos de Hamudd Leyfout. O jovem pode garantir ter ouvido isso da boca do próprio carniceiro. Só precisarei levar a chave enquanto o maldito estiver lá, fazer uma cópia nesse meio tempo e devolvê-la antes que termine o que quer que esteja fazendo com o rapaz. Creio que não levará mais que uma hora.

— E como fará para o jovem de cabelos azuis cooperar com algo tão perigoso?

— Com algum poder de persuasão e com uma parte do ouro que você me dará, claro.

— E de quanto ouro estamos falando afinal?

— Hum... — O homem mordeu os lábios e passou uma mão em seu queixo pontudo. — Por algo tão perigoso assim... Hum... Deixe-me ver...

— Ande logo com isso!

— Vinte moedas de ouro.

Dhemer espantou-se ao ouvir o valor.

— Tenha calma aí! Sei que o que estou pedindo é muito perigoso, mas por vinte moedas de ouro acredito que o próprio acólito me colocaria lá dentro!

— Eu entendi a ironia, senhor atirador de facas... Eu entendi... Errr... — ele pigarreou novamente. — Tudo bem. Sei que pedi alto, mas o chamei aqui para negociar, não foi? Pois é, eu apenas estava negociando. Quinze moedas de ouro. Não faço por menos.

— Sete.

— O quê? Quer que eu arrisque minha vida por míseras sete moedas de ouro? Sei que vocês beymutitas estão com poucos recursos no momento, mas todo mundo sabe que aquelas terras são repletas de minas de ouro! Doze e não falamos mais disso!

— Nove. É minha última oferta. Senão dou meia volta e saio de Léssia agora mesmo, pois sei que irá me denunciar.

— Sempre me julgando mal, não é, rapaz? Eu jamais faria isso. Já disse que gostei de você. E por isso fecharemos em dez moedas, e não falemos mais sobre o assunto. Lembre-se que ainda tenho que dispor de parte do que irei ganhar para incentivar nosso querido moçoilo.

Dhemer se calou por um momento. Precisava pensar antes de acertar qualquer coisa com aquele ali. Estava claro que era um maldito trapaceiro. Quem garantiria que não traria apenas uma chave qualquer dizendo se tratar da chave que abriria os aposentos do Dominante? Era uma situação muito complicada para o Beymutita. Aceitar o negócio e correr o risco de ser enganado, ou dizer não é poder estar perdendo a melhor oportunidade que se apresentava até ali. Dez moedas de ouro era exatamente o valor que havia trazido para auxiliar sua missão. Estava o guardando para uma ocasião crucial. Seria aquela? Ou teria que esperar um pouco mais? O tempo realmente não estava ao seu favor. Aquela poderia ser uma chance real. Tinha que tomar uma decisão naquele momento.

— Tudo bem. Dez moedas então. E quando seria o dia que me entregaria a chave?

— Calma, rapaz, uma coisa por vez. Primeiro tenho que saber o dia em que o carniceiro irá encontrar o jovem moçoilo. O que na verdade não é tão fácil assim, já que ele não é exatamente um frequentador assíduo do lugar em questão. O fato é que toda vez que ele vai lá, o jovem rapaz é sua única opção. O mais certo a se fazer é me encontrar aqui a cada três dias, e aí vou informando como está o andamento de tudo. E assim que estiver com a cópia da chave em mãos eu o mando avisar através de um ratinho.

— E por que não me avisa apenas quando estiver com a chave em mãos?

— Não sei quanto tempo isso irá levar, atirador de facas. Como não poderei mais ser visto na mesma taverna que você estiver e também não quero perder contato, acho esse o melhor lugar para mantê-lo informado.

— Não vejo sentido nisso.

O soldado torceu os lábios como se estivesse consternado com algo. Aquela não era a primeira vez que Dhemer notava aquela expressão, e já desconfiava exatamente do que se tratava.

— Tudo bem, rapaz, você venceu! Eu quero encontrá-lo sempre que puder antes de concluirmos o acordo, para que possa me fornecer algum adiantamento para manter os nervos no lugar.

— Você quer dizer água rubra, não é isso? — Enfim o fato vinha à tona, o homem era a droga de um maldito viciado. A pior espécie para se negociar. Estava claro que o iria enrolar o quanto pudesse até que achasse oportuno trazer a chave, se é que realmente a traria.

— Isso mesmo. Se eu não tomar um pouco deste veneno pelo menos uma vez por dia, meu corpo entra em colapso. Mas não pense que só estou fazendo isso para arrancar seu dinheiro. Não se trata disso. Eu realmente farei tudo o que disse. Só o fato de estar aqui com você já me põe em risco. Só peço que seja compreensivo nessa questão e me ajude.

Dhemer não sabia até onde iria a cara de pau do homem, mas o que podia fazer? De uma forma ou de outra já estava nas mãos dele. Agora teria que jogar o jogo.

— Tudo bem, mas só se me disser seu nome.

— Não poderia. Seria minha sentença de morte.

Dhemer já estava cansado de toda aquela conversa, então achou melhor tirar logo uma moeda do bolso e dá-la ao homem de uma vez.

— Em três dias então.

— Em três dias, Beymutita, pode confiar!

— Humpf. — Dhemer abafou o riso. — Acho que está bem claro que isso aqui não tem nada a ver com confiança. Como você mesmo fez questão de enfatizar, se trata apenas de negócios e nada mais.

— Lamento ouvir isso... — o homem esboçou um meio sorriso triste mais falso que sua dita "honra". — Mas se é assim que prefere... Por mim tudo bem.

Após ouvir as últimas baboseiras, Dhemer virou-se sem mais interagir com o homem e foi embora sem sequer lhe dar a chance de se despedir.

Pelos Antigos... O que é que estou fazendo? Seria mais fácil matá-lo aqui e agora. Ninguém suspeitaria. Mas que droga! Eu queria ser um pouco mais como o Derick. Bem... Já que o miserável quer me enrolar algumas vezes antes de entregar a chave, acho que isso me dará algum tempo para explorar uma nova possibilidade que se apresentou esta noite. E será exatamente isso o que farei...

Dhemer partiu lutando com aqueles pensamentos e tudo o que havia ocorrido ali naquela noite.

Aquilo tinha cheiro, cor e gosto de cilada, mas inexplicavelmente algo dentro de si insistia em continuar.


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