Capítulo 26 O dom de atrair confusões

Quando Alejandro e Ian me pegaram no consultório, partimos em direção uma loja agropecuária. Eles tinham que comprar umas vacinas para o gado. Enquanto os dois negociavam com o vendedor, decido dar uma volta ali mesmo na quadra e, por acaso, parei em frente a uma joalheria. Na vitrine avistei uma pulseira de pedras naturais de olho de tigre que eu tanto desejava. Ao conferir o preço me animei a comprar. Meu irmão sempre me dava dinheiro quando íamos à cidade, e embora eu nunca gastasse, dessa vez não resisti.

— Posso ajudar em alguma coisa? — perguntou uma das vendedoras.

A loja não estava cheia, mas havia pelo menos quatro clientes além de mim. Não pude deixar de perceber os olhares curiosos que me cercavam, inclusive de uma das vendedoras que me encarava com uma expressão desconfiada.

— Eu posso ver aquela pulseira? — perguntei naturalmente.

— Claro — a vendedora de cabelos negros, presos em um coque, sorriu. — Me acompanhe, eu pego para você — essa ao menos me tratou bem.

Segui a moça até o balcão, onde a outra vendedora atendia uma senhora que estava com o marido. Ele a presenteava com um anel de pedras preciosas, diziam estar completando vinte e cinco anos de casados. Por um instante me perdi admirando aquela cena, ele a olhava com admiração, a tratava com carinho, cuidado, era nítido que se amavam. Cheguei a pensar se um dia viveria um amor assim, capaz de ultrapassar as barreiras do tempo.

Segui a jovem até o balcão, onde outra vendedora atendia uma senhora acompanhada de seu marido. Ele a presenteava com um anel de pedras preciosas, pois estavam celebrando suas bodas de ouro. Por um breve momento, me deixei levar pela cena à minha frente: ele a observava com um olhar cheio de admiração, sorria a cada gesto e lhe ofertava palavras de carinho, que eram correspondidos por ela com um olhar apaixonado. Cheguei a pensar se um dia viveria um amor assim, tão profundo, capaz de superar as barreiras do tempo.

— Temos esses modelos também — a vendedora colocou uma caixinha com outras pulseiras sobre o balcão, mas eu já havia escolhido a minha preferida.

— Vou ficar com essa — falei, admirando a pulseira que acabara de colocar no pulso.

— É linda, inclusive eu tenho uma dessa — a vendedora sorriu.

— Obrigada! E volte sempre! — exclamou a outra vendedora ao casal que saía da loja.

Um novo casal entrou, e logo se dirigiu ao balcão de alianças.

— Qual será a forma de pagamento? — perguntou a vendedora, enquanto colocava a pulseira que eu lhe entregara em uma sacola elegante.

— Vai ser à vista — respondi, remexendo na bolsa em busca da minha carteira.

A ruiva de cabelos ondulados que acabara de atender o casal continuava me encarando com desdém, e isso começou a me incomodar. Paguei pela pulseira e, me dirigi rapidamente a porta de saída. Estava satisfeita, pois a pulseira era idêntica àquela que meu pai me deu e havia perdido ao visitar as cataratas do iguaçu. Eu não queria que ele soubesse do meu descuido, era um presente especial, por isso a oportunidade de substituí-la veio em boa hora.

— Mas cadê o anel de brilhantes que estava aqui? — perguntou a ruiva, com uma expressão acusatória. — Foi você, não é cigana?

Congelada, fiz uma parada brusca, enfrentado olhares precoces de julgamento.

— Eu? — perguntei apreensiva.

— Não se faça de desentendia, devolva logo o anel que você pegou! — exclamou Raquel, a vendedora ruiva, com o nome gravado em seu crachá, estendendo a mão em minha direção.

— Eu não peguei nenhum anel, apenas comprei a pulseira. Pode conferir na sacola! — respondi, tentando manter a calma.

— Vou ligar para a polícia — disse a gerente, que observava tudo de sua mesa.

— Devolve logo o anel, cigana! — exigiu Raquel, com um olhar severo.

— Mas eu não peguei nada! — protestei indignada. Naquele momento as lágrimas de frustração já brotavam em meus olhos.

— O que está acontecendo aqui? — perguntou Ian se aproximando ao lado do meu irmão.

— A cigana pegou o anel que estava sobre o balcão — afirmou Raquel apontado para mim.

— É verdade, Natacha? — Alejandro me encarou com firmeza.

— É claro que não! Você até me ofende por fazer essa pergunta. Comprei essa pulseira e paguei, olhe, tem o recibo — respondi lhe estendendo a sacola.

— Ela estava no balcão quando eu atendia o casal — insistiu a vendedora.

— Isso não quer dizer nada — Ian retorquiu.

— Então prove que ela é inocente! Revistem a bolsa dela! — sugeriu a vendedora, exibindo um sorriso desafiador.

— Vai fazer o mesmo com as outras clientes? — perguntou Alejandro.

— É claro que não, elas não são ciganas — Ian completou.

Um carro de polícia parou em frente à loja, e mesmo sendo inocente, fiquei apavorada. Instintivamente, me escondi atrás do Ian, que alcançou a minha mão com firmeza, de modo que me posicionasse ao seu lado. Ele não precisou dizer nada para me fazer sentir segura; sua presença ao meu lado já era suficiente.

— O que está acontecendo aqui? — perguntou o policial.

— Uma joia muito valiosa desapareceu do balcão da loja, e a vendedora acredita que a cigana esteja com ela — disse a gerente.

— Você sabe que acusar alguém sem provas é errado, não é? — respondeu meu irmão.

— E racismo é crime, também fique ciente — acrescentou Ian, encarando a vendedora com firmeza.

— O rapaz tem razão — disse o policial. — Você tem certeza do que está dizendo?

— Ninguém mais se aproximou do balcão. Só pode ter sido ela.

— Minha irmã recebeu uma educação exemplar de meus pais, e jamais mexeria em algo que não lhe pertence. Pode revistar a bolsa dela — ordenou Alejandro.

— Não acredito que estou passando por isso! — lamentei, deixando as lágrimas molharem meu rosto diante daquela humilhação.

Abri a bolsa sob olhares curiosos e retirei uma escova de cabelo, maquiagem, a carteira de documentos, um espelho pequeno e uma necessaire com absorventes. Não havia mais nada ali.

— Oi, você deve ter colocado esse anel por engano juntamente com o outro que compramos — disse o homem que havia acabado de deixar a loja com sua esposa. — Percebemos ao entrar no carro. Aqui está.

Percebi que a vendedora empalideceu no mesmo instante. A gerente a olhou irritada, os demais clientes murmuravam entre si. Eu só queria sair dali o mais rápido possível.

— Que interessante, nem vou precisar chamar a polícia, eles já estão aqui — disse Ian, sorrindo satisfeito.

— Tenho certeza de que podemos resolver isso de outra forma — respondeu a gerente.

— Sim — concordou Débora. — Podemos conversar de forma amigável, afinal, equívocos acontecem.

— Engraçado como agora estão dispostos a resolver o "equívoco", amigavelmente, mas quando acusavam uma inocente de roubo, por preconceito, não pensaram nisso — protestou Alejandro. — Eu quero registrar uma queixa.

— Qual é o problema aqui? — disse um senhor de cabelos grisalhos e aparência elegante que acabara de chegar.

— Seu Antônio, foi um mal-entendido — a gerente foi logo se explicando.

— Tudo bem Ian? — ele perguntou ao cigano que apertou a sua mão. Em seguida repetiu o gesto com meu irmão.

— A sua vendedora acusou minha irmã de roubo — disse Alejandro ao homem que olhou para a gerente com uma expressão de descontentamento.

— O anel estava na minha sacola, ela colocou por engano — disse o outro cliente.

— Quem foi a vendedora que te acusou? — ele me perguntou, e sequer consegui responder, apenas apontei com o dedo.

— Patrão, eu...

— Não é a primeira vez que você discrimina os clientes, Raquel. Eu já havia te avisado sobre isso, pode passar no escritório para acertar suas contas. E vocês, fiquem à vontade para tomar providências, a loja não compactua com esse tipo de atitude.

— Assine aqui por favor — disse o policial entregando uma prancheta com um documento à vendedora, que tinha seu rosto molhado pelas lágrimas.

— Eu tenho um filho autista, cigana. Preciso trabalhar v disse ela passando por mim.

— Então torça para que ele nunca tope pela vida com alguém como você — respondi rancorosa.

Foi um momento de muita tensão que sinceramente não esperava viver. Já havia passado por muita coisa, mas era a primeira vez que me vi em uma situação em que me acusavam de roubo. Os policiais registraram a ocorrência, e foram embora. A gerente me pediu muitas desculpas, mas a vendedora sequer se mostrou arrependida por sua atitude, deixou a loja revoltada como se fosse ela a injustiçada. 

O proprietário depois de uma conversa breve descobri que era amigo do seu Geraldo e frequentava a fazenda. Tinha amizade não somente com Ian e meu irmão, mas também com meu pai e avô, assim como outros ciganos. Ian se ofereceu para me dar de presente o anel em questão, mas recusei. Não me sentiria confortável olhando uma peça que se tornaria um lembrete da minha humilhação.

— Meninas, tratem bem a Natacha, o noivo dela aqui tem condições de comprar qualquer peça do nosso mostruário — Seu Antônio deu tapinhas nas costas de Ian, que sorriu com aquela brincadeira.

Meu rosto esquentou ao ouvir a palavra "noivo", que agora parecia bem mais atraente. O fato de Ian não ter desmentido me fez gostar da ideia. As vendedoras, que eram comissionadas, logo se mostraram muito interessadas em me mimar. Entrei na loja recebendo olhares desconfiados e saí sendo tratada feito uma madame, algo que nunca fui. Me lembrei do casal que vi mais cedo e de como fiquei encantada com a forma como se tratavam. 

Senti um misto de nervosismo e alegria, como se, de repente, eu tivesse entrado em um conto de fadas. A ideia de ser noiva, mesmo que por um instante, me fez sonhar e imaginar como seria esse novo capítulo da minha vida. Se ele fosse tão atencioso quanto aquele homem estava sendo com sua esposa, era um sonho que valia a pena viver.

Quando retornamos, já estava escurecendo, então Alejandro me deixou na fazenda e foi embora. Fiquei pensativa sobre tudo o que me aconteceu, e mais ainda sobre a conversa com a psicóloga, que me forçou a refletir sobre meus sentimentos confusos em relação ao Samuel e o Ian. Ela tinha razão, eu precisava conversar com o cigano sobre minhas dúvidas e definir o meu futuro. Só não fazia ideia de como realizar essa proeza.

***

O dia mal começou e já estava no jardim, tomando um banho de sol. Pássaros cantavam ao meu redor, enquanto borboletas coloridas e beija-flores disputavam espaço nas plantas, criando um cenário que merecia ser eternizado em uma pintura e colocado em posição de destaque para ser apreciado. Mais adiante, avistei Ian e sua amiga Juliana se aproximando. 

Os sorrisos que trocavam me pegaram de surpresa, despertando uma onda de ciúmes que eu tentava em vão controlar. Juliana tinha esse jeito de tocar nas pessoas enquanto falava, e isso me deixava profundamente irritada. Para minha frustração, Ian parecia corresponder ao flerte dela. Respirei fundo, tentando me acalmar enquanto observava toda a situação.

— Bom dia! — ele acenou ao me ver. Retribuí o aceno, mesmo que de forma automática.

Eles seguiram em direção ao escritório, enquanto eu permanecia ali, imersa em pensamentos sobre toda aquela situação incômoda. Respirei fundo, buscando coragem para seguir meus instintos e falar com ele sobre tudo o que estava acontecendo. Era hora de decidir, de uma vez por todas, o rumo que eu queria para minha vida.

— Precisamos conversar — disse, entrando de repente na sala dele. A amiga já tinha saído.

— Parece que o assunto é sério — ele comentou, surpreso.

— Está rolando algo entre vocês? — perguntei direta.

— Por que essa pergunta? — ele respondeu, encostando-se na mesa e cruzando os braços, me lançando um olhar desafiador. Filho da mãe, por que tinha que ser tão bonito?

— Você não pode fazer isso comigo.

— E o que exatamente estou fazendo?

— Está desfilando com aquela...

— Cuidado com o que vai dizer — ele cortou, com um tom firme que deixou claro que não estava disposto a provocações.

— Eu pensei que significasse alguma coisa para você.

— E eu significo para você?

— Você é meu Ian! — disse em um impulso.

— Sou? — ele riu balançando a cabeça. — O seu namorado sabe disso?

— Não brinque comigo cigano.

— Te digo o mesmo — disse ele passando por mim.

— Isso, me dê as costas!

— O que você espera que eu faça? — Ele se virou de repente, pressionando-me contra a parede. — Acha que é fácil para mim saber que dorme com ele todas as noites? Acha mesmo que eu gosto de ficar para segundo plano?

— Mas...

— Mas nada, Natacha, eu te disse que não corro atrás de mulher.

— Não precisa correr; já tem uma a sua disposição, não é? Vá lá se divertir com sua amiga, eu não me importo! — empurrei seu peito com todas as minhas forças, mas ele nem se moveu. Um calafrio percorreu minha pele, na mesma intensidade com que minha respiração acelerava.

— Enquanto não assumir que me ama, eu não vou te fazer minha mulher.

— Eu te amo droga!

Meus dedos se enroscaram em seus cabelos buscando uma aproximação que resultou em um beijo intenso e urgente que me atiçava. Senti seu toque suave, uma de suas mãos deslizando da minha cintura para minha nuca, me envolvendo em um aperto firme e possessivo. A outra me prendia ao seu corpo forte, acendendo em mim uma chama ardente que parecia me consumir por inteira.

— Você é minha Natacha, só minha!

Ian segurou em meu quadril me suspendendo em seu corpo, e com uma habilidade incrível me colocou sobre a mesa de trabalho, sem interromper aquele beijo ardente que servia como combustível para o fogaréu que se formou dentro de mim. Nada mais me importava; eu só queria curtir aquele momento, tão intenso que vivia pela primeira vez. Ele me beijava, mordia, me apertava. Suas carícias atrevidas eram tão boas que, se o mundo parasse ali, eu nem perceberia.

— Eu te amo Natacha — disse ele em meu ouvido.

— Eu também te amo — murmurei, colando meus lábios aos dele, enquanto minhas mãos exploravam seu corpo quente, aumentando a vontade de sentir sua pele junto à minha.

— Minha Natacha.

— Samuel? Valha-me!

Em um impulso o empurrei fazendo com que quase caísse da cama. Pelo visto ter bons sonhos com Ian e ser acordada na melhor parte era minha sina.

— Você me beijava tão gostoso, Nat — disse ele, com a voz rouca de quem acabara de acordar. — Eu te amo, minha cigana.

Samuel me puxou para si novamente, mas o empurrei outra vez.

— Calma, eu estava sonhando, e...

— Quero muito me casar contigo, Nat. Não aguento mais dormir ao seu lado sem poder te tocar.

— Acho melhor voltar para minha casa — falei confusa. As sensações causadas por aquele sonho ainda estavam presentes.

— Por quê? Eu fiz algo errado? — ele me olhou preocupado, e acabei me sentindo culpada.

— Samuel está tudo errado. Nós dois aqui dormindo juntos, isso...

— Você me beijou de uma forma que nunca havia feito, me tocou com desejo. Não foi só um sonho, eu sei que me quer tanto quanto eu te quero.

— Samuel, é sério...

— Eu sei que se sente insegura, estamos enfrentando uma situação complicada, mas Nat, você acabou de assumir que me ama — disse ele, segurando meu rosto entre suas mãos. — Eu também te amo muito e quero passar o resto dos meus dias ao seu lado. Precisamos ficar juntos, Natacha. Não quero esperar mais, vou alugar um apartamento e te levar daqui o mais rápido possível.

— Não precisa tanta pressa, é que...

— Vou ligar para a imobiliária hoje mesmo e resolver tudo — em um salto ele se colocou em pé a minha frente e saiu apressado e esbarrando em Soraia, que entrava silenciosamente. Foi nesse momento que percebi que ela não dormiu no quarto.

— Que empolgação é essa? — ela perguntou, quando Samuel a abraçou apertado ao ponto de suspende–la no ar.

— Sua irmã me ama, ela finalmente me disse isso — ele comemorou, eufórico. — Eu vou me casar com ela, se prepare para ser madrinha.

— O que é isso gente! — Soraia sorriu confusa, quando a porta do quarto se fechou atrás dela.

— Isso é a minha vida se complicando ainda mais — exclamei, separando uma roupa para me banhar.

— Eu hein! — Soraia balançou a cabeça, pegando o celular sobre a mesa de cabeceira e deixando o quarto em seguida.

Tomei um banho rápido, eu precisava relaxar e diminuir aquela fogueira que se acendia a cada vez que me lembrava daquele sonho maluco. Pensei muito e decidi seguir o conselho da doutora Lauana e procurar Ian para ter uma conversa sincera. Depois seria a vez de Samuel, mas agora era de extrema importância ver aquele cigano.

— Vai me contar o que aconteceu? — perguntou Soraia, me olhando desconfiada durante o café. Dessa vez estávamos sozinhas na mesa; Crístian saiu mais cedo e a patroa foi até a cidade com o patrão. Samuel tomou chá de sumiço e seu Augusto, terminou seu café e foi ler seu jornal na poltrona da sala, como sempre fazia.

— Eu sonhei com Ian e acabei agarrando o Samuel — confessei envergonhada.

— Não creio! — Soraia sorriu se afogando com o chá.

— Eu disse a ele que o amava, mas não estava raciocinando direito, estava dormindo.

— Mas você não o ama?

— Sim, mas não era para ele que dizia, entende?

— Está se enrolando cada vez mais, Natacha — Soraia me repreendeu.

— Eu sei — assumi, com um suspiro profundo. — Eu amo Samuel de uma forma diferente do Ian, e depois daquele sonho fiquei ainda mais confusa.

— Nem sei se quero saber que tipo de sonho foi esse. Tem coisas que é melhor não ter conhecimento.

— É sério, Sô, ele vai arrumar um apartamento para nós. Eu preciso ter certeza do que sinto, não posso arriscar minha vida assim.

— E o que te impede de entender seus sentimentos?

— Eu preciso falar abertamente com o Ian. Só assim vou poder resolver a minha vida.

— Juízo cigana! — disse ela se levantando.

— Falou a cigana ajuizada que não dormiu no quarto essa noite.

— Eu precisava de um momento com ele, Nat.

— E eu preciso falar com o Ian — mordi o lábio pensativa, enquanto tentava formular as palavras. Eu nem sabia como iniciar aquela conversa.

Aquele sonho estava vivo em minha mente, me causando um calafrio diferente a cada vez que me lembrava daquele corpo se esfregando ao meu. Entrei no escritório decidida a resolver aquela situação de uma vez por todas, e para minha surpresa, me deparei com o Samuel falando ao telefone na mesa do Alejandro. Na mesa ao lado, Ian me olhava com uma expressão vazia. Ele sequer respondeu ao meu bom dia.

— Está tudo bem aqui? — perguntei aflita.

— Pedi para o Ian me ajudar a encontrar um apartamento para nós.

— Como? — perguntei com o coração disparado.

— Nós conversamos e nos entendemos. Somos amigos Nat, ele vai nos ajudar.

— Você vai? — perguntei surpresa.

— Tudo o que posso fazer, é manter o pedido de noivado e adiar o casamento até que ele encontre um local para os dois.

— Isso é sério? — insisti.

— Se os dois se amam, não há razão para ficar separados — Ian respondeu sem ao menos me olhar. Ele mexia em seu computador como se minha presença fosse indiferente.

— Com licença — disse a secretária ao Samuel. — O Cristian quer falar contigo.

— Eu já volto — disse ele, saindo rapidamente.

Olhei para sua mesa e uma coleção de lembranças me invadiram a mente, fazendo o sangue esquentar em meu rosto. Talvez tudo aquilo que sentia estivesse ligado às sensações que aquele sonho me proporcionou. Estava muito recente, não era a primeira vez que sonhava com um garoto e acordava apaixonada por ele. Nossa mente nos prega muitas peças e eu precisava manter meus dois pés cravados no chão. Mas era tão difícil com ele ali a minha frente, lindo, cheiroso, exalando masculinidade naquela mesa onde quase fizemos loucuras. Em meus sonhos.

— Por que está me olhando assim? — ele perguntou.

— Eu queria conversar contigo, mas acho que não é um bom momento.

— Se for para me contar que estão dividindo a mesma cama, eu já sei.

— Não é isso, eu...

— Se for para me dizer que o ama, eu também já sei.

— Eu estou com o coração dividido. E antes que me dê um sermão, não aconteceu nada entre nós. Ele só dormiu ao meu lado, e nem vai mais fazer isso.

— Não tenho que te dar sermões, você sabe muito bem o que é certo e errado. Também não se iluda achando que vou ficar à sua disposição enquanto decide em qual cama pretende deitar.

— Agora você está me ofendendo, sabia?

— Eu também tenho sentimentos cigana!

— Então me diga...

— Bom dia! — disse Juliana, nos interrompendo, animada. — Estou atrasada, mas foi por uma boa causa. Consegui mais um cliente para você... — seu sorriso se foi ao perceber o clima pesado. — Atrapalho alguma coisa?

— Vamos vacinar o gado hoje. Se prepare, o dia será longo — disse Ian, com uma postura rígida.

— Ok — ela nos olhou desconfiada.

— Eu vou deixar vocês trabalharem — suspirei deixando a sala.

Ele não foi atrás de mim, é claro que não iria. Agora eu não sabia mais o rumo que minha vida tomaria. Incrível como eu tinha o dom de atrair confusões! 

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