Capítulo 20 Visitante indesejado

ATENÇÃO!

O FINAL DESSE CAPÍTULO PODE CONTER GATILHO DE PRESSÃO PSICOLÓGICA, CASO SE SINTA INCONOMADO (A) FIQUE À VONTADE PARA PULAR. 

Logo que chegamos no assentamento, fui com o Ian até sua casa, onde Caio estava hospedado, e enquanto o policial tentava acessar minha conta nas redes sociais, eu remoía aquele sentimento ruim que me consumia. Não entendo como de uma hora para outra comecei a me importar tanto com o que aquele cigano fazia de sua vida, e o pior é que agora ele estava disposto a me desestabilizar com aquele deboche. Abusado!

— Chupou limão? — Ian me despertou de minha distração.

— Por quê?

— Essa carranca não combina contigo.

— Engraçadinho — respondi com uma careta.

— Assume logo que ficou com ciúmes da Ju.

— Eu não fiquei com ciúmes da Ju — cantarolei com uma careta acompanhada de desdém. Caio nos olhou com um sorriso e balançou a cabeça voltando sua atenção para seu notebook. — Você é livre para ir onde quiser, tanto faz!

— Então quer dizer que ele pode ir ao bar do Zeca no sábado? — a boca de Caio se curvou em um sorriso ao fazer aquela pergunta.

— Não posso, eu sou certinho demais para frequentar bares — Ian riu nasalado, enquanto eu tentava controlar minha respiração. É sério que aqueles dois iam ficar me provocando?

— Vou embora, se conseguir alguma coisa, me avisa — me levantei irritada.

— Eu não acredito! — Caio juntou as palmas de sua mão uma na outra e levou até a boca, que estava aberta em uma expressão de espanto. — A Sheila, caramba, essas meninas das fotos foram traficadas, tenho certeza disso. Que burrice desse cara!

— Quem é Sheila? — Perguntei curiosa.

— Essa moça aqui, ela veio da Bahia com a promessa de trabalhar como modelo, é a irmã do meu amigo. Caramba, a foto dela ao lado dessas meninas é uma prova de que as outras também foram traficadas. Natacha, você não sabe o valor dessa conversa, essas fotos... Já encaminharei ao meu escritório.

— E tem como descobrir onde elas estão? Essa conversa foi há sete anos, e...

— A Sheila é falecida, a família luta por justiça, e se existe uma possibilidade de as outras estarem vivas, não podemos perder as esperanças.

— Parece que consegui fazer ao menos uma coisa certa na vida, então — murmurei estalando os dedos.

— Você ajudou muito, não tenha dúvidas disso — Caio me respondeu, antes de voltar sua atenção para Ian. — Vou fazer umas ligações, pelo visto meu trabalho aqui terminou mais cedo do que eu pensava.

O policial se afastou com uma postura misteriosa, eu e Ian nos entreolhamos e pelo visto ele também não entendeu nada.

— Vou para casa — me levantei com um pouco de dificuldade, a muleta estava encostada na parede ao lado. Na minha cabeça mais atrapalhava do que ajudava, mas só usaria para percorrer distâncias longas, e segundo o médico seria por um curto espaço de tempo.

— Eu não vou para a cidade no sábado — disse Ian, de forma repentina.

— Ué, vai deixar a Ju esperando? — perguntei debochada.

— Ciúmes?

— Convencido, vai lá com ela!

— Ah, Natacha, você tem sempre que ser impulsiva assim?

— Dormiu com ela?

— Acabou de dizer que não lhe devo satisfações — respondeu, depois de um sorriso irritante.

— Dormiu ou não?

— Eu não vou falar sobre minha vida íntima contigo, qual a necessidade disso?

— Dormiu — afirmei. — Por isso não quer falar.

— E se tiver dormido?

— Nem sei porque perguntei, eu não tenho nada com sua vida — suspirei lhe dando as costas.

Deixei a casa de Ian com lágrimas nos olhos, o sentimento era de alegria por conseguir ser útil em alguma coisa, mas, ao mesmo tempo, de tristeza, pois se tivesse falado antes, talvez tivesse conseguido salvar uma daquelas meninas das fotos. Eram fotos de garotas à beira de um rio, elas faziam pose, sorriam, pareciam felizes, talvez ainda não soubessem qual seria seu verdadeiro destino. Como pode o ser humano ser tão cruel?

— Solta ela!

A voz do cigano Venâncio me chamou a atenção para uma cena que acontecia em frente a minha casa...

— Valha-me!

Senti um frio no estômago ao ver Jade e Ariane se estapeando no chão. Alejandro veio correndo e puxou a noiva que reagia às investidas de nossa prima, Venâncio puxou Jade que pulava e gritava descontrolada. Ian e Caio me alcançaram, e chegamos juntos ao olho do furacão, que já tinha uma plateia assistindo.

— Essa garota folgada, eu arranco os olhos dela!

Jade se debatia sendo contida pelo cigano Venâncio, enquanto Ariane respirava acelerado de punho cerrado, nos braços do meu irmão.

— Que coisa feia, duas moças se atracando desse jeito! — repreendeu Venâncio. — Estavam ainda agora falando sobre maturidade e cinco minutos depois rolando no chão feito bichos selvagens. Acham isso bonito? Teu noivo vendo uma cena dessa Ariane? E você, Jade, acha que algum cigano, de bem, quer uma mulher espetaculosa do lado?

— Por que fez isso Jade? — Alejandro perguntou.

— Essa otária disse a Vívian que tem pena de mim, eu não preciso de sua pena!

— Eu não disse isso, falei que é uma pena que nem todos tenham a sorte de amar e ser correspondido — Ariane limpou a boca que sangrava no canto. — Ela distorceu tudo.

— Falsa! — Jade tentou avançar, mas Venâncio não permitiu.

— Olha o respeito Jade! — Alejandro elevou seu tom de voz, fazendo com que recuasse.

Vívian assistia à cena com um sorriso no rosto, e os burburinhos a nossa volta só foram aumentando.

— Você causou essa confusão? — Ian perguntou à prima.

— A garota não assume o que diz e a culpa é minha?

— Eu não assumo? Você está inventando coisas para me prejudicar! — Ariane tremia sendo contida pelo noivo, que a segurava pela cintura. — Eu vou embora desse lugar.

— Vai tarde, sua molenga!

— Vívian, já chega! — agora foi a vez de Ian elevar o tom de voz. — Já para sua casa!

— Você não fala assim comigo, Ian, não sou criança — ela disse entredentes.

— Muito adulto da sua parte ficar fazendo intrigas para as meninas brigarem.

— O que um rabo de saia não faz, não é primo? Foi só essa daí voltar que virou a sua cabeça.

— Ei, me bota nessa encrenca não, hein! — Falei irritada.

— Tudo isso porque não aceita minhas escolhas, Vívian?

— Ah, Ian, você me repreende, mas sabe que essa garota é um péssimo exemplo, vive fazendo coisa errada. Só porque é filha do líder, acha que pode!

— Não seja injusta, meu pai sempre tratou a todos por igual! — soltei a muleta de dei um passo a frente. — Se tem um problema comigo, me ataque, mas não envolva minha família nessa história!

— Tenho vários problemas contigo, sua cretina devoradora de homens! Cadê teu macho para te defender agora?

— Filha da...

— Já chega! Eu pego uma, você pega a outra!

Ian me agarrou pelo meio quando avancei em sua prima, e sem esforço algum me jogou no ombro, Caio fez o mesmo com Vívian, Venâncio dispersou os curiosos enquanto Alejandro levava Ariane pelo braço. Eu não tinha nada a ver com a confusão inicial, mas ela se aproveitou da situação para me provocar, e conseguiu.

— Me solta Ian, quem ela pensa que é para falar comigo desse jeito!

— Sossega! — ele deu um tapa em meu traseiro, me levando para dentro de minha casa.

— Você vem comigo! — Alejandro levou Ariane pela mão rumo ao seu quarto e fechou a porta, por sorte meus pais e avô não estavam em casa.

— Você me bateu — falei quando Ian me devolveu ao chão.

— Mal consegue parar em pé sem auxílio e quer brigar? — Ian andava de um lado para o outro no meio da sala. — Queria ser mais exposta do que já foi?

— Ela me chamou de devoradora de homens, ia fazer engolir o que disse! — protestei me encostando à parede.

— Toma juízo! — Ian segurou meu rosto com as mãos.

Meu peito subia e descia, descompassado, seus olhos fixos nos meus, sua respiração tão acelerada quanto a minha. Em um impulso me agarrei aos seus cabelos e o puxei para mais perto, colando minha boca na sua. Ele retribuiu com a mesma vontade, e a sensação que me envolveu era de ter uma revoada de borboletas crescendo em meu estômago. A textura macia de seus lábios massageavam os meus enquanto sua língua explorava minha boca de uma forma provocante, com toda a certeza do mundo, um beijo inesquecível. 

Sua mão desceu pela minha pele e foi para minha cintura em um aperto firme me puxando para mais perto, e quando nossos corpos se chocaram, senti uma onda de calor que me despertou todos os sentidos. Em momento algum ele avançou o sinal, mas brincava com minha boca de uma forma tão gostosa que quanto mais eu beijava, mais queria beijar, envolvida em um misto de alegria e desejo que me dominava. 

 Era a primeira vez que me sentia assim, me agarrei a sua camisa para que não ousasse se afastar, eu não queria parar, era evidente que ele também não, mas a voz de meu avô ecoou pelo cômodo como um trovão em noite de tempestade, nos fazendo afastar bruscamente.

— O que está acontecendo aqui!?

— Vô, eu...

— Para seu quarto, Natacha, eu quero conversar com Ian!

— Mas vô, fui eu que...

— Eu assumo as consequências dos meus atos — Ian interveio de forma decidida.

— Não briga com ele vô, foi culpa minha, eu...

— Já disse para ir para o quarto, cigana!

Saí apressada esbarrando pelos móveis, o velho Gregório estava com um semblante muito sério que poucas vezes eu vi. Se percebesse que Alejandro estava trancado no quarto com Ariane, então o telhado de minha casa cairia sobre nossas cabeças.

— Eu beijei ele, não acredito que fiz isso! — me joguei na cama tapando o rosto com o travesseiro. Agora não tinha como recuar, estava feito e sofreria as consequências.

Por fim, Jade foi castigada, assim como Vívian, que por medo, ou respeito ao seu primo, não me entregou. Alejandro e Ariane passaram um longo tempo no quarto dele, nem vi quando saíram; se meu pai soubesse, Alê estaria muito encrencado, e eu? Fiquei em meu quarto esperando a bronca chegar, mas por ironia do destino, nada aconteceu. 

Não sei o que Ian disse ao meu avô, mas ele não contou ao meu pai que me pegou quase engolindo o cigano na sala. Aliás, fiquei muito confusa com minha atitude, nunca tomei iniciativa, mas ali, não consegui evitar, eu simplesmente o ataquei. O que deveria estar pensando de mim agora?

***

Quando a noite caiu já se via a movimentação rotineira no assentamento, crianças correndo, pessoas chegando de seu trabalho, cheiro de comida no ar. Eu ainda tentava assimilar aquele beijo e seus efeitos que ainda me causavam uma sensação diferente. Era um arrepio bom o suficiente para esquentar meu rosto só de me lembrar daqueles lábios colados nos meus.

— Droga, Natacha, se concentra, você já tem uma história acontecendo com Samuel — me repreendi penteando cabelo em frente o espelho. — A mãe fala que quando uma menina começa a olhar para um rapaz de modo diferente é hora de casar, senão o proibido mexe com sua cabeça. É isso, Ian é meu proibido, ele é o fruto que não devo experimentar, eu já aceitei um pedido de noivado.

— Eu desonrei Ariane — disse Alejandro entrando em meu quarto de maneira inesperada.

— Você o quê? — meus olhos estalaram quando ele se sentou ao meu lado na cama.

— Depois da briga lá fora, eu a levei para meu quarto porque ela disse que ia embora. Fiz isso porque queria conversar em um local onde tivéssemos privacidade, mas ela começou a chorar, disse que se sentia rejeitada, que eu não demonstrava interesse algum, então a beijei e ela correspondeu; não conseguimos parar.

— Alê o que você fez! — levei a mão até a boca espantada. — E agora?

— Não a forcei, Nat, juro. Ela queria tanto quanto eu, inclusive tomou a iniciativa, sei que tinha que ter resistido, mas não consegui.

— E agora Alejandro?

— Contei para o pai, ele vai marcar o casamento para o início do mês.

— E como ela está?

— Me disse que não se arrepende.

— Que loucura — murmurei preocupada.

— É como te falei, foi ela quem tomou a iniciativa; ela insistiu quando eu quis parar e não estou me fazendo de santo, sei que tenho minha parcela de culpa, me deixei levar pela carência, eu... foi diferente.

— Diferente?

— Não achei que fosse possível acontecer assim tao rápido, mas... acho que me apaixonei por ela, Nat.

— Como assim, você estava todo sentimental por ter visto a Rubi, não...

— Também não entendi — ele esfregou o rosto com as mãos. — Como pode duas pessoas se fazerem tão importantes ao mesmo tempo, em nossas vidas?

— Eu também queria essa resposta, meu irmão.

— É sério, Nat, quando Rubi foi embora eu fiquei muito mal, a procurei em outros braços, em outros corpos, mas não encontrei, até que decidi esperar por Ariane, que era a mulher escolhida para mim. Desde que chegou ela vinha fazendo de tudo para me agradar; estava evitando uma interação maior porque tinha medo de não conseguir retribuir a altura, mas quando me disse que ia embora fiquei desesperado, eu... ela se encaixa perfeitamente em mim e a ideia de perdê-la me deixou apavorado. O que está acontecendo comigo?

— Se encaixa como?

— Em todos os sentidos. Eu demorei para enxergar isso e agora tenho medo de que me deixe por conta das provocações da Jade. Ainda me lembro de rubi com carinho, com amor, mas, ela nunca será minha, a Ariane está aqui, e me faz tão bem, eu não quero que vá embora.

— Ela se entregou a você, seu bobo apaixonado, não vai te deixar — eu ri com lágrimas nos olhos. — Estou tão feliz por você, meu irmão. Vai se casar por amor.

— Acontece mesmo, Natacha, o amor pode surgir quando a gente menos espera.

Eu percebi que Alejandro estava em meio a um grande conflito interno quando veio desabafar justamente comigo, a irmã caçula sem juízo. Meu irmão sempre foi discreto em relação aos seus sentimos, poucas foram às vezes que se abriu, ao menos comigo.

— Eu beijei o Ian — aproveitei a oportunidade para lhe contar, embora desconfiasse de que já sabia.

— Ele me contou — Alejandro riu nasalado.

— Por que está rindo?

— Ian me disse que nenhuma outra o juntou pelo cabelo de uma forma tão sexy.

— Abusado — eu ri envergonhada. — Pensei que o vô ia me dar uma bronca daquelas, mas ele ainda não veio falar comigo.

— O vô disse ao pai que aquele cigano vai te botar na linha.

— Ué? — sorri confusa.

— Não sei o que conversaram, mas o velho Gregório está convencido de que o grandalhão é o homem certo para domar a ciganinha rebelde.

— Valha-me!

***

Quando Alejandro deixou o quarto, me deitei na cama, onde fiquei olhando para o teto, pensativa. Desde que retornei, minha vida virou uma bagunça, eu nem sabia mais o que realmente queria. Samuel e Ian eram dois extremos de uma história mal vivida, onde eu me jogava sem pensar nas consequências. Não queria que fosse assim, não pretendia machucar nenhum dos dois, tampouco sair machucada, mas a cada encontro me afundava mais em um abismo que poderia se tornar minha ruína no final de tudo.

Hoje eu sei o quanto errei, mas naquela época, me vi envolvida pelos dois, de maneiras diferentes, não sabia identificar o que era amor, paixão, ou apenas desejo carnal. O Samuel me trazia a sensação de um desafio constante, ele era atrevido, vivia o hoje como se não houvesse o amanhã. 

Era bom estar em seus braços, seus beijos, suas carícias ousadas eram como uma droga viciante que me apresentou o gosto do pecado, que é sempre mais doce, mais sedutor. Ele usava de artimanhas, que me faziam ficar a mercê de suas vontades, já que não conseguia lhe dizer a palavra, não. Já o Ian, trazia um jeito misterioso, era seguro de si, e me mostrava que mesmo me cuidando tanto, eu não o tinha em minhas mãos. 

Ele sabia jogar com meus nervos de modo que me instigava a querer quebrar aquela resistência que parecia inabalável. Ao mesmo tempo que era contido, demonstrava um lado atrevido de quem sabia exatamente o que queria, e isso me desestabilizava por completo. O único beijo que até então havia rolado entre nós, foi uma grande prova disso.

— O que faço da minha vida, Jubileu? — perguntei a lagartixa, que descia pela lateral da janela. — Me sinto tão perdida.

A porta estava encostada, a luz apagada, mas não precisava muito, a claridade da lua adentrava pela janela iluminando parcialmente o cômodo. Eu conversava distraída com aquele bichinho quando uma sombra acompanhada de um barulho me fez estremecer.

— Seu Venâncio?

Ele levou o dedo indicador até a boca me pedindo silêncio. Me encolhi na cama sem entender o que acontecia.

— Sem barulho — sussurrou.

— Não me machuca — murmurei, me encolhendo o canto da cama.

O homem me encarava com uma expressão estranha, eu sabia que correr, gritar, não eram opções. Tive muito medo de suas intenções ao entrar em meu quarto daquela forma, e quando levantou a barra de sua camisa me mostrando o cabo de uma arma, fiquei ainda mais apavorada. Não me restava mais nada a fazer, a não ser pedir em pensamentos para que os anjos me protegessem.

— Mãe? — falei ao ouvir vozes que provavelmente vinham da área lateral.

— Hãhã — ele rosnou esmagando a lagartixa, sem um pingo de piedade à minha frente. — Era seu amigo, não é mesmo? É isso que eu faço com quem não me obedece.

— Jubileu — murmurei em lágrimas, olhando o bichinho sem vida no chão.

O cigano me apontou aquela arma quando ouvimos um barulho vindo do corredor, em seguida se escondeu entre o guarda-roupa e a parede da janela.

— Nat, a mãe pediu para avisar que o jantar está pronto — disse Soraia, apontando a cabeça na porta. — O que foi? Está chorando?

— É coisa minha — limpei o rosto, olhando para o homem de soslaio.

— O Tio Juliano está aqui, vai embora amanhã, o Wil vai domingo, você não quer se despedir?

Olhei para o intruso que balançou a cabeça em negação, ainda com a arma apontada para mim, então voltei minha atenção para Soraia novamente.

— Eu já vou.

— O Samuel e o Cristian também estão aqui, vão ficar com a gente lá na fogueira, ele perguntou por você.

— Eu quero ficar sozinha.

— É o Jubileu? — ela se abaixou pegando a lagartixa esmagada no chão, nem percebeu a presença do homem ali.

— Eu o matei — respondi sentindo o coração acelerar. Tive medo de que ele a fizesse refém assim como eu, e sequer sabia se era mesmo isso que acontecia ali.

— Por que fez isso? — Soraia me olhou desconfiada, ela sabia que não faria algo tão cruel, eu amava os bichinhos.

— Era só uma lagartixa, agora me deixe sozinha — pedi aflita.

— Você está muito estranha — disse ela saindo do quarto com o bichinho na mão.

Aquele homem respirava firme a minha frente, seu olhar fixo em mim era um presságio de que algo ruim estava prestes a acontecer. Lágrimas desciam pelo meu rosto, me encolhi no canto da cama e abracei meus joelhos. Era única coisa que poderia fazer diante daquele visitante indesejado, armado no canto do quarto.

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