Capítulo 12 Valha-me

Ivan e Bruna foram atrás da Karen, mas ela não parecia querer conversar com o rapaz. Me senti culpada e ao mesmo tempo impotente, pois estava com o pé engessado, o que me impossibilitava de ir atrás da moça esclarecer aquela confusão. E mesmo que pudesse, isso poderia me prejudicar consideravelmente se fosse vista, pois meus pais me proibiram de passar para aquele lado da cerca, não me restando outra opção, que não fosse esperar que Ivan retornasse, a fim de me desculpar.

— Droga! — falei ao ver a caminhonete do meu pai vindo pela estrada.

Correr não era uma opção, ficar invisível também não, então apenas aceitei meu destino, já imaginando o tamanho da bronca que levaria.

— Está fazendo o que aí? — perguntou meu pai.

— Eu pensei ter visto um bicho — falei a primeira coisa que me veio à mente.

— O bicho estava de moto? — meu pai balançou a cabeça, antes de soltar um suspiro profundo. — Vá para casa Natacha, depois falo contigo.

E lá estava eu com mais uma confusão para a conta...

— Natacha, a casa da Carmencita é para o outro lado — disse minha mãe, me olhando carrancuda na área da minha casa quando me aproximei.

— Eu fui com a Bruna e a Karen até a porteira, mãe, ficamos conversando e me esqueci da hora.

— Está na hora do seu pai chegar, se ele te vê sozinha para aquelas bandas vai me chamar a atenção.

Desviei o olhar, meu pai estava naquele exato momento parado na frente da casa do cigano Venâncio, sabe se lá falando sobre o quê, eu só torci para que não fosse de casamento.

— Eu vou me banhar.

Saí de fininho, eu já estava encrencada demais para ficar ali esperando a bronca chegar. Protegi o gesso e entrei embaixo do chuveiro deixando a água escorrer pelo corpo, assim como as lágrimas que imediatamente surgiram em meu rosto, em meio a aquela confusão de sentimentos que me consumia. Sei que agi por impulso e esse foi um dos motivos de estar tão envolvida em confusões, mas convenhamos que entrei em umas por conta de outras que não procurei. Agora eu estava completamente perdida e temia o resultado daquela avalanche de problemas, que vinha em alta velocidade ao meu encontro.

— É, Jubileu, parece que finalmente terei um momento de paz — falei, aliviada, para a lagartixa que acabara de dar um nome.

Para a honra e glória de uma cigana encrencada, meu pai e avô tinham uma reunião importante do conselho, então mal chegaram e já saíram outra vez, o que me livrou de uma bronca imediata. Minha mãe se juntou às ciganas para tomar o chai romanô, uma bebida sagrada para nosso povo, e pelo silêncio na casa, havia restado somente eu e aquela lagartixa que parecia uma estátua parada no alto da parede, apenas existindo, exatamente igual a mim.

— Nat, vem comigo! — Soraia entrou no quarto afoita.

— Vem para onde, eu não quero sair hoje — soltei o corpo quando me puxou pelo braço.

— Ah, você vem, sim, ou ele virá aqui.

— Ele quem? — pulei da cama imediatamente.

— O Samuel estava vindo aqui, eu o vi e pedi que esperasse perto do galinheiro.

— Deveria ter mandando ele ir embora, eu já estou com muita confusão na conta.

— Ele ficou sabendo que o Ivan brigou com a Karen por sua causa. Não conversaram sobre o assunto?

— Não, ele não me deixou falar — respondi ajeitando minha roupa em frente ao espelho, antes de pentear o cabelo que ainda estava molhado. — É, Jubileu, lá se foi a nossa paz.

— Quem é Jubileu?

— O filhote do calango ali de cima — apontei para o bichinho que se mantinha imóvel. Minha vontade era fazer igual a ele, me fingir de morta.

— Você é estranha — Soraia elevou as sobrancelhas.

— Eu só queria uma momento de paz — murmurei derrotada.

— Conversa logo com ele e pede que vá embora, se alguém ver vocês dois vai dar confusão — ela me empurrou pelos ombros.

— Me dá cobertura?

— Sim, mas vá logo.

Eu saí apressada rumo ao galinheiro, por sorte a lua clara iluminou o caminho. Durante o trajeto olhei aflita para os lados eu não podia em hipótese alguma ser vista.

— Aqui — disse ele, chamando minha atenção.

Samuel estava sentado em um tronco caído de árvore, e seu semblante não era nada bom.

— Oi — falei ao me aproximar.

— Qual o seu envolvimento com o Ivan? — se levantou e perguntou sem rodeios.

— Ele ia me pedir em noivado caso você...

— Caso eu o quê, Natacha? Não te disse que ia tentar encontrar uma forma de te ajudar?

— Disse, mas...

— Não confia em mim?

— Confio, mas é que não me deu garantias e eu...

— Eu não te dei uma resposta imediata e você correu pedir outro cara em casamento?

— Eu não pedi — falei com lágrimas nos olhos.

— E o que você fez, então?

— Eu disse para ele me pedir em noivado.

— Não é a mesma coisa?

— Eu não sei, só achei que pudesse ganhar tempo, mas pelo visto não foi uma boa ideia. Não briga comigo, por favor.

— Droga! — ele me puxou para seus braços. — Me desculpa, eu não queria te deixar assim.

— Estou nervosa, tem muita coisa acontecendo e não consigo lidar com isso.

— Calma, meu amor, calma — ele afagou meu cabelo.

— Você me chamou de meu amor? — perguntei com a voz embargada.

— Eu nunca te esqueci, Nat.

— Você sente o frio na barriga quando me beija?

— Sinto muito mais do que isso — Samuel segurou meu queixo, deixando um beijo quente em minha boca antes de me apertar em seus braços. — Sei que ficou confusa depois do nosso último encontro, mas o que aconteceu foi absolutamente normal, Nat. Quando um homem e uma mulher se desejam é natural que eles tenham esse contato mais íntimo. Não se culpe, não fizemos nada de mais.

— Vocês não são como a gente, Samuca. O seu nada de mais é uma desonra para mim, e sabe disso.

— Eu já te pedi desculpas, meu anjo.

— Tudo bem, não precisamos brigar por conta disso.

— Fomos criados e preparados para a vida de formas diferentes, e se quisermos fazer dar certo, não podemos focar apenas em um lado.

— O que quer dizer com isso? — perguntei.

— Temos que nos entender, e aprender a conviver com as crenças e costumes um do outro, sem deixar que isso nos afete como um casal.

— Você fala como se eu tivesse tempo para isso. A qualquer momento um pedido será feito e meu destino traçado, não tende?

— Eu não posso pegar na sua mão agora e chegar em casa dizendo que estou roubando a filha do Ramirez. Meu avô te levaria de volta na mesma hora, Nat, ele respeita muito as regras de vocês.

— Ele faria isso?

— Claro, Natacha, ele e seu avô tem uma ligação muito forte, não vai querer um atrito depois de tantos anos de convivência pacífica.

— E se ele falar com meu pai?

— Não é tão simples assim, Nat. Essa nossa história é muito delicada, não se trata apenas de nós dois, mas de anos de confiança que seu povo depositou em nós e vice e versa. Só que no fim, o impacto desse lado da cerca, será muito maior, você entende isso?

— Você vai ficar comigo?

— Eu quero, mas preciso pensar em um jeito de fazer as coisas com calma, não posso causar um rompimento entre o clã de vocês e minha família.

— Não sei porque estou criando esperanças, já tive uma prévia do resultado — falei ao me lembrar de minha visão.

— Por que diz isso?

— Esquece, é coisa minha.

— Confia em mim, eu não vou te decepcionar — ele me puxou para um beijo demorado, que minha saudade me fez retribuir.

— Nat, a mãe está te procurando! — Soraia chegou ofegante.

— Droga! — Me afastei imediatamente.

— Não me esquece, Nat — Samuel me puxou outra vez, antes de me dar um último beijo.

— Não deixe que te vejam.

— Fica tranquila — disse ele, sumindo por entre as árvores.

— Onde ela está? — perguntei a Soraia que caminhava à minha frente.

— Com a cigana Carmencita lá na fogueira.

— Aonde você vai?

— Ela vai desconfiar se chegarmos juntas — ela respondeu, indo em direção a nossa casa.

— Essa fez escola para aprontar — murmurei caminhando por entre as árvores frutíferas.

Me aproximei da fogueira e me sentei em um canto afastado, eu precisava ficar por ali e ser vista por algumas pessoas para que ela acreditasse que nunca saí de perto. Droga, lá estava eu mentindo outra vez!

— Chegou rápido — uma voz grave me fez pular de susto.

— Ian?

— O que está fazendo com a sua vida, Nat? — Ian cruzou os braços à minha frente.

— Eu não sei, Ian — confessei.

— Quer conversar?

Olhei para o cigano, que amenizou suas feições.

— Você era meu amigo — afirmei baixando a cabeça.

— E não sou mais? — ele inclinou a cabeça a fim de me olhar nos olhos. — Você sabe que pode confiar em mim, não sabe?

— Está tão difícil, Ian. Quando cheguei as coisas estavam bem, mas aí começou a desandar e basta eu acordar pela manhã que já tem uma lista de complicações me esperando do lado de fora — respirei fundo, e o encarei. — Eu me perdi pelo caminho e agora não sei o que fazer.

— Eu vi ele pulando a janela do seu quarto, Nat.

— Valha-me!

— É tão triste te ver se distanciando de nossas origens.

— Não conta para ninguém, por favor! — pedi aflita.

— Eu jamais faria isso.

Ian olhou para as pessoas que estavam em volta da fogueira e depois voltou sua atenção para mim novamente.

— Será que mais alguém viu?

— Provavelmente não, eu vi porque era meu dia de ronda noturna — afirmou. — Assim como hoje.

— Você nos viu no pomar, não é?

— Se teu pai presencia essas coisas, Natacha.

— Valha-me, não diga isso nem brincando!

— Tem consciência do tamanho do estrago que isso tudo fará quando vier à tona?

— Ele disse que vai pensar em alguma coisa para me ajudar.

— Como assim?

— Não sei, disse que ainda temos tempo.

— Isso não é bom — Ian alisou a barba, se mostrando pensativo.

— O Samuel está com receio de que aconteça um rompimento entre o clã e a fazenda, ele só está inseguro.

— É fácil seduzir a garota e agora ficar inseguro — Ian balançou a cabeça negativamente. — Ele convive com nosso povo a anos, conhece nossas regras e estava ciente do que fazia.

— De qualquer forma, não faz diferença.

— Por que está dizendo isso?

— Eu preciso de um milagre.

— Que tipo de milagre?

Enquanto eu e Ian conversávamos, alguns olhares curiosos se voltaram para nós. Ele estava a um metro e meio da minha ilustre pessoa, mas ainda assim, estávamos conversando sozinhos em um canto, e isso não era comum.

— Eu tive uma visão — falei ganhado um olhar surpreso.

— Visão?

— Sim, eu me vi sendo banida.

— Isso é sério?

— Foi muito real, e se você viu ele sair do meu quarto já sabe o motivo.

Ian balançou a cabeça, antes de soltar um suspiro profundo.

— Não conte isso a ninguém — aconselhou.

— Sobre a visão?

— Sobre o que fizeram.

— Não vou contar, mas também não sei o que fazer — assumi. — Eu não quero me casar com o cigano Venâncio, ele é mais velho, não curto homens mais velhos.

— E por que você teria que se casar com ele?

— Meu avô disse que ele quer uma noiva e que cigana que dá trabalho tem que se casar com um homem mais velho.

— Você sabe que não é bem assim que a coisa funciona, não sabe?

— Eu sei que sempre escolhem casais da mesma idade ou com uma pequena diferença, mas já estou prestes a completar dezenove anos, quem me garante que não vão...

— O que você quer da vida? — ele me interrompeu.

— Eu só quero ser feliz, estou vivendo sob pressão e isso está me matando.

— E qual o conceito de felicidade para você?

— Não sei, Ian, eu só não quero ter que fazer coisas que não me agradem para agradar outra pessoa.

— Só que na união a dois tanto um como o outro precisa ceder às vezes, pode acontecer de fazer coisas que não te agradem pelo bem do outro que fará o mesmo por ti — disse ele. — Casamento não é um conto de fadas, mas acredito muito no poder do diálogo, os dois precisam estar em sintonia.

— Tenho medo de ter que me afastar de minhas origens, e depois me arrepender.

— Assim como elas se iludem e quando chegam aqui descobrem que nem tudo são flores, quem sai daqui também está sujeito a passar por isso — ele dizia, quando me distraí.

— Ivan!

Chamei, quando ele passou por nós. Mas para minha surpresa, foi direto para a fogueira, onde ficou conversando com meu pai e avô.

— Estou falando contigo, Natacha — Ian me chamou a atenção, discretamente.

— Me desculpa, é que eu queria muito falar com seu irmão.

— Estão falando de vocês, tome cuidado.

— Falando o quê?

— Que ficam de conversinha pelos cantos.

— Esses linguarudos precisam de um quintal para carpir!

— Vou terminar a ronda — disse ele se afastando. — Se cuida, Nat.

***

Eu fiquei observando Ivan conversar com meu pai, tive muito medo de que me entregasse. Normalmente não faria isso, pois assim como Ian, ele era um dos meus melhores amigos, mas estava muito chateado, então eu não tinha garantias de que não faria algo de cabeça quente. Convenhamos que eu mesma fiz muitas pataquadas desde que cheguei.

— O tempo passa rápido demais — disse a cigana Carmencita a minha mãe, quando me aproximava. — Eu me lembro dessa criançada correndo por aí e agora estão todos noivos, daqui a pouco estarão formando família.

— Natacha ter sido escolhida por um cigano mais velho foi uma benção em nossas vidas, ela precisa de rédeas.

— Eu?

Um calafrio percorreu meu corpo, acompanhado do doce amargo sabor do desespero.

— Sim, minha filha, você já tem pretendente, só precisamos marcar a data para formalizar o pedido.

— Não, mãe, eu não quero me casar com um cigano mais velho — falei inquieta. — Não temos nada em comum, e nem é por ser mais velho, são cabeças diferentes, eu juro que me comporto, escolhe alguém da minha idade, ou sei lá, espera até aparecer outra pessoa!

— Não esperava essa sua reação — minha mãe olhou preocupada para a cigana Carmencita, que me observava de queixo caído. — São só sete anos de diferença, que surto é esse?

— Eu olho para ele e não sinto o frio na barriga, duvido que seu beijo faça meu corpo esquentar, e se for para longe não vou sentir saudade, porque não tenho afinidade com aquele estranho. Sete anos?

— Que estranho? — minha mãe perguntou.

— Não é o cigano Venâncio?

— Ele te fez alguma coisa? — minha mãe perguntou de cenho franzido. — Demonstrou interesse?

— Não, eu nunca nem falei com ele.

— Então por que essa reação estranha?

— Por que vocês estão bravos comigo por estar dando trabalho e querem me casar com ele — baixei a cabeça beirando a uma crise de choro.

— Nat, você sabe que só aprovaríamos um noivo com tamanha diferença de idade se fosse do seu agrado. Quem te pediu em noivado não foi ele.

— Não? — Um sorriso de alívio brotou em meus lábios, mas logo sumiu ao me lembrar que era um cigano mais velho e Ivan tinha a minha idade. Com ele eu tinha um trato, com outro eu teria um problema.

— Não, quem fez a proposta foi o Ian — afirmou minha mãe.

— É o quê? — engasguei com a saliva, e comecei a tossir sem parar. — Valha-me! — Balbuciei, ainda me abanando.

— Será uma grande alegria recebê-la em minha família — afirmou a cigana Carmencita com um sorriso maternal.

— Eu vou ter um treco — me abanei buscando o ar.

— Que lindo, ela está emocionada! — Nem sei quem disse, eu estava nervosa demais para prestar atenção.

— Se acalme, filha — minha mãe ria ao lado de minha, então, futura sogra.

Ótimo, agora eu estava praticamente noiva do sonho de consumo da minha melhor amiga, que era um dos melhores amigos do cara com quem estava planejando fugir. Tinha como piorar?

— Ele conversou comigo ainda agora e não disse nada — falei pensativa.

— Ele acabou de confirmar sua escolha, só vamos esperar meu Ozório chegar de viagem e formalizamos o pedido — disse minha, possível futura sogra.

A cigana Carmencita era de descendência indiana como a maioria dos, rom, de nosso grupo; uma morena alta com belas curvas e sorriso largo, não me lembro de uma única vez tê-la visto de mau humor, estava sempre com aquele sorriso no rosto tratando a todos com carinho. Ao menos não me arrumaram uma sogra difícil como a da prima Rubi.

— Formalizar? Mas o Alejandro ainda nem se casou, ainda tem a Soraia, por que tanta pressa?

— O Alejandro já está de casamento marcado, a Soraia, o noivo acabou de se formar na faculdade, disse que já podemos marcar a data, então o seu também não demora — explicou minha mãe.

— Que sorte a minha — sorri apreensiva.

Bastava eu acordar respirando e uma nova confusão vinha de encontro comigo. Agora mesmo, ao invés de ir para casa bater um papo com minha lagartixa, eu estava andando, sem rumo, no escuro à procura do Ian.

— Quem diria, Natacha, você que sempre teve medo de ficar sozinha no escuro está aqui vagando a uma hora dessas — falei ao passar pelo pé de acerola, mas fiz uma parada brusca ao ouvir um barulho vindo do pomar. — Quem está aí?

— Está fazendo o que aqui Natacha? — Ian saiu do meio das árvores.

— Estava te procurando.

— Era um gambá mexendo no ninho — afirmou o cigano Wladimir, primo do Ian, surgindo em seguida. — Natacha?

— Quanto tempo! — esbocei um sorriso fraco, eu não fazia ideia de que estavam em dupla.

— Viemos verificar o barulho no galinheiro — explicou Ian. — Aconteceu alguma coisa?

— Eu vou soltar os cavalos — Wladimir acenou com a cabeça e foi se afastando.

— Wlad — Ian chamou. — Não diga a ninguém que estamos aqui.

— Eu não direi.

Wladimir era filho da cigana Constância, casada com o cigano Odair, irmão do pai de Ian. Ele e Ivan nasceram com uma diferença de três dias um do outro e apesar de primos algumas pessoas questionavam se eram gêmeos, pois eram muito parecidos. Wlad sempre foi sério e fiel aos costumes ciganos, agora em idade de se casar também era um alvo das ciganinhas sonhadoras. Sempre fomos amigos, porém não tão próximos como eu era dos primos dele, mas sabia que era alguém em quem podia confiar. 

— Por que fez isso? — perguntei ao Ian, quando Wlad se afastou.

— Isso o quê?

— Você me escolheu.

— Ah, então é isso.

— Ian, você não tem que se envolver em minhas confusões.

— Um pouco tarde para pensar isso, não acha?

— É sério, você é o cigano mais cobiçado daqui, é bonito, bem-sucedido, fiel ao nosso povo, nenhuma família ousaria negar um pedido de noivado vindo da sua parte.

— Obrigado pelos elogios, eu tive sim, outras manifestações de interesse, mas sei o que estou fazendo.

— Você e o Samuel são amigos, eu não quero ser responsável por uma...

— Ele perdeu o meu respeito quando te desonrou sabendo o mal que fazia.

— Não, Ian, por favor! — segurei em sua camisa. — Não briga com ele, vocês dois são muito importantes para mim.

Ele olhou para o céu e fechou os olhos por um breve instante, então voltou a me encarar.

— Eu não brigo por conta de mulher, Natacha — seus olhos negros encontraram os meus, então desviei. — Espero que ele honre com sua palavra e te leve daqui, porque se não fizer; aí, sim, terá um problema comigo.

— Você disse que não brigava por mulher.

— Pela minha eu brigo.

— Sua?

— Se ele não for homem de te assumir, eu serei. E não se preocupe, isso não é uma guerra, tampouco deixarei de falar com ele ou tratá-lo com respeito. O espaço dele termina onde começa o meu, evitar algo maior é exatamente o que estou tentando.

— Eu entendi direito, você está disposto a se casar comigo caso ele não cumpra com sua palavra?

— Você não tem um pingo de juízo, mas ainda é uma pessoa muito querida por mim, Nat. Jamais permitiria que fosse banida, se tiver que ir contigo e começar do zero em outro lugar, eu farei, mas sozinha você não vai.

Pisquei várias vezes tentando assimilar aquela informação, e foi aí que percebi que ainda o segurava pela camisa. Ian ficava gigante à minha frente, eu precisava olhar para cima para decifrar as feições de seu rosto, como agora que me encarava daquela maneira.

— Vá para casa.

— Obrigado Ian! — em um impulso o abracei.

Suas mãos ficaram imóveis ao lado do corpo por um breve momento, mas depois ele acabou correspondendo àquele abraço de forma calorosa, porém respeitosa.

— Tenta não se meter em mais encrencas do que já se meteu, Nat.

— Eu vou tentar.

Sorri me afastando, e pela primeira vez desde que cheguei, me senti realmente protegida por alguém. O Ian, desde criança, sempre me defendeu de tudo, brincávamos juntos, ele me ouvia, fazia rir, me puxava as orelhas. Exatamente como agora, que me estendeu a mão sem que eu pedisse... e também não me pediu nada em troca.

— Tá fazendo o que aí a uma hora dessa, Natacha!

— Valha-me! Pai!



Cigano Ian, um homem sério, fiel aos seus princípios, romântico, solteiro.

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