Capítulo 05 Indomável
Na manhã seguinte, pedi à minha mãe que me deixasse visitar a patroa. Sempre tive um carinho muito especial por ela, assim como ela por mim, por isso, não foi difícil conseguir a liberação. A verdade é que fiquei curiosa sobre o convite de Samuel para que passasse a manhã com ele e seus amigos. Sabia que não poderia ficar muito tempo com eles, mas a ideia de estar alguns minutos na companhia dele parecia tentadora.
— Não saia sozinha da sede, evite dar confiança aos peões e, claro, mantenha-se longe do estábulo — orientou Alejandro com firmeza. Minha mãe pediu que ele me levasse, então me deixou na entrada da sede e foi para o escritório. Não sem antes ditar as regras como sempre fazia. — Estamos no fechamento do mês, então teremos uma reunião importante,. Aguarde aqui; voltarei para te buscar no meu horário de almoço.
— Obrigada, meu irmão — o agradeci, antes de seguir meu rumo.
Parei por um instante em frente àquela casa grande de arquitetura antiga e a nostalgia tomou conta de mim. Na fachada, colunas e muretas se destacavam juntamente com a escadaria de entrada, me fazendo lembrar daqueles filmes de época que assisti no sul, enquanto fazia meus trabalhos escolares. Recordo com clareza das paredes impecavelmente brancas, com detalhe em azul nas portas e janelas, assim como o piso em cerâmica com desenhos que nunca identifiquei.
Tudo permanecia como da última vez que vi. As samambaias, com suas folhas longas, se arrastavam suavemente pelo chão, enquanto um jogo de mesa e cadeiras de bambu davam um charme a mais ao ambiente, cercado por vasos com flores variadas. As cadeiras de balanço e as redes, dispostas sobre a sombra, criavam um cenário perfeito para se relaxar ao ar livre. Tudo ali trazia uma sensação de acolhimento, pois colecionava muitas lembranças de um tempo que, embora nunca mais voltasse, permanecia eternamente vivo em minha memória.
Nos fundos, havia um grande quintal cercado por árvores frutíferas e flores coloridas, além da horta e a área de lazer com churrasqueira e piscina. A cozinha principal funcionava em um cômodo separado da casa; embora houvesse uma menor no interior, era naquele espaço amplo e arejado que as refeições eram preparadas, servindo tanto a família quanto os funcionários. Inclusive era ali que Soraia ficava a maioria do tempo. E por falar em Soraia...
— O que você está fazendo aqui? — ela veio até mim com uma expressão entre surpresa e curiosidade.
— Vim ver a patroa — respondi.
— Dona Virgínea foi ao médico e só deve voltar ao fim da tarde.
— Que droga — murmurei, enquanto meus olhos seguiam uma garota de pele clara, com cabelos em tons acinzentados, que caminhava em direção à área da piscina.
— São os amigos do Samuel — Soraia revirou os olhos com desdém.
— Ele me convidou para vir — confessei.
— Você está louca!
— Você tem razão, eu não deveria ter vindo. Mas o Alê só volta na hora do almoço e eu não posso ficar por aí sozinha por aqui. O que faço?
— Fica comigo — respondeu ela, caminhando à minha frente e contornado a casa em direção à cozinha.
Soraia estava acompanhada de duas cozinheiras que moravam na colônia. Ela era a única cigana que circulava por ali, já tinha um tempo que ajudava dona Joana nos afazeres da casa.
— Como são os amigos dele? — perguntei, espiando pela janela.
— Insuportáveis — Soraia soltou uma risada nasal enquanto descascava algumas batatas.
Consegui avistar quatro pessoas: duas garotas e dois rapazes, mas Samuel não estava entre eles. Uma das garotas usava um biquíni tão pequeno que mal parecia estar vestida; a outra optou por um e a parte superior do biquíni. Os rapazes, por sua vez, estavam sem camisa, vestindo bermudas. Ambos eram atraentes; o mais jovem tinha estatura mediana, pele morena e cabelos cacheados, seu rosto liso como a pele de um bebê. O outro, um pouco mais alto, tinha o cabelo cortado bem curto e uma barba bem desenhada. Ambos esbeltos, pelo visto, malhavam regularmente.
— Ei, Samuca! — chamou a moça de cabelos platinados. — Passa protetor em mim?
Samuel se aproximou, pegou o frasco de suas mãos e espalhou em suas costas. Um nó se formou em meu estômago, mas não consegui entender o porquê. Senti um impulso de ciúmes, mesmo sem termos nada entre nós.
— Eles sempre vem aqui? — perguntei, afastando-me da janela.
— Com certa frequência. O rapaz de cabelo encaracolado até que é legal; ao menos sempre se mostrou educado comigo. Já o irmão dele, nem tanto — explicou Soraia, ainda picando seus legumes. — No mês passado o Cristian chamou sua atenção por conta de algumas brincadeiras que passaram dos limites. A Ângela, de cabelo preto, é um amor, mas a Brenda... bem, ela é insuportável! Sempre chega aqui dando ordens e isso me irrita profundamente.
— Ela é amiga da faculdade?
— Sim, mora na colônia, mas age como se fosse dona da fazenda.
— A Jade comentou que essa Brenda tem uma queda pelo Samuel.
— Exatamente! Eles ficaram por um tempo, mas parece que ele não estava mais interessado e ela não soube aceitar; não sai do pé dele.
— Oi!
A voz de uma das garotas interrompeu nossa conversa.
— Desculpe incomodar, eu queria um isqueiro.
Era uma jovem de aproximadamente vinte anos, com pele clara e cabelos negros como a noite, curtos, levemente arrepiados. Era bonita, tinha olhos levemente puxados e covinhas que surgiam em seu rosto ao sorrir. Não era alta e seu corpo não tinha as curvas acentuadas da outra, mas ainda assim, estava em boa forma.
— Aqui está — disse Soraia.
— É sua irmã? — ela perguntou, acendendo um cigarro.
— É sim.
— São muito parecidas — respondeu, assoprando a fumaça para cima. — Muito prazer, meu nome é Ângela.
— Natacha — respondi apertando sua mão.
— O Samuel pediu uma caixa térmica.
— Eu já levo lá — respondeu Soraia, indo em direção à despensa. — Tenho que passar uma água.
— Sem problemas — a moça sorriu de forma simpática. — Foi um prazer conhecê-la, Natacha.
— Igualmente.
Após alguns minutos, Soraia retornou com a caixa limpa e me pediu que levasse até eles. Estava insegura em me aproximar, mas minha curiosidade foi mais forte.
— Nat? — Samuel levantou o óculos de sol. — Você veio!
Ele sorriu ao me avistar, enquanto os amigos me olharam curiosos. Brenda revirou os olhos, despertado em mim, antipatia instantânea.
— Vim visitar sua mãe, mas ela não está em casa. Estou aguardando meu irmão para me levar embora — expliquei, colocando a caixa sobre a mesa no quiosque da piscina.
— Posso te levar, se quiser.
— Melhor não — respondi corando.
— Daqui até ali, precisa de supervisão?
Inclinei o corpo para olhar para a platinada, que me dirigiu a palavra. Ela estava deitada na esteira atrás de Samuel.
— É comigo?
— Pessoal, essa é Natacha — apresentou Samuel, tentado quebrar o gelo. — Somos amigos desde a infância e a convidei para vir passar a manhã conosco.
— Sim, ele me convidou — confirmei, incomodada com aqueles olhares em mim.
— Eu pensei que seu povo não se misturasse com o nosso.
Mais uma vez, Brenda me dirigiu a palavra, e não pude deixar de notar o sarcasmo em sua voz. Repito, não gostei dela.
— Depende do que você considera se misturar. Até onde eu sei a resistência é daí para cá — fiz um gesto com a mão, enfatizando meu ponto de vista.
— Ok, já que todos foram apresentados, que tal curtir essa manhã ensolarada? — Ângela interveio.
— Desculpem, preciso atender — disse Samuel, pegando o celular que tocava sobre a mesa. — Oi, pai, sim, vou dar uma olhada — ele me lançou um olhar discreto. — Fique aqui, eu já volto — me pediu enquanto ia em direção a sua casa.
— É verdade que vocês conseguem prever o futuro? — perguntou o rapaz de cabelo curto, cujo nome eu nem sabia. — Anota para mim o número da loteria.
— Idiota — Ângela revirou os olhos.
— Esconde a carteira — ele respondeu, rindo da própria piada.
— Você tem razão — falei para Ângela. — Seu amigo é um idiota.
— Ei, cigana, que modos são esses! — Brenda exclamou com a voz cheia de desprezo.
Eu já me preparava para me afastar, mas senti o aperto do braço dela, me impedindo de seguir em frente.
— Não toque em mim! — exigi, empurrando-a com força, mas Ângela a segurou antes que pudesse perder o equilíbrio.
— Calma — pediu o outro rapaz ao lado delas.
— Cigana folgada! — Brenda cuspiu em minha direção, mas não me acertou.
— Eu não me chamo cigana, meu nome é Natacha. E que o universo lhe devolva em dobro tudo o que me desejas.
— Quem essa garotinha pensa que é? — Brenda retrucou com um sorriso desdenhosos.
— Vixe, Brenda, ela te jogou uma praga! — o jovem inconveniente zombou.
— É pra isso que você me chamou aqui? — Encarei Samuel, que se aproximava com uma expressão confusa.
— O que aconteceu?
— Pergunte aos seus amigos — respondi, tentando me afastar, mas ele bloqueou o caminho.
— Nat, espera! Eu não vi o que aconteceu. Você está brava comigo?
— Brenda e Alex foram inconvenientes com ela — o jovem de cabelos cacheados interveio ao lado de Ângela.
— O que disseram a ela, Robson?
— As mesmas brincadeiras de sempre — eu mesma respondi. — Foi um erro ter vindo.
— Não, você fica — Samuel disse com firmeza.
— Não, eu não fico. Avisa a Soraia que esperarei pelo Alê no pátio.
— Nat, por favor!
— Samuel, eu não vou ficar — afirmei decidida.
— Tudo bem, mas eles terão que se desculpar.
— Não preciso de pedidos de desculpas por obrigação; eu preciso é de respeito.
Saí apressada, ouvindo seus passos atrás de mim.
— Natacha, por favor, eu não tive culpa!
— Não, você não teve, eu é que não deveria ter me iludido.
— Nat, espera!
— Não me siga!
Corri o mais rápido que pude até o pátio dos estábulos, onde me deixei cair em um banco rústico de madeira. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, estava vulnerável, sobrecarregada com todas as mudanças que aconteceram em minha vida. Embora já tivesse passado por situações piores, aquela mexeu muito comigo.
— Nat?
— Ian? — Limpei o rosto, levantando-me rapidamente.
— O que faz aqui? — ele perguntou, com um olhar preocupado.
— A dona Virgínia não está na fazenda. O Samuel está com visita, então vim esperar o Alê aqui. Por favor, não me peça para sair; eu não sei para onde ir.
— Alguém te fez alguma coisa? — Ele se acomodou no banco, me puxando para que sentasse ao seu lado.
— Por que eles nos tratam assim?
— Eles quem?
— Os gadgês.
— Isso diz mais sobre eles, do que nós, Nat.
— Quando cheguei no sul, eu sofri preconceito no colégio onde estudei. O tio me disse que, com o tempo, se acostumariam comigo, mas não aconteceu. Foi então que decidi me transferir para uma escola mais distante. Lá as regras eram mais rígidas, tive que usar um uniforme padrão — respirei profundamente ao me lembrar. — Foi estranho, Ian, mas assim ninguém me tratava com indiferença, tampouco com desconfiança. Eu me vi obrigada e esconder minhas origens apenas para ter um pouco de paz.
— Poxa, Nat, isso é muito triste — ele me olhou compassivo.
— Sim, mas era bom, eu só era mais uma aluna em meio a tantos iguais. Sinto falta daquela vida.
— Uma vida onde precisa se esconder para ser notada?
— Uma vida onde as pessoas não me olham com receio, onde não atravessam a rua ao me ver. Eu vesti as roupas da Juliana para ir a um passeio do colégio no parque aquático em um fim de semana, foi um dia inesquecível.
— Você se contaminou com a influência deles.
— Não, eu descobri que são mais felizes.
— E como pode ter tanta certeza?
— Eu não tenho, só acho que são.
— Se perde não, Nat.
— Eu queria ter nascido homem. Vocês são livres para fazer muitas coisas, enquanto nós mulheres mal conseguimos estudar, temos que servir ao marido e cuidar da casa e dos filhos.
— E o que você espera do futuro?
— Quero trabalhar, conquistar minha independência, ter um marido que eu ame, que me trate como igual.
— Interessante. E acha que isso é algo muito difícil?
— Fala sério, Ian! Todas as ciganas da minha idade, lá da comunidade, se casaram cedo e dedicam suas vidas a obedecer aos maridos e cuidar dos filhos.
— São tradições milenares, Nat. Nem todas se iludem com o mundo moderno.
— Eu respeito as tradições e amo meu povo, mas não posso deixar de sentir um certo descontentamento ao perceber que conheci uma realidade que, à primeira vista, parecia mais feliz. Espero que esse sentimento passe.
— Se dependesse dos meus pais, eu já estaria casado, mas escolhi priorizar meus estudos. Essa decisão não diminuiu minha essência cigana. Ao longo do caminho conheci o outro lado, Nat. Enfrentei preconceito, interesses curiosos, tive que resistir ao mundo para me manter firme em nossos costumes.
— Aonde você quer chegar com isso?
— Não precisamos nos desviar do nosso caminho para encontrar dias felizes. O mundo ao nosso redor mudou muito. É claro que nem sempre conseguimos tudo o que desejamos, e isso é inevitável. Mas se tivermos sabedoria e soubemos expressar nossos anseios, talvez consigamos conquistar um pedaço da felicidade que tanto buscamos.
— Você também mudou — sorri, observando o brilho daqueles olhos que me fitavam.
— Preciso voltar para a reunião agora. Vou pedir para o Ivan te levar para casa, tudo bem?
— Tudo bem, não foi uma boa ideia ter vindo.
Ian me olhou pensativo antes de se afastar, eu queria muito entender o que se passava em sua mente naquele momento, mas uma coisa é certa; agora entendia o súbito interesse de Bruna, ele realmente mudou, por dentro e por fora.
— Ei, Nat! — Ivan acenou, equilibrado em sua moto.
— É a primeira vez que vejo um calango motorizado — eu ri ao me aproximar.
— Você não esqueceu esse apelido? — Ele sorriu me entregando o capacete.
Como já mencionei antes, Ivan era irmão mais novo do Ian, um cigano de pele oliva, olhos negros profundos e cabelos médios sempre presos em um rabo de cavalo. Desde criança eu o chamava de calango, lembrando das tardes em que ele se banhava no rio e depois se esticava nas pedras para tomar sol. Na última vez que o vi, ele era apenas um garoto; mas agora, diante de mim, estava um homem formado, muito parecido com o irmão. Só que em uma versão mais nova.
— O que foi? — Ele perguntou, notando meu olhar curioso. Não que eu estivesse paquerando; na verdade, eu apenas considerava que se Ian se mostrasse difícil, Bruna poderia se interessar pelo irmão dele, que também era um ótimo partido. Desde quando me tornei o cupido da minha amiga?
— Você está bonito, calango. Já tem alguma pretendente?
— Assim, do nada? — Ivan sorriu tímido.
— Só estava pensando uma coisa aqui.
— Tenho medo dos seus pensamentos.
— Nossa, que exagero! — eu ri.
— Que chato o que fizeram contigo — ele comentou, ligando a moto.
— Quem?
— Os amigos do Samuel. Fui pegar o documento que o pai dele pediu e presenciei quando chamava a atenção pela forma como te trataram. Ele ficou bem chateado.
"Ele se importa comigo", pensei, colocando o capacete.
— Nat, você já vai? — Samuel se aproximou apressado.
— O Ian pediu que Ivan me levasse — respondi, sentada na garupa do cigano.
— Que pena, nem conversamos direito.
— Não vai faltar oportunidade.
— Me desculpe pelo comportamento do Alex. Ele às vezes é um idiota.
— Percebi.
— E sobre a Brenda; imagino que deva ter ouvido algumas coisas. Quero que saiba que não existe nada entre nós.
"Ele está se justificando para mim?", pensei. — Tudo bem, Samuel, eu já estou acostumada com o tratamento hostil vindo de algumas pessoas — respondi.
— Isso não significa que esteja certo, mas enfim, espero te ver em breve — ele acenou quando Ivan saiu com a moto.
— Eu também.
— O que foi isso? — Ivan perguntou.
— Ele é meu amigo, não vá pensar coisa errada — belisquei sua cintura em um ato impulsivo.
— Vai me desconcentrar — ele riu se encolhendo.
Não sei porque fiz aquilo, não era comum contato físicos entres os jovens, mas quando percebi já havia feito. Ainda bem que foi um aperto discreto, se meu irmão visse, eu já levaria uma bela bronca.
— Cuidado para não se meter em confusão com essa amizade, Nat.
Ivan me aconselhou ao observar pelo retrovisor que eu olhava para trás, enquanto o jovem lá adiante fazia o mesmo. Não sabia quando o veria novamente, mas ao menos sabia que se importava de verdade comigo. Agora eu estava como a Bruna, sonhando acordada com um cara que não podia ter.
— Está entregue — disse Ivan, parando a moto na entrada do acampamento. — Pensa no que te falei, se aproximar dele pode lhe trazer problemas.
— Eu sei, não se preocupe — lhe entreguei o capacete.
— Vai ter casamento! — disse a ciganinha Ianka, prima de Ivan, com seus nove anos de pura animação.
— Casamento de quem? — Ivan perguntou.
— Da Nat contigo, ela até andou na sua garupa.
— Então você também vai se casar comigo, já que te carreguei ontem! — Ivan fez uma careta engraçada para a prima.
— Vou morrer solteiro se meu irmão não desencalhar — Ivan colocou o capacete e ligou a moto. — Se cuida, ciganinha indomável.
No íntimo de uma mulher, habitam sentimentos profundos que, por vezes, nem ela mesma consegue entender. As palavras não traduzem, e os gestos nem sempre demonstram; eles apenas existem e nos tornam intensas, confusas, sensíveis, às vezes teimosas, dengosas, orgulhosas. Uma verdadeira caixinha de surpresas, cujos mistérios poucos homens conseguem desvendar.
Eu só queria a liberdade de poder amar, ser feliz, poder trilhar meu próprio caminho sem que isso ofendesse nossos costumes. Queria encontrar um companheiro que me amasse o suficiente para entender que eu não pretendia ser a sua sombra, que respeitasse o meu desejo de ser bem mais do que uma esposa, dona de casa, submissa.
Talvez eu fosse mesmo uma cigana indomável.
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