Capítulo 47 Eu não existo sem você

De todos os perrengues que passei na vida, nada era tão desesperador como aquela sensação de estar ali, a mercê de um maluco sanguinário e seu aprendiz. Estávamos entregues a própria sorte, e o olhar de decepção era uma unanimidade...

— Joguem os celulares! — ordenou Geraldo.

— Merda — Caio jogou o dele.

— Todos!

Sob a mira daquela arma, um a um, fomos jogando os aparelhos naquele gramado. E eu nem tive tempo de me despedir do meu irmão.

— Eu não quero morrer — murmurei abraçando meus joelhos.

— Filho, o que significa isso? — perguntou o coronel.

— Não o chame de filho, você abriu mão do direito de ser pai. Eu tomei o seu lugar a muito tempo.

— Na minha vida, não — Caio se manifestou.

— Eu tentei te trazer para meu lado, mas você só faz o que quer, não me serviria. Teu irmão foi perfeito todo esse tempo — disse o homem, caminhando lentamente a nossa volta, passando a arma que fazia um som metálico em contado com aquelas barras de ferro. — Ele é corajoso, obediente e muito esperto, assim como o pai. Que sou eu, é claro.

— O que significa isso, Edu? — insistiu o pai. — Eu te conheço filho, sei que não faria nada que fosse contra seus princípios.

— Ele é um homem de visão, não tinha nada e construiu um império acima de qualquer suspeita. Não é, tio?

— Sim, eu vim do lixão e cheguei ao topo — o homem sorriu satisfeito.

— Minha família te acolheu, Geraldo, tudo o que é hoje, foi...

— Se aquele velho, que você chamava de pai, tivesse aceitado passar tudo para meu nome, eu não precisaria tê-lo matado.

— Foi você!

O coronel bateu na grade com muita raiva.

— Mas o vô não caiu da escada? — Caio se juntou ao pai. — Ele caiu, foi um acidente, não foi?

— Ele queria dar uma volta no quintal, eu só ajudei a descer mais rápido — deu de ombros. — O velho já estava fazendo hora extra, bastou um susto, e puf, o coração não aguentou.

— Como pôde fazer isso? — o coronel passava a mão pela cabeça, transtornado. — Se queria dinheiro, posses, eu teria te dado tudo, não precisava ter tirado a vida do meu pai!

— Era para, "eu", ser o preferido, mas o velhote só tinha olhos para o filhinho de merda dele. O pracinha perfeito, com sua vida exemplar, cuspiu no chão com desdém. — Você viveu a vida que era minha, teve todas as oportunidades, a família, filhos, destaque. Era para ser eu! Eu!

— Se sair daqui, eu mato esse cara — murmurou Caio, respirando acelerado. — Juro que mato.

— Mata coisa nenhuma, você é um capacho que se faz de valente — o homem cruzou os braços com a arma em punho. — A Patrícia tinha razão, é um imprestável.

— Aquela idiota me acusou de estupro — Caio esmurrou a grade à sua frente. — Sei que foi você quem tramou isso com ela.

— Até que foi divertido te ver todo cheio de pudores e te acolher como um pai preocupado com sua cria. Estava tão bêbado que nem compareceu, seu molenga.

— Se pensa que essa informação me faz sentir vergonha, está muito enganado. É um alívio saber que não toquei aquela víbora.

Caio cerrou os punhos, não consegui ver seu rosto, mas tenho certeza de que o ódio exalava pelo seu olhar naquele momento.

— Eu até peguei leve contigo após saber que estava investigando meus esquemas de luta. Poderia ter sido bem pior.

— Você matou o Alex — afirmou Caio, batendo na grade.

— Eu não, os meus garotos, nunca sujo minhas mãos — admitiu. — Ele mexeu onde não devia.

— É isso que você quer para sua vida, Eduardo? — perguntou Caio ao irmão, que se mantinha calado ao lado do tio. — Um homem que contratou uma garota para trazer a intriga para nossas vidas. Que se juntou à mãe dela para te chantagear e obrigar a manter um relacionamento que não queria? Ao menos, ele te contou que esteve por trás de todos os atentados que a Ana sofreu?

— É o quê? — Eu e Suelen nos entreolhamos, boquiabertas.

— Não faz diferença — foi a única coisa que ele respondeu.

Caio voltou seu olhar para mim, era como se tentasse me tranquilizar, eu sabia que era isso que queria. Respirei fundo quando estendeu a sua mão e sussurrou que ia ficar tudo bem. Ele sempre esteve comigo nos momentos mais difíceis, e agora não era diferente.

— Contei tudo a ele — a voz do tio me trouxe de volta à realidade. — Já sabe que mandei as fotos da bonequinha ali, que mandei meus homens dar um banho nela naquela piscina. Aliás, você contou ao seu irmão que a socorreu, a beijou e fugiu com o rabo entre as pernas, deixando-a sozinha?

— Eu me desesperei quando a vi inconsciente, achei que a tivesse perdido, e quando reagiu acabei cedendo aos impulsos . Me julguem se quiser.

— Ela gostou, até te chamou de anjo — disse Eduardo ao irmão.

— Eu sempre respeitei a Ana, e sabe disso — Caio respondeu ofendido. — O seu tio querido me incentivou a ficar com ela, fez com que todos acreditássemos que estava com a Patrícia. Meu erro foi buscar conselhos com ele desde o primeiro momento, porque se alguém me encorajou a lutar por ela, esse alguém está aí ao seu lado agora, seu idiota. Não percebe que fomos marionetes nas mãos desse cara?

— Foi ele quem me sequestrou — finalmente consegui falar. — Estela me pediu para encontrar o coronel e dizer a verdade. Eu ouvi tudo, ele ia sequestrar sua esposa, mas ela correu e entrou na frente do carro. A Débora sabia de tudo, era um plano sujo que acabou dando errado. Ele mandou matar o motorista e o garoto que a atropelou para que ninguém descobrisse a verdade. Esse criminoso ilude garotas humildes dizendo que vão trabalhar de modelo e as vende como mercadoria, esse homem é um mostro!

— Misericórdia — Suelen tapou a boca com a mão trêmula.

Caio e o pai se entreolharam e fizeram alguns sinais que não entendi, mas tive a esperança de ser algo bom, não queria morrer ali feito um bicho enjaulado.

— Você iludiu o meu filho — disse o homem apontando aquela arma em minha direção. — O Nil era um garoto do bem, morreu por sua causa. O Rubens era o meu melhor homem, o Ruy.

— Está contente, Eduardo? — perguntei, decepcionada. — Olha para mim e responda, está feliz?

— Óbvio que está, eu o ensinei a ser um homem de verdade — afirmou Geraldo. — Não é mesmo, filho?

— Sim, meu pai.

— Você ouviu, Arlindo, ele me chamou de pai, só faltou a mãe para completar essa família.

— Minha mãe era uma mulher direita, seu otário, jamais se prestaria ao papel — Caio apertava aquela barra de ferro com tanta força que chegava a marcar os nós de seus dedos.

— Era, sim, realmente uma pena — o homem concordou com Caio. — Por isso peguei a irmã dela, até me rendeu frutos, mas não era a mesma coisa.

— Você é mais doente do que eu pensava — disse o Coronel cerrando os punhos.

— Meça suas palavras antes de falar do meu pai — Eduardo franziu o cenho.

— Mas, Edu, eu sou seu pai — insistiu o coronel.

— Não se lembrou de que eu era seu filho, quando encobriu esses dois no Colorado. Me enganaram bando de covardes, dois traidores que não merecem a minha compaixão.

— Sim, filho, eles te enganaram. Não se importaram com seus sentimentos, mas eu estava aqui o tempo todo te apoiando.

— Sim, você esteve ao meu lado o tempo todo, pai.

— Edu, meu filho, eu sei que é um homem de bem, escuta teu pai — insistiu o coronel. — Olhe para as meninas, elas estão assustadas. Somos a sua família, põe a mão na consciência!

— Você quer uma família de traidores? Uma mulher que se deitou na cama do teu irmão e que não se importou com seus sentimentos? Eles estavam juntos no Colorado, e esse homem que chama de pai deveria ser honesto contigo e escondeu a verdade. Toda a sua família sabia que seu irmão dormia e acordava com ela todos os dias enquanto você estava aqui sem saber de nada. — disse o homem cheio de veneno.

— Não faz mais diferença — Eduardo sequer conseguia me olhar.

— Eu não escolhi nada disso.

O meu murmúrio saiu abafado, meu queixo tremia, enquanto a dor da decepção dilacerava cada parte do meu coração.

— Não, chora, Ana, vai ficar tudo bem, confia em mim — sussurrou o coronel, me estendendo a mão. — O Edu é um bom rapaz, ainda não é o fim.

— Que cena linda — Geraldo bateu palmas. — Até me emocionei. Só que você se esqueceu de que teu filho, "o bom rapaz", fechou o cadeado? Perdeu Arlindo, ele é ambicioso, deu trabalho trazer para meu lado, mas eu sabia que era questão de tempo. Enquanto vocês se divertiam no Colorado, eu o convencia a trilhar o caminho do sucesso. O Eduardo será meu sucessor nos negócios, pena que não vão sobreviver para contemplar sua vitória.

— Filho, você não é esse tipo de pessoa — o coronel segurou nas grades, olhando para o loiro, que não lhe deu atenção.

— Ele é meu pai agora — Edu nos deu as costas, indo em direção à casa. — Vou buscar lenhas, temos que acender uma fogueira.

O desespero só aumentou ao ouvir aquela frase, e enquanto Eduardo ia em direção ao depósito, o rastro de decepção e medo ficou para trás em uma cena de horror, aonde Caio e o pai nos pediam perdão sob o olhar vitorioso do verdadeiro vilão de toda essa história. Já não havia mais nada a fazer.

— Ele vai nos queimar vivos — sussurrava Solange em lágrimas.

— Você aliciou a Sheila — a encarei com ódio. — Ela era uma criança, como pôde fazer isso?

— Eu amava esse homem e fazia tudo o que ele pedia, mas quando tentei me libertar, eu... — ela correu seu olhar sobre nós. — Eu ajudei a Sheila escapar, e como consequência eles sequestraram minha filha Isabela e me mandaram sua língua como aviso. Eu nem sei aonde ela está.

Eu e o Caio trocamos olhares, mas ele balançou a cabeça negativamente, sussurrando um: "Não era dela", que prontamente entendi, pois a muda não só sobreviveu, como já havia voltado par ao convívio de sua família. Ali eu entendi que torturaram uma inocente para chantagear a outra. Provavelmente a Isabela nem viva estava mais.

~♥~

Quando avistei o Eduardo se aproximando com algumas toras e lascas cortadas, perdi completamente as esperanças. Memórias antes apagadas voltaram à minha mente, como quando nos conhecemos e como ele era carinhoso comigo. Eu nunca precisei enxergar para reconhecer a bondade em sua pessoa, e agora aquela versão era completamente obscura, não fazia sentido. 

Foram dias incríveis desde que retornei e finalmente nos entendemos, dias de parcerias e descobertas, perdão, acolhimento. Estávamos tão felizes há uma semana comemorando o natal em família, o casamento, assim como o novo membro da família, e agora o via ali, inexpressivo, ao lado do homem que não só destruiu a sua família, como estava prestes a destruir a minha.

— Eu ia alimentar os animais, mas um churrasco me parece uma ideia genial — o carrasco sorriu friamente. — Que orgulho de você, filho, realmente, eu fiz a escolha certa.

— Com certeza!

Em um movimento rápido, Eduardo bateu com um pedaço de lenha na cabeça do homem que caiu, chutou a arma para longe, e então desatou a falar:

— Achou mesmo que eu me uniria a um crápula feito você? Um verme da pior espécie que consegue tudo através de chantagem?

— Eu vou te matar, seu...

O homem tentou se levantar, mas levou um soco e caiu de costas novamente.

— Eu passei todo esse tempo sendo torturado por suas ameaças — Eduardo lhe deu um chute na costela. — Me fez acreditar que era o culpado pela morte de meu avô, eu só tinha dez anos! — Outro chute. — Realmente acreditei que havia deixado as bolinhas de gude perto da escada, não sabe quantas vezes procurei pela arma do meu pai para acabar com meu sofrimento, se tivesse achado, teria morrido sem saber que era inocente!

— Eu quis fazer de você um homem, meu filho, temos uma parceria, e...

— Filho? Eu não sou teu filho, não existe parceria, você fazia terrorismo em minha cabeça para me obrigar a ficar com a filha da sua amante! — gritou Eduardo. — Toda vez que eu largava dela, a garota se enchia de remédios e você não me deixava em paz enquanto não reatasse aquele namoro. Você me ameaçava da maneira mais covarde, não me deixava outra opção a não ser continuar ao lado de uma garota que eu sequer conseguia ouvir a sua voz!

— Tudo o que fiz foi pelo seu bem, meu filho!

— Eu não sou teu filho! — Eduardo chutou suas costelas. — Acha que não sei que tinha planos de abusar da Ana? Você é doente, não era só a vida do meu pai que queria, você também queria a minha!

O estalo daquele tapa no rosto do homem me fez fechar os olhos, eu nunca vi o Edu com aquela postura rígida e fria, confesso que me deixou ainda mais assustada do que já estava.

— Se o Eduardo não matar, eu mato esse verme — Caio respirava com dificuldade.

— Calma, filho — o coronel apertou a mão do Caio, que bufava feito um touro bravo. — Lembre-se do que conversamos.

— Ficar preso em uma jaula não estava no pacote, mas o que é dele está guardado. — Caio voltou sua atenção para mim. — Você está bem?

— Eu só quero ir para casa — murmurei atônita.

— Você vai, eu prometo — Caio me abraçou apertado, afagando meu cabelo.

Não sei como aquele homem suportou a fúria do Eduardo, mas concordo com o coronel, o Caio precisava estar preso dentro daquela jaula, ou as coisas sairiam do controle.

— Eu te escolhi quando nasceu, Eduardo, sabia que seria meu filho, planejei uma vida para você, só queria...

— Me escolheu? Você fez da minha vida um verdadeiro inferno, me transformou em um cara que tinha raiva do mundo. Um cara que não se importava consigo mesmo porque sabia que não adiantaria quando seu destino era a ruína. Você me fez assim, um nada!

Eduardo o socou com tanta força, que pensei que o tivesse desmaiado.

— Filho — o coronel interveio. — Você nunca foi um nada. Foco, Eduardo!

— Se acha esperto, mas transei com sua namorada na sua cama, e não foi só uma vez.

— Patético querer competir comigo.

— Não preciso competir com ninguém, pirralho, eu a tinha em minhas mãos. Aquela inútil só tinha que te manter no controle e nem para isso prestou, mereceu todo castigo que lhe dei, e Ana, era só uma questão de tempo — o homem sorriu vitorioso, tentando se levantar.

— Dobre a língua para falar da Ana! — Eduardo o fez cair com uma rasteira. — Ela nunca se prestaria ao papel de deitar na sua cama, e quanto à Patrícia, você é tão burro que a engravidou para me obrigar a casar com ela, acha mesmo que não descobriria?

— Ela engravidou por descuido, eu só aproveitei a oportunidade, e...

— Monstro!

— Por que o Eduardo não acaba logo com isso? — Caio perguntou, impaciente.

— Ele precisa desse momento, filho — afirmou o coronel, voltando sua atenção para o Edu, que andava feito uma fera em volta do homem que sangrava naquele chão.

— Tive que suportar um namoro falido para satisfazer aos seus caprichos, uma vida de merda, sendo ameaçado praticamente todos os dias para não esquecer de que estava em suas mãos. Todo o teu poder e influência não serão capazes de te livrar agora, é o fim da linha.

— Não pode me entregar, você tem dois ótimos motivos para me manter vivo, esqueceu? — O homem se sentou, limpando o sangue da boca. — Se não me obedecer, já sabe o que farei com elas.

— Engano seu — Eduardo sorriu olhando para o jardim, onde uma mulher de pele clara e cabelos compridos, em um tom de dourado, nos observava assustada com uma garotinha que se escondia agarrada a sua cintura.

— Alice?

O coronel olhou para a mulher como se tivesse visto um fantasma.

— Mas, como... — Ia dizendo Geraldo, mas foi interrompido.

— A tia, eu mandei um médico de minha confiança examiná-la, foi ele quem suspendeu seus medicamentos. Ela deu informações muito importantes em seus momentos de lucidez, é uma pena que não esteja aqui para ver a sua ruína.

— Sua tia tinha doença mental!

— Minha tia era outra vítima do seu egoísmo! — Eduardo explodiu, lhe apontando o dedo. — Em nosso último abraço, ela me deu a chave do porão do depósito e pediu que libertasse a mulher e a criança. Achou mesmo que eu queimaria minha família? Dentro dessa jaula estão as pessoas que mais amo nesse mundo, eu morreria por eles.

— Você é um fraco — o homem rastejou até a arma no chão, mas Eduardo a chutou para longe. — Nunca provará nada contra mim, eu conheço pessoas influentes, gente grande que me deve favores, e...

— Eu sei, você deu um jeito de afastar meu pai do caso e forjou aquela invasão. Matou aquelas pessoas e fez com que todos acreditassem que eram os responsáveis pela quadrilha.

— Um golpe de mestre — Geraldo sorriu satisfeito.

— Golpe de mestre, foi meu pai deixar que acreditasse que havia entregado o caso numa boa. Trabalhamos juntos todo esse tempo para te pegar, seu verme.

— Você me traiu, eu tentei te fazer um homem forte, e me traiu — o homem socou o chão, transtornado.

— O meu pai é um homem forte — Eduardo apontou para o coronel. — Ele, sim, mereceu cada conquista que teve na vida, e teria conseguido muito mais se não tivesse por perto um parasita feito você. Ele, sim, é digno de orgulho, enquanto você é um derrotado de merda. Acabou a festa, Geraldo, tem câmeras para todos os lados — Eduardo levou a mão até o bolso tirando uma algema.

— Estão desligadas — disse o homem. — Vai se arrepender por ter me desafiado. Tenho pessoas muito poderosas que podem...

— Se esqueceu de que eu mesmo programei o sistema de segurança essa semana? — Eduardo gesticulou a sua frente. — Tem uma equipe inteira nos assistindo agora, e gravando exatamente tudo, assim como tem uma a caminho daqui. Duvido que seus amigos poderosos vão se arriscar por sua causa, a farra acabou! Você tinha razão, eu puxei ao meu pai, posso ser bonzinho, mas burro não.

— Eu vou acabar contigo, seu verme inútil! — disse ele, quando Eduardo o algemava.

— Primeiro terá que sobreviver ao inferno. Se esqueceu de que meu avô era um coronel do corpo de fuzileiros navais americano? Não é só a polícia brasileira que tem contas a acertar contigo — Eduardo respondeu, pegando a chave do cadeado no bolso do homem e jogando para o pai, que nos libertou.

Eu ainda estava em choque quando saí daquela gaiola, tremia e chorava ao mesmo tempo, era aflição demais para um único dia.

— Me perdoa, Ana, eu precisava fazer isso — Eduardo tremia ao me abraçar. — Todas as coisas que disse, eu tive que improvisar, amo muito vocês dois — ele declarou, puxando o irmão para aquele abraço coletivo.

— Que vontade de te socar por ter me escondido tantas coisas — Caio protestou. — Uma vida inteira acreditando naquele animal, eu o admirava como um segundo pai e ele destruindo minha família.

Eu sentia uma mistura de alívio e raiva, por saber que estavam no controle da situação e não me falaram. O coronel reuniu uma equipe e montou o esquema perfeito para que Geraldo confessasse, mas o homem conseguiu complicar as coisas. O Caio não só invadiu o sistema de segurança, como, com ajuda do Eduardo, colocou escuta em pontos estratégicos. Deixaram uma equipe de prontidão, caso fosse necessário tomar alguma atitude mais drástica. 

Só não imaginavam que o que era para ser uma investigação comum se tornaria uma cena de horror. Mas o coronel também se preparou para isso, então não demorou muito para várias viaturas invadirem o local. Assim como uma ambulância.

Aquele tio gentil nunca me enganou.

— Cadê o homem que estava caído ali? — perguntou Suelen, apontando para a poça de sangue, onde, antes, havia um corpo desfalecido.

— Você não merece viver depois de tudo o que fez!

Evandro efetuou dois disparos antes de cair no chão, alvejado pela polícia. Um atingiu a cabeça de seu pai e o outro, para meu total desespero, as costas do Caio.

— Filho!

— Não! — gritei quando seu corpo cedeu caindo de joelhos.

— Caio! — Eduardo apoiou o corpo do irmão, quando um dos policiais tentava me afastar. — Droga, Caio! — ele chamava em desespero.

— Meu filho, não, meu filho, não! — o coronel chorava abraçado ao filho, que me olhava com uma expressão de dor. — Me perdoa, meu filho, eu tinha que estar em seu lugar.

— Caio, por tudo o que é mais sagrado, não morra! — implorei quando Suelen me abraçou aos prantos. 

Aquela cena passava em câmera lenta em minha cabeça, luzes azuis e vermelhas piscando, pessoas falando, Solange algemada, corpos sendo retirados, gente me fazendo perguntas que praticamente não ouvia. 

Eu só conseguia pensar que ele estava morrendo.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top