Capítulo 45 O meu presente mais querido
Michael e Marcela estavam de plantão no dia de natal, e como dormi na casa do coronel aquela noite, ele insistiu para que almoçássemos com eles. Meu pai e Kiese chegaram cedo, ela não abriu mão de comandar a cozinha, já que na ceia da noite anterior, as mulheres foram proibidas de trabalhar. Eu e Suelen auxiliamos nos preparativos dos pratos, e os homens se entretiveram jogando baralho e cuidando da churrasqueira. Dessa vez o tio Geraldo, não participou, ele decidiu passar o dia com sua esposa na fazenda.
— Ana é igual à Marcela — disse Suelen. — Ela vai cozinhando e lavando a louça, quando termina a pia está limpa.
— Me sinto perdida se for fazer alguma coisa com a pia ocupada, deve ser algum transtorno — falei secando a mão no pano de prato.
— Eu também não consigo — disse Kiese. — E ainda lavo a mão várias vezes enquanto cozinho, o pano vive no ombro, é incrível.
— Eu deveria ter usado o avental — apontei para a barriga molhada. — Não entendo como me molho tanto lavando louça.
— Vá se trocar, eu ajudo a Kiese a terminar aqui — orientou Suelen. — Essa barriga molhada vai deixar minha sobrinha, porque vai ser menina, resfriada.
— Mimada, sei que será — disse Kiese aos risos.
Eu subi as escadas com um sorriso no rosto, estava feliz, a vida finalmente resolveu ser boa comigo. Depois de muito tempo me sentia em paz, podia andar livre por todos os cantos sem ter ninguém me perseguindo, importunando, ou querendo me jogar em algum buraco. Agora eu tinha uma família que ultrapassava dois membros como costumava ser, tinha amigos, um companheiro incrível e em breve e ainda seria mãe. Tinha até medo de acordar e descobrir que foi tudo um sonho.
Tirei a roupa molhada e escolhi um macacão curto de tecido leve, na cor vinho. Me observei por um instante em frente ao espelho imaginando como seria quando a barriga crescesse, como seria ser responsável por um ser minúsculo que dependeria de mim por muitos anos. A ideia me assustava, mas, ao mesmo tempo, confortava, eu sabia que escolhi o cara certo para enfrentar o desafio comigo.
Quando retornei, o coronel conversava com um casal perto da churrasqueira. Kiese terminava a sobremesa com a ajuda do Caio, e Suelen brincava de boneca na rede com uma menina que deveria ter uns seis anos. Um pouco mais a frente, Eduardo brincava no gramado com um garotinho que não parecia ter mais do que dois anos. Ele veio caminhando com uma bola na mão e a deixou cair, eu peguei e joguei de volta, mas não esboçou reação alguma, e continuou caminhando aleatório com os bracinhos estendidos.
— Tem que dar na mão dele, tia — disse a garota colocando a bola nas mãos do bebê. — Ele não enxerga.
— Gol — ele jogou a bola para cima, e bateu palmas.
— Viu, tem que brincar, assim, com ele — ela orientou devolvendo a bola em sua mão.
Olhei para o Edu e voltei meu olhar novamente para o garoto de pele alva, rostinho redondo, e cabelos enrolados como de um anjo. Ele vestia um macacão jeans, camisa de botão na cor vermelha que realçava suas bochechas coradas, e tênis, parecendo um rapazinho.
— Ele é tão lindo — falei ao me abaixar a sua frente. Peguei a bola que ele havia jogado, e entreguei em suas mãos. — Vamos brincar bebê, joga a bola para a tia.
— A tia — disse ele, me dando os bracinhos. Não resisti o peguei no colo.
— Dá um abraço na tia, João — disse o senhor que, até então, não havia se aproximado. — Feliz natal, Ana.
As lembranças de quando estive no abrigo vieram como uma avalanche, eu não sabia se olhava para aquela criança linda em meu colo, ou para o Eduardo que me observava com um sorriso bobo, assim como Suelen, Caio, e os demais.
— Ele é o... — voltei minha atenção para o garoto, que me abraçou o pescoço e beijou meu rosto.
— Tia — disse ele, antes de me dar outro beijo.
Uma onda de emoções me envolveu subitamente quando abracei aquela criança em lágrimas. Não pensei que fosse encontrá-lo novamente, e agora ele estava em meus braços, me chamando de tia.
— Ele está lindo, seu Daniel — falei emocionada. — Que alegria poder reencontrá-los.
— Fiquei muito feliz quando o Eduardo me ligou fazendo o convite, e fiquei mais feliz ainda, por saber que conseguiu fazer a cirurgia.
— Muito obrigado por vir, esse foi meu presente mais querido — falei apertando o garoto em meus braços.
— Você que foi um presente em minha vida, menina — seu Daniel sorriu atrapalhado.
— Eu sou Tereza, irmã do Daniel — disse a mulher clara, de olhos verdes, me puxando para um abraço. — É um prazer imenso te conhecer.
— E eu sou a Maria — disse a garotinha abraçando minhas pernas.
— Que cena mais linda — Suelen se aproximou com lágrimas nos olhos.
— Eu não acompanhei nada da infância da minha filha — disse meu pai se juntando a nós. — Nem fui a presença masculina que meu filho precisava. Se pudesse voltar no tempo.
— Aprendi que a vida coloca as dificuldades em nosso caminho para nos testar — disse senhor Daniel ao meu pai. — Nunca fui um homem mau, nunca fui um covarde, mas o medo de não dar conta da responsabilidade quase me tornou um. É horrível se sentir assim, mas temos que aprender com os erros por que são eles que nos mostram aonde acertar.
— Quem dera ter recebido esse conselho na juventude — meu pai me olhou com tristeza.
— Eu sei que não justifica um pai não aceitar o filho, mas quando soube que o João não enxergava, tive muito medo de não ser para ele o pai que precisava. Eu passava pelo luto da minha companheira, já era um fardo pesado, então fiquei apavorado e a primeira reação foi fugir. Eu fugi tentando encontrar um caminho, mas minha consciência não me deixava em paz, fugi por medo, por inexperiência, e por pouco, não cometi o maior erro da minha vida. Esse menino é tudo para mim.
Levei a mão até a barriga, e acariciei. Também sentia esse medo de não ser uma boa mãe, medo de falhar e decepcionar a todos, mas ao ter um braço forte que de repente circulou minha cintura, me senti protegia e amparada. Eu não estava sozinha.
Almoçamos juntos em um clima de harmonia, e depois, Caio jogou alguns colchonetes no gramado e passamos um longo tempo brincando com as crianças, que fizeram a maior festa. Até que foi legal brincar de casinha, dei banho no João, penteei seu cabelo, e o fiz dormir. Agora eu sorria feito boba olhando para o garoto que dormia sereno, seria esse o famoso instinto de ser mãe?
~♥~
Ao fim da tarde, compramos sorvete e fomos até o abrigo visitar as crianças. Era um prédio antigo com uma escadaria que levava a uma porta de vidro, tão antiga quando a construção. Seu Daniel e dona Tereza fizeram questão de ir conosco, desde que João deixou o abrigo, eles nunca mais voltaram.
Fomos recepcionados por uma moça sorridente que se apresentou como Cíntia. Ela era albina, tinha cabelos volumosos e andar elegante, uma beleza incomum, que somada a sua simpatia, me cativou logo que fomos apresentadas. A moça entregou os potes de sorvete a uma senhora de nome Dirce, e nos levou até uma sala grande e muito barulhenta. Quando aquela porta se abriu, revelou ao menos umas trinta crianças, entre, um, e doze anos. As maiores brincavam com as pequenas, supervisionadas por três mulheres e um senhor de pele clara, que consertava alguns carrinhos quebrados em um canto rodeado por garotos.
Era uma sala bem iluminada e espaçosa, cheia de tapetes pedagógicos, colchões e brinquedos. As paredes eram desenhadas com princesas, fadinhas, carrinhos e animais em uma espécie de bosque encantado. Havia um espaço para desenhos e pecinhas de montar, bolas e carrinhos estavam esparramados, bonecas e bichinhos de pelúcia, assim como outros brinquedos visivelmente novos, o que me fez pensar que eram presentes de natal.
— Feliz natal — disse uma mulher de estatura pequena, pele amarronzada, e cabelos trançados. — Ana, que alegria te ver bem!
— Obrigada — sorri confusa.
Essa era uma das minhas dificuldades, tentar reconhecer as pessoas por suas vozes. O cérebro memoriza momentos marcantes, seja pelo lado bom, ou ruim, mas alguns se sobressaem e ao menos que eu tivesse convivido tempo com a pessoa, ela teria que ter me feito algo muito marcante para me recordar com clareza.
— Pelo visto não me reconheceu — ela sorriu olhando para o Eduardo que assentiu. — Sou a Márcia.
— Ah, sim, me desculpe é que é complicado reconhecer as pessoas pela voz — expliquei ganhado um abraço apertado.
— Tudo bem, seja bem-vinda.
— Tio! — um garotinho passou correndo por nós, e abraçou o Caio que o suspendeu o ar.
— As crianças ficaram muito felizes com os presentes que mandaram — comentou Márcia, pegando no colo um bebê que engatinhava ali por perto. — O coronel esteve aqui ontem com o seu tio, eles trouxeram mais roupas e brinquedos, nem sei como agradecer a sua família.
— Não precisa agradecer, fazemos de coração, as crianças merecem — respondeu Eduardo.
— Oi, Edu — disse uma garotinha de vestido florido e chiquinhas no cabelo. — Você vai casar comigo, não pode ficar de mãos dadas com outra.
A menina cruzou os braços com um biquinho fofo que nos fez rir.
— Pegou no flagra — Caio cumprimentou a garota com um toque de mão.
— Vai ser uma noiva linda — falei me abaixando a frente da mocinha carrancuda. — Muito prazer, meu nome é, Ana.
— Ele tá namorando? — ela sussurrou em meu ouvido.
— Ela não tem chance — pisquei de canto, ganhado um sorriso.
— O meu é também é Ana, eu tenho cinco anos — ela apertou minha mão.
— Eu sou Suelen. Tudo bem Ana? — Suelen se abaixou a sua frente.
— Ele vai se casar comigo quando eu crescer — a garotinha a olhou de cenho franzido.
— Posso ser a madrinha? — Suelen perguntou, ganhando um aceno de cabeça como resposta.
— Já separei até o terno, Ana — Eduardo se abaixou, ganhando um abraço.
— Casa comigo, Aninha, o tio Edu é feio — disse o Caio a garotinha que gargalhou.
— Mas ele tem a sua cara, tio Caio — ela afirmou com as mãos na cintura.
— Sim, mas eu sou mais bonito — Caio piscou de canto.
— Gol! — gritou um garotinho chutando uma bola que acertou minha perna.
— Cuidado, Felipe — Márcia jogou a bola de volta.
Corri meu olhar por todas aquelas crianças que brincavam sorridentes, e automaticamente meus olhos lacrimejaram ao me lembrar de que ali, não era uma colônia de férias.
— O tio trouxe meu sorvete? — Perguntou um outro garoto que deveria ter, no máximo, uns quatro anos.
— O tio trouxe — Eduardo se abaixou e jogou a bola em sua direção. — Ele não tinha sido adotado?
— O casal desistiu, disseram que preferem um recém-nascido — explicou Márcia.
— Dizem que têm o sonho de ter um filho, mas querem escolher como uma mercadoria — Caio revirou os olhos.
— Gostou da surpresa? — perguntou Eduardo parando ao meu lado.
— Eu amei — sorri encostando a cabeça em seu ombro.
— Era o último item da sua lista.
— Mas, não me lembro de ter... — me virei para encará-lo.
— Eu coloquei — afirmou ele. — Queria te proporcionar esse encontro.
De todos os itens daquela lista, o reencontro com o João acabou sendo o mais especial de todos. Sem dúvidas, o meu presente mais querido, pois realmente não esperava, e curti cada momento ao lado daquele anjinho que estava apenas começando a viver, e não tinha ideia de todas as dificuldades que enfrentaria. Já que, diferente de mim, ele não teria a chance de ver as cores do mundo um dia.
Passamos momentos incríveis brincando com as crianças, jogamos bola, contamos histórias apresentadas por fantoches, os gêmeos foram maquiados para o casamento do Eduardo com a Ana, que até trocou de vestido para a ocasião. Caio levou a noiva até o altar, teve dama das flores, aliança de doce e até valsa dos recém casados. O bolo ficou por conta da criatividade da tia Suelen, que contou com a ajuda da tia Cíntia. Por fim, quando fomos para casa, já era noite.
~♥~
Meu pai ficou mais uns dias conosco e então se despediu, prometendo voltar em breve. Apesar de meu desabafo sincero, para meu alívio, não ficou nenhum clima pesado entre nós. Além daquela breve conversa na casa do coronel, conseguimos nos sentar e conversar com calma. Sei que doeu, mas era necessário, eu não podia continuar com aquela postura com tantas mágoas mal-resolvidas instaladas dentro de mim.
Demorei a entender que todo o meu desejo de ser notada por ele nada mais era do que a minha consciência, me punindo por saber que meu irmão não teve um pai presente, por minha causa. Eu me cobrei a vida toda por isso, não entendia que não era culpa minha, tomei para meus ombros o peso desse fardo, que se aliviou quando percebi que o errado era ele, não eu.
Meu pai chorou bastante, me pediu perdão novamente e, por fim, prometeu que faria o impossível para conquistar o espaço de pai, que deixou vazio por tanto tempo em minha vida. Isso eu já não tinha certeza se conseguiria, já que o coronel ocupava uma posição mais privilegiada. Só não ganhava do Michael, que era meu alicerce na vida.
Eu fui uma criança que cresceu em uma bolha de proteção e, ao mesmo tempo que tinha um excesso de cuidado a minha volta, também era muito solitária. Michael precisava trabalhar e quem convive com profissionais da enfermagem sabe o quanto sua rotina é pesada e cansativa.
Até me mudar do interior, eu ainda tinha a atenção da vizinhança, tinha amigos, uma rotina que deixou de existir quando cheguei em São Paulo, e isso me fez desenvolver uma dependência emocional a qualquer pessoa que me desse um pouco mais de atenção, como foi com o Caio, o Edu e até mesmo o coronel. Nossa aproximação me trouxe muitos problemas, mas e daí, eu tinha uma família agora, tinha atenção, me sentia protegida mesmo quando não puderam me proteger, e a ideia de não ter mais isso, era desesperadora.
Aquela semana quase não vi, Caio, nem o Eduardo, eles estavam concentrados em um trabalho importante que com certeza não me contariam. Ainda mais agora que bastava eu fazer uma expressão facial diferente, e meu companheiro exagerado já pensava que estava passando mal. E por falar em passar mal, eu estava enjoando bastante, então tomei um remédio que o médico me passou, e acabei desabando durante a viagem.
A fazenda ficava em Atibaia, no interior de São Paulo, em uma área de mata virgem que mais parecia um santuário da natureza. Logo que passamos pelos portões, já vi que teríamos um fim de semana incrível naquele paraíso.
— O degrau — disse Eduardo quando chegamos a sede.
— Que lugar lindo — falei observando alguns pavões, e galinha-d'angola, que passeavam por ali.
— Não creio que tem araras — Suelen correu tirar fotos.
A casa era grande, com um quintal imenso cercado por um alambrado alto, que me fez sentir segura. Ouvi relatos logo que chegamos, de onça-pintada rondando o local, e eu é que não me arriscaria a conhecer a celebridade.
— Olha as flores — Suelen estava encantada com o jardim.
— Que capricho — comentei correndo o olhar pelo local.
A casa tinha dois andares, e uma área de lazer de encher os olhos, ao lado do campo de futebol, bocha, e a piscina. Senti um arrepio quando avistei a parte aonde ficavam os tigres e o leão.
— Venha ver, Ana, eles são lindos — disse Suelen, toda eufórica ao lado do Caio.
Atrás daquela grade, havia um espaço amplo com lagoa artificial, e toda uma estrutura para abrigar os três animais que ficavam separados. O leão era mais velho, mas ainda assim, dava medo de olhar.
— O que é aquilo? — perguntei quando um bichinho curioso se aproximou.
— Um sagui — respondeu Eduardo. — Se tiver fruta, ele vem comer na sua mão.
— Essa jaula? — perguntou Suelen, quando nos aproximamos do objeto.
— Quando precisamos fazer manutenção, eles ficam nela — explicou o tio abrindo a porta daquela gaiola gigante.
— Poderemos ver os animais da ONG? — perguntei ansiosa.
— Amanhã cedo iremos até lá, fica a um quilômetro descendo o rio — disse o tio, nos acompanhando para o lado de dentro da casa.
A sede era muito grande, móveis rústicos se espalhavam pela área que cercava os quatro lados. Redes, cadeiras e pufs, até mesmo um jogo de sofá retrátil deixavam o ambiente muito acolhedor. Vasos de plantas de várias qualidades, peças de artesanato em madeira, tudo muito bem organizado, havia até uma mesa de pebolim, e outra de sinuca que não demorou muito tempo, e já estávamos nos divertindo nelas. A cozinha ficava em um cômodo separado, do lado de fora, e a sala era gigantesca, com paredes de vidro que davam uma ampla visão do quintal.
— Na adolescência, fizemos muitas batalhas de karaokê aqui — comentou o Caio apontando para a estante antiga aonde havia um aparelho de som com caixas, microfone, e uma TV gigante.
O tio gostava de colecionar antiguidades, e com muita dedicação foi nos mostrando os móveis e objetos que conseguiu através dos tempos. Ali havia desde um aparelho de telefone dos anos vinte, caixa de música jukebox, até um gramofone. A sonata com disco de vinil com seu cheiro característico, me fez lembrar de minha avó, eu quebrei um de seus discos antigos uma vez, aliás, tudo ali era nostálgico, arrisco a dizer, que o ambiente em si, cheirava a óleo de peroba.
No andar de cima ficavam os quartos, mas era no de baixo que a tia Marina repousava em um cômodo adaptado para suas necessidades. Uma mulher jovem de pele alva, cabelos negros, compridos e aparência sofrida, que mal se comunicava, e o pouco que dizia realmente não fazia sentido. Sua cuidadora também cuidava da casa, e apesar de ser tudo muito grande, naquele dia em específico, estávamos apenas nós, e o filho que estava na ONG trabalhando. Esse eu ainda não conhecia.
O coronel, se juntou ao tio para acender a churrasqueira enquanto dona Solange, a senhora que cuidava da casa, preparava a mesa para o jantar de mais tarde. Enquanto isso, rolou uma batalha na mesa de sinuca que se estendeu até o fim da tarde, e tivemos que suportar o Caio nos zoando por vencer.
— Madrinha, vamos passear um pouco? — perguntou Eduardo, a jovem senhora que continuava perdida em seus pensamentos, sentada na cama olhando pela janela. — Tia, sou eu, Eduardo, lembra de mim?
Ela olhou para ele, depois para mim, mas não disse uma única palavra.
— Hoje ela não quer conversar — disse Solange ao se aproximar.
— Tia, essa é a Ana, e essa aqui, é a Suelen. Elas queriam muito te conhecer. Lembra que falei delas?
— Oi, tia — falei ganhando um olhar vazio.
Ela não quis conversar, apenas nos olhava em silêncio, havia tanta tristeza naquele olhar que saí do quarto depressiva, ao lado de uma Suelen chorosa.
No início da noite, nos reunimos na área, e o clima era muito animado. Liguei para o Michael que entrava no plantão e ele me disse que estava com o coração apertado. Era a segunda vez que passávamos essa data separados, na primeira eu estava em coma a quilômetros de distância. Meu pai também ligou recomendando cuidado, estava todo preocupado com a gestação, mas até então, ia tudo bem.
— Está tudo bem? — perguntou Caio, me trazendo um copo de suco natural de goiaba.
— Sim, eu amei esse lugar — respondi quando um veículo se aproximava.
Era uma caminhonete na cor prata, e de dentro dela desceu um homem alto, forte, de pele clara e cabeça raspada. Suas roupas estavam sujas de terra, ele disse que precisou cavar alguns buracos para plantar árvores em uma área de reflorestamento. Observei de longe tentando entender de onde conhecia sua voz, que se misturava com a música alta. Mas só entendi, quando se aproximou...
— Dona Marina não reconheceu os rapazes? — ele perguntou a Solange antes de se dirigir a nós.
— Ele não é filho dela? — perguntei discretamente ao Eduardo, que estava ao meu ado com Suelen.
— Não, ele é fruto de um relacionamento extraconjugal.
— E aí, delegado! — o homem cumprimentou Eduardo com um aperto de mão.
— Virou tatu? — perguntou Caio.
— Cavei tanto, que fiz até bolha na mão — ele comentou voltando sua atenção para mim. — Finalmente estou te conhecendo, Ana.
Quando aquele homem me dirigiu a palavra, automaticamente me lembrei de sua voz, e com isso, também me lembrei de onde ouvi a de seu pai.
Os meus sequestradores.
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