Capítulo 19 Decepção
ESTE CAPÍTULO CONTÉM GATILHO DE SEQUESTRO E TORTURA PSICOLÓGICA, CASO SE SINTA DESCONFORTÁVEL COM A TEMÁTICA SINTA-SE A VONTADE PARA PULAR.
Não sei quanto tempo fiquei ali esquecida, mas a cada barulho do outro lado da porta me encolhia temendo que entrassem e me fizessem algum mal. Até mesmo o silêncio ali dentro era torturante, mas agora uma moça que pelos sons que emitia deveria ter algum tipo de problema na fala, veio me auxiliar. Ela me ajudou com a higiene e alimentação, penteou meu cabelo entoando uma melodia triste em forma de lamúria enquanto eu chorava silenciosamente a espera de um milagre.
— Terminou aqui? — perguntou uma voz feminina desconhecida. — Tudo bem, vá até a ala nove, tem uma garota sangrando. Aqueles imbecis não têm limites.
Eu não queria entender o que ela disse para a outra, mas infelizmente criei uma história de terror em minha cabeça, e apavorada, apenas consegui chorar...
— Beba isso, te fará dormir, e vai por mim, é melhor assim.
— Moça, por favor, me ajuda — arrisquei a pedir, mas foi em vão, ela não me respondeu, e mais uma vez fui deixada naquele quarto abafado aonde ecos do sofrimento pareciam atravessar paredes.
Aquela rotina perdurou por pelo menos dois dias. A mesma garota me ajudava a tomar banho, alimentar e depois sumia me deixando sozinha naquele lugar sombrio aonde gritos de garotas ecoavam a noite pelos corredores, pedido de socorro, e gemidos grotescos de homens que transitavam por ali no turno da madrugada. Eu chorava em desespero temendo ser a próxima vítima, mas por algum motivo passavam reto pela minha porta, só ouvia as vozes indo e vindo enquanto ficava fechada na solidão da minha cela mofada.
— Moça acorda! — fui sacudida por mãos vacilantes. — Acorda logo!
— Por favor, não me machuque — murmurei apavorada.
— Não chora, eu não queria te assustar — o garoto passou a mão pelo meu rosto me fazendo encolher. — Sou o Nil, eu não machuco as meninas.
— Me deixe ir embora, por favor! — implorei aos prantos.
— Você não pode ir embora, vai ser minha agora.
— Sua? — perguntei ainda encolhida no canto da parede sobre a cama. — Eu nem te conheço.
— Sou o Nil, você é meu presente de aniversário — sussurrou animado.
Não entendia sobre o assunto, mas seu comportamento infantil era evidente, o que me fez entender que estava diante de um rapaz com algum tipo de atraso mental.
— Eu quero ir para minha casa — falei entre soluços.
— Agora aqui é a sua casa, eu queria que ficasse feliz, mas está triste e não quero que fique triste.
— Eu já tenho um namorado e ele deve estar preocupado comigo.
— Mas se não for a minha namorada, vão te levar para longe, não entende? — insistiu contrariado. — Eu tinha a Sheila e ela era boazinha, mas sumiram com ela.
— Sumiram para onde?
— Ela chorava, meu irmão batia nela e fazia ela fazer coisas ruins para ele.
— Que tipo de coisas ruins? — perguntei tentando não me apavorar em vão.
De todas as aflições que passei na vida, nada era mais agonizante do que imaginar o tipo de tortura que poderiam me submeter naquele lugar sombrio.
— Fica calma, eu sou bonzinho. Minha Sheila foi embora, mas você não vai.
— Mas eu não quero ficar aqui! Não posso, eu quero meu irmão! — repetia agoniada enquanto as lágrimas molhavam meu rosto.
— Não chora, eu não fiz nada — ele pedia me chacoalhando pelos ombros. — Pare de chorar!
O garoto se apavorou comigo e saiu do quarto fechando a porta. Não consegui me controlar, estava muito assustada, e quando me acalmei novamente, fui engolida por aquele silêncio que ao invés de transmitir paz, transmitia era medo.
— O que faz aí, filho? — a voz daquele homem me despertou.
— Estou triste — pelo seu tom de voz, o garoto parecia estar chorando.
— O que aconteceu, Nil?
— Minha princesa tá querendo o namorado dela, como a sua queria. Fiquei triste.
— O filho do Arlindo — afirmou o homem. — Aquela família sempre atravessando o meu caminho. Eu vou acabar com aquele verme e sua prole.
— Tiraram a Sheila de mim, não leva ela embora, pai.
— Esquece essa menina, filho.
— Mas você não esqueceu a sua. O Fênix disse que a Sheila morreu, a sua princesa também morreu, eu não quero que essa morra meu pai.
— Não chora, filho, eu vou dar um jeito nisso.
Eles continuaram sua conversa do lado de fora, enquanto do lado de dentro, eu suava frio a cada informação recebida, e, se falavam abertamente, era sinal de que realmente eu não sairia mais dali.
"Michael pressentiu, estava se despedindo", constatei em pensamento. "Meu irmão sabia que era nosso último encontro."
Agora eu sabia que estava em uma fazenda em algum lugar cercado por uma mata fechada, e que o acesso mais fácil seria pelo rio. Eles se referiam ao local como "A toca do lobo" aonde, pelo visto, ninguém saía ou entrava sem permissão. O pai alertou o filho sobre brincar na mata, disse haver animais selvagens e armadilhas. Não precisei ouvir muito para entender que estava em uma fortaleza muito bem protegida pelos capangas daquele homem de coração ruim.
Conversar com aquele garoto era a mesma coisa que conversar com uma criança de cinco anos, mas era minha única esperança. Queria muito o convencer a me ajudar a fugir, mas se era verdade que estávamos em uma fazenda cercada por mato, eu estaria literalmente perdida. Se bem que ser comida por um animal selvagem já não me parecia tão ruim quando ficar ali esperando por um futuro incerto.
— Parou de chorar? — perguntou o garoto, me trazendo um copo com água.
— Sinto falta da minha casa Nil, do meu irmão. Eu tinha uma vida e tiraram de mim.
— Eu cuido de você — disse ele acariciando meu rosto. — Tenho flores lindas, posso te dar uma. Gosto de plantas, sabia?
— Você vive preso aqui, como consegue? — arrisquei a perguntar.
— Mas é minha casa, eu não estou preso.
— Já saiu desse lugar alguma vez?
— Não é seguro lá fora.
— Não tem vontade de sair daqui?
— Eu queria conhecer a praia, mas ainda não posso. Meu pai disse que vai me levar um dia para pegar conchinhas.
— Quando Nil?
— Eu não sei — respondeu aleatório. — Minha mãe, Estela disse, que a água do mar é salgada. A água do rio não é salgada, eu afoguei e tinha gosto de peixe. Você gosta de peixe?
— Sua mãe Estela é a moça que cuidou de mim?
— Ela não vem muito aqui, meu pai não deixa. Só a muda vem, e a outra moça que cuida das meninas. Você sabia que minha mãe Estela era professora lá na rua? Ela me ensinou a ler e escrever.
— Sua mãe é como eu, alguém que prenderam?
— Minha mãe sumiu, eu não sei para onde elas vão — disse em tom tristonho, mas logo se animou. — Você não vai com elas, meu disse que vai dar um jeito.
— E se se sumirem comigo?
— Sumiram com a Sheila — murmurou impaciente. — Ela era minha princesa, mas foi vendida e nunca mais voltou.
— Que tipo de inferno é esse? — murmurei sentindo as lágrimas brotarem em meu rosto.
— É feio falar inferno. Você sabia que tem bicho na mata? Os homens do meu pai caçam com aquelas armas perigosas. Não tenta fugir, vão te pegar e colocar no porão do castigo, os homens ficam indo lá e elas gritam. A minha mãe Luna gritava bem alto.
— Mataram a sua mãe?
— Não, a minha mãe era Maria Alice, mas ela também sumiu.
O garoto no auge de sua inocência respondia todas as perguntas que eu fazia, mas sua mente infantil não ajudava muito, então, o assunto mudava o tempo todo me deixando incomodada...
— Minha mãe Estela disse que tem muita coisa bonita lá fora. Ela era professora de criança especial; sou especial, foi por isso que veio morar aqui — ele ia dizendo quando abriram a porta de supetão.
— Mas, o que está fazendo aqui? — perguntou o Cobra ao irmão.
— O pai deixou eu cuidar dela — respondeu incomodado.
— Vacilo deixar nesse merda sozinho com ela — disse o outro irmão que chamavam de fênix.
— Ela é minha princesa, e eu cuido dela!
— Sai daqui estrume, você fala demais! — O grito do Fênix ecoou pelo cômodo. — Escute aqui, menina, agora é o momento de dizer "oi" ao seu amiguinho!
— Por favor, não me machuque! — implorei assustada.
— É uma lobinha, mas parece um cordeirinho indefeso — cobra debochou do meu desespero.
— O frangote está na linha — afirmou Fênix. — Mata a saudade do seu namorado, aproveita que estamos bonzinhos hoje.
— Ana?
— Edu? Estou com muito medo, me ajuda, por favor!
— Ana, você está bem, te machucaram? — Seu tom de voz denunciava seu nervosismo.
— Não, mas estou com muito medo, eu...
Nem terminei de falar e tomaram o telefone de minhas mãos, colocando no viva-voz em seguida.
— Fica calma, anjo, vamos tirar você daí, eu prometo.
— Deixou a moça indefesa sozinha delegado? — Cobra provocou.
— Liberte a garota, seu animal, se tocar em um fio de cabelo dela vou até o inferno para te encontrar!
— Leve roupas frescas, ouvi dizer que o clima é quente.
— Fala logo o que você quer para liberar a garota!
— Libertar? — Fênix gargalhou. — Já tenho planos de uma noite muito quente com ela.
— Edu me tira daqui! — gritei apavorada.
— Cale-se! — aquela mão pesada do Fênix acertou meu rosto de uma maneira indelicada.
— Covarde! — gritou Eduardo do outro lado da linha. — Fala logo o que você quer!
— Por enquanto eu só quero o paradeiro dos meus homens — respondeu o demônio encarnado com codinome de ave mitológica.
— A polícia prendeu, e a garota não tem nada a ver com essa confusão, estão torturando uma inocente!
— Pele macia, branquinha, intocada, chega a dar água na boca.
Uma mão nojenta adentrou meu decote, fazendo com que me encolhesse apavorada.
— Acelera aí que tem um tarado alisando sua mulher cara — o Cobra parecia se divertir com aquela situação.
— Está torturando uma inocente, vem se divertir comigo animal!
— Vai dar um minuto — disse uma voz ao meu lado enquanto aquela mão ainda brincava por ali, me causando muito desconforto.
— Não tenho pressa, por enquanto só quero que soltem meus homens, arrancarei a cabeça daqueles incompetentes. E, sobre a mocinha aqui, tem uma mão dentro do sutiã dela nesse exato momento.
— Tire as mãos dela, mas que inferno! Farei o que me pedirem, mas quero a garantia de que ela vai ficar bem!
— Ah, você vai fazer, não vai querer essa preciosidade intocada em um leilão.
— Mato você primeiro, juro que mato!
— Até você me encontrar, delegado de merda, ela já virou brinquedo de um milionário pervertido — zombou Fênix ao desligar o celular.
O fim daquela conversa me deixou muito confusa. O Eduardo nunca me disse nada sobre ser policial, e com seu irmão envolvido em tantas confusões ilegais, não faria sentido algum. Havia muitas pontas soltas naquele emaranhado de confusão, e eu ainda tentava entender o motivo de terem me envolvido se não tinha dinheiro para um possível resgate, nem serventia para trabalhar em um bordel caso essa fosse uma das opções. A menos que quisessem retirar os meus órgãos, minha presença ali era completamente descartável.
— Você eu mato com minhas próprias mãos e depois mando a cabeça em uma caixa bem bonita para seu pai — o murmúrio do Cobra me causou um calafrio intenso enquanto eu chorava em silêncio. — Aquele coronel de meia-pataca vai pagar por tudo o que fez ao meu pai!
— O que é meia-pataca? — perguntou Nil, que eu nem sabia que ainda estava por ali.
— Insignificante — explicou Fênix. — Agora venha comigo aprendiz de mafioso, tem serviço lá fora!
Quando o quarto ficou vazio, não me restou outra alternativa a não ser me encolher em posição fetal e chorar. Eu já havia entendido que aquele não se tratava de um sequestro comum, pois, apesar de estar em um quarto desconfortável devido a pouca ventilação, o tratamento em relação à higiene pessoal e alimentação, não era dos piores. De todas as coisas mais malucas que imaginei passar em minha vida, ser raptada por uma facção que praticava tráfico humano, nem de longe era uma delas.
— Oi, minha princesa, eu trouxe maçã, a minha mãe deixou — Nil entrou no quarto bastante empolgado. — Eu acho que ela gosta de você — cochichou como se estivesse me contando um segredo muito importante.
— Eu queria conhecer a sua mãe — murmurei apática.
— Ela não pode falar sozinha com as meninas, o porão é fechado, só entra com autorização.
— Eu não quero morar em um porão, você não quer morar na praia?
Tentei morder a maçã, mas o desânimo era tão grande que não me desceu.
— Mas eu não moro no porão, sua boba — Nil deu uma risada espontânea. — Minha casa, é lá em cima, onde fica o escritório. — Aqui é embaixo da terra, não dá para ver lá da minha casa, sabia?
— E você mora com quem?
— Não posso ficar falando essas coisas, o Rubens disse que vai cortar minha língua. Ele não gosta de mim.
"Quem é Rubens?", pensei. — Não ligue para ele — eu disse.
— Não quer ficar comigo porque sou bobo, não é? O Rubens disse que nenhuma garota vai querer ser minha, porque sou retardado.
— Não dê ouvidos ao Rubens, você é um garoto muito especial — baixei o tom de voz imaginando que tipo de cosias aquele garoto ouviu pela vida.
— Eu não sou um garoto, sou um homem, vou fazer vinte e oito anos, só tenho a cabeça ruim.
Eu não sabia se aquilo era verdade ou coisa de sua mente, mas se fosse, ele tinha um atraso mental considerável...
— Você é um homem bom, até me trouxe uma maçã.
— A Sheila dizia que eu era bonito, mas as meninas não gostam de mim — disse em um tom tristonho, mas logo mudou e voltou a cochichar. — Vi o Cobra brincando com a Tina outro dia.
— Brincando?
— No rio, eu escondi a roupa dela, mas aí ele me bateu.
— Não pode ficar sondando seus irmãos Nil, é feio.
— Minha mãe disse isso, mas o Rubens brinca com a muda e manda eu ficar olhando. Ele nunca deixa eu brincar, Rubens é chato.
— O Rubens por acaso é o Fênix?
— É, mas não conta para ninguém — cochichou quando alguém abriu a porta.
— E aí moleque, vai morar aqui agora?
— O que você quer! — seu tom se alterou imediatamente quando o indivíduo em questão entrou no quarto.
— Vai me enfrentar, molecote?
— Você não vai fazer com ela o que faz com as outras!
— Fecha sua matraca, idiota. Estou farto de te carregar nas costas, não faz nada direito, seu retardado de uma figa! — A voz do irmão era tão cheia de ódio que me deu arrepios. — Todo mundo ralando aqui dia e noite sendo cobrado pelo velho, e você com vinte e um anos nas costas cheio de mordomias babando nesse troféu de saia!
— Você é ruim, Rubens!
O estalo do que me pareceu um tapa ecoou pelo quarto me fazendo encolher.
— Não me bate!
— Está querendo ser minha distração outra vez, pivete?
— Não, você me machucou — a voz do garoto saiu tão assustada, que não precisei pensar muito para entender do que se tratava.
— O primeiro que falar sobre isso com alguém, vai receber a minha visita, entenderam? Isso serve para você também mocinha!
— Ninguém toca nela! — Nil se alterou com o irmão em minha defensa.
— Você não manda em nada aqui. Venha comigo débil mental, chegou uma remessa nova de meninas, teu pai mandou escolher uma para aliviar sua tensão.
~♥~
Não sei que tipo de lugar era aquele, mas nunca pensei que fosse presenciar tanta maldade. Minhas esperanças se esvaiam a cada minuto e agora ainda me preocupava com aquele rapaz com mentalidade infantil que pelo visto já havia sofrido todos os tipos de torturas possíveis. Definitivamente estava no pior dos infernos, mas a tendência era piorar.
— Queria tanto o seu abraço agora Michael — murmurei me ajeitando na cama quando a porta outra vez se abriu.
— São três quartos conjuntos com espaço para até seis garotas em cada, e tem esse que é exclusivo — disse uma voz masculina que eu ainda não conhecia. — Os turnos são trocados a cada doze horas, elas não ficam aqui mais do que uma semana, o giro é rápido.
Eu me encolhi respirando descompassadamente, não sabia o que esperar daquela visita. Eu nunca sabia.
— Essa aqui é a encomenda especial.
— Uma encomenda valiosa em um lugar mofado com pouca ventilação. Está horrível, parece doente, o cliente refugará, querem botar tudo a perder?
Ao ouvir aquela voz, o termo "encomenda especial" nem fez diferença. Eu pensei que tivesse presenciado ali tudo de mais ruim que existia na face da terra, mas nunca, nem de longe, passou pela minha cabeça que ele poderia estar envolvido naquela sujeirada toda.
— Isso aqui não é hotel, ela está alimentada, toma banho todo dia, permanece intocada, o que é um verdadeiro milagre nessa ala.
— O cliente é exigente, investe alto nas preciosas e troca com frequência, não podemos vacilar, é uma mina de ouro.
— Quero ver onde arrumará preciosas virgens para sua mina de ouro. Elas estão vindo cada vez mais jovens, essa aqui foi um achado.
— Não me botando para cuidar da creche.
— Você é mais doente do que eu pensava — o estranho gargalhou. — Está no lugar certo.
Eu tentei manter a calma, e até consegui por alguns instantes, mas ouvir a voz do Caio tão frio como aqueles outros enviados das trevas, me desmontou por inteira. Que decepção, comecei a chorar desesperadamente, pois agora, sim, eu sabia que estava tudo perdido.
— Por que está chorando, o que fizeram com ela? — Nil veio ao meu socorro e me abraçou.
— O que ele está fazendo? — perguntou Caio indiferente.
— Não é para machucar minha princesa, ela é minha!
— Que diabos está acontecendo aqui? — Caio perguntou irritado.
— Ele é filho de uma das empregadas, cismou com a garota e vive aqui no quarto dizendo que vai se casar com ela. Não regula muito bem.
— Que palhaçada é essa Ruy, se ele faz alguma coisa com ela não terá mais serventia!
— Ei, calma aí, Pitbull, meu departamento é outro, reclame com o capanga lá fora.
— O negócio está fechado cara, nada pode sair errado.
— Ela não vai voltar para seu irmão, relaxa cara!
— Vou relaxar quando destruir o filho preferido do coronel, ele vai pagar por ter me desprezado tanto.
Eles deixaram o cômodo, mas não levaram consigo minha decepção. O Caio que conheci não era aquele ser humano frio e calculista capaz de fazer tamanha monstruosidade, se não tivesse ouvido de sua própria boca jamais acreditaria em algo tão bizarro, mas infelizmente, quanto a fatos, não existem argumentos.
— Não acredito que me enganou desse jeito, Caio — falei em lágrimas.
— Não chora minha princesa — Nil me abraçou. — Minha mãe fez bolo de chocolate, ela diz que não tem tristeza que um bolo recheado não cure. Eu vou buscar para você.
— Eu quero ir embora daqui — falei em desespero.
— Não dá para sair, você não conhece os homens do meu pai, eles vão atrás.
— Tem que haver um jeito de sair, a gente foge e se casa na praia, o que acha? Quero pegar muitas conchinhas coloridas, e...
— Você não enxerga, sua boba, como vai saber que são coloridas — Nil soltou uma risada divertida.
— Estou perdida, não é possível — murmurei desanimada.
O garoto foi atrás do bolo, milagroso, que curava todas as tristezas, e eu desabei em lágrimas que era a única coisa que me restava. Me lembrei de como havia sido feliz antes de pisar em São Paulo, de como minha vida era tranquila e acabou mudando radicalmente.
Pensei em meu irmão e em como deveria estar preocupado comigo; parece até que senti aquele abraço apertado que ele me deu antes de se despedir aquela manhã. Como senti a sua falta! Ele me disse que meu pai me amava, mas pelo visto, nunca saberia a verdade porque agora estava em um cativeiro sabe-se lá em que buraco do mundo.
— Edu, eu não sei aonde você está agora, mas daria qualquer coisa para sentir o calor do seu abraço apertado; o gosto do seu beijo — sentada na cama, murmurei abraçando minhas próprias pernas. — Ah, se você soubesse o quanto eu te amo, o quanto sua presença me faz bem. Se pudesse ter só mais um pouquinho de tempo contigo seria o meu maior presente, mas infelizmente sinto que estou a caminho do fim. Onde quer que esteja, não me esqueça, por favor, eu jamais esquecerei de ti, amor da minha vida. Só lamento que não tenha sabido disso.
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