Capítulo 15 Gêmeos idênticos

Aquela semana passou rápido, e para dizer a verdade, achei muito bom, porque aqueles três marmanjos, super protetores, quase me enlouqueceram com seus cuidados que iam de fofos a exagerados em questão de segundos.

— Preparada para retomar a vida? — perguntou Michael quando saímos rumo a universidade aquela manhã.

— Eu preciso estar, não tenho escolha — respondi ainda insegura.

— Não quero que me esconda nada, entendeu? — recomendou em tom de preocupação. — E por tudo o que é mais sagrado, fique longe da área das piscinas.

— Isso não vai mais acontecer — comentei me recostando no banco pensativa.

Logo que chegamos à universidade fomos direto para a sala do coordenador, que nos aguardava juntamente com a polícia. Fui pega de surpresa e aquela situação me causou uma breve crise de ansiedade. Eu não conseguia lidar com meus traumas e meu irmão já previa que fosse ser assim, então paciente e compreensivo, ficou ao meu lado o tempo todo segurando minha mão. Eu mal consegui responder aos policiais, mas eles só precisavam mesmo era de minha digital para formalizar a queixa, sendo assim, não ficaram ali por muito tempo, e quando finalmente me acalmei as envolvidas no caso foram chamadas para se juntar a nós.

— Já não basta ter sido suspensa por três dias e ter que comparecer na delegacia, ainda temos que sofrer toda essa exposição — reclamou Patrícia.

— O motivo de eu ter chamado vocês aqui, não é para expor ninguém, e sim para conversamos sobre o comportamento de vocês com a aluna Ana Clara — disse o coordenador. — A polícia está cuidando do caso, mas a universidade também tem o dever de impor a ordem.

— E para impor a ordem, vai nos chamar a atenção na frente dela? — questionou Priscila com sua habitual arrogância.

— Que eu saiba o caso continua sob investigação — disse Patrícia, então até que se prove o contrário, somos inocentes.

— Sobre o trabalho da polícia não cabe a universidade opinar, as imagens das câmeras já foram recolhidas e a verdade vai aparecer. Mas diante da situação em que temos testemunhas de que as quatro têm tido um comportamento inaceitável com a aluna, o mínimo que esperamos é um pedido de desculpas.

— Se me recusar a pedir desculpas, vai me colocar de castigo no milho? — debochou Priscila.

— Infelizmente, não podemos obrigar, mas esperamos um ato de bom senso e caráter — respondeu o coordenador. — Aqui não tem crianças, todas respondem por seus próprios atos. E se não conseguem ser humildes o suficiente para admitir seu erro, não é a universidade que obrigará.

— Ótimo, então isso significa que podemos ir? — Patrícia manteve seu tom de arrogância.

— A Ana quer falar alguma coisa? — Perguntou o coordenador.

— Só queria dizer que não acho necessário um pedido de desculpas. Eu sei que se acontecer não é sincero, e de qualquer forma, isso não muda o que me fizeram.

— Ah, que linda, agora vai se fazer de vítima! — Protestou Patrícia. — Nunca havia entrado em uma delegacia e por culpa dessa inútil, eu...

— Eu não vou aceitar que minha irmã seja tratada assim! — Michael interveio.

— Patrícia, ou você respeita a Ana, ou terei que tomar providências! — repreendeu o coordenador.

— Eu não tenho nada a ver com essa história de piscina, se puxaram as câmeras, então sabem que estava no estacionamento naquele horário — justificou.

— Eu estava em sala de aula — justificou Larissa.

— Não vou ficar me justificando, já disse tudo a polícia, e se ficarem me pressionando terão que se ver com meu pai, ele é advogado — ameaçou Priscila.

— Sim, e inclusive ele trabalha para o escritório do meu, que, aliás, não está nem um pouco contente com a situação — afirmou Michael. — Se quiser me intimidar terá que se esforçar mais.

— Essa abusada deu em cima do meu namorado até acabar com um relacionamento de anos, não sou eu que devo desculpas!

— Eu não dei em cima de ninguém, nunca precisei disso — retruquei. — O Eduardo me acolheu desde o primeiro dia porque viu em mim uma pessoa com necessidades especiais, e não uma inútil como você e suas amigas se referem a mim. Ao contrário de vocês, ele me estendeu a mão, me acolheu sem preconceito porque minha necessidade não interfere em nada na vida dele, assim como nas suas ou de qualquer outra pessoa. Eu não acabei com o seu namoro como me acusa, você sim fez isso e sabe onde está o verdadeiro erro, só não consegue admitir.

— Deixe de ser patética, garota!

— Esse é seu problema, se ao invés de ficar me atingindo com essa maldade toda, você tivesse lutado para consertar o que se quebrou, talvez ainda estaria com uma aliança de compromisso no dedo, então se existe uma culpada aqui, não sou eu.

— A conversa já acabou? — perguntou Priscila. — Podemos ir para sala de aula, ou vamos continuar aqui ouvindo lição de moral?

— Não é lição de moral, nem tenho a intenção de diminuir ninguém, isso não faz diferença para mim, aliás, sinto é pena de vocês que se julgam "normais" e me desprezam por ter uma deficiência, mas, se ser normal, significa ter esse tipo de postura, eu prefiro ser diferente pelo resto de minha vida. Tenho tudo o que preciso para ser feliz e não preciso machucar ninguém por isso — desabafei enquanto uma lágrima de alívio descia pelo meu rosto, e por incrível que pareça, ninguém me interrompeu.

— Eu preciso ir para a sala, tenho um trabalho para entregar — disse Larissa.

— Todos estão dispensados, mas saibam que a universidade não vai tolerar qualquer tipo de comportamento preconceituoso sob pena de expulsão! — advertiu o coordenador.

— Eu realmente espero que minha irmã possa estudar em paz a partir de agora — avisou Michael.

— Em nome da instituição, eu peço desculpas, ficaremos de olho para que coisas desse tipo não venham a se repetir.

— Não espero menos que isso.

Michael se manteve muito sério o tempo todo, uma postura rígida que raramente eu presenciava, mas confesso que fiquei muito orgulhosa por sentir o quanto se importava comigo. Pena que não era meu pai ali me defendendo, seria um momento único em minha vida, mas sabia que isso não aconteceria.

— Agora é enfrentar a realidade — comentei.

— Agora é não aceitar esse tipo de comportamento e fazer valer os seus direitos — respondeu Michael quando o professor abriu a porta da sala de aula.

Ao adentrar, fui surpreendida por um silêncio incomum quebrado por uma salva de palmas que me deixou bastante confusa.

— O que foi isso? — perguntei tímida.

— Ana, estamos fazendo um trabalho sobre a lei Maria da Penha. Teremos um debate na próxima aula, inclusive estava passando os materiais ao Eduardo quando você chegou, ele vai te passar certinho, qualquer dúvida pode me chamar — disse o professor.

— Meus parabéns, foi aplaudida em pé — comentou meu parceiro de estudos quando nos dirigíamos aos nossos lugares.

— E, por que isso agora?

— Acho que você se tornou popular depois de tudo o que passou.

Não esperava ser recepcionada daquela maneira, e apesar de não enxergar, a sensação de ter os olhares voltados para mim me deixou um pouco encabulada. Sempre ficava atrapalhada quando sentia estar em evidência, só não foi pior porque me dei por conta de um detalhe em especial que jamais deixaria passar despercebido...

— Você não é o Edu — murmurei caminhando ao seu lado.

— Claro que sou, que doideira é essa agora?

— Não, você não é.

— Sou, sim, e pare de me questionar que vai chamar a atenção do professor.

— Acha que não te reconheço, Caio? — Fiz uma parada brusca.

— Eu sou o Eduardo, e você continua andando.

— O que estão aprontando, e como...

— Nem o professor notou a diferença, como você conseguiu?

— Caramba, vocês são gêmeos! — murmurei surpresa ao me sentar. — Isso explica muita coisa.

— Gêmeos idênticos — respondeu Caio.

— E quando pretendiam me contar?

— É tão natural que pensei que soubesse, mas como descobriu que era eu aqui, e não ele?

— Não preciso dos olhos para reconhecer as pessoas com quem convivo — dei de ombros.

— Isso é incrível, a Patrícia nunca percebeu a diferença, vivia nos confundindo.

— Passou o perfume dele, mas ainda assim, reconheci o jeito de falar, sua voz, que por sinal é muito parecida com a do seu irmão, a não ser pelo leve tom de rouquidão que você tem. Aliás, eu conheço muito bem vocês dois, nem ia adiantar tentar me enganar.

— Me fez lembrar de minha mãe, apesar de não poder nos ver, ela nunca nos confundiu — comentou enquanto colocava uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

Quando Patrícia disse que os confundiu, não passou pela minha cabeça que fosse por conta da aparência e sim pelo efeito da bebida. Incrível como nunca desconfiei de nada, imaginava que talvez o Eduardo fosse mais velho pela maneira como se relacionavam e agora estava verdadeiramente surpresa por serem exatamente iguais.

— Eu enviei o arquivo para seu e-mail, se puder dar uma conferida — disse o professor.

— Eu? — perguntei confusa.

— O Eduardo — respondeu se afastando.

— Caramba, ele realmente não percebeu — levei a mão até a boca abismada.

— São raras as pessoas que percebem — disse ele.

— Como pode se passar pelo seu irmão, isso é errado — eu ri ainda surpresa.

— Já fizemos isso tantas vezes que nem ligo mais.

— Que maluquice, não é possível que ninguém perceba.

— Ana, se contenha, se alguém te escuta seremos descobertos. O Edu teve um compromisso e acabou se atrasando, mas depois do intervalo estará de volta, então temos que ser discretos.

— Você sempre se arriscando pelos outros, não é, não sei porque insiste tanto em manter essa fama de mau quando sabe que não é nada disso.

— Se soubesse os caminhos por onde andei, mudaria de ideia.

— Eu gostaria muito de entender, é sério, queria muito conhecer o outro lado desse bad boy misterioso.

— Não recomendo — disse em um tom divertido.

— Vocês e seus segredos — balancei a cabeça ainda tentando assimilar aquela novidade.

— Então seu pai é advogado, foi por isso que escolheu direito?

— Sim, eu queria que se orgulhasse de mim o suficiente para querer se aproximar — murmurei com lágrimas nos olhos. — Daria tudo para poder sentir o seu abraço, nem que fosse uma única vez.

— Caramba, nem sei o que dizer — Caio apertou minha mão.

— Não precisa dizer nada, se tiver que ser, será.

— É complicado, eu sei a falta que faz uma família.

— Depende do que você considera uma família. Eu, por exemplo, agora além do Michael, também tenho vocês dois — comentei com um sorriso.

— Você foi um anjo que o destino colocou em nosso caminho, Ana. E quanto ao seu pai; eu sei o quão importante é esse encontro na sua vida, mas não viva em função disso, seus planos, suas escolhas. É sério, não fique criando expectativas porque é algo que não depende só de você.

— Eu sei — comentei pensativa.

— A propósito, eu gostei de sua postura e de tudo o que disse às meninas, elas precisavam ouvir umas verdades.

— Como você ficou sabendo?

— A faculdade toda já sabe, não sei se por acidente ou proposital, mas o microfone estava aberto e todos ouviram pelos alto-falantes.

— Ah, que ótimo, agora vão me picar, cozinhar e servir no intervalo, sem fazer nada eu já era perseguida, agora estou perdida!

— Eu duvido que se atrevam a fazer qualquer gracinha, agora a universidade inteira está de olho nelas — disse ele.

Ainda estava anestesiada com aquela novidade, e por incrível que pareça, ninguém percebeu.

— Não está concentrada — observou Caio, quando não respondi uma pergunta sobre algo relacionado ao conteúdo da matéria.

— Eu e o Edu nos beijamos — confessei.

— Hum, e como se sentiu?

— Acho que estou apaixonada pelo seu irmão.

— Acha?

— É que eu nunca me apaixonei, então não sei como é. Você já se apaixonou, me conta como é a sensação.

— Eu não sou a melhor pessoa para te falar sobre isso.

— Você deve ter tido um amor que marcou sua vida.

— Nunca tive sorte com as mulheres, me decepcionei tanto que evito relacionamentos.

— Que triste — murmurei.

— Você e o Edu estão namorando?

— Sinceramente eu não sei, e também não sei se consigo ficar com ele enquanto não se resolver definitivamente com a Patrícia.

— Realmente será um desafio e tanto.

— Depois de deixarem o trabalho em cima da minha mesa podem ir para o intervalo — disse o professor encerrando sua aula.

A movimentação dos alunos se iniciou logo em seguida e eu ainda estava surpresa por não perceberem o irmão trocado.

— Ana, caramba, você arrasou, eu amei tudo o que disse à aquelas abusadas! — ganhei um abraço inesperado de Laura.

— Já estava na hora dela se defender — afirmou Caio.

— Sim, e vou te falar, a Priscila está muito incomodada com vocês, ficou a aula toda encarando os dois e praguejando.

— Deve ser amor reprimido — respondeu Caio.

— Da Priscila eu não duvidaria, mas a Luana é doida para dar uns amassos no seu irmão, que eu sei.

— Que continue tentando — Caio gargalhou enquanto deixávamos a sala de aula.

— O que faremos agora? — perguntei ao gêmeo trocado.

— Vou ver se acho meu irmão, tenho um assunto importante para falar com ele. Me espere na área livre que já te encontro — disse ele se despedindo com um beijo em meu rosto.

— O que deu nele, nunca se despediu de mim assim, o Edu é tão reservado — Laura estranhou sua postura, o que me fez entender que também ganhou um beijo inesperado.

— As pessoas mudam — dei de ombros. — Vai entender!

Laura era uma garota muito atenciosa, minha única amiga do sexo feminino naquele lugar. As outras garotas conversavam comigo, mas não era a mesma coisa, elas me viam como diferente, e eu queria ser tratada como igual.

— Estou muito feliz por te ver reagindo, e não se cale mais diante do preconceito — disse ela quando acessamos a área livre.

— Não entendo como as pessoas podem se incomodar tanto com algo que não as afeta — comentei.

— É exatamente isso que eu penso — concordou. — A sociedade tem horas que é muito hipócrita. Lógico que não são todos, mas existem algumas pessoas que deveriam ser estudadas.

— Você é minha única amiga aqui, ou me tratam como doente, ou me ignoram. Mas, sinceramente, não me importo, nunca fui de muitos amigos mesmo — dei de ombros.

— Quando eu parei de me importar com o julgamento alheio, descobri que a vida não precisava ser tão complicada — murmurou reflexiva.

— Você está aqui, eu te procurei no refeitório, e...

— Ué, Edu, está ruim da cabeça? — perguntou Laura.

— Eu, mas por quê?

— Acabou de falar para a menina te esperar aqui.

— Eu falei mesmo, mas esqueci, é muita coisa na cabeça.

— Encontrou o Caio? — perguntou ela.

— Ele está me procurando?

— Eu, hein, parece até que foi abduzido — disse ela com estranheza. — Mas tudo bem, eu vou até a biblioteca, vejo vocês depois.

— Beleza — respondi tentando segurar o riso.

— E aí, do que estávamos falando mesmo? — Eduardo segurou a minha mão.

— Não sei, me sinto como se não te encontrasse desde ontem.

— Exagerada, não tem dez minutos que nos vimos.

— É mesmo, pois para mim parece que foi ontem — respondi sentindo o rosto esquentar com aquela aproximação.

— Eu juro que tento, mas é mais forte do que eu — murmurou me puxando para um abraço apertando que terminou em um beijo prolongado.

— Edu, aqui não — me afastei preocupada.

— Então vamos para um lugar reservado porque quero muito beijar essa boca — sussurrou em meu ouvido.

Se dissesse que não curti sua atitude, estaria mentindo, era bom demais me sentir querida, desejada como uma garota normal. Isso era totalmente novo para mim, mas sabia que precisava manter os dois pés firmes no chão...

— Então era isso, Eduardo, você jogou fora um relacionamento de anos para ficar com essa daí? — disse a última voz no mundo que eu gostaria de ouvir naquele momento.

— Patrícia, não provoque uma situação que vai te complicar, já está encrencada o suficiente — respondeu ele.

— Você sabe que me ama, Edu, estamos esperando um filho, não pode ignorar essa realidade.

— Era atenção que você queria, então meus parabéns estão todos olhando — respondeu irritado.

Não precisei enxergar para perceber os burburinhos a nossa volta. É incrível como o ser humano curte uma confusão.

— Não comece uma guerra que não tem armas o suficiente para ganhar — disse Eduardo.

— Isso é o que veremos! — retrucou.

— Isso é perda de tempo — Eduardo me puxou para sair dali, mas ela foi mais rápida.

— Então é isso, Eduardo! — perguntou ela em alto e bom-tom. — Foi só descobrir que estou grávida, já me trocou por essa desclassificada!

— Ficou maluca! — Me virei rapidamente.

— Isso mesmo, olhem para a cara de sonsa dela! — Patrícia continuou sua provocação. — Essa piranha acabou com meu relacionamento. Eu quero ver se as lindinhas que estão me julgando teriam a mesma postura se ela pulasse na cama do namorado de vocês!

— Eu não me joguei na cama de ninguém, sua surtada! — Gritei envergonhada.

— Chega de show, Patrícia! — exigiu Eduardo.

— Eu estou grávida e essa oportunista acabou com meu namoro, destruiu os planos de uma vida e meu desespero porque vou criar uma criança sem pai, sem um lar estruturado é um show?

— Já falei para parar Patrícia!

— É isso aí, pode ficar feliz, porque você, sua piranha, destruiu a minha vida, mas não se esqueça de que o seu lugar de vadia reserva está livre. E assim que ele conseguir o que quer como fez comigo; vai meter o pé na sua bunda e arrumar outra otária para deitar na cama dele!

— Caramba, hein, Ana, como a gente se engana com as pessoas! — acusou uma voz feminina, que iniciou um bochicho coletivo me causando constrangimento.

— Mas, eu não fiz nada! — falei inconformada.

— Eu vou tirar você daqui — disse Eduardo me levando pela mão.

É lamentável a postura do ser humano que se acha no direito de julgar o outro. Bastou a Patrícia protagonizar aquela cena da grávida abandonada, que toda e perseguição que sofri, o meu "acidente" da piscina, e tudo o que passei, deixou de ter importância e agora era apontada como o pivô da separação do casal.

— Eu não acredito que estou passando por isso! — protestei em lágrimas quando entramos na sala especial.

— Eu sinto muito, Ana, é tudo culpa minha.

— Entende agora porque não podemos ficar juntos?

— Sei que está estressante essa situação, mas vou resolver o mais rápido possível — Eduardo me puxou para um abraço apertado. — Eu não quero que se afaste de mim, não agora que estávamos nos entendendo, isso não é justo.

— Ela nunca vai nos deixar em paz, e agora ainda tem essa criança.

— Por favor, Ana, não coloque meu filho nessa discussão — disse ele encostando sua testa na minha.

Ele tinha razão, por mais que eu estivesse chateada, não justificava envolver o inocente no meio daquela tempestade.

— Me desculpe — respirei profundamente. — Não sei se quero me envolver em uma relação que já começa tumultuada assim.

— Isso é tudo o que não queria ouvir, mas te entendo perfeitamente.

Quando ele se afastou, fui envolvida por uma sensação estranha, um vazio ruim que me fez titubear...

— Volta aqui — pedi e ele prontamente atendeu. — Me beije uma última vez.

— Não faz isso comigo, Ana.

Não sei porque fiz aquilo, poderia ser um tiro no pé, mas eu quis, e confesso que depois daquele beijo tão intenso que ele me ofereceu, quase mudei de ideia.

— Vou ter que ser mais enérgico com a Patrícia, ela não pode continuar com essa postura — disse ele. — Talvez seja o caso de entrar com uma medida protetiva contra ela e suas amigas.

— Não, Edu, eu já te disse várias que não quero isso — balancei a cabeça em negação.

— Cara, é complicado, eu tenho meios de afastá-las, mas você não deixa. Assim fica difícil, Ana.

— Vou acabar trancando o curso, estou muito desanimada, não tenho psicológico para continuar.

— Não pode estar falando sério.

— Estou, sim, e até que você se resolva com ela, não vai rolar mais nada entre nós.

Pena que meu coração não concordava com o que a boca dizia.

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