Capítulo 12 Confusão de sentimentos

Quando deixamos o hospital, eu estava bastante sonolenta devido à medicação, mas, isso não me impediu de notar a inquietude do Eduardo, que ao entrar no carro, deu um suspiro profundo antes de mergulhar no mais completo silêncio. Tentei puxar algum tipo de assunto, mas diante de suas respostas curtas, achei melhor me calar. Talvez não quisesse me incomodar, mas minha intuição dizia que estava mesmo era incomodado com o fato do rapaz me beijado na piscina.

Lutei contra o sono, mas acabei por vencida e de repente estava em uma roda de pessoas que me chamavam de cega inútil e outras ofensas mais pesadas. Foi horrível, riam e me empurravam de um lado para o outro, e quando finalmente consegui escapar, já estava em uma completa escuridão com muitas vozes sussurrando ao meu redor...

— Socorro! — gritava, mas a voz não saía, era como se estivesse presa em meu próprio corpo. — Me ajuda!

Eu caí de novo naquela água profunda, só que dessa vez, ninguém veio ao meu socorro, lutava sozinha pela vida enquanto me batia, gritava e sufocava pouco a pouco me afundando até que ouvi uma voz distante chamando meu nome.

— Ana... Ana, se acalme, estava sonhando — disse Eduardo me abraçando apertado.

— Não quero mais isso, Edu, preciso de paz!

— Está segura aqui, meu anjo, não vou te deixar sozinha.

— Onde estou?

— Em minha casa, você dormiu e eu te coloquei na cama — disse sereno. — Desse quarto consigo ficar de olho enquanto você descansa, mas acho que agitada assim fica difícil.

— Eu fui arrastada até a escuridão — tentei explicar em meio ao nervosismo. — Havia vozes sussurrando, me amedrontaram, deram choque em mim, me bateram. Pareciam se divertir com meu medo, e quando ouvi o barulho do chuveiro eu gritei, corri sem rumo e tropecei. Foi horrível.

— Eu sabia que tinha coisa errada, essa história estava muito confusa, explica direito.

— Não foi sonho, nem delírio, isso foi o que aconteceu comigo — confirmei enquanto tentava me acalmar.

— Ana, isso é muito sério, temos que tomar providências, os responsáveis não podem ficar impunes — disse impaciente.

— E se a Patrícia estiver envolvida?

— Que arque com as consequências, ela não é criança e sabe muito bem o que faz.

— Não quero me envolver em mais encrencas, já ficou claro que não dou conta de me defender sozinha, e...

— Não, Ana, dessa vez não vou compactuar com isso — disse irredutível.

— Eu poderia ter morrido naquela piscina, Edu, não consigo ficar tranquila, tenho pesadelos até mesmo acordada, não preciso disso para minha vida.

— Mesmo que isso signifique um afastamento entre nós dois, sinto informar que não vou deixar esse crime ser tratado como um acidente — afirmou decidido.

— Você quer se afastar de mim, Eduardo?

— Muito pelo contrário, eu quero poder estar contigo o máximo de tempo possível porque sua presença me faz muito bem. Mas entenda, não posso ver essas coisas acontecendo e cruzar os braços.

— Por que se importa tanto comigo, Edu?

— Porque você representa muito para mim — acariciou meu rosto com a mão. — Eu quero namorar contigo, te assumir de verdade.

Por que será que uma frase tão curta causa um efeito tão grande nas pessoas? Senti um frio imenso atingir meu estômago, coração disparou, raciocínio até falhou enquanto tentava assimilar o que acabara de ouvir.

— Você... eu... Isso é sério Edu?

— Eu não sou um adolescente de quinze anos que se apaixona três vezes por semana, sou um homem maduro que a muito tempo não sabia o que é sentir essa necessidade de estar perto de uma mulher, então, isso é muito sério. Você aceita namorar comigo?

Era a primeira vez que um rapaz se interessava por mim de verdade e me pedia em namoro. Me senti perdida, não é como se isso nunca fosse acontecer, mas não estava preparada para um pedido assim do nada vindo de uma pessoa como ele. Se eu respondi? Não, eu não respondi, porque o clima foi totalmente quebrado por uma discussão bastante acalorada que ecoou do lado de fora daquele cômodo.

— E lá vamos nós outra vez! Garota me erra, eu suportei a sua presença aqui pelo meu irmão, você só tinha que manter distância da minha pessoa, não era uma tarefa difícil, mas faz questão de me infernizar!

— Caio acorda, se você ficar com ela, todos sairemos ganhando, eu só quero meu namoro de volta. E negue o quanto quiser, mas está caidinho por aquela garota!

— Eu não vou seduzir a garota para satisfazer o seu ego, pode esquecer — respondeu irritado. — Não gosto de você, não vou fazer qualquer tipo de acordo sujo, e não pense que o que fizeram vai ficar impune porque não vai!

— Caio entenda, eu não tive nada a ver com isso, mas que droga! — gritou ela. — Está todo mundo enfeitiçado por essa menina!

— Que deprimente, é tão insegura em relação a si mesma que persegue a garota desde o primeiro dia sem ela ter feito nada. Isso é digno de pena, sabia?

— Não preciso da sua pena, idiota!

— Você precisa é de um álibi, não é mesmo? — acusou em um tom sarcástico. — A polícia vai querer saber aonde esteve no momento em que a Ana caiu na piscina, já que na sala de aula você não estava.

— Você não vai lá? — perguntei ao Edu, que permanecia sentado na cama pensativo.

— Eu só quero ver como essa conversa termina — disse ele em um tom ligeiramente rude.

— Eu estava no estacionamento com um amigo.

— Que amigo?

— Não é da sua conta, idiota!

— Dane-se, não é para mim que precisa se explicar.

— Com toda a certeza não, mas o Edu vai pensar que tive algo a ver com isso. Eu sequer sei onde ele está e com certeza você não vai me dizer.

— Grudado em mim é que não está, então, faz um favor para nós dois e volta pelo mesmo caminho que te trouxe porque tenho mais o que fazer, e não vou ficar perdendo meu tempo com essa ladainha.

— Caio, eu sei que deve ser um sacrifício ficar com ela, mas preciso de sua ajuda, você só tem que dar uns amassos, deixar a cega apaixonada e pronto, não precisa namorar. Quero essa garota fora da vida do seu irmão, construiremos uma vida juntos e com ela por perto não dá.

— Que desespero, hein, Patrícia, quem diria! — Caio gargalhou. — Não se garante, está com medo de perder para ela?

— Parece que quem não se garante aqui é você que não consegue conquistar uma cega que não sabe sequer o que é estar com um homem!

— Eu não me garanto? — Caio sorriu debochado.

— Faz tanto tempo assim que não encosta numa mulher que se esqueceu como se faz?

A discussão só foi descendo o nível, e temendo uma explosão pela parte de Eduardo, eu segurei em sua mão trêmula na tentativa de acalmá-lo...

— Por favor, não faça nada no calor da emoção — pedi em um murmúrio desesperado.

— Estou tentando — ele respondeu apertando firme a minha mão.

Enquanto isso, do lado de fora a discussão seguia acalorada...

— Eu te pegaria de jeito agora mesmo, rasgaria sua roupa, sem cerimônia, e te jogaria naquele sofá de onde não sairia tão cedo. Mas para sua tristeza, você não faz meu tipo, o coleguinha aqui de baixo é exigente e merece coisa melhor.

— Nem é tudo isso, e não tenho interesse, seu idiota!

— Agora não tem não é, mas quando se aproximou do meu irmão para ter acesso a mim, não pensou duas vezes!

— Deixa de ser convencido, Caio!

— Convencido, eu? — Caio gargalhou. — Você acabou com o lance que eu tinha com a Vanessa, garota!

— Você nem a amava, imbecil, nunca leva ninguém a sério.

— Eu tinha um lance legal com ela, você fez de tudo para nos separar, e quando não conseguiu, se aproximou do meu irmão para infernizar a minha vida!

— Eu me apaixonei por ele, seu mentiroso!

— Isso foi antes ou depois daquele carnaval em Angra dos Reis?

— Você nem sabe do que está falando, estava bêbado!

— Quer mesmo jogar toda essa porra no ventilador, Patrícia?

— Que merda é essa! — Eduardo se levantou, mas não saiu do quarto.

— Caio, isso já faz tanto tempo, não seja idiota. A felicidade do seu irmão que você tanto protege está em suas mãos, e...

— E você é a felicidade dele, uma mulher baixa e sem escrúpulos, capaz de passar por cima de qualquer pessoa para satisfazer os seus caprichos?

— Eu te confundi com ele, seu animal!

— Dissimulada, seu desespero não me comove, e tome cuidado com seu preconceito em relação à garota porque o processo vem.

— Dane-se, não estou nem aí para ela, meu problema é contigo. Não invente coisas para me prejudicar, eu também bebi aquela noite, e...

— Te prejudicar, sua pilantra? — disse risonho, mas não sem demonstrar o alto nível de seu nervosismo. — Você me prejudicou quando entrou naquele box comigo, aliás, na minha vida. Já realizou teu sonho de sentar nesse corpinho, agora some da minha frente e me deixe em paz!

— Eu já disse que te confundi com ele, estava escuro e você bem que gostou!

— Eu sequer me lembro do que aconteceu, caso contrário, teria te botado para correr. Nunca encostaria na namorada do meu irmão mesmo estando brigado com ele.

— Você ficou bem animadinho, aliás, tenho que admitir que é muito bom de cama. Tão bom quanto seu irmão, só é uma pena que não tenha a mente aberta.

— Eu tenho a mente aberta, só não tenho estômago para uma garota feito você!

— Agora desdenha, mas aquela noite estava bem safado e...

— E nada! Posso ter todos os defeitos do mundo, mas jamais transaria com a namorada do meu irmão. Se isso aconteceu, foi por armação sua, e devido a essa sujeira toda, eu passei dois anos sem conseguir olhar para ele. Até hoje me sinto mal por isso, e sequer tive culpa! Tenho nojo de você, Patrícia!

— Eu confundi vocês dois! — gritou ela em desespero.

— Sai da minha frente garota, não me faça perder a paciência!

— Eu amo o Eduardo, fizemos planos para uma vida junto...

— Que tipo de vida meu irmão teria com uma louca descontrolada que ataca garotas inocentes por ciúme?

— O trote eu assumo, mas sobre a piscina não tenho nada a ver com isso. Eu juro Caio, me ajude a reconquistar seu irmão, eu não posso ficar sem ele!

— Desista, Patrícia, eu jamais me uniria a você para qualquer coisa que fosse, odeio coisa errada e ao que me consta; meu irmão estava infeliz nesse relacionamento.

— Teu irmão me ama, idiota, vamos jantar juntos hoje e...

— Eu não vou jantar contigo hoje, Patrícia — disse Eduardo abrindo a porta do quarto.

"Que essa confusão não se torne maior do que já está", pedi em pensamento.

Meu coração acelerou as batidas quando Eduardo deixou o quarto, e pelo pouco que já havia presenciado, coisa boa não viria pela frente.

— Edu, meu amor, você estava aqui? Não me olhe assim, vida, eu posso...

— Eu ouvi tudo, Patrícia. Não sabe a raiva que estou sentindo por ter sido tão cego.

— Você sabia, e por isso armou esse circo, não é Caio? — questionou com cinismo. — Tramou com ela contra mim, como pôde fazer isso?

— Ah, com toda a certeza, eu armei tudo para me ferrar mais uma vez — respondeu Caio como sempre sarcástico. — Toquei em minha própria ferida porque aqui na minha testa está escrito "otário" em letras garrafais!

— Edu, não dê ouvidos a ele, eu posso explicar...

— Com ele converso depois, e você, Patrícia, se retire da minha casa, por favor.

— Eu não vou embora!

— Preciso trabalhar, estarei no escritório caso queira falar comigo. E se for possível, não quebrem nada — avisou Caio.

Confesso que a atitude do Caio me trouxe um pouco de alívio, os ânimos estavam alterados demais para que os três pudessem permanecer no mesmo ambiente sem que aquilo virasse um verdadeiro desastre.

— Edu, por favor, me escuta...

— Escutar o quê? — perguntou ele. — Que você me usou para se aproximar do meu irmão, inferno!

— Conheci o Caio no reveillon em Búzios, e...

— Não encosta em mim!

— Eu te amo, vida, me deixe explicar, por favor!

— Eu não quero saber, Patrícia, já ouvi o suficiente. Vá embora antes que eu perca a cabeça.

A voz entrecortada de Eduardo, me fez muito querer fugir dali com ele para outro lugar onde nos abraçaríamos e eu diria que ficará tudo bem. Pena que isso só aconteceria apenas em minha cabeça.

— É verdade que aproximei de você pelo Caio, era imatura demais, não pensava para fazer as coisas — admitiu aos prantos. — Naquele carnaval acabei perdendo a cabeça, mas foi a primeira e única vez, nunca mais me aproximei dele, eu juro!

— Não faz diferença, Patrícia, eu sempre fui fiel e você me traiu com meu próprio irmão, porra!

— Eu errei, admito minha culpa, se pudesse voltar ao passado nunca teria entrado naquele quarto, mas não tenho como mudar isso, Eduardo, faço qualquer coisa para ter o seu perdão, não me olhe assim!

— Já falei para não encostar em mim!

Eu não conhecia a dor de uma traição, mas ao notar o desespero no tom de voz do Eduardo, foi inevitável segurar as lágrimas. Era como se aquela dor transpassasse em mim, decepção, impotência, raiva. Mesmo não mais existindo um relacionamento entre eles, aquela bomba o afetou ao nível extremo, e ela não parava de falar, não parava de se explicar, deixando o clima cada vez pior.

— Você está assim por causa dela, está iludido por que se espelha na história do seu pai, mas não é a mesma coisa. Nunca será, e sabe disso. Eduardo, me ouça, é normal se sentir atraído por uma garota que acabou de chegar, mas isso que está vivendo é uma ilusão!

— Não seja estúpida, eu sempre te respeitei, honrei nosso compromisso, fiz o que estava ao meu alcance para firmarmos bem porque realmente planejei uma vida contigo. Cara, que raiva, sempre fui transparente e você mentindo descaradamente, vá embora da minha casa, por favor, não quero te tirar daqui à força.

— Me tirar à força — disse entre risos. — Qual é Eduardo, está fazendo tempestade em copo d'água, mas sei que me ama, essa mágoa vai passar e poderemos nos entender. Nosso apartamento fica pronto daqui a uns meses, vamos nos casar e sei que...

— O apartamento no condomínio de luxo que investi todas a minhas economias e contraí uma dívida gigantesca porque "você", não queria morar em um condomínio de classe média. Pois é, eu fazia todas as suas vontades, mesmo sendo absurdas, mas acabou, arrume outro trouxa para bancar seus caprichos, porque esse aqui está caindo fora.

— Eu nunca precisei de homem para me bancar, a minha família é muito bem sucedida e sabe disso. Se estou aqui me humilhando, é porque te amo e sei que também me ama, então pare de bobagens e vamos nos entender.

— Bobagens? — respondeu de forma ríspida. — Tire as mãos de mim, não sou seu brinquedo. Cansei de ser educado Patrícia, os últimos meses ao seu lado foram um inferno, já não suportava mais suas chantagens, você é extremamente tóxica e arrogante, suas amigas são insuportáveis. E não ria da minha cara porque sabe que elas pegam no meu pé, mas adorariam estar em seu lugar por uma noite. Esse namoro nunca viraria um casamento porque você fez questão de estragar tudo, e agora ainda descubro que transou com meu irmão! Saia daqui Patrícia, ou não respondo por mim!

— Não tem escolha, vai ter que me aturar porque estou grávida!

— Você o quê?

— Isso mesmo que você ouviu, estou esperando um filho seu!

— Que filho, ficou louca!

— O teste de farmácia deu positivo, veja com os próprios olhos.

— Isso não pode ser — murmurou confuso.

— Farei o exame laboratorial amanhã, mas será apenas para não restar dúvidas. Estou atrasada há dois meses, meus parabéns, papai!

Fechada naquele quarto, eu acompanhei toda a discussão com lágrimas nos olhos. Aquela garota era bem pior do que eu pensava, e apesar dele explodir botando para fora tudo o sentia; ela ainda conseguiu virar o jogo.

— Grávida? Não faz sentido, usamos camisinha, e você...

— Pode ter furado, e eu parei o...

— Você parou o anticoncepcional sem falar comigo, Patrícia, o que tem na cabeça?

— Eu parei, e se você pensar em me largar, eu juro que aborto essa criança!

— Faz isso e te meto na cadeia!

— Meu corpo, minhas regras, Eduardo, não vou criar filho sozinha!

— Aonde você vai, Patrícia, volta aqui!

— Vou te mandar a localização do restaurante, vai bem cheiroso e descansado porque a noite será longa.

— Eu não vou a jantar algum, e você não sai daqui enquanto não me explicar essa história direito!

— Explicar o quê? Que transamos naquele motel que adora, e que agora tem um filho seu em meu ventre? Assim que sair o resultado faço questão de comprar um sapatinho e mandar a foto para seu pai, ele amará saber que será avô.

— Não acredito que está se divertindo com isso — murmurou transtornado.

— Não era seu sonho? — aquela pergunta saiu mais como uma provocação. — Já posso imaginar um menino de cabelos dourados e olhos azuis como o pai. Ou quem sabe serão dois, afinal, existe uma grande possibilidade, não é mesmo?

— Como pode ser tão dissimulada — murmurei enraivecida.

— Me recuso a acreditar que tenha feito isso de propósito, Patrícia, seria muita sacanagem da sua parte. Você é pior do que eu pensava, sua criminosa!

— Cansei de conversar, já vivi emoção demais para um dia e não faz bem para o bebê, então, não se esqueça do nosso jantar de hoje a noite papai.

— Já disse que não vou jantar contigo hoje, só me procure quando estiver com o resultado em mãos para...

— Se não aparecer para jantar comigo, Eduardo, diga adeus a essa criança.

— Mas que inferno! — gritou ele enquanto alguma coisa se espatifava contra a parede.

Me levantei com bastante dificuldade e fui tateando até encontrar o caminho até a porta, mas quando ganhei o corredor, só encontrei o silêncio naquela sala...

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