No flagra

- Helena?! – a voz parecia longe.

Ela massageou as têmporas que latejavam e se forçou a abrir os olhos. Quando se deu conta que havia cochilado, sentou-se de supetão, espanando as mãos na roupa para tirar as palhas.

- Ai meu Deus! Eu...- começou a balbuciar. Max estava atrás dela trabalhando no buraco na parede. Ele utilizava o ferro solto para impulsionar a retirada do outro.

- É, você acabou dormindo.

Ela se levantou. O sono que antes fazia morada em seu corpo já tinha se mudado pra longe, dando lugar à fraqueza e a fome.

- Eles...apareceram? – Indagou, com receio de ter cochilado por muito tempo. Helena foi até a grades, engolindo em seco o gosto ruim que de repente se instalara em sua boca.

- Ainda não, gatinha. Mas já devem descer. – Max murmurou sem tirar os olhos da atividade que realizava. Estava tão concentrado que exalava um ar diferente. Ela o estudou com as sobrancelhas unidas.

- Por que está tão... animado? – Helena indagou enquanto se abanava. Um suor frio descendo pela espinha.

- Porque vamos fugir. – Ele parou o serviço para olhá-la. Mas assim a encarou toda animação desapareceu. – Você está pálida, Helena. Se sente bem?

-Não... Estou com fome, sede, calor e dor. – Ela resumiu o misto de sensações ruins. E assim que terminou de falar, o gosto estranho voltara, revirando seu estômago – E hum... Acho que estou enjoada.

- É comum sentir essas coisas quando se fica muito tempo sem comer.

Helena escutou seu comentário com o cenho franzido. Como ele poderia saber daquilo? Ela até pensou em perguntar, mas o enjoo que apertava as suas entranhas fez a curiosidade se esvair.

- Aí não... – Helena segurou a ânsia de vomito com uma mão na barriga e outra na boca.

- O que...

Ela correu para o cubículo que eles chamavam de banheiro, vomitando um líquido amarelo e gosmento. Max já estava ao lado dela, segurando os longos cabelos negros.

- Melhor? – Ele perguntou, levando o verso da mão direita na testa dela. Helena meneou a cabeça, tentando respirar. O cheiro pungente e azedo voltou ao seu rosto, lhe dando ainda mais enjoo. Ela baixou a cabeça, vomitando mais uma porção do líquido estomacal.

- Tenho que... sair daqui. – Ela murmurou pra Max, que prontamente a ajudou se levantar. Ele a fitava preocupado.

- Acho que está ficando desidrata. Quando foi a última vez que comeu e bebeu água?

- Não sei... Talvez ontem, no almoço? – Helena se perguntou. Os olhos verdes de Max se arregalaram – Mas não se preocupe, acho que agora vou ficar melhor.

- Helena... – Ele sibilou em desagrado. Ela deu um sorriso trêmulo e mudou de assunto:

– Como está indo a sua atividade? – perguntou. Max a encarou, ciente da evasão dela.

- Lenta. - Ele ajudou Helena a se sentar e tirou os fios de cabelo do rosto dela, dando-lhe um beijo na testa.

Um tilintar de chaves os alarmou, indicando que alguém descia para vê-los. Helena ergueu os olhos para Max, balançando a cabeça na direção ao buraco na parede. Ele assentiu, confirmando através de um gesto que as grades estavam no lugar. 

Os passos estavam mais perto, e pelo barulho, mais de uma pessoa vinha.

Helena mordeu os lábios, tentando se preparar para o pior. Afinal, eles não tinha a senha, e acabaram desperdiçando o tempo que tinham para conseguir a liberação da rota de fuga, tirando a outra grade do buraco.

Agora sentado ao seu lado, Max engoliu em seco, mostrando seu primeiro vestígio de receio. Ela apertou os olhos. Nem queria ver o que Carlos faria...

- Como estão? – A voz feminina chegou antes, logo dando lugar ao visual formal e arrumado de Gabriela, que era acompanhada pelo homem barbudo.

- Você quer escutar a resposta verdadeira? – A pergunta de Max saiu carregada de raiva.- Helena está passando mal.

Gabriela colocou no chão uma bandeja com pães e água sem sequer olhar na direção deles. O barbudo destravou o revólver, mirando na direção de Max, que pouco se importou.

- Estou vendo que vocês não tocaram no outro pão, mas ainda assim eu trouxe mais, como uma oferta de...paz. Apesar de que meu colega aqui disse que vocês não estão se comportando bem.

- Era pra gente agradecer? – Max perguntou, indiferente.

- Era sim. Porque se fosse por mim, vocês não teriam nada. – O homem barbudo ralhou. Max lhe devolveu um olhar nada amistoso.

- Max... por favor. Se nos der o que precisamos, os libertaremos. – Gabriela suplicou, desviando os olhos para Helena.

- O que você é agora, Gabriela? Assistente de um criminoso? – Helena perguntou, com os olhos carregados de raiva e o coração de esperança. Ela queria, queria muito acreditar no melhor. Mas precisava admitir, Gabriela ou sei lá quem fosse agora, não estava cooperando.

Sem responder, Gabriela suspirou fundo e girou nos calcanhares, caminhando pra longe dali. O homem que a acompanhava lançou um olhar de aviso a Max, e se retirou.

Max passou a mão na cabeça, despenteando os cabelos.

- O que está acontecendo, meu Deus... – Ele comentou, absorto em pensamentos. Helena deu de ombros. Estava cada vez mais convencida de que era melhor não entender.

Max meneou a cabeça e pegou a bandeja, colocando-a na frente de Helena.

- É melhor você comer... Temos que sair logo daqui. – Ele repassou um pão pra ela. - Não jogue a nossa água fora dessa vez.

- E você?

- Já vou comer.

Helena não fez cerimônia alguma, abocanhando o pão numa grande mordida. O gosto gorduroso da manteiga barata se espalhou por sua língua, se misturando ao sabor da mortadela. Ela suspirou, confundida pelo alívio e êxtase daquele momento.

Mal engolindo, se preparou para outra mordida. Mas assim que mastigou, algo feito papel se colou no céu da boca. Ela parou imediatamente, levando uma mão à boca para tentar evitar que uma ânsia a fizesse vomitar ali.

Max, que dividia sua tarefa entre tomar conta dela e voltar ao trabalho da grade, se ajoelhou ao lado para ajudar.

- Está engasgada? Cospe!

Ela também acho que estava engasgada, mas não era isso. Helena inspirou fundo e abriu o pão com receio do que teria ali dentro. Por favor, que não seja um bicho.

Helena apertou os olhos quando viu um pedaço de papel. Max franziu o cenho, tirando com cuidado o que parecia ser um bilhete de dentro do pão. Ele tirou o excesso de manteiga e estendeu o papel na frente dos dois.

Leandro achou o bilhete que Helena deixou no carro e acionou a polícia. Preocupado, Carlos foi para a Velax a fim de manter a normalidade, mas logo deverá retornar.

Max, por favor, diga logo a senha.

Helena, me perdoe.

Gabriela

Um alívio brincou no íntimo de Helena ao observar que a amiga ainda se preocupava com eles, apesar de estar envolvida naquela falcatrua. Max, no entanto, não estava nada aliviado.

- Que bilhete é esse que Leandro encontrou? – Ele indagou a Helena, depois de amassar a mensagem de Gabriela e jogá-la na direção do banheiro.

- Antes de sermos sequestrados, eu deixei um bilhete no meu carro, relatando que se acontecesse algo comigo deveriam buscar ajuda.

- Isso é bom, gatinha. – ele tentou soar feliz, apesar da alegria não ter chegado aos olhos.

– Então por que parece que não é?

- Porque quando o roubo começou, me foi deixado claro que a polícia não poderia se envolver.– Ele se levantou, indo de um lado ao outro na cela. – Então isso pode deixar Carlos mais irritado... Temos que sair daqui. - repetiu com mais urgência. 

Helena concordou e voltou a comer assim que se certificou de que não havia mais nenhuma surpresa no pão. Max ainda caminhava na cela, perturbado. 

- Max, você também precisa comer.

- Não, eu preciso nos tirar daqui. – ele voltou para o buraco de grades novamente. Helena levantou e foi até ele, colocando a mão em seu ombro.

- Max, por favor. Se você também passar mal, não sairemos daqui. – Ele parou por um instante, parecendo avaliar as possibilidades. Então desceu da pequena leiteira e assentiu. – Vou tentar ajudar enquanto você come.

Max a olhou com descrença, mas Helena estava determinada. Talvez o que precisassem para que a outra grade saísse fosse peso. Então, como da primeira vez, ela se pendurou e fez força para baixo com o corpo.

Mas nada.

Helena continuou, forçando o ferro inutilmente para baixo. Então teve uma ideia. Segurando o ferro preso com as mãos, ela colocou os dois pés contra a parede, fazendo mais força.

A grade deu um estampido alto, se soltando. Pego de surpresa dessa vez, Max não pode ajudar. O único barulho que ressoou brevemente foi o do corpo de Helena batendo contra o chão. As costelas dela queimaram com o contado. Mas, ela não gritou.

- Merda Helena! Que se matar? Tiro os olhos de você por um segundo e já faz besteira... – Max já em cima dela.

- Max...

– Se machucou? Está sangrando? – ele tateava o corpo dela à procura de ferimentos.

Helena o parou, um grande sorriso se formando nos lábios. Ela ergueu a mão direita, expondo a grade que segurava firmemente. 

Meu Deus.

Helena tinha conseguido. Ele iriam fugir.

- Max, eu consegui! – Ela exclamou, jogando a grade pra cima. Ele piscou, sem crer no que via.

- Conseguimos! – Max a pegou a no colo, balançando-a num misto de felicidade e êxito. Ele segurou o rosto de Helena entre as mãos e estalou um selinho na boca dela. - Você conseguiu.

Então a beijou. Com ternura, com vontade, com amor. As línguas se envolveram em uma dança sincronizada, feita de liberdade e esperança. Helena se separou, o rosto tomado por lágrimas de pura emoção.

- O que vocês conseguiram?

A voz ecoou dentro da cela deles. Era Carlos... e ele estava bem ali, com Helena na mira de sua pistola. 



Epa epa epa.... O que vocês acham que vem agora?  Eu fico super ansiosa, apesar de ser a autora kkk

O próximo cap vem na segunda, e trará tiros, porrada e bomba. Será que nosso casal saíra ileso? 

Gratidão por acompanharem esses dois, nesta jornada cheia de emoções que acaba de ganhar 2 pódios: 1º lugar na categoria Melhor Sinopse, do Concurso Andrômeda. E 5º lugar em Romance, no Concurso Tweelve Moons.

Meu coração está explodindo de alegria por ver a história de Helena e Max sendo reconhecida!! Sério, gente...mal tenho palavras. 

Dedico essa vitória à vocês, amados leitores. Que Pedaços do Meu Coração esteja conseguindo envolvê-los, como uma deliciosa viagem recheada de sensações. <3 


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