Não me deixe sozinha
- Então, não vão me dizer o que conseguiram? – Carlos indagou, a voz arrastando-se como uma cobra venenosa. Um silêncio sepulcral tomou conta do ambiente. – Estou tentando cooperar...
Ele destravou a arma. Incapaz de sair da mira dele, Helena era uma estátua. As duas mãos erguidas em sinal de rendição.
- Estamos...lembrando de todas as senhas. – Max estava improvisando.
Ela piscou, perplexa com o que acontecia. Carlos não havia visto o buraco na parede sem as grades? Como dizia seu avô, os melhores esconderijos são os lugares mais óbvios, de preferência, debaixo do nariz da pessoa.Tal qual o caminho de fuga deles, em cima da cabeça de Helena.
Carlos devia estar muito distraído, ou pior, extremamente confiante da boa vontade deles.
- Senhas? – O carrasco repetiu a palavra usada no plural.
- Sim, é mais de uma senha. - Max estava com as mãos fechadas em punhos ao lado do corpo - Ou você achou que seria algo fácil, para um filho da puta que nem você chegar e roubar?
Ela esperava que Carlos respondesse Max com a mesma ferocidade. Mas ele não o fez. Surpreendentemente, respondeu:
- Um dia... um dia Max. Espero ter a oportunidade de explicar a você. Isso daqui faz parte de algo grande, e até maior que nossa amizade. - A voz dele era um sibilo baixo. - Eu jamais quis te trair. Estou sendo obrigado a isso.
- Mas traiu. – Max foi incisivo. – E agora eu vou fazer tudo o que tiver ao meu alcance para destruí-lo.
Helena lançou um olhar de aviso a Max. Se ele continuasse a fazer ameaças, a relação com Carlos só pioraria. Ela mordeu os lábios, temendo a próxima reação do carrasco deles, que em resposta nada fez, senão dar de ombros e balançar negativamente a cabeça.
- Me dê as senhas. - exigiu.
- Abaixe a arma, e conversaremos. - Max rebateu.
- Você não esta em posição de fazer exigências, Max! CARALHO, ME DÊ A PORRA DAS SENHAS QUE EU OS DEIXO IR! – Gritou. Helena se encolheu, fechando os olhos com força.
- Se a deixar em paz, eu lhe dou as senhas. – a voz de Max saiu firme e serena.Helena abriu um dos olhos, sem acreditar na calma dele.
Todo seu corpo tremia, e o humor instável de Carlos não ajudava. A cada movimento e fala dele, ela guardava um suspiro no peito. Como se a qualquer segundo fosse ter o crânio perfurado pela bala, com os miolos espalhando-se no chão.
- O que vai ser, Carlos? Quer as senhas? Eu já disse que te dou... só solte a Helena. Não posso me lembrar de todas as senhas se eu estiver preocupado com ela.
A respiração de Carlos estava pesada atrás dela, avaliando as possibilidades. Helena fechou os olhos, rogando uma oração rápida a quem quer que estivesse escutando no céu.
Para o seu alívio, a arma foi travada novamente.
- Vocês terão 20 minutos. Estejam com todas as senhas.
- Senão o quê? – Max indagou. Helena arregalou os olhos. Ele estava ficando louco ou quê?
- Morte. – Carlos disse, sem nenhum peso na voz.
- Você não seria capaz disso... – Helena murmurou como uma súplica, se virando pra Carlos lentamente.
- Eu sou capaz de tudo para proteger a minha família. E se for preciso que eu mate vocês, eu o farei. – Carlos olhou para os dois. – E ela vai primeiro. – apontou para Helena. – Max vai sentir a dor de perder alguém amado enquanto se está impotente.
Quando Carlos se distanciou, subindo o lance de escada para bem longe do calabouço deles, Max abraçou Helena, apertando-a forte contra o peitoral.
- Você queria me matar? – Ela indagou com a voz trêmula. Max riu.
- Não, gatinha. Eu posso não saber o que Carlos está fazendo, mas durante o tempo convivido com ele, o conheci. Sei os comportamentos e atitudes dele. De alguma maneira, ser sereno quando ele está a ponto de explodir, sempre o ajudou a manter o juízo.
Ele beijou o topo da cabeça dela.
- E agora? – Helena ergueu os olhos dentro do abraço dele.
- Vamos ir embora antes que ele volte. – Max a soltou, segurando as mãos dela entre as suas. - Assim que sairmos procuraremos ajuda. E precisa ser rápido, porque esse lugar é muito quente. Saco vazio, ainda mais no sol escaldante, não dura em pé. – Seus olhos suplicantes a observavam. Helena sorriu, um pouco ansiosa com a liberdade. Ele acompanhou seu sorriso e terminou a conversa dos dois com um beijo na testa dela. – Você vai primeiro. Vou te dar impulso para que consiga passar.
- E você?
- Estarei logo atrás.
Ela assentiu enquanto era levada por ele para frente do basculante. Max a pegou nos braços, levantando-a facilmente.
- 1...2...3... – Ele a empurrou.
Helena segurou nas extremidades de cimento do basculante, dando impulso para fora da cela. Ela ainda ficou um pouco estagnada, balançando as pernas no ar a fim de conseguir equilíbrio. Max a empurrou um pouco mais.
Os dedos dela relaram na grama verde, depois apoiando a palma da mão no terro fofo e úmido. Finalmente, liberdade! Ela passou pelo buraco, inspirando o ar livre. O sol a saudou com um beijo morno na pele.
– Helena, está tudo bem? - Max indagou, fazendo-a sair do encantamento. Helena se agachou, recostando o copo na parede de tijolo cru.
- Sim. Vem logo! – cochichou para dentro da cela.
Ela viu Max colocar as mãos na base do basculante, arqueando os antebraços para dar impulso. Os músculos talhados saltaram com o esforço. A boca dele era uma linha fina, os lábios pressionados.
Aquela concentração fora do comum a alarmou. Ela segurou uma das mãos dele e se deslocou para longe da parede para que pudesse puxá-lo. Max fez mais força, arquejando.
- Só preciso me equilibrar em cima dele leiteira e... - Ele parou de repente.
- O que foi?! – Ela indagou temerosa, mas a resposta logo veio.
- Merda! - Max praguejou.
- CARLOSSS! – Uma voz masculina berrou de dentro. – ESTÃO FUGINDO!
Max ergueu os olhos, encontrando Helena.
- Helena, escuta bem... - Ele começou. Adivinhando a fala dele, o cortou:
- Não. Você vai sair!
- Mas se eu não conseguir...
- Você precisa conseguir, e...
- Helena! - A voz saiu firme, fazendo-a se calar. - Se eu não conseguir, preciso que você corra o mais rápido que puder, e não olhe pra trás.
- Não! Eu não vou te deixar!
- Me prometa, Helena. - ele pediu. Helena abraçou o próprio corpo.
- Eu não posso fazer isso, Max.
E jamais faria. Não enquanto ainda tinha esperança e podia lutar. Helena se agachou novamente, pegando as duas mãos de Max para puxá-lo pra fora.
Dentro da cela, um barulho de uma tranca se abrindo ressoou. Max precisava sair agora. Helena arquejou, lágrimas de puro terror e desespero saltando dos olhos.
- Helena, vai!
- N-não!
O corpo de Max caiu um pouco pra dentro da cela. Ele era puxado por alguém. Helena conseguiu ver o homem barbudo ali, lutando contra os chutes de Max para trazê-lo de volta pra dentro.
- NÃO! – Ela berrou, o puxando com todas as forças. Max balançava a cabeça negativamente. Estava desistindo? – Max, Por favor! Não me deixe sozinha!
Mais um cap, xuxus!
E aí, estão com o coração na mão? O meu está quase saindo pela boca!!
O que acham que vai acontecer no próximo? Max se safa dessa?
Calmem, calmem que vem mais surpresas por aí! Até o próximo cap, que saíra ainda nesta semana.
Obrigada por acompanharem esses dois <3
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