Há esperança em seus olhos

- É... chegamos a conclusão que aqueles que tínhamos como amigos não são nada confiáveis. – Max foi sarcástico. Helena ainda se encontrava boquiaberta, agora sentada ao seu lado.

Simplesmente não podia acreditar. Não. Tudo teria que ter passado de uma armação. Mas como, por quê? Ela negava veemente com a cabeça.

- Tem que ter outra explicação.

- Às vezes não tem, Helena. – Ele murmurou entrelaçando a mão deles em solidariedade. – Antes você queria me convencer que Carlos não era confiável... Agora acredito que você deve começar a pensar na possibilidade de que talvez Gabriela também não seja. 

Helena puxou a mão dela e se levantou. Não iria aceitar essa possibilidade. Gabriela sempre fora uma pessoa íntegra, mas depois que se apaixonara por Carlos... é possível uma pessoa mudar seu caráter por amor? 

Ela segurou as grades, tentando ver através do escuro. E aquele bilhete que tinha recebido dela? Não, não... Gabriela não poderia estar junto com Carlos. Essa possibilidade não existia. Ela voltou e se sentou ao lado de Max. Atrás deles o sol surgia, espalhando os primeiros raios do dia na cela.

- Gabriela deixou uma carta para mim. – Helena murmurou baixo, com medo de que o eco ressoasse no silêncio.

- É? – Max parecia desinteressado. - O que dizia?

Helena tateou os bolsos traseiros e tirou de um deles um papel dobrado. Ela repassou o bilhete a Max, que o leu e inclinou a cabeça, analisando-o.

- Talvez Gabriela esteja armando contra Carlos. Ou...esse bilhete tinha o intuito de te fazer acreditar que poderia confiar nela enquanto ela armava o seu sequestro.

- Que droga, Max! – Helena odiava sequer pensar naquela segunda possibilidade.

- O que você quer que eu diga, Helena? Levei uma rasteira da pessoa que eu mais confiava. Não vou confiar em outra.

- Não é outra pessoa. Sou eu, Max. Quero que confie em mim... – Helena jogou na cara dele. - Fui eu quem te disse que Carlos não prestava, não foi? Então! Você poderia me dar um pouco de crédito quando digo que minha amiga não é farinha do mesmo saco?

- Depende. – Ele deu de ombros, sustentando o olhar acusador dela. – Sua confiança nela vem da fé cega na amizade de vocês, como eu tinha com Carlos, ou...

- Não, Max. – ela o cortou. – Confio na Gabi porque há dois anos, quando eu ia abrir meu escritório e precisava de capital, me deparei com duas possibilidades: pedir empréstimo aos bancos, e torcer para que os lucros futuros pudessem compensar... ou – Helena fechou os olhos, sem nenhum orgulho de admitir – Voltar na Lirol e exigir minha participação nos lucros, que à época equivalia a mais da metade do saldo positivo da empresa. Se eu fizesse aquilo, a Lirol teria como destino certo a falência.. Mas eu não ligava, ainda estava enraivecida pelo o que meu avô me fizera. – Ela ergueu os olhos pra ele. – O dinheiro era meu, então nada mais justo que ele voltasse pra dona... Gabriela me lembrou que exigir meu lucro naquele momento, por mais justo que pudesse ser, consistiria em uma vingança. E que depois que a raiva passasse, eu não me perdoaria por erguer a minha empresa em pilares tão frágeis como esse sentimento.

Max ouvia o relato dela absorto em pensamentos, apenas assentindo a cabeça vez ou outra. Helena continuou:

- Se não fosse Gabriela eu teria feito uma besteira. Então... acho que ela merece um voto de confiança – Helena admitiu, sentindo uma lágrima rolar pela bochecha.

- Helena. – Max murmurou, se virando pra ela. – Como... como você sabe que Carlos não é confiável?

- Quando trabalhava na Lirol, eu e Leandro precisávamos fazer acordo com duas empresas. Tínhamos orquestrado todo um plano persuasivo que havíamos exposto apenas para o diretor de uma delas – Helena murmurou. A expressão de Max era indecifrável – No dia do acordo, chegamos na sala onde seria a reunião, mas empresas não compareceram. E com apenas uma ligação, ficamos sabemos que aquele diretor que sabia da nossa estratégia tinha feito um acordo com a outra empresa pelas nossas costas se utilizando do nosso plano. Esse diretor era o Carlos.

- Ele usou o plano de vocês? – Max repetiu, como se não houvesse escutado direito. Helena confirmou com um acenar de cabeça.

- Pois é... Ele não era apenas um mero diretor no ramo do entretenimento... Era um ladrão corporativo. – Ela deu de ombros. – Eu e Leandro ficamos furiosos, aquele acordo valia muito. Mas então, o Lê se lembrou de que tem uma irmã muito metódica que grava todas as reuniões... Nós o entregamos com uma denúncia anônima e nunca mais ouvimos falar dele. 

- Por isso quando você o encontrou ficou surpreendida por ele ser contador. – Max concluiu, se lembrando do dia que Helena topara com Carlos em seu apartamento. – Mas ainda assim... Carlos passou por muitas coisas na vida...

- Ah não, Max! Não acredito que depois de tudo o que contei você ainda consegue acreditar nesse cara. – Ela ralhou.

- Helena, eu concordo que ele não é confiável. Mas do mesmo jeito que você tem direito de acreditar em Gabriela, eu também tenho direito de acreditar que Carlos fez tudo por bons motivos. – Max devolveu. Helena levantou uma sobrancelha.

- Você realmente acredita que Carlos tinha tantos motivos "bons" para cometer crimes graves mais de uma vez? – Ela repetiu para ter certeza de Max estava passando pano pro colega criminoso.

O dono dos olhos verdes sustentou o julgamento dela em silêncio. Consternada, Helena se levantou, levando as mãos à cabeça.

- Helena...

- Não, Max! Estou começando a achar que você realmente merece isso... – Ela ia de um lado pro outro no pequeno cubículo – E agora, graças ao seu mau julgamento sobre seus amigos estamos presos aqui, nesse...calabouço.

- Isso não é um calabouço... – Ele meneou a cabeça, rindo sarcasticamente. Mas de repente, sua expressão mudou, ficando sério.Max se levantando subitamente. – É isso, gatinha!

- Isso o quê? – Helena fez uma careta. - Curtir o nosso ninho nesse calabouço?

- Não...vamos descobrir onde estamos e fugir.

- Quê?! – Ela praticamente gritou. Max levou o indicador aos lábios pedindo pra que ela falasse mais baixo.  – Eu não vou a nenhum lugar com você. – Helena rebateu, também erguendo um indicador enquanto sibilava para ele.

- Vai fazer o que então? Ficar aqui?

- Eles não me querem, Max. Querem você.

- Helena, se eles somente me queriam, por que a trouxeram junto, hein? Pensa bem... - Ele murmurou com os braços cruzados sobre o peito. Helena parou um pouco e tremeu. – Temos que sair daqui... Não sei o que eles farão para usar você e atingir a mim.

- Eu atingir você? – Helena gargalhou. – Com certeza não iria dar em nada. Cedo ou tarde vão descobrir que foi um desperdício ter me trazido...

Max a segurou pelos ombros, forçando-a encarar ele.

- Se acredita nisso está muito enganada.

- A melhor maneira da gente sair não é fugindo, Max... É dar logo o raio dessa senha pra Carlos! Você já foi roubado, mais um pouquinho não vai fazer diferença.

- Não se trata disso, Helena. Nesse cofre não tem só dinheiro. Guardo todas as vias originais de contratos acerca da Velax e da outra empresa que era do meu pai. Então...mesmo que eu tivesse a senha, não a daria.

- Meu Deus! – Ela levou uma mão a boca, mortificada pelo o que ele havia acabado de dizer. – Você não tem a senha?

- Claro que não. É um cofre digital. Ele responde a perguntas específicas sobre a minha vida e a do Mathews. As perguntas são aleatórias, e são tantas que mesmo que eu pudesse ajudar, Mathews teria que estar junto.

Helena só ouvira a primeira frase. O "claro que não" ressoava dentro da cabeça dela como uma dor de cabeça forte impulsionando a têmpora. O problema deles era muito mais sério.

- Cristo. Vamos morrer! – Ela exclamou, colocando as mãos no coração.Max encarou os olhos arregalados dela sem nenhuma reação. Helena sentiu vontade de gritar, mas suplicou - Max, eu não quero morrer! Quer dizer, não quero e não posso... e os meus clientes? E os processos em andamento?

- Helena, você não vai morrer. Não vou permitir que isso aconteça.

- Não... eu não vou morrer. – Ela repetiu como um mantra, tentando convencer a si mesma. 

Mas seu coração não acreditou, batendo rápido no peito.Helena se afobou, tentando respirar em meio ao pânico que a consumia. Céus. Se ela não morresse devido ao sequestro era capaz de empacotar por um ataque cardíaco.

Ela olhou pro buraco na parte superior da parede, e com uma ideia absurda impulsionada pelo desespero,  pegou a leiteira com água que haviam deixado ali mais cedo, dispensando o líquido para colocá-la virada pra baixo, e tentar subir em cima dela para olhar pelo buraco com grades.

- Merda, Helena. Você acabou de jogar nossa água fora!

Helena nem o escutava, tentando se equilibrar com apenas um pé em cima da leiteira. Com uma das mãos, ela alcançou uma das grades, impulsionado o corpo para que pudesse segurar a outra grade e se elevar. Ela gemeu enquanto tentava sustentar o corpo para olhar para fora.

Conseguiu.

Os olhos dela demoraram um pouco para se acostumar com a claridade, mas assim que habituaram, Helena vislumbrou o que havia na frente deles... O que era aquilo? Vacas?

Ela arquejou quando puxou o corpo ainda mais pra cima, os músculos de seu antebraço rangendo com o esforço. Pareciam mesmo estar em um calabouço, já que o buraco dava justamente para o nível da terra. Eles estavam embaixo de alguma coisa. No entanto, tudo que via pela frente era mato, e vacas pastando.

- Max... nós estamos... – um dos ferros da grade que segurava deu um estampido, se soltando. – AAAAH! - Helena gritou quando perdeu a sustentação e o equilíbrio.

Ela fechou os olhos esperando pelo impacto enquanto seu corpo estava caindo... braços firmes a circundaram. Helena abriu um dos olhos, perplexa com o reflexo de Max que a salvara. Na mão direita ela ainda segurava uma barra de ferro.

- Merda, Helena! – Ele blasfemou, pegando a grade da mão dela.

Passos ressoavam ao fundo. Max perpassou os olhos pelo ambiente, procurando o que fazer. Ele usou a mesma leiteira atingir facilmente o buraco e empurrar o ferro para o antigo lugar. Depois disso, sentou-se onde antes estavam e puxou ela para o seu lado.

Max a encarou, vendo esperança brilhar nos olhos de Helena. Talvez tivessem acabado de descobrir o caminho para a fuga deles. 


Olá corações! Saiu mais um cap!!

O próximo vez com mais suspense, e...ação. Se preparem para tentar fugir com esses dois, porque já digo...não vai ser fácil, e pode custar muito a um deles. 

Obrigada por acompanharem, e não se esqueçam da estrelinha <3 

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