Epílogo
Dois meses depois...
Beijos a despertaram, lhe serpenteando pelo pescoço em direção ao colo. Com todos os pelos do corpo eriçado, ela abriu os olhos, se deparando com o sorriso travesso e diurno dele.
- Bom dia, gatinha!
Helena resmungou, puxando os lençóis para se virar pro outro lado.
- Não, não, não... Nem pense nisso. – O nariz dele perpassou pela sua nuca, atiçando uma cócega que a fez sorrir. – Tenho uma surpresa pra você. – um papel pardo foi estampado na altura dos olhos dela.
- O que é isso? – perguntou com o cenho franzido.
- Dr. Praz deixou com Leandro ontem a noite. Pediu para que eu lesse pra você hoje. - Ele se referiu ao advogado, responsável pelo andamento da herança do avô.
Helena pendeu a cabeça.
- O que ele quer, Max? Esfregar na minha cara que a Lirol foi deixada nas mãos de um presidente desconhecido? – meneou a cabeça, subitamente preocupada.
Naquela altura, não ligava para o fato de que sem estar na presidência sua herança seria quase que inservível, já que impregnada de tantas cláusulas de restrições. Helena só queria que a o cargo mais importante daquela empresa, ganhasse alguém a altura de toda história e esforço do homem que a havia construído.
Max ergueu uma das sobrancelhas em desafio.
- É uma carta do seu avô.
Helena prendeu a respiração,o observando retirar o papel de dentro do envelope. Ela se sentou rapidamente, ajeitando o travesseiro nas costas. Lorenzo pousou o focinho na coxa dela, atraído por seu despertar. Respirou fundo, dando um afago trêmulo nos pelos do cão.
- Pronta?
- Nem um pouco.
- Eu tô com você. Sempre. - ele soltou uma piscadela. - Jamais a leria se não fossem coisas boas.
- Eu sei, Max. Confio em você.
A voz do seu amor irrompeu o quarto de mobília clássica, no entanto, era o timbre do avô que lhe adentrava os ouvidos.
Helena,
Eu poderia começar esta carta com um pedido de perdão. Porém, o que existe agora é maior que a culpa. E apesar da mágoa que houve entre a gente, sinto muito mais que este sentimento mesquinho. Sinto amor.
Contudo, esse sentimento incondicional não muda os erros cometidos por mim, nem minhas ações e danos feitos à você.
Hoje, numa noite quente e cálida como gostava de passar na presença sua e de seu irmão, estou sozinho. Envolvido na solidão que criei com meus atos egoístas, sendo tomado pela doença que causei com meus vícios. Minha hora está chegando, consigo sentir.
Escrevo essa carta ciente de que palavras não podem mudar o passado, somente ações o podem. Sendo a única coisa na qual me agarro com toda pouca vitalidade que resta nesse momento, escrevendo para dizer através desse papel tudo o que não tive coragem em vida.
Eu te amo, minha filha neta. Eu a amo com todas as forças que me restaram. E rezo para que esse amor cure toda mágoa, arrependimento ou culpa que possa ter existido entre nós. Não teve um dia do qual eu não sentisse tristeza e arrependimento por não a ter ao meu lado, mas também não houve um dia do qual eu não sentisse orgulho por vê-la lutando, se reerguendo e brilhando.
O casamento, proposto por meu advogado como uma solução para o recebimento da herança, foi pegadinha. E se você recebeu esta carta, é porque de alguma forma encontrou a maneira certa de reconquistar nossos acionistas para que escolhessem você como presidente da Lirol.
Jamais quis que se casasse pela empresa. Tudo o que queria era que os convencesse de que é a melhor e única opção que poderiam ter. Pra isso, você só precisaria ser você, uma mulher autêntica, moderna e determinada.
Entretanto, eu sabia que o casamento era uma ótima ideia para fazê-la dar um segundo olhar para a área de sua vida que você havia cortado: o amor.
Não tenho como saber agora se você o encontrou. Mas dentro de meu coração, há uma fagulha de esperança que espera e torce para que essa ideia tenha feito muito mais que isso: tenha aberto seu peito para um novo amor. Não arranjado e coberto de segundas intenções. Mas sim o verdadeiro amor. Aquele que ultrapassa as barreiras de nossos corações e nos faz transbordar. Um sentimento que somente tive conhecimento através de você e Leandro, mas que acredito fielmente que ainda exista neste mundo.
A ti, lhe é repassado outro amor que constitui ao longo de minha vida. A Lirol é Sua. Peço que a administre como quem trata um amante. Pois ela é meu amor, assim como você e seu irmão sempre serão.
Ps: Não deixe que Leandro se desfaça de Lorenzo. Sei que é um cachorro, mas foi meu grande amigo. Tenho fé de que algum dia eles não só se aturarão, bem como serão colegas. Quem sabe melhores amigos? Tudo bem, talvez seja querer muito.
Cuide você de Lorenzo, você sempre o tratou como um filho.
Amo vocês,
Marcelo.
Max dobrou o papel, guardando-o no bolso. Helena ainda estava atônita, completamente em choque.
- Você conseguiu, gatinha.
Ele estalou um selinho na boca dela. Ela o encarou, sentindo a respiração embargar.
- Mas... - os olhos marejaram. - Isso não é possível! Eu nem tentei convencer os acionistas.
- Leandro disse que eles estavam quase certos sobre você, já que lembravam bem de que a administração do avô contigo ao lado manteve a empresa como uma das melhores do ramo por um bom tempo. E quando souberam de tudo o que Ryan havia feito à você, se envolvendo no sequestro, a escolheram por unanimidade.
Ela piscou, ainda desconfiada.
- Mas por que só sei disso agora?
- Gatinha, quando você me conheceu e resolveu tentar a presidência, já haviam se passando três meses do prazo de seis que o advogado dissera. Nos apaixonamos em um mês, casamos com dois meses, e agora temos dois meses de casados. - Ele foi contando levantando cada dedo da mão. Helena terminou a conta.
- Seis meses...
- Ontem terminou a presidência do seu irmão. Hoje começa a sua.
Uma calafrio tomou o corpo de Helena, que sem saber o que fazer,levou uma das mãos ao coração. Max sorriu, a abraçando.
- Parabéns, Sra.Mallone. Você acaba de se tornar uma das mulheres mais ricas e poderosas do Rio de Janeiro.
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6 meses depois
Ela passou a mão pela barriga, não só afagando o menino que crescia ali, mas também tentando diminuir a ansiedade.
O telefone vibrou na mesa. Helena o pegou tão rápido que o aparelho quase escorregou das mãos.
- Helena?!
- Gabriela! - Lágrimas irromperam de seus olhos. Ela escutou a amiga fungar do outro lado da linha.
- Eu estou morrendo de saudade! Como você e meu afilhado estão?
- Estamos bem, Gabi. Morrendo de saudades de você. Quando volta?
- Logo. - a ligação foi abafada por um momento. - Não posso falar muito, mas eu e Carlos estamos quase conseguindo provar que ele é inocente. Se tudo der certo, estaremos de volta antes do nascimento do Marcelinho.
- Max ainda está desconfiado...
- Eu sei. Não deve ter sido fácil pra ele descobrir que Carlos é meio irmão dele, e que o fato do pai deles ter escondido a outra família e empresa que tinha em Porto Rico, deixou os credores muito furiosos. - a ligação foi cortada, logo depois voltando.
O pai de Max havia falecido como uma dívida grande com os credores da América do Sul, que por sua vez, sabiam que aquele havia escondido a posse de todas as propriedades que tinha em Porto Rico.
Pelo que Gabriela havia dito, os credores sequestraram a família de Carlos, e lhe deram um prazo de um ano pra repor toda a dívida que o pai de Max havia feito.
Carlos optou por não envolver Max, escolhendo lavar dinheiro da Velax por tempo suficiente até que tudo estivesse pago.
Porém, conduzida pelo que sabia do passado de Carlos, Helena e Gabriela haviam descoberto tudo. Sem saída, Carlos optou por sequestrar Helena e Max, na esperança de que a senha do cofre fosse fornecida, e ele encontrasse os documentos das propriedades escondidas.
Se pudesse dá-las aos credores, libertaria sua família. Agora, contudo, nem a senha e o dinheiro Carlos tinha, e era assombrado pela ameaça que seus familiares desaparecidos sofriam.
- E agora? Ainda precisarão dos documentos que estão no cofre de Max?
- Não, parece que Mathews e Max revisaram os documentos do cofre, e não tem nada lá. Mas não tem problema, conseguimos outra forma de libertar Carlos e a família dele da garra desses credores.
Helena respirou fundo, receosa.
- Carlos sempre teve fama de ladrão... Então, por favor, toma cuidado tá?
- Eu sei, Hel. Mas o que posso fazer? - Gabi riu tristemente, e brincou: - Ele é o ladrão que roubou meu coração.
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quinze dias depois
Uma batida à porta tirou a atenção deles. Leandro apareceu com a expressão distorcida. Max foi o primeiro a se levantar.
- O que houve?
- Eu não sei... - Começou com as mãos trêmulas, então de repente jogou os braços pro ar. - SURPRESAAA
Gabriela saltitou pra dentro do quarto, acompanhada de Carlos, que por sua vez tinha a expressão impassível,como sempre.
- Estamos atrasados , mas chegamos! - Gabi exclamou, correndo na direção de Helena.
Ao seu lado, Max cerrou os punhos.
- O que este cara está fazendo aqui?
- Vim pedir um favor, Max.
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Um mês depois
- Você está linda. - Max murmurou, beijando a palma da mão dela.
- Estou enorme! - rebateu, franzindo o cenho. Ele riu, agora massageando seus ombros. - Nem estou reconhecendo meu corpo...
- Eu reconheço cada pedacinho dele... - a boca dele subiu, depositando um beijo no topo de sua cabeça. Quando os olhos de Max cruzaram com os dela novamente, Helena perguntou:
-O que foi? Você está me encarando de uma forma diferente...
- Estou me dando conta de que você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, gatinha. - ele pegou Marcelinho nos braços, o ninando. - Me deu o presente mais precioso que eu poderia receber. - o olhar dele se ergueu novamente pra ela. - Não me arrependo de ter lutado por você. De ter te esperado esquecer o medo e o orgulho pra se entregar ao nosso amor.
- Max... - ela mordeu os lábios. Max sorriu e se arqueou na direção dela, beijando-lhe os lábios lentamente. Helena pousou a mão no rosto dele,alisando a barba por fazer do homem e pai mais maravilhoso que podia escolher para o seu filho. - Eu não me arrependo de ter aceitado esse casamento de mentirinha que se tornou na verdade mais linda da minha vida.
Os olhos de Max se marejaram.
- Eu vou voltar logo, gatinha.
- Tem certeza que você vai?
- Seu eu não ajudar Carlos, virão atrás de todos nós.
Ela assentiu, sentindo uma lágrima rolar pela bochecha.
Max lhe entregou o filho deles, que balançou os bracinhos gordinhos na direção de sua mãe. Os olhos de Marcelo brilharam. Helena analisou a cor verde mar dos olhos do pequenino, sorrindo abertamente para o pedacinho deles dois.
Quando Max saiu do quarto deles, Helena se levantou, indo até a grande janela.
Max, Carlos e Mathews entravam juntos no carro que Gabriela estava posicionada ao volante.
Um tremor eriçou todos os pelos seu corpo. Helena apertou um pouco mais o pequenino ao peito, com a triste intuição que aquela missão custaria muito à eles, e que talvez, alguém jamais conseguisse retornar.
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