Cap.31 - Interlúdio - Reunião, ou não

POV Krusto
Caminhei vagaroso pela floresta, observando as belas plantas das quais Striker cuidava. Como alfa da família fora, seu filho, Spiel, cuidava de tudo. Um Dragão capaz de controlar dois elementos, a natureza e a luz, algo que quase foi perdido ao longo do tempo.

O jovem adulto de 20 anos estava camuflado, deitado no meio de tanto verde que era impossível ser distinguido. No entanto, graças a meus anos de experiência como feiticeiro, fui capaz de diferenciar as suas escamas das folhas espalhadas.
Ele abriu os olhos dourados como os de sua mae Lumina, e me encarou, perguntando-me mentalmente o que eu vim buscar.

Eu: não precisa falar telepaticamente.

Spiel; eu ainda nao consigo falar na forma de dragao - ele responde em minha mente, eu apenas ri.

Eu: se você comparecesse a minhas aulas, teria aprendido.

Ele tambem riu

Spiel: tem razão. Do que precisa, mestre?

Eu: que você deixe a vegetação me deixar passar. Preciso me encontrar com as fadas, e atravessar o círculo de pedras.

O jovem Dragão parecia ponderar meu pedido. Nao o julgo, com tanta coisa acontecendo é quase impossível acreditar em alguém, mesmo se esse alguém seja seu mestre ou melhor amigo. O jovem esta apenas se prevenindo, e isso é otimo. Lumina lhe ensinou bem.

Apos se passarem os dois minutos que dei a ele para decidir, ele suspirou e assumiu sua forma humana. Ele nao era alto, tinha uma estatura media, algo por volta do 1,70, 1,75. Algo assim.
Assim como Striker, seu cabelo era verde, do mesmo tom das tantas folhas que ele possui em sua floresta, no entanto, seus olhos eram dourados, como os de Lumina. Ele era um Dragão diferente. Um dragao que nao precisava se alimentar, nem de carne ou plantas. Spiel era como uma vegetação viva, produzindo seu proprio alimento, algo muito simular ao que os humanos chamam de fotossíntese.

Com um pequeno movimento de sua mao e um sorriso gentil, a vegetaçao o obedeceu e as arvores e arbustos endireitaram seus trontos, e as flores recolheram seus espinhos. Os galhos se afastaram, abrindo um pequeno corredor, largo o suficiente para apenas uma pessoa passar. Eu nao podia ouvir, mas tinha absoluta certeza de que todas as plantas sussurravam informaçoes para os ouvidos de Spiel e Striker.

Dragoes da Natureza, os melhores espioes do mundo. E as plantas, as maiores fofoqueiras.

Spiel: o caminho esta livre. O recanto das fadas se encontra a frente. Cuidado com os pes, alguns arbustos gostam de serem travessos, podem tentar os derrubar com as raizes.

Eu: tenho certeza que nos entenderemos. Obrigado, Spiel

Ele apenas assentiu, fazendo uma pequena reverência em respeito a mim. Obviamente eu retribui, tambem tinha muito respeito pelo jovem, seu poder é uma joia rara que deve ser cuidada e polida. Ele tem futuro.

Adentrei no corredor, me esquivei de algumas raizes que tentavam me derrubar e cheguei ate uma grande area, cheia de pequenas casas encrostadas nos troncos das arvores, iluminadas por vagalumes e cogumelos fluorescentes. As fadas me olharam e começaram a me cumprimentar em alegria, faz muito tempo que nao nos vemos. Entao, uma fada vermelha se aproximou.

Scarlet: Krusto! Faz tanto tempo!

Eu: bastante tempo mesmo, minha cara amiga.

Em seguida, Jim, a fada multicolor, se aproximou voando.

Jim: Krusto! - ela sorri. - Você esta... Velho...

Eu: eu? Velho? So de idade! - eu comecei a rir, e ela me olhou estranho. - Isso é so um feitiço disfarce. Nao se assuste. Eu nao mudei.

Desfiz o feitiço que eu havia jogado em mim mesmo. Minha pele voltou a ser firme e lisa, as expressoes da idade desapareceram, voltei a ficar ereto e o tom azulado dos meus olhos se tornou um pouco mais notável, enquanto meu cabelo esbranquiçado voltou a ondular suavemente nas pontas e deixar de ser um monte de fios emaranhados. Alem disso, meu corpo voltou a ter uma forma saudável, algo próximo ao que os humanos consideram bonito, so que sem músculos expostos.

Jim sorriu e gritou em alegria, abraçando meu pulso, enquanto Scarlet apenas continuou me encarando.

Scarlet: uau. Fica assim. É agradável.

Eu: eu sei que é. Eu vim por que preciso de um pequeno favor, do tamanho de voces.

Jim: qual?

Eu: eu preciso que deixem que eu use o portal de Vocês.

Quando eu disse isso, nenhuma voz de fada ecoou pelo recanto, havia apenas o som das cigarras. As fadas se entreolharam, uma procurando um norte na outra, mas ninguem encontrou nada. Foi entao que, Jim se pronunciou.

Jim: podemos ajudar, mas o portal está parado há anos. Voce so vai conseguir uma jornada de ida.

Eu: esta perfeito, minha amiga.

Entao, aproveitando que ela estava em pe em meu pulso, encostei meu nariz em seu rosto, a acariciando suavemente. Ela ficou vermelha

Eu: muito obrigado.

Jim: por favor, tome cuidado.

***

Eu me vi em uma pequena e bonita cidade, com casas que intercalavam entre o atual e o antigo, revelando as diferenças arquitetônicas cujas quais a humanidade havia desenvolvido. Eram todas muito bonitas e bem estruturadas, devo dizer.

Em minha forma jovem, usei magia para adaptar minhas roupas a este mundo e caminhei peça calçada, cruzando caminho com humanos de todas as idades.

Os mais velhos cuidavam das plantas e conversavam entre si, acariciando pequenas criaturas, gatos e cães, se não me engano. Haviam pouquíssimos humanos com idade entre a juventude e a velhice, provavelmente em seus trabalhos. Os jovens, denominados adolescentes, carregavam suas bolsas de costas e formavam grupos para se comunicarem; alguns grupos eram bem misturados e outros seguiam algum padrão.

Após um tempo de caminhada, o rastro de magia levou-me para uma casa marrom de tamanho médio, dois andares e uma garagem. Fui ate a porta, uma pequena criatura estava sentada no parapeito da janela, um gato marrom e peludo, com um olho azul e o outro amarelo. Ele fez seu som de gato, tentando me mandar embora, mas permaneci na porta.

Eu: onde eles estão? - resmungo, e após minutos sem ser atendido, o gato ainda me olhava desconfiado e... Rosnando pra mim? Eu nao faço ideia que tipo de som é esse que esse animal faz. Sai do fundo da garganta, algo agudo e ameaçador. - Pare de me olhar e diga algo, criatura.

E o gato nao disse nada.

Eu: droga. Esqueci que os animais daqui perderam a capacidade de falar ha séculos.

Busquei em mente algo util e lancei um feitiço sobre o felino. Quando ele rosnou/sei la o que é isso que ele faz, saiu mais parecendo uma voz feminina bem indignada. Foi entao que percebi que era uma gata.

Gata: vá embora da minha casa! Criatura atrevida!

Eu: sinto muito incomodar a senhorita, mas poderia me dizer quando seus cuidadores voltam?

Gata: Não te.... Espera, você me entende?

Eu: sim. Gostaria de me apresentar, me chamo Krusto, sou um amigo e preciso muito falar com eles.

Ela fez outro som de dentro da garganta, so que interno, mais grave e fofo.

Gata: todos os dias eles saem de manhã cedo. Voltam apenas a noite.

Eu: poderia deixar um recado por mim?

Gata: e o que eu recebo em troca?

Ah droga. Eu nao sei o que essa especie gosta, e muito menos uma fêmea! Arg. Striker e Spiel seriam úteis aqui.

Eu:...... Qualquer coisa que a senhorita decidir.

Gata: estamos de acordo, criatura que nao sei qual é.

Eu: uau. Bem como imaginei. Sua especie consegue identificar diferenças espirituais.

Gata: eh... Sim. Agora, diga qual o recado, está na hora da minha soneca.

Eu: claro. So um instante.

Invoquei uma pequena folha de papel e escrevi um recado nela. Em seguida a enrolei e a coloquei dentro de um pequeno cilindro metalico, normalmente usado para troca de mensagens por pássaros.

Pedi licença a ela. Como grande maioria das femeas que eu conheço, ela me repreendeu por estar bagunçando seu cabelo, me desculpei e entao prendi o recado em sua coleira de identificação. Era uma coleira bem bonita, com algumas pedras brilhantes, ela parecia gostar do luxo.

Logo, seu pagamento foi uma casinha feita de caixas de papelão. Por que? Eu nao faço a mínima ideia.

Em seguida, ela pulou de volta pra dentro da casa pela fresta aberta da janela alta, descendo pela cortina, caindo em cima da lareira e entao pulando para o chao, se espreguiçando e indo explorar a casa de papelao que invoquei para ela.

Sorri, garantindo que ela ficaria bem, e sai de lá, partindo para a praça e me sentando em um dos bancos. Os segundos viraram minutos, e os minutos viraram horas, e eu ja estava MUITO entediado. Ate deitei e dormi naquele banco de concreto, era confortável.

E mais horas se passaram, ate que FINALMENTE anoiteceu. Graças a Thiamatt, eu nao aguentava mais esperar. Alem disso, o que diabos tem nesse ar? Eu nao paro de espirrar!

As luzes giganges das ruas se ascenderam, e a movimentaçao de carruagens sem cavalos aumentou drasticamente. Provavelme te eram os adultos voltando de seus serviços. Então, esperei, e esperei um pouco mais, então...

"Ancestral!" - chamou uma voz feminina que eu conhecia bem, mas estava mais madura. A gata havia cumprido o combinado.

Adentrando no paraue, vi uma mulher de pele morena e cabelo rosa, no entanto, suas orelhas nao eram mais pontiagudas. A acompanhando, estava um homem alto e magro, pálido, no entanto, seu cabelo roxo havia sido substituido por um preto muito....comum.

Eu: Selkie, Darwin, ha quanto tempo!

Me levantei da minha cama de pedra e abracei a elfa de cabelo rosa. Ela estava animada e feliz, se nao estivesse em público com certeza estaria saltitando.

Darwin: Ancestral, o que faz aqui?

Eu: bom, vim em missão. Preciso da ajuda de vocês.

Selkie me olhou confusa, não querendo acreditar, mas Darwin sempre teve o raciocínio mais rápido.

Darwin: então é real. O problema, é real.

Eu: sim, infelizmente.

Selkie: olha.... Eu adoraria, de verdade, mas agora temos filhos, uma gata linda e um lar confortável. A vida é chata pra caralho, mas é adorável.

Notei que sua linguagem estava diferente, assim como suas roupas e açoes. Este mundo havia a mudando tanto... Nao so a ela, mas a Darwin também. Ambos estavam ponderando recusar, e eu entendo o por que, família é uma coisa que deve ser protegida a qualquer custo.

Eu: se eu fizer uma promessa, voces nos ajudam?

Darwin e Selkie: uma promessa?

Eu: sim. Como feiticeiro ancestral, eu juro cuidar dos mais jovens, e proteger suas linhagens. Se for para alguem morrer no campo de batalha, que seja eu, e nao vocês. .

Selkie:..... Ancestral, não precisa fazer uma promessa assim...

Eu parei, nos mergulhando em um silencio profundo. Minha longa (muito longa) vida passou em minha mente. Vivo desde a era humana conhecida como era medieval, que tipo de familia eu pude ter? Nenhuma. Eu nao cultivei nada que eu pudesse olhar hoje e pensar que valeria a pena viver por aquilo. Eu nao tenho nada...

Eu: na verdade eu preciso. Eu vim aqui, perturbar a vida de vocês e pedi que voltassem para a batalha. Eu... Nao posso deixar que vocês aceitem o convite. Eu nao tenho família, nem nada para me apegar, nao seria justo ve-los morrer

Darwin: vamos fazer o seguinte então. Se a batalha atravessar as dimensoes e vier parar aqui, nós iremos nos juntar a briga.

Selkie: isso! - disse animada - Afinal, que tipo de pessoas seriamos se nao tentassemos salvar nossa família? E voces, todos voces, estao inclusos nela.

***

Após meu encontro com Selkie e Darwin, o dia foi... Cansativo. Usei minha magia para viajar por muitas cidades, eu ja estou completamente exausto, e dependendo pra onde eu viajava, a situaçao ficava pior ou melhor.

Passei por cidades que suas vegetaçoes estavam queimando e ninguem parecia se importar, ja outras pareciam tomar cuidado e preservar essas areas, e em outras multidoes se reuniam com os rostos pontados, gritos de guerra e placas enormes. Os humanos sao muito dificeis de compreender, eles nao possuem um líder que seja realmente capaz de liderar? Ou apenas nao se importam de fazer a escolha correta?

Quando aquela area acabou, segui para o norte, para as terras mais frias, é provavel que quem eu estou procurando esteja vivendo por la. Seguindo o rastro de magia, cheguei ate a mata fechada e ouvi o som de uma aguia. Ela planava acima das copas das arvores, e entao pousou em um galho alto, me observando com seus olhos intensos.

Eu acenei para a águia, fazendo questao que fosse visto, e entao, os arbustos se moveram, e um grande lobo cinzendo saltou para fora, me farejando. Eu sorri, erguendo as maos em rendiçao.

Eu: sou eu mesmo James, nao precisa de tanta desconfiança.

Ele me olhou de cima a baixo e resmungou, logo voltando a forma humana. Ele nao havia mudado nada, apenas ganhou cicatrizes de combate causadas por outros lobisomens.

James: Ancestral, que surpresa. - ele estendeu o braço, e a águia, Eagle, pousou, tentando nao o perfurar com as garras. - Como vao as coisas do outro lado?

Eu: péssimas, por enquanto.

James:... E a Talia? Como ela está?

Eu: eu sinceramente nao faço ideia. Nao consegui mais rastrea-la, e isso ja faz algumas semanas.

James: droga! - ele suspira. - E a criança dela?

Eu; bem. Ele esta vivo e muito bem, mas receio que sua mente esteja fraca.

James; imagino. Tudo deve ter sido um choque.... Com certeza voce nao veio so para conversar.

Eu: vim para pedir sua ajuda.

James: eu.... Nao posso. Eu quero ir, de verdade, mas eu nao posso, nao sem as ordens do meu alfa.

Suspirei, havia esquecido desse pequeno, pequenino, pequenito, MÍSERO detalhe: ele nao é um alfa.

Eu: entendo. Darwin e Selkie tambem recusaram

James: então falou com eles, faz anos que nao os vejo. Como estao?

Eu: bem. Sao um casal, tem dois filhos e uma gata. Vivem em um lugar tranquilo.

James: bom pra eles. A minha vida tem sido corrida. Em alguns dias vamos mudar de territorio de novo.

Eu: mudar de territorio?

Perguntei confuso. Isso nao devia acontecer, um territorio nao devia ser simplesmente abandonado, e ainda mais com frequencia.

James: magia esta impregnando a terra. Os animais estao migrando para as areas tropicais do globo, onde o frio e o calor sao equilibrados. Seja la o que for, é algo grande.

Arregalei os olhos, quase nao acreditando no que o lobisomem dizia.

Eu: é pior do que imaginei. Ele esta mesmo fazendo isso...

James: o que esta acontecendo, exatamente? "Ele" quem? Esse "ele" esta afetando tudo aqui? Mas como?

Eu: Devourer esta usando o poder que roubou de Thiamatt... Ele quer se livrar dos humanos, mas se isso acontecer o equilibrio será desfeito e levará séculos para nossas dimensoes se recuperarem. Mesmo que muitos misticos, e humanos, concordem com ele, nao significa que seja o certo. Nenhuma raça merece ser extinta por fatores nao naturais.

James: Devourer, como nas lendas? - assinto, ele coça a nuca. - Droga, a gente ra ferrado. Duvido que tenha algo que possamos fazer. Sabe, lobisomens nao tem magia como os dragoes, feiticeiros, elfos e unicornios. Somos mascotes.

Eu: eu nao vim te pedir pra lutat conosco, exatamente. Pedi isso para Darwin e Selkie, mas nao deu certo.

James: uh? E o que veio pedir?

Eu: por favor, seja meus olhos e ouvidos aqui.

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