Cap.23 - Inútil

POV Talia.
Eu fiquei estatelada. Não estava acreditando no que ouvia, Jack havia se tornado estátua. Uma rocha, sólida e sem vida, que afundou com facilidade no oceano. Até o Drago, que nunca foi com a cara do pirata, parecia sentir a dor do jovem Wield.

Me levantei, permitindo que as lágrimas molhassem meu rosto. Caminhei por todo o andar, fazendo questão de bater o salto das botas com força no chão, descontando a minha raiva, ouvindo aquele som violento ecoando pela grande torre.

Eu fui ridícula, inútil, e outras coisas. Não pude proteger meu filho, nem quando ele era um bebê, e muito menos agora; e não consegui ajudar Viserion ou Jack quando mais precisaram. Eu, simplesmente, fracassei, em todos os sentidos. Era como se não existisse mais em mim a garota que um dia fui, aventureira e destemida, capaz de enfrentar qualquer perigo. Eu... Amoleci.

Amoleci.

Essa palavra ecoa pela minha mente, trazendo a tona todos os meus medos e lamentações. Quando meus pais morreram; quando enfrentei Drake; quando a draconia do Drago foi destruída; quando enfrentamos Crong; quando eu fui para a Mistic Academy; quando houve o primeiro ataque ao Cristal do Caos, poucos meses depois do Matt nascer... Agora, percebo o quanto falhei, e me sinto tão... Inútil. Do que adianta tanta magia, em um corpo humano, desacostumado e vulnerável?

Nada. Não adianta de nada.

Fechei a mão em punho, acertando um soco forte na parede. Meus nós dos dedos estavam vermelhos, pulsando de dor. Suspirei, abrindo e fechando a mão, quando me assustei com algo caindo.

O som veio de uma estante próxima. Fui até lá, vendo alguns no chão enquanto, no topo da última prateleira, os que continuavam lá estavam caídos em efeito dominó. Um havia caído e derrubado o da frente, dando início a esse ciclo até que os últimos tivessem ido parar no chão. Ah ótimo.

Me agachei, segurando aqueles três livros e os deixando deitados em meu braço esquerdo enquanto usava minha mão direita para pôr os outros de pé. Quando finalmente consegui, comecei a por livro por livro lá em cima, garantindo que não iriam cair. As vezes, por curiosidade, eu abria em uma página aleatória, lendo parte do conteúdo.

Em sua maioria, eram livros de feitiços e poções, como os que encontramos facilmente na casa do Ancestral. Sorri me lembrando de quando ele me fez usar uma armadura, muito pesada por sinal, para testar minha resistência e fazer o Drago perceber o quanto estava ligado a mim. Naquela época, os xinguei até não poder mais, mas hoje, os agradeço do fundo do meu coração. Não é fácil me aturar e me treinar ao mesmo tempo.

Quando abri o último livro, o assunto me chamou a atenção, por isso, comecei a ler com rapidez. Uma parte em específico, me interessou, a ponto de me fazer sorrir de canto e olhar para os símbolos mágicos das minhas luvas de couro para invocações. Uma ideia me vem a mente, então, fecho o livro e o ponho no lugar, voltando para onde os rapazes estão.

POV Matt.
Escuro. Frio. Névoa. Sussurros.
Não havia nada em minha visão. Nada além de uma massa fina e fantasmagorica de ar. Ao longe, eu ouvia vozes, eram meus pais, e mais uma voz que eu não conhecia. Eles discutiram minha situação, isso eu pude perceber, mas o resto, estava tudo bagunçado.

Um vulto passou por mim. Tinha tamanho e forma. Era uma criança. Ou melhor, minha versão infantil. Eu estava com meu casaco, e havia desobedecido minha mãe. Me lembro desse dia. Eu havia obedecido a voz na minha mente, Thiamatt, que me guiou para um portal, que me fez parar no mundo místico e cair em uma vala, com a draconia brilhando pela primeira vez, até minha mãe me encontrar e me levar para casa.

Em seguida, eu vi minha mãe, ela estava jovem, muito jovem, e tinha algo nos braços. Era um embrulho, com um bebê dorminhoco dentro, era eu. Talia parecia preocupada, ela e Drago me deixaram com uma mulher de cabelos dourados, chamada Lumina. Ela estava acompanhada de um garotinho, de cabelos verdes e olhos dourados, muito parecido com o amigo de meu pai, Striker. O filho do casal, eu suponho. Nunca o conheci.

Foi então que me lembrei da cena, assim que Talia e Drago se uniram a Striker, um lobisomem, uma elfa é um transmorfo. Foi a visão que eu tive quando entrei em contato com a draconia da minha mãe, assim que caímos da garupa do Drago, que havia tido ambas as asas rasgadas.

Aquelas cenas, que ocorriam gerenciadas pela névoa, não eram nada além de lembranças bloqueadas que revelavam que eu estava sendo perseguido desde o meu mascimento. Tudo por causa de uma profecia.

Logo, tudo começou a clarear, e eu consegui, finalmente, abrir os olhos.

A primeira coisa que vi, foi minha mãe. Ela sorria aliviada, enquanto acariciava meu rosto.

Talia: meu dragãozinho, você acordou. Eu fiquei tão preocupada.

Drago: não nos assuste assim mais, pirralho!

Wield; e aí.

A única coisa que consegui fazer, foi sorrir.

Eu: eu estou bem, relaxem. Não vão se livrar de mim tão fácil.

Com esforço, me sentei e Talia me abraçou, tocando todo o meu corpo, garantindo que não havia nenhum osso quebrado.

Eu: está tudo bem, mãe.

Talia: eu sei, mas só quero conferir.

Ela voltou a me abraçar. Drago fez questão de usar seus poderes para me aquecer. Agradeci ao mago que estava ali. E comecei a conversar com Wield, que, tristemente, me contou com detalhes tudo o que aconteceu. Na real, eu me senti mal por ele, que precisou fugir para que o sacrifício de Jack tenha valido a pena.

É tudo tão difícil. Eu apenas queria voltar.para minha vida normal, cortando lenha para o inverno, indo todos os dias para o colégio e folgando no verão, sendo jogar videogame meu maior passatempo enquanto minha mãe trabalhava pelo computador e dividia as contas com minha tia avó, vulgo tia da Talia.

Instintivamente, levei a mão a testa, percebendo que minha bandana não estava lá para começo de conversa. Tateei minha pele, chegando ao centro e sentindo bem ali a minha draconia, uma pedra torta que parece um losango desenhado por alguem sem coordenação motora. Estava rachada, eu podia sentir as rachaduras atravessando sua estrutura de ponta a ponta, acho até que tem alguns pequenos fragmentos faltando.

Eu não sinto mais a presença de Thiamatt.

Continua...

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