࣪✶ só não acerta no joelho, tá?

Steve e Dustin trocaram um olhar rápido antes de voltarem seus olhos para Tessa.

— O portal. — Eles disseram em uníssono, e Tessa concordou com um aceno firme. Sem perder tempo, os cinco dispararam escada abaixo.

— Espera aí... Vocês já viram isso antes? — Robin perguntou, claramente confusa.

— Não exatamente. — Steve respondeu, sem parar.

— Então como exatamente?! — Robin insistiu, a tensão evidente na sua voz.

— Só precisa saber que é ruim. — Dustin respondeu de forma direta.

— Muito ruim. — Steve confirmou.

— Ruim tipo o fim da humanidade. — Dustin completou, o tom grave.

— E vocês sabem disso como? — Robin continuou, tentando entender a gravidade da situação.

— Ah, Steve... Cadê o seu amigo russo? — Erica questionou com sarcasmo, ao perceber apenas um rastro de sangue onde o russo estava anteriormente.

— Merda. — Tessa murmurou, enquanto um alarme começava a soar e as luzes piscavam. — Achei que você tinha apagado o cara!

— E eu apaguei! — Steve resmungou, correndo até a porta e vendo o russo que ele havia nocauteado conversando com outro, apontando diretamente para a sala. — Vai, vai, vai! Corre!

Eles dispararam de volta pelas escadas, os pés martelando contra os degraus. Ao passar por alguns russos, empurraram-nos, sem olhar para trás enquanto os guardas começavam a persegui-los.

Continuaram correndo, com Steve derrubando alguns tonéis de metal para atrasar os perseguidores. Finalmente, eles se jogaram dentro de uma sala, onde Steve imediatamente se colocou contra a porta para segurá-la. Ao vê-lo lutando sozinho, Tessa correu para ajudar, mas era impossível dizer quantos homens estavam do outro lado, tentando arrombar a porta.

— Robin! — Ambos gritaram ao mesmo tempo, e ela correu para juntar-se a eles, pressionando seu peso contra a porta.

— Por aqui! Vem rápido! — Erica gritou, encontrando uma saída.

— Vem logo! Anda, vem pra cá! — Dustin chamou, gesticulando freneticamente.

— Vão! Droga, não vamos conseguir segurar por muito tempo. — Tessa exclamou, usando toda sua força.

— Dustin, vai! — Steve ordenou, a voz cheia de urgência.

— Eu não vou deixar vocês! — Dustin protestou, recusando-se a abandoná-los.

— Foge! Trás ajuda, entendeu? — Steve insistiu, quase gritando.

— Eu não vou esquecer vocês! — Dustin prometeu, antes de finalmente ceder e entrar no duto.

Segundos depois, os guardas conseguiram forçar a porta aberta, jogando Steve, Tessa e Robin no chão. Ao levantar o olhar, se depararam com vários russos, armas apontadas diretamente para suas cabeças. Sem escolha, eles ergueram as mãos lentamente, rendidos.

{ . . . }

Tessa e Robin estavam trancadas em uma sala escura e apertada há um bom tempo, completamente sozinhas. A ansiedade e o medo já estavam tomando conta. Steve havia sido levado por um dos guardas para ser interrogado, — e provavelmente torturado — o que deixava Tessa bem apavorada. Ela andava de um lado para o outro na pequena sala, roendo as unhas até quase arrancá-las.

— Tess... Eu também estou preocupada com ele, mas você está me deixando tonta. — Murmurou Robin, abraçando os joelhos enquanto observava a amiga.

Tessa respirou fundo, tentando se acalmar, e soltou um longo suspiro antes de se sentar ao lado dela.

— Nem consigo imaginar o que estão fazendo com ele. — Murmurou, abraçando os joelhos e apoiando o queixo em um dos braços, o olhar fixo no chão.

— Ele vai ficar bem. — Robin tentou confortá-la, mesmo que a preocupação estivesse estampada em seu rosto.

— Espero que sim. Pelo menos ele já tá acostumado a levar umas porradas, talvez ele sinta menos dor. — Tessa tentou brincar.

Robin soltou uma risada fraca, concordando com a cabeça. Mas antes que pudessem continuar, a porta se abriu abruptamente, revelando dois soldados russos. As duas ergueram o olhar, imediatamente tensas, ao sentirem aqueles homens enormes agarrando seus braços e as puxando para fora da sala.

— Ei, me larga! — Robin protestou, tentando se soltar enquanto os homens as forçavam a sair. Quando viram o que parecia ser o líder deles se aproximar, Robin encarou o homem com raiva. — O que vocês fizeram com o Steve?

— Logo vocês vão descobrir. — disse o homem, com um sorriso irônico e um sotaque russo carregado.

Единственное, что я хочу видеть, это кусок дерева, застрявший у тебя во рту. — Tessa disparou, olhando para ele com puro ódio. ("A única coisa que quero ver é um pedaço de madeira preso na sua boca.")

O líder russo a encarou, surpreso, antes de seus olhos se estreitarem com raiva. Os outros dois soldados trocaram olhares, claramente irritados com as palavras dela.

Что?! — o russo rosnou, avançando um passo. ("O quê?!")

Соси мой член, чертов коммунист. — Tessa cuspiu as palavras, sem medo, o olhar fixo no do homem. ("Chupa meu pau, comunista de merda.")

A expressão do líder endureceu, seus olhos queimando de ódio. Robin, sem entender russo, observava a situação em pânico, mas a linguagem corporal dos russos e o olhar mortal que o líder lançou para Tessa deixava claro que ela havia passado dos limites.

Возьмите распутницу там, где была другая. Другой может оставить это другому американцу. — o líder ordenou aos outros, seu tom de voz gelado e implacável. ("A atrevida pode ser levada para onde o outro estava. A outra pode ficar junto com o outro americano.")

Um dos soldados apertou o braço de Tessa com força, arrastando-a para fora da sala junto com o líder, levando-a para o local onde Steve estava sendo torturado. Enquanto isso, o outro soldado levava Robin para outra sala, onde Steve já estava, inconsciente e machucado.

{ . . . }

A sala era fria e mal iluminada, com paredes de concreto que exalavam umidade,e uma única lâmpada pendia do teto. O som monótono de gotas de água caindo de um cano invisível ecoava pela sala. No centro, uma cadeira de metal esperava, um lugar para o próximo prisioneiro.

Tessa foi arrastada para lá, seus braços forçados para trás e amarrados com brutalidade. Ela se sentou com o corpo tenso, tentando mascarar o medo que crescia dentro de si. Mas seus olhos, inquietos, revelavam a tensão enquanto observava os dois russos à sua frente.

O líder, um homem de expressão dura e olhos sombrios, ficou na frente dela, seu olhar impassível. O segundo russo, mais baixo e com cicatrizes que cruzavam seu rosto, prendeu as mãos de Tessa na cadeira, certificando-se de que ela tentaria se soltar ou bater neles.

— Para quem você trabalha? — perguntou o líder, sua voz gélida, carregada de autoridade.

Tessa forçou um sorriso irônico, tentando manter o tom desafiador.

— Cinema, no Starcourt. Não parece o tipo de emprego que vocês estariam interessados, né?

O líder estreitou os olhos, claramente irritado com a atitude dela.

— Como vocês chegaram até aqui?

— Sabe como é — Tessa respondeu, a ironia pingando de cada palavra. — quando você pede uma pizza, seus amigos vêm buscar a entrega e, de repente, boom! Estamos no meio de uma operação russa. Péssimo timing, não acha?

O líder respirou fundo, tentando manter a paciência.

— Não estamos aqui para brincadeiras, garota. Quem mais está com vocês?

Tessa se inclinou na cadeira, sua expressão de falsa confiança começando a rachar levemente, mas ela ainda mantinha o controle.

— Eu já disse, só meus amigos. Os dois que estão aqui. — ela mentiu. — Nós viemos pegar uma entrega pra sorveteria que eles trabalham, e de alguma forma, acabamos no lugar errado na hora errada. Se isso não convence vocês, talvez vocês devessem melhorar a segurança aqui.

O líder trocou um olhar com o russo ao seu lado, a frustração evidente em seus rostos.

— Vocês americanos acham que podem entrar aqui e nos enganar? — Ele deu um passo à frente, inclinando-se sobre ela, o rosto a poucos centímetros do dela. — Eu vou perguntar uma última vez... Pra quem você trabalha?

Tessa o encarou diretamente nos olhos, sua voz gotejando desafio.

— E eu vou responder uma última vez... Pro cinema do shopping.

O silêncio que seguiu foi até meio torturante. Os dois russos se entreolharam por um momento, e o líder assentiu para o outro homem.

No instante seguinte, Tessa arfou de dor quando o punho do segundo russo encontrou seu estômago com força. O ar foi arrancado de seus pulmões, e ela se dobrou para frente, presa pelos braços na cadeira. Ela tentou recuperar o fôlego, cada respiração parecendo uma queimação no peito.

— Isso é o que acontece com aqueles que mentem para nós — murmurou o líder, observando-a com frieza. — Agora, vou perguntar mais uma vez... Como vocês chegaram aqui?

Tessa, ainda recuperando o fôlego, levantou o olhar com dificuldade, seus olhos agora brilhando com uma mistura de dor e determinação. Mesmo que seu corpo estivesse em agonia, ela não ia ceder tão facilmente.

— Vocês podem continuar com isso o quanto quiserem, mas não vou mudar a história — disse ela, ofegante. — Já disse o que aconteceu.

O líder franziu o cenho, claramente insatisfeito com a resposta. Ele fez um sinal para o outro russo, que se virou e abriu a caixa de metal, tirando de lá uma pistola com uma agulha enorme, e um líquido verde brilhante.

Tessa arregalou os olhos ao ver ele se aproximando com aquela coisa, e sua postura desafiadora vacilou momentaneamente. Ela tentou quebrar a tensão com sarcasmo, como sempre fazia.

— Ah, ótimo. Acho que esse é um péssimo momento para mencionar que eu tenho um certo pavor de agulhas, né? — disse ela, a voz falhando ligeiramente no final.

O segundo russo segurou a cabeça de Tessa firmemente, expondo seu pescoço, e sem hesitar, injetou o líquido verde. Ela sentiu a substância fria entrando em sua corrente sanguínea, espalhando-se como fogo por suas veias. Seus olhos se fecharam com força enquanto a dor começava a se intensificar, sua respiração se tornando errática.

{ . . . }

Depois do que pareceram horas, Tessa respirou fundo. Seu cérebro parecia ter sido chacoalhado várias vezes, mas ela ainda conseguia pensar, o que já era uma vitória, considerando tudo.

Ela franziu a testa, tentando entender o que estava acontecendo. Curiosamente, ela se sentia... bem. Bem até demais, para alguém que tinha sido drogada por russos malignos. Algo definitivamente não estava normal.

Ela se perguntou se tinha alguma resistência secreta a drogas russas. Em seguida, completou o pensamento: ou talvez, ela estava prestes a se transformar no Incrível Hulk, afinal, a droga tinha uma cor meio esverdeada.

Ela riu da própria ideia, o som de sua voz soando estranhamente alto em sua cabeça. Tentando ignorar a sensação bizarra, ela aumentou a voz, testando se alguém a ouviria.

— Socorro! Tem alguém aí? Alguém que, de preferência, não seja um russo malvadão? — gritou, sentindo a cabeça leve e a visão levemente embaçada. O eco da sua voz a fez rir de novo, o que só aumentou sua frustração. — Alguém? Qualquer um!

Mas o silêncio foi sua única resposta. Presa na cadeira, seus braços amarrados firmemente, ela bufou irritada.

— Malditos soviéticos! — ela gritou, tentando se mexer sem sucesso. — Comunistas fudidos!

De repente, a porta de metal se abriu com um rangido alto, e três russos entraram na sala. O líder, com uma expressão fria e severa, foi o primeiro a cruzar o limiar, seguido por dois guardas corpulentos.

— Ah, a comitiva soviética! Que honra — disse Tessa, o sarcasmo escorrendo da sua voz. Ela olhou para os guardas, esforçando-se para manter a cabeça erguida. — E aí, galera? Como vai a vida? Já assistiram "Rocky IV"? Aposto que sim.

O líder ignorou o tom dela, aproximando-se com passos lentos e calculados. Ele se inclinou levemente, para que seus olhos ficassem ao nível dos dela.

— Para quem você trabalha? — ele perguntou novamente, com uma voz fria e cortante.

Tessa revirou os olhos, tentando manter o controle.

— Já disse, eu trabalho no cinema. Querem desconto no ingresso? — respondeu, sua voz cheia de uma falsa inocência. — Sério, estamos com uma promoção ótima no combo de pipoca e refri.

Sem hesitar, um dos guardas deu um soco firme em seu estômago, arrancando-lhe o ar dos pulmões. Ela se inclinou para frente, gemendo de dor, mas ainda assim, um sorriso fraco apareceu em seu rosto.

— Caramba, você precisa relaxar, moço. Sabe, eu sou uma ótima companhia para um bom filme. Já viu "O Exorcista"? — Ela riu, ofegante, seu corpo inteiro doendo. — Acho que vocês deveriam me soltar. Justo, né? Assim, posso fazer o papel da vítima perseguida com mais realismo. Acho que na Rússia ainda não chegou a lei de homens enormes não agredirem pobres damas indefesas.

O líder ficou em silêncio por alguns segundos antes de repetir a pergunta.

— Como vocês chegaram até aqui?

— Vocês são surdos, né? — disse ela, tentando se endireitar, mas sua voz agora tinha um tom mais exausto. — Estávamos só pegando uma pizza... ou seria uma entrega? Nem sei mais... — ela riu, claramente zonza e desorientada.

Outro soco, dessa vez mais forte, a fez se curvar novamente. Ela tentou recuperar o fôlego, tossindo.

— Pra quem você trabalha? — ele insistiu.

Tessa ergueu a cabeça, seus olhos semicerrados fixos no líder.

— Olha, já tá ficando meio repetitivo. É só isso que você sabe falar na nossa língua? "Pra quem você trabalha?" — Ela o imitou, forçando o sotaque russo. — Acho que um cursinho de inglês cairia bem, hein?

— Seus amigos, vestidos de marinheiros... Quem são?

— Ah, eles? Vamos ver... — ela fingiu pensar, com um sorriso preguiçoso. — Robin é nerd, mas um charme só. E o Steve... Ah, o Steve. Ele é um idiota com um cabelo maravilhoso e um perfume que... que é insuportável de tão bom. Sério, vocês deveriam cheirar ele. Bem, hoje não. Estamos a um bom tempo aqui, e ele já deve estar meio fedorento. — Ela balançou a cabeça, ainda sorrindo de forma boba. — Mas, no fim das contas, ele é só um imbecil bem fofo. Um babaca. Mas muito lindo.

O homem estreitou os olhos, percebendo ali uma oportunidade de tirar alguma informação dela.

— Esse Steve é o seu namorado? — A voz carregada de sotaque russo perguntou.

— Meu namorado? Não, não... Eu até poderia mentir pra vocês, mas sinceramente, acho que vocês não ligam. — Ela riu novamente. — Bem que eu gostaria. Sou apaixonada por ele desde, o que? Desde a quinta série? Enfim. Ele é um idiota, e nunca percebeu isso. E agora, que eu gosto ainda mais, dou todos os sinais possíveis e nada. Enfim, um idiota, mas um idiota adorável. Vocês já viram o cabelo dele?

Ela começou a falar sem parar, e o homem bufou, inclinando a cabeça para o guarda ao seu lado, que não hesitou em dar um soco em seu rosto.

— Droga, no rosto não! Vocês não entendem que essa parte é sagrada? — reclamou, indignada, sentindo sangue escorrer do seu nariz. — vai acabar com a minha melhor qualidade, porra. Aí é foda.

— Como vocês nos encontraram?! — ele perguntou mais uma vez, ignorando o pedido dela, e Tessa bufou, frustrada.

— Cara, eu já te disse tudo! Tá difícil, hein. Quer que eu desenhe? — ela exclamou, impaciente, e o líder fez um gesto breve para o outro guarda, — que até então estava em silêncio — sussurrando algo em russo. Ele se aproximou com algo que parecia uma barra de ferro, e Tessa arregalou os olhos.

— Espera, espera, espera! Não! Moço, você mesmo, russo malvadão. — Ela chamou o líder com um aceno de cabeça, que franziu a testa e se abaixou um pouco mais para olhar para ela. — Por favor, avisa o Arnold Schwarzenegger ali — ela errou o nome, mas continuou sem se importar. — pra não acertar no meu joelho direito. Ele já tá todo fudido, e se ele me bater com isso aí, meu joelho vai descolar e, tchau, fisioterapia. Eu até avisaria ele, mas vocês me encheram de droga e meu russo tá péssimo por isso. Obrigada, você é um anjo!

O líder não demonstrou nenhuma emoção, mas fez um gesto breve, resmungando em russo para que o guarda prosseguisse, e o homem a acertou bem no joelho direito, o que a fez gritar de dor.

— Puta merda, o que foi que eu falei?! Vocês não sabem seguir instruções, não? Que merda de vilões vocês são?

O líder, impassível, apenas a observou antes de sinalizar para os guardas. Eles a desamarraram da cadeira, e a seguraram firmemente pelos braços, arrastando-a para fora da sala.

Tessa, ainda tentando processar o que estava acontecendo, riu baixinho.

— Beleza, já entendi, hora do passeio. Vai ter sorvete depois? Sabe, eu adoro um sundae... — disse enquanto eles a levavam pelos corredores mal iluminados, seus passos arrastados ecoando pelo local.

De repente, ela sentiu como se algo se apagasse em seu cérebro, e ela se viu desacordada, sendo arrastada pelos corredores sem delicadeza nenhuma pelos seus braços.

{ . . . }

Steve piscou várias vezes, tentando clarear a mente e entender o que estava acontecendo ao seu redor. Ele sentia uma dor aguda na cabeça, como se tivesse sido atingido por uma marreta, e seu corpo inteiro doía, como se tivesse levado uma surra de um time de futebol americano, e não de um russo.

— Socorro! Socorro! Socorro! — A voz desesperada de Robin ecoou na pequena sala, cortando o silêncio.

— Ei, será dá pra parar de gritar? — Steve resmungou, forçando-se a abrir os olhos. A claridade do ambiente o fez franzir a testa.

— Steve! Ai, meu Deus! Steve... Você... Você tá legal? — Robin perguntou, alívio e preocupação misturados na sua voz.

— O ouvido tá tinindo, não dá pra respirar direito, meu olho parece que vai sair da cabeça, mas, tirando isso, eu tô muito bem — ele respondeu com um humor seco, tentando ignorar a dor insuportável.

Robin soltou um suspiro aliviado, mas logo voltou à sua usual ironia.

— Bem, a boa notícia é que eles estão trazendo um médico — ela disse, a voz carregada de sarcasmo.

Steve, ainda meio zonzo, olhou ao redor da sala, notando pela primeira vez os detalhes do lugar. As paredes eram de concreto cru, e o único mobiliário era uma mesa de metal enferrujada no canto, coberta de instrumentos que ele preferia não investigar mais de perto.

— Esse é o consultório? Adorei a decoração, é charmoso. — ele comentou, tentando manter o tom leve apesar das circunstâncias.

— Sim, nem me fale. — Robin respondeu, acompanhando a ironia dele.

Mas então, uma sombra de preocupação cruzou o rosto de Steve. Ele virou a cabeça o máximo que podia para tentar enxergar melhor a sala. Robin estava amarrada atrás dele, mas... E a Tessa? O coração dele acelerou, e ele sentiu um pânico crescente começar a se formar no estômago.

— Robin... Cadê a Tessa? — Ele perguntou, a voz tensa.

Robin hesitou por um momento antes de responder.

— Eles levaram ela antes de me trazer pra cá. — Ela respondeu, a voz baixa e cheia de preocupação. — Ela começou a falar com o chefe, ou sei lá que merda ele é. Provavelmente ela o xingou em russo ou algo do tipo. Eu não entendi nada do que ela disse, mas o cara não ficou nada feliz. Depois disso, eles a levaram, e desde então eu não a vi.

Steve sentiu como se o chão tivesse se aberto sob seus pés. Ele tentou imaginar Tessa sendo levada pelos russos, sua boca sempre cheia de sarcasmo e provocação, mesmo nas piores situações. Ele sabia que ela nunca ficava calada, que sempre tinha uma piada ou um comentário afiado na ponta da língua. E isso o aterrorizava, porque ele também sabia que os russos não iriam hesitar em machucá-la como fizeram com ele.

— Droga, Tess... — Steve murmurou, quase para si mesmo, sua mente girando com cenários terríveis.

— Ela provavelmente está bem, Steve. — Robin tentou acalmá-lo, mas sua própria voz soava incerta, ela tentava convencer a si mesma.

— Você não entende, Robin. — Steve começou a falar, sem conseguir parar. — Ela é durona, ela é esperta, ela é fodidamente corajosa, mas ela não sabe quando calar a boca. E esses caras... Esses caras são perigosos. Eu não sei o que eles podem fazer com ela. Eu não tentei provocar, e eles acabaram comigo. Imagina com ela? Não acho que eles sejam muito a favor da ideia de respeito a mulheres.

Ele fechou os olhos por um momento, tentando afastar as imagens horríveis que sua mente estava criando. E se algo realmente tivesse acontecido com ela? E se...

— Steve, não adianta a gente pensar no pior agora. — Robin interrompeu seus pensamentos. — Precisamos nos concentrar em sair daqui e encontrá-la. Tenho certeza que ela está dando tanto trabalho pra eles que vão se arrepender de ter pego ela.

Steve tentou se agarrar a essa ideia, mas o medo por Tessa continuava a corroe-lo. Ele assentiu, não menos preocupado, mas assentiu mesmo assim.

— Tá legal, olha, você tá vendo aquela mesa ali, à direita? — Robin perguntou, inclinando a cabeça para indicar a direção.

Steve olhou para o lado errado, franzindo a testa. — Não, sua outra direita — Robin corrigiu.

— Ah — Steve resmungou, finalmente avistando a mesa certa.

— É, então. Tá vendo a tesoura? — Robin perguntou.

— Aham. — Steve assentiu.

— Tá, olha só... Eu acho que se a gente pular ao mesmo tempo, dá pra chegar lá. Aí eu posso chutar a mesa e jogar ela no seu colo.

Steve franziu a testa, considerando a ideia.

— Aí eu corto as fitas.

— É, e poderíamos sair daqui — Robin concordou com ele.

— Entendi. Ok, é, podemos fazer isso. — Steve confirmou, começando a se preparar mentalmente.

— É , podemos. — Robin afirmou, tentando se convencer de que aquilo poderia realmente funcionar.

— Que burros. Eles deixaram mesmo uma tesoura aqui? — Steve comentou, ainda um pouco incrédulo com a sorte improvável.

— É, são burros. — Robin respondeu, uma pontinha de riso escapando, apesar da tensão.

— Muitoq burros — Steve concordou, um pequeno sorriso se formando em seus lábios.

— Ok — Robin respirou fundo, ajustando-se na cadeira. — Ok, então, no três, vamos pular.

— Ok, bom, pulamos no três. Entendi — Steve repetiu, ainda tentando processar tudo.

— Tudo bem. Um, dois, três. — Robin contou, e os dois pularam ao mesmo tempo, movendo-se juntos em direção à mesa. — Legal, funcionou. — Robin disse, surpresa que o plano estivesse realmente indo bem até agora.

— Funcionou. — Steve ecoou, uma pequena onda de otimismo surgindo.

— Tudo bem. Uh, vamos tentar de novo.

— Certo.

— Um, dois, três — Robin comandou novamente, e ambos pularam outra vez, desta vez mais próximos da mesa. — Puta merda, isso vai funcionar! — Robin exclamou, a empolgação crescendo.

— Estamos perto. Pronta? — Steve perguntou, sentindo a adrenalina subir.

— Certo, um, dois, três. — Robin contou novamente, e os dois pularam com toda a força que tinham. Mas dessa vez, o impulso foi demais, e eles perderam o equilíbrio, caindo no chão de uma vez.

Por um segundo, tudo ficou em silêncio, até Robin começar a rir descontroladamente, um riso que começou pequeno, mas logo tomou conta dela. Steve, ainda atordoado, virou a cabeça para tentar olha-la.

— Está tudo bem, está tudo bem. Não chore, Robin. A gente vai dar um jeito, e... Você está rindo? — Ele perguntou, surpreso.

— É — Robin conseguiu responder entre risos, as lágrimas se formando no canto dos olhos.

— Gente... — Steve murmurou, sem saber como reagir, olhando para a frente.

— Desculpe! Sinto muito. É que... Não acredito... Que eu vou morrer em uma base secreta russa com Steve Harrington topetinho. Que barato. Isso é muito louco, cara — Robin disse, ainda rindo, a absurda ironia da situação tomando conta dela.

— Não vamos morrer. Vamos sair daqui, ok? Só... Você tem que me deixar pensar por um segundo. — Steve disse, tentando manter o controle.

— Você se lembra, hum, da aula de história da Sra. Click?

— O quê? — Steve perguntou, confuso com a mudança de assunto.

— A Sra. Clickity-Clackity. Era assim que o pessoal da banda chamava ela. Era no primeiro tempo, as terças e quintas, então você sempre se atrasava. E você sempre tomava o mesmo café da manhã. Bacon, ovo e queijo em um pão de gergelim. Eu me sentei atrás de você dois dias por semana durante um ano. O engraçadinho. O maneiro. O Rei do colégio Hawkins. Você ao menos se lembra de mim daquela aula? — Robin perguntou, sua voz misturando melancolia e desdém.

Steve ficou em silêncio, a culpa e a vergonha aflorando em seu rosto.

— Claro que não. Você era um verdadeiro babaca, sabia disso? — Robin continuou.

— É, eu sei. — Steve admitiu, baixando os olhos, sentindo o peso das suas palavras.

— Mas nem importava. Não importava que você fosse um babaca. Eu ainda estava... obcecada por você. Mesmo que os otários fingissem estar acima de tudo isso, a gente ainda queria ser popular... aceito, normal — Robin confessou, as palavras fluindo sem filtro.

— Se isso faz você se sentir melhor, ter essas coisas não é tão bom assim. Sério. Eu fico impressionado. Tudo o que as pessoas dizem que é importante, tudo o que dizem que você deveria se importar, é tudo só... Besteira. Mas acho que você tem que se ferrar para entender as coisas, né? — Steve respondeu, sua voz carregada de uma sinceridade dolorosa.

— Espero que sim. Sinto que minha vida inteira foi... Um grande erro — Robin disse, sua voz quebrando um pouco no final.

Steve riu fraco ao ouvi-la imitar o sotaque russo ao falar sobre o "grande erro" e murmurou um "É", tentando aliviar o clima.

— Pelo menos não pode ficar pior que isso.

— Sabe, eu queria ter conhecido você na aula da Click. Sério, eu queria. Talvez você pudesse ter me ajudado a passar. Talvez em vez de estar aqui, eu estivesse a caminho da faculdade agora — Steve disse, sua voz carregada de um desejo sincero.

— E eu não teria ideia de que havia russos malignos sob nossos pés, e eu estaria feliz servindo sorvete com algum outro idiota — Robin respondeu, uma pequena risada escapando.

— Tenho que dizer, que gostei de ser seu idiota. Foi muito bom enquanto durou.

— É, foi mesmo — Robin concordou, um pequeno sorriso melancólico surgindo em seus lábios.

O som metálico da porta sendo aberta interrompeu o momento, e ambos levantaram a cabeça rapidamente. Três russos entraram na sala, e um deles arrastava alguém junto com ele. Steve sentiu seu coração afundar ao reconhecer a figura desacordada sendo amarrada em uma cadeira à sua frente.

— Aonde vocês dois estavam indo? — O russo perguntou, sua voz carregada de ameaça enquanto o outro homem apertava as cordas em torno de Tessa.

O sangue de Steve gelou ao ver Tessa naquela condição. Ela estava machucada, com hematomas visíveis no rosto e nos braços, mas ainda respirava. Ele tentou manter a calma, mas o pânico já dominava, cada músculo de seu corpo tenso de preocupação.

Os russos ergueram Steve e Robin, os forçando a se sentarem novamente, apertando as amarras com força, como se quisessem afirmar o controle que tinham sobre eles.

— Tessa? Tess! — Robin gritou, sua voz carregada de desespero ao ver a amiga inconsciente na cadeira em frente a Steve, o corpo de Tessa inclinado para frente, sem reação.

— O que vocês fizeram com ela?! — Steve rugiu, a raiva fervendo dentro dele enquanto se contorcia inutilmente contra as fitas que o prendiam. — O que fizeram?!

O russo apenas riu antes de saírem da sala, deixando-os sozinhos.

{ . . . }

— Tessa! Acorda! — Robin continuava a chamar, a angústia crescendo a cada segundo que passava sem resposta. Steve não desviava o olhar de Tessa, o medo de que ela não acordasse apertando seu peito.

Minutos se passaram, e o silêncio pesado da sala era quebrado apenas pelas respirações ofegantes de Steve e Robin. A tensão enchia o ar, era meio sufocante.

De repente, um som suave, quase imperceptível, ecoou na sala. Steve ergueu o olhar, vendo Tessa mexer a cabeça ligeiramente, a testa franzida como se estivesse saindo de um sono profundo.

A voz de Robin soava distante na mente confusa de Tessa, como se houvesse várias Robins falando ao mesmo tempo.

— Robin, pelo amor de Deus, para de gritar. — Tessa resmungou, os olhos ainda fechados, a voz arrastada e pesada.

Steve e Robin arregalaram os olhos. Robin tentou olhar pro lado para ver a Sinclair, mas não conseguiu, por estar nas costas do Steve.

— Tessa? Ah, graças a Deus. — Robin suspirou, a tensão em sua voz diminuindo.

Tessa abriu os olhos com dificuldade, piscando várias vezes antes de focar em Steve. Mesmo machucada, sua expressão se suavizou em um sorriso irônico.

— Porra. Acabaram contigo, hein, Harrington? — Ela brincou, a voz rouca, mas carregada com o humor ácido que lhe era característico.

Steve não pôde evitar um sorriso, balançando a cabeça, incrédulo.

— Como você tá? Tá doendo muito? — ele perguntou, preocupado.

— Não tá doendo nadinha. — Ela confessou, soltando uma risada que parecia fora de lugar. Steve franziu a testa. — Acho que nunca estive melhor, na verdade.

— Você é maluca, garota. — Robin afirmou, rindo fraco. — O que você falou praquele russo? Você deveria ter ficado quieta.

— Hm... Não lembro muito bem. — Tessa falou devagar, como se as palavras estivessem dançando em sua mente. — Mas acho que mandei ele... chupar meu pau... ou algo assim. — Ela deu de ombros, a voz saindo arrastada e entrecortada por risadas. — Aí me levaram pra uma sala esquisita, e ficaram perguntando, tipo, umas quarenta vezes onde eu trabalho. Mas eles não querem o desconto no ingresso que eu ofereci. Uma pena.

Steve franziu ainda mais a testa. Ela parecia muito mais boba do que o normal. Sua voz soava diferente, as palavras se misturavam, e ela ria de maneira desconexa entre as frases.

— O que fizeram com você lá? — Steve perguntou, o tom agora mais preocupado.

— Ah, toda vez que eu respondia, eles me davam umas porradas. — Tessa respondeu, as palavras saindo meio embaralhadas. — Mas o bom é que... não tô sentindo nada... tipo, nada mesmo.

— E depois? — Robin perguntou, provavelmente pensando na mesma coisa que Steve.

— Depois... depois eles pegaram uma arma... com uma agulha... bem grande, e enfiaram no meu pescoço! — Ela fez uma pausa, ela contava exatamente como uma criança, fazendo pausas excessivamente lentas. — A tecnologia russa, né? Sempre surpreendendo. — Ela continuou rindo enquanto Steve e Robin tinham olhares preocupados, percebendo que Tessa havia sido drogada.

— E aí... aí chegou um cara tipo... tipo o Arnold Schwarzenegger, sabe? Com uma puta barra de ferro... e ele bateu no meu joelho fudido! Mesmo depois de eu ter dito... no joelho não! — Ela terminou a frase rindo, como se fosse a coisa mais engraçada do mundo.

— Uma barra de ferro?! — Robin perguntou, horrorizada, enquanto Tessa continuava rindo, claramente sem perceber a gravidade do que estava dizendo.

Steve e Robin ficaram em silêncio por um momento, observando Tessa, que parecia estar em outro mundo. Ela estava com um sorriso bobo no rosto, os olhos meio desfocados, e ria baixinho como se tivesse contado a piada mais engraçada do mundo.

— Sabe... — Tessa começou de novo, arrastando as palavras. — Eu sempre achei que... sabe aquelas barras de ferro? Tipo... tipo aquelas que a gente vê em filme? Elas parecem pesadas... mas, tipo... não doeu nada! E eu acho que... que eu sou uma super-heroína agora... ou sei lá...

Robin tentou olhar para Steve com preocupação, mas antes que ele pudesse responder, Tessa continuou.

— Será que eu tenho superpoderes agora? Tipo... eu podia ter jogado aquele russo pelo... pelo teto, sabe? — Ela riu, como se realmente acreditasse que pudesse fazer isso. — Mas aí eu pensei... Nah, melhor não. Tipo... eu não quero arruinar o cabelo dele. — Ela deu uma risada alta, como se essa ideia fosse hilária.

— Tessa... — Steve tentou chamá-la de volta à realidade, mas ela estava completamente fora de si.

— Sabia que eu sempre quis... tipo... voar? — Tessa olhou para o teto, como se estivesse vendo algo fascinante. — Mas não com asas. Asas são... muito clichê. Eu queria voar com... um balão gigante de sorvete! Tipo, uma grande banana split! Com cereja e tudo!

Robin segurou uma risada, mas a situação era grave demais para rir. Steve, por outro lado, não conseguia tirar os olhos de Tessa, o medo e a frustração misturando-se dentro dele.

— Tess, tenta se concentrar. — Ele pediu, a voz carregada de preocupação. — O que mais eles fizeram com você?

Tessa pareceu pensar por um momento, o rosto dela se contorcendo em uma expressão de concentração exagerada.

— Acho que... acho que eles cantaram uma música... tipo, um hino russo ou algo assim. Mas... mas eu só queria... uma música do Queen, sabe? Tipo... "Don't Stop Me Now". — Ela começou a cantarolar a música, balançando a cabeça de um lado para o outro.

Antes que Steve pudesse tentar falar de novo, a porta se abriu bruscamente, e os russos voltaram à sala. Tessa, ainda cantarolando, nem percebeu a presença deles.

Os russos trocaram um olhar rápido entre si, ignorando as palavras de Tessa enquanto se aproximavam de Steve e Robin.

O homem de expressão fria se aproximou de Steve, inclinando-se para tocar seu queixo, forçando-o a olhar diretamente em seus olhos. A tensão no ar era palpável, e Tessa parou de girar na cadeira, sua atenção finalmente focada.

— Tente dizer a verdade dessa vez, sim? — O russo murmurou com um sotaque carregado, enquanto apertava com o polegar uma das feridas no rosto de Steve, que resmungou de dor. — Vai deixar a consulta com o Dr. Zharkov menos dolorosa.

Tessa observava com os olhos arregalados enquanto outro russo, o tal Dr. Zharkov, se aproximava de Steve com uma pistola estranha. Desta vez, o líquido dentro da agulha era de um azul profundo, que brilhava sob a luz fluorescente do quarto.

— Espera. Não, calma! Espera! Pera, pera! O que é isso?! — Steve perguntou, a voz carregada de horror ao ver a agulha.

— Vai ajudá-lo a falar. — O Dr. Zharkov respondeu, sua voz baixa e ameaçadora, enquanto segurava Steve pelo pescoço com uma mão firme.

— Não! Você limpou essa coisa?!

Steve gritou de dor quando a agulha perfurou seu pescoço, o líquido azul invadindo suas veias. Tessa, vendo a cena, tentou entender o que estava acontecendo, franzindo a testa em confusão.

— Por que que o meu não foi azul? — Ela murmurou, mais para si mesma do que para os outros, um tom de desapontamento em sua voz.

{ . . . }

A sala ficou em um silêncio opressor, quebrado apenas pela respiração ofegante de Steve. Então, de repente, Tessa, ainda um pouco aérea, começou a falar novamente, suas palavras surgindo como se estivessem flutuando em sua mente.

— Vocês acham que o Dustin vai voltar? — Ela perguntou, girando na cadeira como se estivesse em um parque de diversões. — Tipo, sei que não devemos fazer preferência entre os filhos... Mas o Dustin é o meu favorito. É o menos insuportável.

Steve, ainda recuperando-se da dor, virou-se para ela, tentando entender o que ela estava dizendo.

— O seu favorito não é o seu irmão? — Ele perguntou, com a testa franzida, tentando acompanhar a linha de pensamento dela.

— O Lucas? Pfff... o Lucas é um... — Tessa tentava falar, mas era como se as palavras se enrolassem em sua mente. — Um... um mané! Isso! Um mané! Se eu tivesse que... Tipo, ranquear... Dustin ia em primeiro, com certeza.

Steve deu um risinho bobo, assentindo como se aquilo fosse a revelação mais importante que ele já ouviu.

— Claro... claro, o Dustin. Ele é o melhor. Ele é tipo, uma versão em miniatura de mim. Só que nerd, e sem o meu charme. — Steve concordou, antes de sua cabeça também tombar para o lado. — Depois quem?

— A Max! — Tessa respondeu, a voz arrastada e as palavras saindo como se tivesse mastigando o ar. — E... a... a... menina que era emo e careca com... um número no nome. Tipo... 7... 8... sei lá. Ela tinha um número. Depois vem o idiota do Lucas.E depois... — Ela pausou, como se estivesse tentando se lembrar, e logo continuou: — O Mike! Porque o Mike... é o mais insuportável de todos. Da vontade de socar ele. Muito.

Steve riu tão alto que a risada ecoou pela sala, um som ridiculamente exagerado.

— O Mike é tipo... o rei dos insuportáveis. — Ele disse e os dois caíram na risada, como se fosse a coisa mais engraçada que já ouviram.

De repente, ele fez uma pausa. Algo passou por sua mente em câmera lenta.

— Espera... Acho que você esqueceu alguém. — Ele disse, de repente tenso, mas a voz ainda mole. — São 6, não são?

Tessa virou a cabeça lentamente para olhar para ele, os olhos semicerrados e a expressão de pura confusão.

— Esqueci quem?

— Porra... Assim você me quebra. Também não lembro. — Os dois ficaram raciocinando por um tempo, até que o Steve finalmente se lembrou e arregalou os olhos. — O Byers! — Steve quase gritou.

Tessa piscou lentamente e depois arregalou os olhos, a boca formando um “O” dramático.

— Porra! O Will! — Ela exclamou, surpresa, como se ele tivesse aparecido do nada. — Coitado... O Will! Todo fudido, pobrezinho... sofrido... depressivo... e eu ainda esqueço dele!

Nesse momento, Robin, que estava quieta até então, revirou os olhos, observando a cena como se fosse o papo mais torto que já tinha escutado em sua vida.

— Espera aí... — Ela interrompeu, a voz levemente irritada pela confusão geral. — Vocês estão ranqueando... filhos?

— É... — Steve começou a rir de novo, como se aquilo fosse óbvio. — Tipo... Somos babás. Babás de seis pirralhos irritantes. Um saco!

Robin piscou, incrédula, tentando entender.

— Tá bom... — Ela começou, franzindo a testa. — E a emo careca com um número no nome? Que porra é essa? Qual é o nome dela?

Tessa, ainda meio tonta, virou os olhos para o teto, tentando lembrar.

— É... ela... Hm... — Tessa disse, começando a girar o pulso amarrado como se tentasse soltar a mente junto. — Que... número era mesmo?

Steve estreitou os olhos, como se estivesse tentando resolver um enigma antigo.

— Acho que era... 10. Tipo... É, acho que sim.

— 10?! Não, cara, ela era tipo... 12! Ou... 14?

— Não, não, não! Quase certeza que é 10. — Steve insistiu, tentando parecer super confiante enquanto balançava a cabeça.

Robin, agora genuinamente confusa e exasperada, balançou a cabeça também.

— Meu deus... Que "pais" de merda! Nem lembram o nome da própria filha, e ainda esqueceram do depressivo. Não me deixem esquecer de NUNCA deixar vocês cuidarem dos meus futuros filhos. Claro, se a gente sair vivos daqui.

Os três caíram em gargalhadas, quase como se não estivessem falando de suas possíveis mortes. Suas risadas absurdas ecoando pela base russa, completamente alheios ao perigo ao redor. Eles estavam tão drogados que, por um momento, todo o pesadelo da base secreta russa, dos inimigos, e das ameaças desapareceu.

Depois de alguns minutos, o riso diminuiu, e Steve encostou a cabeça na de Robin, já sentindo-se tonto de tanto rir e de observar Tessa girando sem parar.

— Sinceramente, eu não tô sentindo nada. — Steve afirmou, a voz meio arrastada. — E vocês?

— Eu não sei. Eu tô bem. Tô normal. — Robin respondeu, tentando soar convincente.

— É, eu tô normal. — Steve concordou. — Me sinto até bem.

Os três riram novamente, como se estivessem compartilhando um segredo particular.

— Vocês querem ouvir um segredo? — Tessa perguntou, erguendo as sobrancelhas e inclinando a cabeça na direção deles. — Eu tô gostando.

Mais risadas encheram a sala, mas foram interrompidas abruptamente quando a porta se abriu novamente, e os russos retornaram, trazendo uma atmosfera de ameaça junto com eles.

Desta vez, o Dr. Zharkov carregava uma bolsa pesada. Ele a colocou sobre a mesa, e começou a retirar uma variedade de instrumentos cortantes, que reluziam sob a luz fria da sala.

Robin engoliu em seco, tentando disfarçar o medo que subia por sua garganta.

— Será que agora é uma boa hora pra falar que eu não gosto de médicos? — Ela murmurou, a voz carregada de sarcasmo nervoso.

O homem ignorou o comentário, focando-se em Steve novamente.

— Vamos tentar de novo, sim? — Ele perguntou, inclinando-se para Steve, que assentiu vagamente, seus lábios tremendo em uma tentativa de formar um sorriso, enquanto sua língua tocava o interior de sua bochecha.

— Pra quem vocês trabalham?

— Pro Scoops. — Steve respondeu, seu tom sério desmentido pelo sorriso que se formou em seus lábios. Ele riu de sua própria resposta, e Robin e Tessa o acompanharam. — Scoops Ahoy.

— Como nos encontraram? — O russo insistiu.

— Totalmente por acaso. — Steve respondeu, soltando mais uma risadinha, enquanto o russo assentia em direção ao Dr. Zharkov, murmurando em russo que eles continuavam mentindo.

O Dr. Zharkov, com um alicate nas mãos, aproximou-se de Steve, um brilho cruel em seus olhos.

— Que brinquedinho brilhante é esse? — Steve perguntou, sua voz ligeiramente trêmula.

— Onde você vai com isso? — Robin interveio, seu tom agora meio divertido.

O Dr. Zharkov pegou o dedo de Steve, prendendo-o no alicate, a tensão na sala subindo a níveis insuportáveis.

— Pera, pera, pera! Não!

Tessa, desesperada para impedir que machucassem Steve, soltou as palavras sem pensar:

— Foi um código! Eu ouvi um código!

O russo imediatamente voltou sua atenção para ela.

— Código? Que código? — Ele perguntou, agora ficando de frente para Tessa, seus olhos perfurando os dela.

Tessa engoliu seco, tentando manter a calma.

— "A semana é longa. O gato prateado come quando o azul encontra o amarelo no oeste" blá blá blá. Vocês transmitiram essa merda ridícula de espião por toda a cidade e nós captamos no cérebro e desvendamos em um dia. Um dia! — Ela declarou, tentando parecer confiante, enquanto um sorriso sarcástico surgia em seus lábios. — Vocês acham que são muito espertos, mas três moleques que trabalham na porra de um shopping entenderam o código em um dia e agora sabem que vocês estão aqui.

O russo estreitou os olhos, agora claramente preocupado.

— Quem sabe que estamos aqui?!

— O Dustin sabe. É, o Dustin Henderson sabe. — Steve afirmou, com um tom triunfante.

— Steve. — Tessa e Robin o repreenderam em uníssono, a incredulidade evidente em suas vozes. — Steve!

O russo, agora mais agitado, repetiu o nome:

— Dustin Henderson. — Ele disse. — Esse é o seu amigo baixinho de cabelo ondulado?

— É, ondulado, bonitão. Baixinho, cabelo armado. É.

— Onde ele está?!

Steve, ainda rindo, respondeu com um tom desafiador:

— Ah... Ele já tá longe, seu imbecil. — Ele disse, suas palavras carregadas de sarcasmo. — Já deve estar com o Hopper, e o Hopper tá com a cavalaria. Eles vão chegar aqui com tudo, com armas, mandando esses palhaços de volta pra Rússia. Vocês vão virar papinha.

O russo se inclinou na direção do Harrington.

— Mas é mesmo?

— É. — Ele debochou e os três caíram na risada.

O russo riu brevemente, sem humor, e olhou para o Dr. Zharkov, mas antes que pudessem tomar qualquer ação, o alarme da base soou, cortando o ar com um som estridente. O homem russo virou-se para Steve, que deu de ombros com uma expressão de "eu avisei".

Rapidamente, ele saiu da sala, provavelmente para investigar o que estava acontecendo, deixando apenas o Dr. Zharkov com eles.

Mas, antes que o Dr. Zharkov pudesse fazer qualquer coisa, A porta foi aberta pelo Dustin, que segurava uma arma de choque enorme. Sem hesitar, ele a encostou no russo, que caiu no chão instantaneamente.

— Oi, Henderson! — Steve exclamou, aliviado, enquanto Dustin começava a desamarrá-lo. — Que loucura, tava falando de você agora mesmo.

— Eu disse que ele viria! — Tessa afirmou com um sorriso, sentindo o alívio de estar a salvo. — Viu, Harrington? É a paternidade finalmente trazendo resultado.

Os três riram, compartilhando aquele momento de alívio em meio ao caos.

— Se prepara pra correr. — Dustin avisou, enquanto terminava de soltar Steve das amarras.

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