࣪✶ estão me espionando?


esse capítulo todo tá cheio de mimos, não se esqueçam de me agradecer, viu?

ah, e vamos ver por quanto tempo consegue acreditar na própria mentira, Steve Harrington.

————————————————

Na proximidade em que estavam, Steve conseguia sentir o perfume doce que parecia estar fixado na pele de Tessa.

Conseguia sentir a pele macia do seu braço roçando no seu de maneira sútil. E ali, naquela proximidade, ele percebeu algo que não tinha percebido antes.

Sua boca. Parecia ser tão macia, parecia tão convidativa. Quase como se lesse os seus pensamentos, ela passou brevemente a ponta da língua entre os lábios, em uma atitude de nervosismo, pressionando os lábios um no outro em seguida.

Ele não conseguiu se conter.

Naquele momento, o mundo ao redor de Steve parecia parar. Seus olhos estavam fixos nos lábios de Tessa, e ele sentiu o calor crescente entre os dois. Quando seus rostos começaram a se aproximar, ele percebeu a pequena hesitação dela, mas ao invés de se afastar, ela o acompanhou, e em questão de segundos, seus lábios finalmente se encontraram.

O beijo começou suave, quase tímido, mas logo se aprofundou. Steve deslizou uma mão para a nuca de Tessa, e a outra desceu calmamente por sua cintura, puxando-a delicadamente para mais perto. O beijo, que inicialmente era uma simples troca de carinho, rapidamente se tornou mais intenso, cheio de desejo. Tessa respondeu com a mesma paixão, entrelaçando os dedos em seus cabelos, enquanto o calor entre eles se tornava quase insuportável.

Mas, de repente, o Harrington foi abruptamente arrancado daquele momento. Seus olhos se abriram de uma vez, e ele se viu deitado em sua cama, ofegante e completamente suado. O quarto estava abafado, mas ele sabia que o calor que sentia não vinha do verão implacável de Hawkins. Ele passou a mão pelo rosto, tentando se recompor, enquanto o sonho, tão real e vívido, ainda ecoava em sua mente.

Por alguns segundos, ele ficou parado, tentando entender o que havia acabado de acontecer. "Foi só um sonho," ele disse para si mesmo, sentindo o coração bater forte contra o peito. Mas, mesmo enquanto tentava convencer a si mesmo, o gosto daquele beijo ainda parecia real em seus lábios, e a proximidade de Tessa ainda fazia seu corpo inteiro queimar.

Steve se levantou da cama, ainda atordoado pelo sonho. Ele passou a mão pelos cabelos, tentando afastar a sensação persistente de Tessa tão próxima. O calor do quarto não ajudava, e ele decidiu que precisava de um banho frio, algo que o ajudasse a se recompor e esquecer daquele sonho tão real.

Ele entrou no banheiro, ligou o chuveiro, e deixou a água gelada cair sobre sua pele, esperando que o frio aliviasse o calor que sentia. Mas mesmo sob o jato gelado, a imagem de Tessa não saía de sua mente. O sonho havia sido tão real, tão intenso, que ele quase podia sentir novamente os lábios dela nos seus. E pior, ele não conseguia deixar de pensar no que aconteceu, ou melhor, quase aconteceu na noite anterior.

Eles estavam tão próximos de se beijar, e agora parecia que isso estava ocupando cada pensamento seu.

Ele se culpou por não conseguir deixar de pensar nisso, por ter tido esse sonho com a sua melhor amiga. Se culpou por estar tão exaltado com isso, sendo que pra ela provavelmente havia sido um erro, um pequeno deslize.

Mas mesmo com esse sentimento, Tessa estava presa em sua mente, e ele sabia que queria vê-la. Que precisava vê-la. Mas como? Ele precisava de uma desculpa, qualquer uma, para que não parecesse óbvio o que estava tentando fazer.

Ele terminou o banho, ainda pensando em como justificar encontrar Tessa antes do trabalho, ou até mesmo lá. Foi então que se lembrou de algo: nas últimas semanas, ela havia começado a correr todas as manhãs. "É isso," ele pensou, saindo do banheiro com uma ideia na cabeça.

Claro, ele não era exatamente um corredor assíduo, não mais, mas era uma desculpa boa o suficiente. Se ele saísse cedo o bastante, poderia cruzar com ela durante o percurso. Steve se vestiu rapidamente, colocando seu uniforme, arrumou o cabelo como sempre, mas deu um pouquinho mais de atenção que o normal e calçou seus tênis.

Seu plano não era exatamente perfeito, mas ele não se importava. Ele só precisava vê-la, precisava tentar entender o que estava sentindo depois de tudo que aconteceu, tanto no sonho quanto na noite anterior. E se, por acaso, eles se cruzassem... Bem, isso seria apenas uma coincidência, certo?

Ele saiu de casa quando o sol mal havia começado a nascer. Ele e a Tessa praticamente moravam em lados opostos da cidade, e precisaria ir mais rápido se quisesse encontrar ela.

Após muita corrida, Steve finalmente chegou ao caminho que Tessa costumava fazer. Ele acelerou o ritmo e, com um esforço final, avistou Tessa à frente.

Ela estava correndo muito mais rápido do que ele imaginava, e Steve não pôde deixar de se preocupar. Pensou que talvez não fossem essas as recomendações médicas ideais para alguém lesionado.

Steve apressou ainda mais o passo até alcançar o ritmo dela. Ele notou que Tessa usava fones de ouvido com um volume tão alto que a música que tocava parecia quase ensurdecedora. "Bad Reputation" da Joan Jett ecoava claramente através dos fones, e ele teve que gritar um pouco para ser ouvido.

Ela vestia uma camiseta de algodão cinza escura, uns dois tamanhos maior do que o seu. O short preto e leve não era tão curto, oferecendo conforto para a corrida, e seus tênis brancos, embora já um pouco usados, ainda pareciam em bom estado para as corridas.

— Tess? — Steve chamou, tentando ser ouvido sobre a música.

Ela continuou correndo, aparentemente não ouvindo-o. Steve respirou fundo e decidiu que precisava ser mais insistente. Colocou um pouco mais de força na corrida até alcançar o lado dela, ajustando o ritmo para correr ao seu lado.

Finalmente, Tessa o notou. Após alguns segundos de confusão, tirou o fone de ouvido e o deixou pendurado no pescoço, diminuindo gradualmente a velocidade.

— Steve? O que você tá fazendo aqui? — Perguntou, com uma mistura de surpresa e curiosidade.

— Ah, eu... — Steve hesitou por um momento, tentando encontrar uma justificativa plausível. — Sabe como é, só uma corridinha matinal. Que surpresa te encontrar aqui.

— No meu bairro? No caminho que eu percorro todos os dias? — Ela ironizou, erguendo as sobrancelhas enquanto ambos caminhavam lado a lado. — Realmente chocante. O que houve com o seu carro?

— Por que teria acontecido algo com o meu carro?

— Pra você não estar nele, com certeza aconteceu alguma coisa.

— Não é pra tanto. Só tô correndo, você sabe, pra manter a forma pras garotas. — Ele respondeu, e ela riu baixinho.

— É? E tá funcionando, Rei Steve? — Ela provocou, acelerando um pouco o passo.

— Você nunca vai me deixar esquecer disso, né? — Ele perguntou, referindo-se ao apelido. Nunca tinha percebido o quão patético soava até ela começar a jogá-lo constantemente na cara dele.

— Jamais. — Ela admitiu, sorrindo. E, apesar da provocação, ele não conseguiu conter um sorriso ao ver o dela. — Nem vi você chegando. Tô tão perdida nos meus pensamentos. Minha cabeça não para por um segundo.

— No sentido ruim?

— No sentido bom. Tantas ideias ao mesmo tempo que eu não consigo conciliar. — Ela riu, levemente. — Acho que a corrida e a música estourando os meus ouvidos só intensificam isso.

— É, eu percebi. Não sei como você ainda não ficou surda. — Ele afirmou em tom divertido. — Mas, aí, você tá bem pra correr desse jeito? Digo, pelo seu joelho.

— Tô, sim. Correr é ótimo pra pensar, pra extravasar a energia acumulada. E essa joelheira de compressão não vai deixar meu joelho fudido ir pro lado, então tá tudo certo. — Ela respondeu, apontando para a joelheira. — E nunca se sabe quando vou precisar fugir de democães de novo.

— Nisso eu vou ter que concordar. Mas é bom que esteja cheia de ideias, Tess. Pode contar comigo pra atuar como mais um cara bonitão nos seus filmes, agora que eu descobri meu talento. — Ele afirmou convencido, e ela soltou uma risada leve.

— Pode deixar. Enquanto eu não conseguir contratar alguém melhor, você será o primeiro da minha lista. E é bem legal mesmo. O Christian me deu umas dicas ótimas, me ajudou com o bloqueio.

Steve praticamente travou ao ouvir o nome mencionado. Christian? Quem caralhos é Christian?

— Christian? — Ele perguntou, diminuindo o ritmo, e ela murmurou um "uhum".

— Quem é Christian?

— O cara que eu falei.

— Você não falou de nenhum cara. Christian não é um nome comum, eu me lembraria se algum Christian tivesse sido mencionado em algum momento.

— Ah, então foi só pra Robin e pro Dustin. — Ela deu de ombros, não dando muita bola pro assunto.

— Cara tipo "cara", ou cara tipo "garoto"?

— Ele acabou de vir de Nova York com a família e tá trabalhando no cinema comigo. — Ela explicou.

— Cara tipo garoto, então, — Ele murmurou, mais para si mesmo do que para ela.

— Acho que sim. — Tessa respondeu em um tom divertido, sem perceber a mudança de tom em Steve. — Ele é legal, sabe? Até me deu umas dicas sobre como lidar com o bloqueio criativo que eu tava enfrentando.

Steve tentou manter a expressão casual, mas a menção de Christian de novo o incomodou. Dicas sobre bloqueio criativo? Desde quando alguém além dele podia ajudar Tessa com isso? Mesmo que ele não entendesse porra nenhuma, ele gostava de ajudar. Ou ao menos tentar.

— E que tipo de dicas ele deu? — Steve perguntou, tentando soar indiferente, mas falhando miseravelmente.

— Umas ideias sobre como desconstruir cenas, visualizar de outro ângulo... Ele é bem apaixonado por cinema, como eu. É bom ter alguém pra trocar ideias. — Ela sorriu, mas quando percebeu o rosto de Steve se fechando, ergueu uma sobrancelha. — Tá tudo bem?

— Claro, — ele respondeu um pouco rápido demais, forçando um sorriso. — Só achei interessante você já estar recebendo dicas de um cara que acabou de conhecer.

— Ah, cê sabe como eu sou, Harrington. Faço amigos rápido. — Ela deu de ombros. Por alguns segundos ela chegou a se perguntar se o que ele estava sentindo era ciúme, mas achou pouco provável.

Pensou que estava criando toda uma história em sua cabeça por conta do quase beijo que tinha acontecido, e que provavelmente não foi grande coisa pra ele.

— Tanto faz, só fica esperta. Não confio em gente de Nova York. — Ela riu soprado, ele estava realmente falando sério.

— Tudo bem então. — Ela preferiu terminar o assunto ali. — Eu até vou te deixar correr comigo, Harrington, mas vai ter que se apressar. Tá meio fora de forma.

Ele ergueu as sobrancelhas sugestivamente.

— Vamos ver então. Anda logo, ou vou te deixar pra trás, Sinclair! — Ele provocou, voltando a correr, esperando que o assunto fosse deixado de lado.

— Steve! Você começou a correr antes! — Ela reclamou vendo ele já na frente, e correu para alcança-lo.

Ela não ter feito nenhuma menção ao que quase aconteceu na noite anterior não passou despercebido pelo Steve. Pra ele, isso apenas ressaltou o que ele já estava pensando. Que ela não deu a mínima e que foi irrelevante.

Ele só não sabia que ela estava pensando a mesma coisa.

( . . . )

⠀⠀࣪✶ Tessa Sinclair

Era 4:45 da manhã quando acordei num sobressalto. Mais um pesadelo com o Mundo Invertido. Não é como se fosse novidade pra mim.

Depois que o Steve foi embora, fiquei virando de um lado para o outro, inquieta, e só consegui dormir lá pelas 3:50 da madrugada. Então, sim, essa foi mais uma noite miseravelmente mal dormida.

Minha mente estava a mil com tudo o que quase aconteceu e com as ideias que rodopiavam na minha cabeça, me deixando tonta. Preciso me concentrar, mas não consigo pensar em outra coisa. 

Levantei apressada e fui direto pro banheiro, me jogando embaixo do chuveiro e tomando um banho gelado. O sentimento de opressão que os pesadelos deixaram, misturado com a incerteza de como as coisas ficariam entre mim e o Steve, era mais do que suficiente pra me deixar insuportavelmente ansiosa.

Tinha medo que as coisas entre nós ficassem estranhas. Não faço ideia de como vou olhar na cara dele depois de quase tê-lo beijado.

Depois do banho, me vesti rápido e estava pronta pra sair direto pra minha corrida, sem nem pensar em café da manhã, como já virou costume. Mas minha mãe insistiu tanto que acabei cedendo. Não queria mais perguntas do que já teriam quando voltasse.

Me sentei à mesa, onde estavam minha mãe, meu pai, o Mike, o Lucas e a Erica. Coloquei os fones de ouvido, tentando bloquear o mundo, e levei uma colherada de cereal à boca. Estava tudo bem, até que minha mãe gesticulou pra eu tirar os fones.

— Não dormiu bem, querida? — Ela perguntou com aquele olhar de quem sabe exatamente o que se passa na minha cabeça.

Levei a xícara de café até a boca, tentando ganhar tempo antes de responder. Mas não tive a chance.

— Não sei como ela está de mau humor, já que o Steve estava no quarto dela ontem à noite. — A voz do Lucas atravessou o ar, e quase me engasguei com o café. Engoli seco, e senti todos os olhares se voltarem pra mim. — Acho que ela não dormiu muito bem.

— Steve? — Minha mãe perguntou, com um tom que já era metade acusação e metade curiosidade.

— Quem é Steve? — Meu pai perguntou com a testa franzida.

— Steve Harrington? — Minha mãe concluiu, se voltando pra mim. — Steve Harrington esteve aqui, no seu quarto, à noite?

— Não, ele não esteve. — Tentei desviar o olhar.

— Não esteve? — Lucas ironizou, erguendo as sobrancelhas. Eu poderia voar no pescoço dele naquele momento. — Mike e eu vimos o carro dele estacionado um pouco escondido. E depois vimos ele na sua janela, não foi, Mike?

Olhei para o Wheeler com a intenção clara de ameaça, e ele, sabiamente, ficou quieto, levando uma colherada de cereal à boca como se não tivesse visto ou ouvido nada.

— Lucas, dá pra calar a boca? — Disse, forçando a voz a não tremer.

— Quem é Steve Harrington e por que ele estava no quarto da minha filha? — Meu pai repetiu, parecendo em choque.

— Ele é só um amigo. Ele veio me trazer uma coisa que eu esqueci no carro dele, só isso. — Tentei convencê-los. Era verdade, mas não do jeito que eles estavam imaginando.

— Entre toda a população de Hawkins... Você foi escolher logo o Harrington? — Lucas perguntou com desdém, e eu estreitei os olhos, sentindo o sangue ferver. — Pensei que tivesse mais bom gosto. É tudo isso pelo cabelo dele?

— A roupinha de marinheiro que com certeza não foi. — Erica se pronunciou, sua voz carregada de deboche. — Foi esperta, Tessa. Eu apoio esse relacionamento. Já que o seu namorado vai dar sorvete de graça pra você e pra sua irmã favorita, né?

— Não tem sorvete de graça e muito menos relacionamento. Quer saber? Eu tô atrasada pro trabalho. Preciso ir.

Levantei-me apressada, ignorando os chamados da minha mãe, mas não antes de lançar um olhar mortal ao Lucas. Esse merdinha tá fudido na minha mão.

Saí de casa quase correndo, com os fones de volta no ouvido. Comecei a me alongar e dei o play na música, Bad Reputation explodindo em meus ouvidos enquanto eu começava a correr. Hoje, eu precisava mais do que nunca esvaziar a mente.

{ . . . }

Erica tocava incansansavelmente a campainha do Scoops Ahoy, mas Robin estava ocupada demais virada de costas, escutando o resto da mensagem russa no fone de ouvido pra prestar atenção na Sinclair mais nova.

— Com licença! — Erica começou a bater no vidro do balcão pra chamar a atenção dela. — Maruja!

Robin suspirou pesadamente e retirou os fones, se virando na direção da garota. Erica forçou um sorriso doce ao olhar para a Robin.

— Eu gostaria de provar o furacão de chocolate amendoim, por favor.

— Não. Chega de amostras por hoje. — Robin respondeu em um tom divertido.

— Porque não?

— Porque você tá abusando da política da empresa. — Ela se inclinou na direção da Erica.

— Cadê o outro marinheiro?

— Desculpa, ele não pode ajudar. Tá ocupado.

— Ocupado com o que?!

— Espionagem. — Robin respondeu com um sorrisinho de canto.

Em uma parte mais afastada do shopping, Dustin e Steve estavam escondidos atrás de um arbusto, tentando encontrar algum russo do mal.

Ou melhor, na teoria era isso que deveriam estar fazendo.

Steve apertava o binóculo com força, os dedos brancos de tanto segurar, enquanto observava Tessa dentro do cinema. Ela estava conversando e rindo com o até então desconhecido, o novo funcionário que ele ainda não tinha tido o desprazer de conhecer formalmente. Algo nele — talvez o jeito descontraído com que ele se aproximava de Tessa, ou o fato de ela parecer tão à vontade — fazia uma onda de frustração crescer dentro de Steve.

— Tá vendo alguma coisa? — Dustin perguntou, impaciente ao lado de Steve, tentando espiar por cima do ombro do amigo. — Já viu algum russo do mal?

— Shhh, espera um pouco — Steve resmungou, sem desviar o olhar, os olhos fixos na dupla.

A forma como Tessa sorria para aquele cara, como se ele fosse a pessoa mais interessante do mundo, estava realmente começando a irritá-lo. A essa altura, ele mal se lembrava de por que estavam ali espionando em primeiro lugar. Tudo o que importava era o fato de que esse "cara novo" estava muito próximo de Tessa. Próximo demais.

— O cabelo dele nem é tão legal assim — Steve murmurou para si mesmo, os dentes cerrados. — Não entendo como alguém que chegou há cinco minutos já está tão íntimo dela.

Dustin, que até então tinha seu foco em outra parte do shopping, se virou para o Steve, confuso com sua fala.

— Dela? Espera, do que você tá falando? — O garoto pegou o binóculo de surpresa, ignorando os protestos indignados de Steve, e direcionou a lente para onde o mais velho estava olhando. Um sorriso malicioso começou a se formar no rosto de Dustin.

— Ah, já entendi tudo — Dustin disse, abaixando o binóculo e olhando para Steve com um sorriso presunçoso. — Em vez de procurar russos, você tá aqui espiando a Tessa e o novo amigo dela. Você tá com ciúmes, Steve.

— O quê? Não, claro que não! — Steve rapidamente tentou disfarçar, embora a irritação fosse clara em seu tom de voz. — Só estou... Cuidando dela. Você sabe, somos amigos, eu não tenho ciúmes! Ciúmes, onde já se viu?

Dustin cruzou os braços, observando Steve com uma sobrancelha arqueada.

— Cuidando dela como? Aqui, espionando que nem um tarado? — Dustin zombou, a expressão de pura diversão enquanto encarava Steve.

Steve franziu a testa, ignorando o comentário, mas deu um tapa leve na cabeça de Dustin, que soltou um resmungo em protesto, esfregando o local atingido.

— Você sabe que só tá bravo porque alguém novo tá falando com ela. Sabe o que isso significa, né? — Dustin provocou, com um sorriso malicioso.

Steve revirou os olhos, tentando não demonstrar que a provocação de Dustin estava o acertando em cheio.

— Claro que não significa nada. Só estou... — Steve começou a falar, mas sua voz falhou por um instante enquanto tentava desesperadamente encontrar uma justificativa que soasse convincente. — Só estou cuidando dela. Somos amigos desde sempre. Não é nada demais.

Dustin levantou uma sobrancelha, claramente não convencido.

— Não, Steve. Você está com ciúmes porque gosta da Tessa. Todo mundo pode ver isso, menos você.

— Sério, se você disser o nome dela de novo... — Steve ameaçou, sem muita firmeza.

— Tessa.

— Não, não. Não! — Steve respondeu, mas sua voz soava mais irritada do que convincente.

— Tessa, Tessa, Tessa. — Dustin insistiu, como se estivesse cantando uma música para provocar Steve.

— Pare, não, não, não. — Steve balançou a cabeça, tentando ignorar o garoto.

— Tessa. Tessa. Tessa. — Dustin continuou, um sorriso de vitória surgindo no rosto.

— Não!

— Tessa.

— Não! Não, cara, ela não é meu tipo. Ela não... não chega nem perto do que é meu tipo, certo?

Dustin cruzou os braços, avaliando Steve com um olhar cético.

— Qual é o seu tipo mesmo? Não legal?

— Obrigado. — Steve respondeu, com um toque de sarcasmo.

— Hm. — Dustin resmungou, não se deixando abater. — Agora que você saiu do ensino médio e, em tese, virou um adulto, não acha que é hora de deixar de lado essas ideias primitivas sobre popularidade?

— Ah, "ideias primitivas"? Aprendeu essa merda lá naquele fim de mundo onde você ficou? — Steve retrucou, tentando mudar de assunto.

— Colônia lugar nenhum. E não, é algo que eu aprendi na vida. — Dustin respondeu, com um tom de sabedoria que só irritava mais Steve.

— Hm.

— Em vez de sair com alguém que você acha que vai te fazer parecer mais legal, por que não sair com alguém que você realmente gosta? Como eu e a Suzie.

— Ah, Suzie. Sim, você quer dizer, "mais bonita que a Phoebe Cates". Essa Suzie. — Steve respondeu, imitando o tom de voz de Dustin. — E, uh, vamos pensar em como exatamente você conquistou essa namorada bonita? Ah, sim. Com o meu conselho. Porque é assim que funciona, Henderson. Eu te dou conselho, você segue. Não o contrário, tá, fedelho?

Steve pegou o binóculo de volta, decidido a encerrar a conversa. Mas quando olhou na direção do cinema novamente, sua expressão mudou imediatamente.

— Merda... os dois sumiram! — Steve exclamou, seus olhos arregalados em choque.

Dustin, percebendo a seriedade no tom de Steve, puxou o binóculo de volta para olhar por si mesmo.

— Eles devem ter ido para algum lugar mais... Privado. — disse Dustin, com um tom malicioso. — Talvez estejam se beijando por aí, escondidos.

Steve fez uma careta, sentindo uma pontada de ciúmes que ele não queria admitir.

— Cala a boca, Henderson. Isso não tem graça. — Steve murmurou, tentando não imaginar Tessa e Christian juntos.

Antes que qualquer um dos dois pudesse dizer mais alguma coisa, uma voz bem conhecida soou por trás deles.

— Então é isso que vocês dois fazem no tempo livre? Me espionam? — Tessa perguntou, com uma ironia bem-humorada que era sua marca registrada.

Steve e Dustin pularam de susto, virando-se rapidamente para encará-la. Tessa estava parada ali, com os braços cruzados e um sorriso travesso no rosto, claramente se divertindo com a situação.

— T-Tessa! — Steve gaguejou, tentando disfarçar o quão surpreso e constrangido ele estava. — Nós... Nós não estávamos espiando. Estávamos, uh, procurando russos do mal.

Tessa arqueou uma sobrancelha, cética.

— Dentro do cinema? — ela perguntou, desafiando a desculpa esfarrapada.

— Exatamente — Steve respondeu rapidamente, segurando firme na história.

— Conta outra, Steve — Tessa disse, com um olhar que dizia que ela não estava comprando nada daquilo.

Steve soltou um suspiro resignado, percebendo que não ia conseguir enrolar Tessa.

— Tudo bem, você venceu. Eu só estava espionando pra ter certeza de que você estava bem, só isso. Estávamos cuidando de você.

Tessa revirou os olhos, mas o sorriso divertido não deixou seu rosto.

— Ah, claro. Porque espiar com binóculos é a forma mais normal de cuidar dos amigos. — ela respondeu, o tom sarcástico evidente. — Vocês dois são impossíveis, sabia? Podiam ser mais discretos, pelo menos.

Dustin, que estava assistindo à troca com um sorriso, decidiu entrar na conversa.

— Quer nos ajudar a encontrar um russo do mal? — Ele perguntou com um sorrisinho, olhando para a Sinclair.

Tessa soltou uma risadinha, balançando a cabeça para os lados.

— Ah, com certeza. Passa esse binóculo pra cá, Harrington — ela disse, estendendo a mão.

{ . . . }

— Alvo encontrado — anunciou Dustin, espiando através do binóculo, fixando-se em um homem loiro com cabelo comprido, óculos escuros, e carregando uma bolsa enorme.

— Onde? — Steve perguntou, rapidamente buscando com o olhar enquanto Tessa fazia o mesmo.

— Ali atrás, na Sam Goody's.

— Me dá isso aqui. — Steve pegou o binóculo das mãos de Dustin e avistou o suposto "russo do mal". — Merda... Sacolão.

Os três trocaram olhares antes de Steve e Dustin murmurarem em uníssono:

— Russo do mal.

Sem perder tempo, começaram a seguir o homem, tentando parecer discretos, mas a sutileza não era exatamente o ponto forte de Steve e Dustin.

— Vai devagar! — Dustin sussurrou para Steve, que seguia o homem com tanta determinação que quase esbarrava nele.

— Estamos perdendo ele — Steve afirmou, apressando o passo.

— Steve, você está chegando perto demais — Tessa resmungou, mas era tarde demais. Steve esbarrou em outro pedestre.

— Olha por onde anda, babaca! — gritou o homem irritado, fazendo o suposto "russo" se virar para verificar a origem do barulho.

Dustin rapidamente pegou um telefone de brinquedo e fingiu estar em uma ligação urgente.

— Alô? Sim, estou bem. E você? — Ele improvisou, tentando parecer ocupado enquanto Tessa se escorava no corrimão da escada rolante, fingindo interesse no andar de baixo. Steve, sem pensar direito, apenas se escondeu atrás de uma planta, virado para a parede.

O homem, satisfeito que não havia nada de suspeito, virou-se de volta e continuou seu caminho.

Steve se endireitou, cutucando os dois e apontando para o corredor à frente. Os três seguiram o homem até ele entrar em uma sala, onde se abaixaram e espiaram discretamente de um pilar próximo.

— Tudo bem, meninas, ouçam! Só tenho uma pergunta para vocês — começou o homem, largando sua bolsa e retirando os óculos escuros. — Quem... Tá pronto para suar?

Steve franziu a testa, levantando uma sobrancelha enquanto o homem tirava um rádio da bolsa.

— A gente! — gritaram várias mulheres dentro da sala, enquanto ele colocava a música para tocar, retirando o casaco.

— Vamos malhar. Começando bem devagarinho. Balancem o corpo. Sim! — Ele incentivava, e todas na sala começaram a seguir os movimentos dele. — É isso aí, meninas. Todo mundo queimando essas gordurinhas! Todo mundo sentindo as coxas, tá?

Steve ficou com as sobrancelhas erguidas e a boca ligeiramente aberta, claramente surpreso e confuso, quase tropeçando nos próprios pés ao ver as mulheres dançando. Tessa, por sua vez, piscava repetidamente, mordendo o lábio para não rir enquanto uma enxurrada de piadas passava pela sua mente.

— Vamos, moças, me mostrem o que vocês têm. Devagar agora. Deixem queimar — o homem continuava, enquanto Dustin, em choque, mantinha a boca entreaberta e os olhos arregalados. — Ooh, levantem isso. Isso é bom!

Enquanto isso, no Scoops Ahoy, Robin conseguiu traduzir mais um pedaço da mensagem codificada. Após receber uma entrega na sorveteria, algo finalmente fez sentido para ela.

— Você não vai acreditar em quem o Dustin pensou que era um russo maligno — Steve começou a contar assim que chegaram.

— Você também acreditou! — Dustin interrompeu, defensivo.

— Não, eu não acreditei.

— Sim, você acreditou.

— Não, eu não acreditei!

— Era sua mãe lá, Dustin? — Tessa provocou, com um sorriso divertido.

Robin, no entanto, não prestou atenção em nenhum deles, passando direto por eles enquanto murmurava algo para si mesma. Ela começou a andar pelo shopping, ligando os pontos em sua mente.

— Robin, o que você tá fazendo? — Steve perguntou, intrigado, assim que a alcançaram.

— Eu descobri.

— Descobriu o quê?

— Eu descobri o código.

{ . . . }

— Procure por Imperial Panda e Kaufman Shoes — Robin exclamou, sua voz mal conseguindo superar o som da chuva torrencial que caía sobre eles.

Steve passou as mãos pelo rosto e pelo cabelo, ambos completamente encharcados, enquanto Dustin olhava pelo binóculo, tentando manter o foco.

— Eles estão com aquele cara do assobio, no carrinho! — Dustin anunciou.

— O que você acha que tem aí? — Steve perguntou, tentando enxergar algo mais através da chuva.

— Armas, bombas? — Dustin sugeriu, com uma mistura de medo e curiosidade.

— Armas químicas, talvez? — Tessa murmurou, tremendo de frio. Ela e Steve eram os únicos sem capa de chuva, e ela sentia cada gota fria como uma agulhada.

— Seja lá o que for, eles estão armados até os dentes — Dustin completou, a tensão em sua voz evidente.

— Ótimo. Que Legal. — Steve ironizou, passando novamente a mão pelo rosto encharcado, tentando pensar em um plano.

— Ei, o que tem aí? — Robin perguntou ao ver uma porta se abrir lá embaixo, seus olhos estreitando para enxergar melhor.

— São só mais caixas — Dustin respondeu, ainda observando pelo binóculo.

— Deixa eu ver — Steve pediu, estendendo a mão impaciente para pegar o binóculo.

— Não, ainda estou procurando! — Dustin protestou, segurando firme.

— Me deixa olhar! — Steve insistiu, puxando o binóculo.

— Espera! — Dustin exclamou, mas antes que pudessem continuar, o binóculo bateu na calha de metal, emitindo um som alto e metálico. — Merda.

Instantaneamente, os quatro se abaixaram, tentando se esconder. Sem perceber, Steve e Tessa haviam entrelaçado as mãos, seus dedos apertados um contra o outro. Steve sentiu o frio intenso da pele dela e percebeu que ela tremia. Ele não sabia dizer se era de medo ou de frio, mas a preocupação tomou conta dele.

Quando perceberam o contato, soltaram as mãos rapidamente, trocando um olhar breve e carregado de incerteza.

Lá embaixo, os russos começaram a gritar, claramente tendo ouvido o barulho. Tessa, entendendo o idioma, traduziu rapidamente: o homem mandou o outro ficar na porta enquanto ele subia para verificar.

— Vamos sair daqui! — ela sussurrou, e todos concordaram silenciosamente.

Sem perder tempo, eles se levantaram e correram de volta para dentro do shopping, subindo as escadas apressadamente, o coração de cada um batendo forte no peito.

— Bem, acho que encontramos seus russos — Robin afirmou, tentando recuperar o fôlego, uma mistura de alívio e tensão na sua voz.

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