Capítulo 49 - A Brigada
ANTÔNIO SABIA QUE não tínhamos muitas opções e, quando tentou balbuciar algo para tentar me dissuadir daquela que parecia ser uma manobra suicida, novos tiros ricochetearam perto demais das nossas cabeças nos fazendo correr em direções opostas.
Havia cinco soldados da Brigada correndo atrás de mim e era uma questão de tempo até que eles se juntassem aos outros vinte que Thunderwing havia detido lá atrás. A maior arma do meu arsenal estava descarregada e eu tinha no máximo meia dúzia de explosivos nos bolsos do cinturão, além de um par de discos de arremesso. A frase de Sil ecoava em minha mente, mas era tarde demais para lamentar a falta de artifícios.
"Como vocês querem combater tiros de armas de fogo com faquinhas e disquinhos? ".
Em meio à nuvem criado pela caldeira, eu consegui ganhar certa vantagem em relação aos soldados, o que decidi aproveitar. Mais ágil que eles e carregando menos peso apesar de estar menos protegido e ferido, eu os conduzi para uma passagem entre dois geradores de potência de uns nove metros de altura cada. O vão entre os dois módulos era estreito o suficiente para que eles e as suas volumosas armaduras só pudessem passar por ali um de cada vez. O teto entre os dois módulos naquele corredor de oito metros de comprimento era tão baixo que, esticando os braços para cima, eu podia sentir nele uma espécie de vibração através dos meus dedos. Parecia haver uma tubulação acima da minha cabeça por onde um líquido muito quente corria. Na certa, eram os resíduos descartáveis das turbinas passando por ali e eu tive uma ideia.
— Acha mesmo que pode enfrentar todos nós juntos, garoto? Mais cedo ou mais tarde nós vamos acabar com você!
Bradou o primeiro homem blindado ao atravessar o corredor com certa dificuldade e me encontrar do outro lado a esperá-lo.
Enquanto ele se aproximava de mim, já engatilhando uma AR-15, os seus companheiros se espremiam entre as paredes dos dois módulos sem notar as esferas explosivas grudadas no teto sobre eles. Antes que o primeiro me alcançasse, eu detonei as bombas remotamente com um controle em minha fivela e o teto baixo desabou sobre eles, deixando entrar um líquido escaldante que inundou o corredor.
Embora eu soubesse que o único homem que restara em seu traje metálico não era burro o suficiente para atirar em espaço tão fechado a fim de evitar outra reação em cadeia, eu coloquei toda a força que tinha em um chute contra o cano da arma, o desarmando. Hermeticamente protegido dentro da sua roupa, ele estava distraído o suficiente com a explosão as suas costas para me notar e, enquanto a água de resíduos alcançava os nossos pés, eu lhe apliquei um soco na viseira do elmo, seguido de um chute no centro da caixa torácica.
Os seus colegas estavam, naquele momento, imobilizados embaixo dos escombros e agora era dele toda a responsabilidade em me matar. Os meus golpes mal tinham desequilibrado o cara e, decidido a poupar o meu fôlego uma vez que o oxigênio puro começava a faltar dentro daquele inferno escaldante, eu me calei, procurando achar uma maneira rápida de me livrar dele.
— Eu vou acabar com você, magricelo!
O reservatório de ar em meu traje estava bem escasso e eu percebi no mesmo instante que tinha pouco tempo para me livrar daquele sujeito. A sua armadura protegia todos os pontos de pressão do corpo humano que eu havia aprendido a atingir com o Fei Hok Phai e, saber Kung Fu não estava me adiantando nada naquele momento.
Muito mais lento que eu, o sujeito começou a me atacar com socos fortes, me obrigando a esquivar. Embora não conseguisse atingi-lo de maneira efetiva, ainda tentei precipitar chutes rápidos na lateral dos seus joelhos e aquilo passou a desequilibrá-lo.
A água suja e fervente escorria de dentro da tubulação furiosa e já dava para senti-la em meus tornozelos. Eu sofria com dores quase lancinantes nas costas provocadas pelos tiros do helicóptero. Sabia que, quanto mais prolongasse aquele embate corpo a corpo, mais eu aumentava as chances do meu adversário me superar, o que me fez tomar uma medida extrema.
Ao olhar para cima, eu enxergava uma viga horizontal de concreto a uns oito metros, na parte onde o teto voltava a ser alto. Sem hesitar, apanhei a minha pistola e disparei o arpéu. O gancho se enrolou com a corda na viga e, enquanto a carretilha me alçava, eu joguei uma esfera explosiva no chão perto do soldado e a detonei em seguida.
Eu tinha certeza que a armadura o protegeria do impacto assim como tinha feito com os seus colegas no corredor e, após o estrondo, eu o vi afundar no chão rústico, caindo para o nível de baixo da termelétrica junto com quilos de granito e litros de água com resíduos. Não dava para ser sutil numa situação como a que eu estava.
Ali perto, o Espião Negro estava lutando para evitar a degradação total do motor de combustão interna que serviria para gerar a energia térmica para São Francisco junto da termelétrica, mas era uma questão de tempo até que os demais membros da Brigada de Elite o alcançassem.
— Eu tentei tudo que podia e não vou conseguir deter a destruição do motor. — Dava para ouvir o som de tiros pelo rádio. — Eu usei todas as kunais explosivas que eu tinha na cartucheira para formar uma cerca ao redor desse trambolho. Há um nível subterrâneo abaixo de nós. Eu vou me afastar o suficiente daqui para escapar da Brigada de Elite e vou acionar as kunais explosivas cravadas no chão remotamente. Já que não posso deter a explosão, vou tentar soterrar o motor o mais fundo que conseguir para causar o mínimo de estrago possível na vizinhança.
O plano era ousado, mas não tínhamos muitas alternativas. Soterrado, o motor tinha menos chances de devastar todo o entorno, mas certamente iria destruir o lugar onde estávamos, nos levando junto no processo.
Eu estava sobre uma plataforma metálica e dali, dava para ver quase todo o interior da termelétrica. O fogo causado pelo vazamento do combustível da caldeira começava a atingir boa parte dos equipamentos e lá na frente, a uns quinze metros, eu localizei Thunderwing, cujo rádio estava mudo. Ele enfrentava no braço dois soldados da Brigada que o tinham alcançado ali em cima e estava em clara desvantagem, fazendo um esforço sobre-humano para se esquivar dos golpes a coxear de uma das pernas. Havia uma fenda de uns quatro metros à minha frente me impedindo de correr até o meu amigo e ajudá-lo. Eu já me preparava para saltar quando uma estática no rádio me paralisou.
— Alguém na escuta?
A voz da Ferina soou em meu ouvido e eu senti um misto de euforia e angústia.
— Pássaro Noturno na escuta. É bom ouvir a sua voz mais uma vez, Ferina, mas não é um bom momento para se aproximar da termelétrica. Ela está prestes a ir pelos ares!
Ela deu um risinho meio sarcástico e, em seguida, respondeu:
— Para de choramingar, magrelo. Eu trouxe reforços. Não está ouvindo as sirenes?
Sem que a gente soubesse, um verdadeiro batalhão de viaturas da Polícia Militar e Civil estava se aproximando da termelétrica naquele momento. Comandados pelo inspetor e delegado interino Rui Guimarães, os policiais de São Francisco, de Marechal LaRocca, de Calheiras e regiões próximas vinham a toda velocidade com o objetivo claro de prender Edmundo Bispo e todos os seus asseclas. Sil estava no interior de uma das viaturas, ao lado da policial Regiane Loyola.
— Peça para que a polícia forme um perímetro ao redor da área, Ferina. Está tudo pegando fogo aqui dentro. Bispo e os seus capangas vão tentar fugir. Ele tem dois helicópteros de guerra.
Um som muito agudo de uma rajada de tiros ecoou pelo rádio auricular e, naquele momento, eu tive a certeza que os Apaches tinham voltado à cena para deter o avanço da polícia.
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