Nefelibata
Nefelibata (s.m e s.f)
É quem desobedece o racional, é uma pessoa que vive nas nuvens, com os pés e a cabeça. É um andarilho que segue a própria vontade sem pensar demais, que é inimigo número um das regras e das estatísticas, é quem foge da realidade, é quem deu nome para o próprio mundo. É quem é rei e rainha da sua própria cidade. Dono de tudo, sempre na razão. Nunca atrás. E sempre no topo de todas as decisões, ações e situações.
Na primeira guerra em que colocou os pés, Jake Sully viu vidas serem ceifadas como se não fossem nada. Era possível ver sonhos se desfazerem e saudades nascerem em um piscar de olhos. As pessoas morriam como se o tempo em que viveram, fosse insignificante. Mas ele, como homem e soldado do exército americano, não tinha o que temer. Fez um juramento e honraria sua bandeira.
Mesmo que fosse seu sangue manchando as estrelas.
Mas quando se feriu em batalha, quando ficou submisso aquela cadeira de rodas, a sensação que tinha era que não valia a pena. Não importava o quanto tentasse ser útil: seu juramento tinha o colocado naquela cadeira e agora, era incapaz de continuar sendo aquilo que acreditava ter nascido pra ser. Sempre foi tarde demais para voltar atrás. Mas para ir adiante, ainda havia uma chance.
Quando seu irmão morreu, o projeto avatar de descobrir e popular novos mundos, deu a ele um novo sentido. Quando chegou em Pandora tinha apenas um desejo: recuperar suas pernas e voltar para sua missão. Mas não foi isso que aconteceu. Vocês conhecem a história de amor que ultrapassou dois mundos.
Jake encontrou em Neytiri e no povo Na'vi um desejo de se reerguer. Não pelas pernas, isso já não importava mais. Mas porque eles davam a ele sentido, onde Jake Sully nem sabia que precisava. Por isso era tão difícil ver seus filhos se colocando em risco. Foi todo um sacrifício para que Jake reconhecesse o seu valor naquele mundo. Ele era pai agora. E todas as outras posições já não tinham o mesmo peso.
Um pai protege. É o que dá significado a vida dele.
Jake se sentou na pedra, abaixo dos seus pés se estendia uma longa floresta. Parte dela devastada pelos humanos. Sua raça. O fato de estar num corpo Na'vi não apagava seus feitos como homem do povo do céu. Por mais que ele tentasse fugir daquilo, seu sangue e sua história, estavam ali para lembrá-lo. E se por ventura, ele esquecesse por um segundo: Ont'ari estava ali para jogar na sua cara.
— Ma'Jake... — Neytiri estava em silêncio a tempo demais. O olhar dela transmitia uma dor, uma compreensão e um medo do futuro. — Não podemos transformar nossa família em um campo de batalha.
— Eu sei... eu sei.
— É difícil ver que Neteyam está crescendo, mas... devemos apoiá-lo e ajudá-lo a encontrar o seu lugar no mundo. Ela já tem 18. Aquela garota vê nele algo que nunca vimos. — Jake assentiu. Nada que dissesse apagaria a ferida que tinha sido aberta. — Por muito tempo fomos líderes ao invés de pais. Obrigamos nossas crianças a crescerem. Agora, estamos colhendo esse fruto.
— Quando eu tinha 18 anos e me alistei no exército, vi minha primeira guerra, Neytiri. Não desejava isso para nenhum deles. É doloroso ver nossos meninos no meio dessa praga. Vidas vão e vem como se fossem nada. O tempo passa diferente e só tem morte nesse tipo de lugar.
— Vamos proteger nossos filhos, Ma'Jake. Você não precisa carregar essa barra sozinho. Somos uturu um do outro. Santuário da nossa fé. Se vamos fazer isso, tem que ser juntos. Família é isso.
Jake sabia que tinha pego pesado tanto com Neteyam quanto com a garota. Mas era tarde demais para retirar as palavras duras que já tinham sido ditas. Jamais teria o poder de curar aquela ferida. Aquela menina estava Perdida. E se Jake não tomasse uma atitude, Neteyam acabaria no mesmo lugar.
— Quando a primeira guerra veio e nosso povo escolheu seguir você, um intruso no nosso meio, e lutar ao seu lado, eu sabia que você estava destinado a ser grande. Sabia que não importasse o quanto sentisse medo, Ma'Jake... você enfrentaria ele com coragem, porque para você não há outra alternativa. É o que eu vejo de melhor em você. Essa família não é uma guarnição de guerra. Ela é uma família. E toda fé que colocamos em você não é atoa. Fazemos isso porque confiamos que todas as suas decisões são para a melhor. — Neytiri baixou a cabeça ressentida, pegou na mão do marido com o coração doendo. — Odeio a idéia de sair da minha casa. Meu pai me deu aquele arco em seu leito de morte para proteger nosso povo.
— Eu sinto muito por te pedir para partir.
— Eu sei que sente. Mas se vamos fazer isso, temos que fazer com a família unida. E não vamos fazer isso se separarmos Neteyam de Ont'ari.
사랑 .. [ •ᴥ• ] —
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Neteyam precisava de espaço. Tem coisas que não precisam ser ditas, elas são sentidas. A família dele estava vivendo um inferno pessoal, e agora ele estava preocupado. Sentindo-se preso entre um sentimento e o outro. Confuso com o que sentia por Ont'ari e o que sentia por sua tão amada família. Era uma droga pensar nisso tão intensamente. Mas não parecia ter outro jeito de pensar.
Ont'ari chorou pensando nisso.
De longe, passou o último ano observando Neteyam. Vendo-o crescer e se tornar peça importante do exército de Na'vis que seu pai tinha erguido. O pós guerra do povo Na'vi foi espiritual. Todos sonharam com um futuro de paz, prosperidade e fé. Um futuro para se regenerarem do passado, da guerra e da dor. De tudo que perderam. De todos que se foram. Um passado com feridas tão profundas como a imensidão de um oceano azul. Era isso que tinha sobrado.
Um monte de gente com pedaços faltando. Retalhos que não tiveram tempo de serem colados.
Retalhos como os de Ont'ari, que sempre sonhou com uma família grande. Uma família para suprir a falta de vida que tinha em sua própria vida. É o que sempre quis. Muitos filhos, um parceiro leal. Uma vida tranquila onde não precisasse se preocupar se o travesseiro onde deitou sua cabeça, seria o mesmo no dia seguinte.
A garota Omaticaya sabia que Jake a achava inconsequente e burra antes mesmo de saber, que dividia sentimentos com seu primogênito. Agora, com certeza estava horrorizado e apavorado na mesma proporção que estava bravo. E para dar gás aos seus maiores atos de imprudência, Ont'ari estava fora da caverna.
Sozinha, na floresta, atrás de ar, espaço e paz. Mas não foi isso que encontrou a sua vista. A floresta estava tensa, os animais estavam assustados. Algo estava fora do lugar e alguém estava causando isso. Ont'ari se ajoelhou no chão e deitou a cabeça no solo: a floresta era como uma cadeia de "conexões neurais", alguém disse uma vez. Se pudesse se comunicar com uma parte dela, poderia se mover sem sair do lugar, entre todas as outras.
De repente, ouviu-se o barulho de asas batendo logo acima. O Ikram com tons de azul profundo e preto musgo pousou diante de seus olhos.
Ont'ari demorou para respirar o ar mais pesado de sua vida. Odiava vê-lo, mas amava sentir-se perto daquilo que lhe foi tirado. Ela levantou do chão, com passos leves e nenhum outro som.
O Ikram se agitou.
— Shi... irosoricatya. From him ikram.— "Shi... sou sua consagrada. Ikram dele".
O banshe da montanha, comos humanos gostavam de nomear, se acalmou e forçou as garras para o solo. Abaixou a cabeça e Ont'ari o acariciou.
— Sinto sua falta, mesmo estando tão longe. Tenho saudades do que nunca tive. E morro de medo de jamais superar. Eu vejo você, irmão.
O ikram se balançou desconfortável, como se estar em solo fosse uma tortura. Ont'ari sabia o que precisava fazer. Pulou para cima e saltaram juntos no ar. A melhor sensação do mundo. Liberdade. Não medo.
O céu estava tão lindo. Tudo estava tão calmo. Ont'ari começou a imaginar que a agitação que sentia não tinha nada haver com a floresta; se tratava apenas dela. Dela e do medo que sentia de tudo e de todos. Por mais que se tentasse provar que era forte o tempo todo, na verdade estava apavorada na maior parte do tempo. E a única vez que não temeu, foi quando estava verdadeiramente nos braços de Neteyam Sully.
Um alguém que ela tentou evitar a todo custo. Não funcionou. Parece que falhou em não gostar dele. Mas pela primeira vez, não se sentia apavorada. E ficou feliz. E uma vez na vida, sentiu que tinha esperança.
As rochas flutuantes eram como santuários da mágica que existia em Pandora. Quando o Ikram pousou no topo da mais alta, Ont'ari saltou para solo e sentiu-se aliviada. Queria que Neteyam estivesse ali. Queria não estar sozinha.
— Você é muito imprudente. — Alguém disse.
O rosnado da garota devia deixá-la ameaçadora. Mas Jake Sully não tinha muitos medos na vida. O ikram dele pousou ao lado do ikram azul de Ont'ari. Ele desceu nada preocupado.
Pelo menos, estava calmo.
— Do mesmo jeito que eu estava te seguindo, outra pessoa poderia também. Você devia se cuidar mais. Morrer não é uma opção.
— O que quer, Sully?
— Acho que já passamos dessa fase de ódio e rancor e bla bla bla. — Disse o mais velho, em seguida se sentou no chão. Ele olhou para Ont'ari, e depois para o ikram. — Lutei ao lado desse guerreiro.
Ont'ari sabia que ele tinha lutado.
— Não nos dávamos bem quando nos conhecemos. Assim como você, ele meio que repudiava minha raça. E tinha uma razão gigante. Tudo que os humanos tocavam, eles destruíam. Eu era um deles. — É claro que era. Ont'ari já conhecia essa história. — Tsu-Tey era uma guerreiro extraordinário. Nunca mais, depois de sua morte, consegui ver seu ikram. É a primeira vez.
— Eu o vejo sempre.
— Pensei que ikram's fossem leais a seus donos, até mesmo depois da morte.
— Ele é leal. Monto nele porque ele confia em mim. E ele confia em mim porque sente o cheiro do seu dono em mim.
— Tsu-Tey era seu pai?
— Meu irmão. — Jake olhou para ela com dor. — Nasci depois de sua morte. Minha mãe estava grávida de mim. Nunca pude conhecê-lo porque ele morreu lutando por você.
— Não foi por min que ele morreu. Foi por você, Ont'ari. Não percebe? A guerra ia tirar tudo de nós. Inclusive, seu futuro. Então ele lutou. E fez isso, para que seu amanhã fosse melhor que o hoje que ele estava vivendo. Seu irmão morreu como um guerreiro e herói. Eu não estaria aqui se não fosse por ele. Mas você também não. E nem a maioria do seu povo, nem mesmo meus filhos. O sacrifício dele, assim como o de muitos outros, mudou o nosso mundo. Você é jovem demais para entender.
— Não me surpreende que não entenda o que eu sinto. — Quando a garota quis partir, Jake a impediu.
— Eu entendo. — Era teimoso como uma pedra. — Vim para este mundo por causa de um irmão. E você veio pela ausência de outro. Então eu entendo.
— E o que virá agora? — Questionou com lágrimas pendendo os olhos. — Não te implorarei para viver ao lado de seu filho. Embora, o enxergo melhor que qualquer um de vocês.
A lágrima caiu.
Ela fechou os olhos.
Não ia fraquejar na frente de um Sully idiota.
— Vamos partir para outro lugar. Um mais longe, mais seguro. Sei que não ficará feliz em deixar seu povo. Não posso obrigá-la também. Mas se não vier, partirá o coração de Neteyam. E sei que o ama demais para isso.
— Você não quer quer eu vá.
— Não, mas eu acho que não tenho escolha.
— Não quero ser a pedra no caminho da família Sully.
— Tenho certeza que Neteyam não te vê assim. Mas vamos fazer isso. Tudo bem? — A garota não se moveu. — Sou um péssimo pai as vezes, mas sou um ótimo líder sempre. Essa é a primeira decisão que eu tomo apenas como pai. O povo, por mais que entenda, jamais me perdoará. Eu preciso da minha família unida. E preciso que você faça parte dela agora. Posso contar com você?
— Família...
— Família.
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