Eudaimonia

Eudaimonia

É o nome dado a sensação de ser tomado por um sentimento bom sem explicação. É aquela vontade de viver quando menos se espera e mais se precisa. É o universo nos dando um abraço de esperança. É sentir que somos o melhor de nós.

A sensação de ano-novo de que tudo pode ser melhor... e é.

As pessoas buscavam abrigos quando a chuva começava a cair. Era automático. Correr, manter-se seco e seguro. Estar junto das pessoas que se ama. Mas nem todos se importam ou apegam a esses detalhes. As vezes, não ter nada, te torna alguma coisa.

Foi esse o pensamento que fez Ont'ari Mohai, do clã Omaticaya sentar-se a beira daquele lago. A lança, que antes era usada para sua defesa, virou apenas um acessório para a grama. Os dedos azuis, longos e listrados estavam se misturando com a terra no chão. A chuva não parava de cair.

E a garota conseguiu sorrir sozinha.

Sozinha porque era assim que sempre se sentia quando colocava a cabeça para funcionar. Extasiada pelo cantar dos pássaros, se permitiu deitar as costas na grama molhada. Sentia-se parte da floresta. Era como se a fauna falasse com ela. Eywa sempre a fazia se sentir especial, quando ela mesma já tinha desistido de ser qualquer coisa.

A chuva parecia aumentar, e a sensação que percorria a pele, o corpo e as mechas de cabelo de Ont'ari, a colocavam em um transe de paz. A floresta sempre chama aqueles que não temem seu silêncio, e compreendem os seus sons.

Mas de repente a paz, deu lugar ao temor. Barulhos desregulares. Longe de serem qualquer som na floresta. Ont'ari se ergueu, agarrou a lança e oriçou os sentidos.

Algo estava errado.

O chão debaixo de seus pés começou começou tremer, como se o mal estivesse chegando. O mal estava entre eles a muito tempo. Tempo demais para se esconder e fugir. O barulho no céu chegou a cima de sua cabeça. E sentinelas saltaram para terra firme.

Os dentes de Ont'ari estavam preparados para uma garganta os duas. Mas não para mais do que isso. Tecnologia era uma praga em seu mundo. A floresta se agitou. A garota se escodnej atrás de uma árvore, com os sentidos latejando e raiva transbordando no olhar.

Os sentinelas começaram a cavar. Com tubos estranhos, recolhendo amostras do solo, da água do lago. Das plantas ao redor. Ao todo eram cinco demônios de ferro, que caíram do céu como a pior praga existente. O povo do céu era uma erva daninha.

Não adiantava fazer contas, analisar dados, nada disso importava. Ont'ari sabia que não tinha nada há perder. Se fosse até lá, se matasse aqueles humanos infecciosos, pelo menos se sentiria melhor. E talvez isso fosse bom.

Bom para ela.

Ont'ari deu um passo, mas sentiu algo agarrar seu corpo e puxá-la de volta para aquela árvore.

Não precisou se virar, o cheiro entregava Toruk Makto, Jake Sully a impedindo de cometer uma estupidez.

— A gente vai andar para trás juntos e em silêncio. — Não precisava ser genial para entender que ele estava saltando a vida dela.

Mas Ont'ari sabia que não o agradeceria por isso. Os sentinelas estavam tão ocupados sendo historiadores que não perceberam quando os dois Na'vis se afastaram em completo rigor sonoro. Mal se ouvia um passo. Ter conexões reais com a floresta. Conhecer cada passo é entender o que eles significam, tem muitos privilégios.

E depois de fugir, se esconder a próxima opção. Ont'ari apertou o arco nas mãos e tentou se afastar o máximo que podia de Jake Sully. Sabia o sermão que viria e se pudesse correr para bem longe, talvez ele não tivesse tempo nem paciência para encher sua cabeça de reclamações. Era só o que ele fazia.

— Ma'Jake... — Neytiri sorriu para o marido, mas seu sorriso logo morreu ao notar que ele não estava sozinho. — Ont'ari, querida... está ferida?

A garota não respondeu.

— Temos duas regras nesse acampamento, Ont'ari. — Começou outro sermão ensaiado. — Quais são?

— Fugir e se esconder. — Pelo menos ela sabia.  — Como ratos. Das história que o senhor contava lá do seu antigo mundo. Nova York. Bichos sujos e asquerosos. Vivendo na escória da humanidade. É o que somos. O povo do céu chegou aqui em nossa casa. Roubou nossas vidas, matou nossos irmãos e destruiu tudo pelo caminho. O que fazemos? Fugimos como ratos. É o que somos.

Jake precisou respirar fundo. Não podia culpá-la por se sentir assim. A floresta é cheia de conexões e essas pessoas são como parte dela. Ele entendia isso, fazia parte disso a tempo demais. Mas ainda assim, não pode evitar que o sofrimento chegasse e ferisse essas almas. Estar destruído tem apenas um sentido: destruição. E Ont'ari, assim como muitos ali, já tinha perdido demais.

Neytiri se aproximou da garota para consolá-la, mas não podia curar seu coração. Ela estava muito machucada.

— Não saia sozinha. — Jake disse apenas. — Nunca mais. Isso aqui não é uma colônia de férias. E guarde suas frustrações para você.

— Ma'Jake! — Neytiri o repreendeu.

Ont'ari apenas assentiu e saiu pisando firme para qualquer lugar que pudesse. Afinal, ela não tinha mais um lar; o que tinha eram resquícios do que um dia já foi.

사랑  ..  [ •ᴥ• ] —
𐀔 ⸚⏳ .. 공식적인 ♡ ...

Lo'ak sempre tinha um meio de irritar o irmão mais velho. Neteyam também sabia que a responsabilidade por seus irmãos mais novos acabava sempre sobre seus ombros. Seu mundo estava em guerra, não tinha como reclamar de um dia ou outro ficar de babá. Mas as vezes ser adolescente também tinha um amontoado de política chata e desagradável. O mundo tá um caos, não exclui os outros problemas menores.

Se bem que não podia chamar de problema o fato de estar apaixonado por uma garota linda e inteligente. Extremamente perigosa as vezes. Mas como seu pai sempre dizia: sua mãe também não tinha sido uma florzinha delicada, quando se conheceram.

Então no meio do caos, surgiu um sorriso quando viu Ont'ari entrar na caverna. Mas de repente, aquele sorriu murchou. Jake e Ont'ari trocaram farpas e a garota evaporou. Neteyam até queria consolá-la, mas sabia que era necessário dar espaço a ela. Pessoas que perderam tanto, costumam ser mais espinhosas.

— Eu falo isso porque gosto de você. Diga "Olá, Ont'ari". — Lo'ak colocou a mão no ombro do irmã. Neteyam sabia que não viria nada de bom. — Eu tenho pena de você.

— Iráyo, irmãozinho. — Era o obrigado mais falso que já tinham dado.

Os dois seguiram para a tenda da família. Jake e Neytiri ainda conversavam. Seu pai parecia zangado. Não tiveram coragem para entrar, mas ainda eram curiosos e não se moveram para longe.

— Ela é só uma criança. Não pode culpá-la por ter tanto medo, Ma'Jake. — Sua mãe tentava acalmá-lo. — Ela perdeu muitas coisas.

— Todos perderam, Neytiri. Ela não pode ser assim. Vai acabar morrendo um dia. Temos que proteger nosso povo e não podemos, se constantemente, tivermos que salvar pessoas como ela.

— Ela não tem família, está assustasa e quer vingança. Temos filhos da idade daquela criança. Não podemos só desistir dela. O povo se une em momentos como esse.

— Ela está em um momento diferente do nosso. Não sei como ajuda-la.

— Você é Toruk Makto. — Neteyam entrou na tenda. Os pais olharam para ele curiosos com sua intromissão. — Assim como o mundo gira, o dia virá noite e a noite vira dia, estamos em constante mudança. A perda dela é recente, senhor. A revolta é compreensível.

— Não te ensinei o suficiente para saber que não deve bisbilhotar? — Jake gostava muito desses sermões.

— Seu filho está te ensinando uma coisa hoje, Ma'Jake. Vé se tenta aprender. — Para sorte dele, Neytiri era uma mãe compreensível.

— Me desculpe, senhor. — Neteyam baixou a cabeça. — Ela perdeu os pais nessa com a chegada do povo do céu. Está cheia de ódio e medo. No lugar dela, lutariamos do mesmo lado.

— Você é diplomático demais, Neteyam. Não sei a quem puxou. — Jake finalmente cedeu com um sorriso. Colocou a mão no ombro do filho e falou: — É bom que Lo'ak não esteja atrás daquela cortina, ou o castigo será duplo.

Ao ouvir isso o irmão caçula fugiu dali.

Neteyam já podia imaginar.

— Agora se é tão maduro quanto tenta transparecer, talvez devesse incluir mais um em seu serviço particular de irmão mais velho.

— Como assim, pai?

— Essa garota não pode ficar muito tempo sozinha e eu não tenho tempo para ser a sombra dela. — Neteyam já estava suando com as próximas palavras. — Cuide dela, Neteyam. Seja um herói.

Seja um herói.

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