05. Papai
O nariz raspava sobre os fios escuros vagarosamente, como se quisesse decorar a essência que o filhote emanava.
Acariciava as costas alheia com um sentimento de alegria e satisfação, a euforia correndo nas veias, enquanto o peito quente se enchia de ternura e benquerença. Não lembrava quanto tempo estavam ali, mas fora o suficiente para Youngmin não querer largá-lo.
Sendo assim, o adulto abraçou mais forte a criança, deixando que mais uma vez ele babasse a camisa que vestia, ao se entorpecer com o cheiro do progenitor alfa.
Em seus pensamentos, o fio de voz chorosa do filho, questionando se era pai dele e se iria embora novamente, cortava de fato o coração do mais velho. O instinto de pai protetor invadiu o corpo de Jeongguk quase que instantaneamente, pois sentia que Young chorava de alívio e, ao mesmo tempo, de desespero. Provavelmente por ter passado anos sem conhecer o progenitor, e agora temia perdê-lo novamente.
A ideia de deixar o garoto nem sequer passou pela sua cabeça, apesar de ter que voltar para o exterior para cumprir com uma promessa que era inevitável. O moreno já sofria tanto quanto o menino.
Youngmin era um alfa inteligente, independente da pouca idade. O genitor acreditava que toda aquela inteligência não vinha dele, mas sim de Jimin, que naquela altura já deveria saber que era pai do filho dele, e que estava dando aulas para o pequeno Park. Não queria pensar na reação do ômega ao descobrir que estava voltando para casa... Que teria que lidar com a indesejável notícia que Jeon Jeongguk estava de volta e trabalhando no mesmo lugar que sua cria estudava. Se estivesse no lugar dele, a insegurança era o menor dos problemas.
A verdade é que o professor nunca quis participar dos negócios da família ou seguir os passos dos pais. Desde muito jovem ele já havia decidido querer viver e caminhar dos próprios sonhos, e não viver uma vida imposta de dedos apontando para o que fazer, ou não. O foco inicial ao voltar para Coréia, era conviver um tempo com a família antes que Sunmi colocasse pessoas atrás dele, monitorando-o. Foram quatro anos dolorosos onde teve que escolher os passos que queria seguir, e em meio a perdas, altos e baixos, ele finalmente conseguiu entender o que queria.
Contudo, não estava preparado para o que encontrou ao chegar na Coréia. E, caramba! Havia ganhado o maior tesouro. Seus braços agora protegem seu bem mais precioso, a pessoa a quem queria amar e proteger com todas as forças.
O peito estufado, inflamado de amor.
Seu lobo agora chorava de orgulho.
— Papai. — Ouviu-o chamar baixinho, quase como um sussurro.
O miúdo não fazia ideia de como o coração do educador falhava miseravelmente perante aquelas cinco letrinhas. Não conseguiu evitar que os lábios se curvassem em um sorriso abobado, afinal, ele ansiava ouvi-las.
— Hm?
O quarto parecia menor agora, ambos enfiados na bolha onde somente os dois existiam, e nada mais. Os olhos marejados do progenitor assustaram um pouco o moleque, mas o alfa chorava de felicidade. Seu coração batia desesperado, em folia pela alegria correndo em suas veias. Queria chorar em abundância, mas só o faria quando Youngmin não estivesse por perto; tinha medo de assustá-lo ainda mais.
E abraçado ao pai, os olhinhos do menino estavam focados nos desenhos atrás do moreno, nas folhas arrumadas na escrivaninha.
— Senhor não vai deixilar' a gente de novo, não é? — Jeon quis rir ao perceber a palavra errada, mas o pirralho empurrou um ombro seu para fitá-lo com os olhos cheios de esperança.
— Nunca deixarei você, filho — disse firme. No entanto, a criança franziu o cenho, inclinando a cabeça para o lado como se ainda estivesse com dúvidas.
— Mas e o papai Jimin? Vai deixilar' ele?
O pequenino sabia muito bem como deixá-lo sem palavras. Nem ao menos teve uma conversa de dez minutos com o castanhado, não o conhecia muito bem, embora seu lobo ficasse agitado na presença do ômega. Apesar disso, ambos não eram um casal ou tinham algum tipo de relacionamento, então o professor não sabia como agir naquela situação.
Ao que parece, o loiro já estava interessado em outro homem, o porteiro.
Se eles tinham um relacionamento, Jeongguk não sabia e nem podia confirmar, porém, era impossível não se sentir atraído por alguém como Park Jimin. Embora o rapaz tão belo tivesse aparência de alguém delicado, os olhos carregavam dor e selvageria; a aflição de quem sofreu por anos e sabia bem como esconder os sentimentos. Isso atiçava os sentimentos de alfa, e fazia com que quisesse abraçá-lo com todas as forças, cuidar dele como se fosse seu ômega marcado.
— É deixar, Young. — As bochechas do menino ficaram vermelhas, e em seguida, ele cruzou os braços, emburrado com a correção. — Não vou deixar vocês dois, ok?
Jurou ter visto os olhos escuros de MinMin brilharem como as estrelas brilham no céu.
A criança assentiu, confiando seriamente nas palavras do mais velho.
Colocou-o no chão, largando o garoto, enquanto foi procurar algo na cômoda. Durante o tempo que o moreno estava de costas, Youngmin encarou os desenhos perfeitamente arrumados na escrivaninha, seu pequeno lobo traquino incentivou-o a olhar mais de perto. Andou em passos suaves, a fim de não atrair a atenção de um alfa tão esperto quanto ele, por isso, olhou discretamente para o educador, verificando se tinha percebido sua movimentação.
Por sorte, não.
As mãos pequenas rapidamente tatearam na madeira da escrivaninha, mas ao perceber que não era o suficiente, o menino ficou nas pontas dos pés, e esticou o braço para alcançar a pilha de desenhos. Com os papéis em mãos, MinMin ficou encantado com as obras perfeitas que o progenitor fazia. Eram desenhos de heróis em quadrinhos, de algumas pessoas que ele não conhecia, de sua avó e Jihyun.
Os olhos escuros e completamente curiosos admiravam cada folha rabiscada. Youngmin sempre se imaginou conhecendo seu papá nos sonhos, vários rostos estranhos que poderiam pertencer ao seu progenitor alimentavam a ideia de que um dia ele voltaria para vê-lo. E embora sonhasse com vários alfas, até mesmo com Yugyeom, nenhum deles se comparava a Jeongguk.
Eunji estava certa sobre seu pai não saber da existência dele.
"O sopro daquela manhã fria bagunçava o cabelo recém-molhado, os braços apoiados na janela do quarto de Eunji enquanto observava o velho Kang lavar o carro no estacionamento do prédio. Youngmin tinha o queixo amparado pela borda da janela enquanto a garota penteava o cabelo ao seu lado.
O olhar vago de Park Eunji para a rua indicava que, seja lá o que ela estava pensando, não era bom. A Byun tinha o hábito de colocá-los em enrascadas, tão traquina que às vezes assustava. Entretanto, o pequenino estava verdadeiramente preocupado com a amiga, mas não era tão bom com palavras quanto ela.
— Papai Chan foi embora — sussurrou amarga.
Os mirantes de MinMin logo se arregalaram surpresos e incrédulos, negando-se a acreditar que seu tio Chanyeol deixara Baekhyun e Eunji.
Foi por isso que ele não estava lá de amanhã, com seu avental e contando histórias de quadrinhos e aventuras como de costume?
— O quê?
— Papai Baek estava chorando no sofá, ele não me viu, porque me escondi atrás da porta. O lobinho do papai estava triste, e meu coração doeu um montão assim. — Eunji esticou os braços, gesticulando o tamanho da dor que sentiu no peito. — Quero meu papai Chan de volta.
Young sempre pensou que seus colegas de classe e Eunji eram sortudos por terem os dois pais. Era engraçado quando ouvia Baekhyun reclamar com Chanyeol e a filha por fazerem tanta bagunça na casa, ou quando o alfa deixava as crianças dormirem muito tarde. Enquanto o ruivo colocava regras, Park Chanyeol as quebrava da forma mais divertida possível, e no final, ex-Byun acabava cedendo.
Eunji, por ser sempre tão traquina, quase sempre seus pais eram chamados na escola. E, claro, Jimin também era convidado, já que o Youngmin estava incluído na travessura. Para não levar broncas ou ficar de castigo, a pilantrinha implorava para Chanyeol comparecer à reunião, pois ele era bem mais paciente e compreensivo que Baekhyun.
Por outro lado, o garotinho envolvido não tinha uma segunda opção. E, por causa disso, acabava por atrapalhar o loiro no trabalho.
O ômega era o genitor perfeito, impondo regras ou não. Mas doía no coração de MinMin ver o pai desesperado para dar conta de tudo: trabalho, casa e filho. Escondido atrás da parede que dividia a cozinha e sala, Young observava tristemente seu papá com as mãos na cabeça, enquanto fazia contas das dívidas. Outrora o loiro resmungava que tudo ia dar certo, e que precisava se esforçar mais.
As lágrimas ficavam presas e não rolavam pelas bochechas, tinha ouvido uma certa vez que alfas tinham que ser fortes e não chorar facilmente. Ainda assim, o pirralho prometera ser forte para protegê-lo.
Não fazia ideia do porquê seu progenitor alfa tinha o deixado, mas ele seria forte pelos dois. Ele e Jimin.
— Tio Chan vai voltar, eu sei — afirmou firmemente, e logo encarou a amiga.
Eunji largou a escova na cama, e em seguida, correu para o lado de Youngmin. Ela sabia mais do que ninguém o quanto o outro sentia-se acanhado quando o assunto era sobre pais. Jimin dava toda a atenção e cuidados possíveis ao menino, o ômega era atencioso e se esforçava para que o filhote não se sentisse dessa forma. Eunji ouviu uma conversa de Baekhyun e o Park, ambos falando sobre o tal pai de Youngmin, e que o loiro temia que o progenitor descobrisse o paradeiro dele. Ainda pequena, a pilantrinha não entendia sobre o que seu tio queria dizer com isso, mas sabia que ele tinha medo.
Talvez o medo fosse do alfa levar Youngmin embora, e isso nem mesmo Eunji permitiria.
— Seu papai também vai voltar, MinMin — comentou, mesmo sem ter certeza do que estava dizendo, porém, não queria ver o outro cabisbaixo.
— Você acha?
— Uhum! — Assentiu quando os olhos esperançosos caíram sobre si. — Ouvi papai Chan dizendo que os alfas podem reconhecer seus filhotes pelos cheirinhos, pois, são muuuuito parecidos.
Youngmin fungou, enrugando o nariz.
— Mas como vou saber quem é meu papai?
Eunji colocou o dedo indicador no queixo, batendo levemente enquanto pensava. A verdade é que nem ela mesma sabia como, porém, não conseguia segurar a língua.
— Ele vai farejar o seu cheirinho.
— Que legal! — Young voltou a olhar pela janela, acreditando fielmente nas palavras de Eunji.
Ele conheceria seu papai, e o traria para Jimin, assim ele não ficaria sozinho.
— O que faço quando ele 'falejar?
— É farejar, MinMin. — Ela riu com o resmungo do alfa. — É só farejar de volta, e pronto!
— E se ele não quiser ser meu papai e for 'embola de novo? — Park insistia em dizer que seu progenitor não tinha o deixado, e que ele estava muito longe, mas, por que ele não podia ir vê-lo uma vez?
— É igual ao papai Chan? — Youngmin abaixou a cabeça após assentir. — Ele não vai. É só ele se casar com o tio Minnie.
As bochechas do alfa tornaram-se rubras, enfeitando o rosto delicado. Seu pai ômega... casar? Isso queria dizer que tinha que dividi-lo com alguém, e ele não queria.
— Mas é o meu papai!
— Você é muito ciumento, Youngmin.
O garoto rosnou irritado, mas nada disse. Eunji estava certa, novamente. Ele era muito ciumento com o ômega, porque era seu papai. Ninguém podia tocar nele. Ninguém.
[...]
Não demorou muito para que o que Eunji disse de fato acontecesse. Um alfa bonito e substituto entrou na sala de aula, farejando seu cheiro como se o conhecesse. O lobinho infantil pulou vibrando, e foi inevitável não farejar de volta, não porque Eunji disse, mas seu lobo necessitava daquele cheiro mais forte. Aquele odor fazia-o querer colo e entranhar o nariz contra a roupa alheia, assim como bem fazia com Jimin.
A probabilidade daquele homem — que dizia ser irmão de Jihyun — ser seu pai não era um em um milhão, certo? Youngmin não podia acreditar. Anos, longos malditos anos esperando por qualquer que fosse o sinal, e agora, tão de repente e dado de bandeja, um alfa à sua frente poderia ser o que almejava.
Tudo o que queria era sair da aula, correr até a casa de Eunji, e contar para ela, já que a mesma não havia ido à escola. No entanto, ficou ali, encolhido na cadeira, enquanto podia ouvir sussurros dos colegas de classe, caçoando-o. Embora os insultos pudessem ser ouvidos, o pequeno Park estava absorto a qualquer coisa ao seu redor, preocupado demais com um lobinho eufórico dentro de si. E por consequência, isso lhe deixava com medo.
Quando voltou para casa naquele dia, não sabia se era sorte, mas descobriu ser vizinho de Eunji. A pilantrinha o abraçou com tanta força antes de jogar um balde de informações sobre o fim do casamento dos pais, e naquele momento, o menino segurou o choro, pois Baekhyun e Chanyeol também eram sua família. Eunji até conseguia fingir estar bem, porém Youngmin conhecia muito bem a nova vizinha.
— O tio Chan... Onde ele vai molar'? — questionou tristonho, e a moleca deixou os ombros caírem.
— Ele ficou na nossa casa. O papai Baek não quis ficar lá, disse que o papai Chan queria um tempo sozinho, mas não foi o que ele disse. O Papai Yeol estava chorando no quarto. — De repente, a menina sentou perto da cama e colocou as mãos na cabeça, enquanto puxava levemente o cabelo, encenando o acontecimento de horas atrás. O desespero de um alfa ao perder o que mais importava para ele ou, talvez, não mais. — Assim, ó.
Com o coração preenchido de tristeza, MinMin se juntou à amiga e a abraçou, tão forte quanto Jimin fazia quando tinha pesadelos, ou quando estava triste. O Park ômega chorava e dizia que o filhote era sua âncora, ele também queria ser a âncora da Byun.
— Vai ficar tudo bem, Eunji. Vou ser a sua âncola'.
— Minha o quê?
— Âncola!
Sorriu, devolvendo o abraço carinhosamente. Youngmin era tão parecido com Jimin que, por muitas vezes, era mais sensível com um ômega, o que ocasionava em uma Byun defendendo-o até quando se trava de briga.
— Ji? — ele chamou minutos depois, fazendo-a o encarar. — Acho que encontrei o meu papai alfa.
MinMin não entendeu absolutamente nada quando Eunji correu para a porta, fechando-a, e depois o ajudou a levantar, obrigando-o a sentar na cama. Ela estava tão eufórica, que liberava feromônios, ainda que fossem bem fracos.
— Me conta tuuuudinho o que aconteceu! Vai logo, bobão!
Se tinha uma pessoa pra quem podia contar tudo, com toda certeza, Eunji era ela. Youngmin contou sobre tudo o que aconteceu, desde o professor farejar seu cheiro, como também ajudá-lo com os valentões da turma. Foi como se estivesse sonhando acordado, e talvez estivesse mesmo, o lobinho eufórico reconhecendo que aquele era o pai dele, não importa o que acontecesse ou quantos anos se passasse, ele o reconheceria.
— Você contou que é o filho... Dele? — Estava perplexa.
— Não. Se eu contar, o tio Jeongguk vai embora de novo.
Duvidava que aquilo pudesse acontecer, pois, se o mentor estava ali, era possível que ele quisesse ficar. Entretanto, entendia o que o amigo sentia, ele tinha medo do pedagogo desaparecer, e novamente o vazio tomar conta. Jimin raramente se relacionava com alguém, então eram apenas os dois. Park Jimin e Park Youngmin.
Era nítido o quão feliz estava com a descoberta, os olhos pretos brilhavam quando proferia o nome Jeongguk.
O garotinho estava pisando em ovos, sendo cauteloso para que o educador não descobrisse a paternidade. Além disso, Eunji tinha lá suas dúvidas, pois acreditava que o adulto já soubesse do descendente, pelo fato do cheiro quase ser idêntico.
No entanto, os olhos sorumbáticos deixavam evidente que jamais faria algo que fizesse Jeon ir embora de novo.
— E se ele veio por causa de você? — perguntou, baixinho. — A gente vai ficar de olho nele, e quando você achar melhor, pode dizer que é filho dele. O que acha?
A expressão pensativa fez a menina sorrir sapeca, como se estivesse tramando algo.
— E se ele disser que vai embora?
— Não vai. Eu prometo.
[...]
Apesar da promessa, o pirralho ainda tinha seus medos e desconfianças. Seu professor não podia simplesmente ir embora e deixá-lo; não poderia fazer isso novamente.
Seu papai Jimin ficaria sozinho.
Seu papai Jimin não teria um parceiro.
Largou os desenhos e correu até o pai, abraçando forte as pernas longas. O rosto enfiado no tecido preto da calça jeans, se mantendo preso ao corpo grande. Onde o moreno fosse, ele iria também.
Se fosse preciso, o alfazinho iria guiá-lo pelo caminho, que no final, Park estaria esperando por eles. Como sempre esperava do lado de fora da escola, apesar da aparência cansada, ele ainda abria os braços, todo sorridente.
Formariam uma família.
Era costume atracar no corpo esguio do loiro, agarrar as pernas roliças como se sua vida dependesse daquele aperto. Entretanto, ao se libertar do seu abraço, o menino sentia pavor que o ômega pudesse sumir, assim como seu pai alfa. Então se pendurava nas pernas dele, principalmente quando fazia manha para dormir na cama quentinha do loiro.
O ômega sempre teve o coração molinho, pois era só MinMin fazer um bico choroso enquanto cruzava os bracinhos, que logo em seguida o mais velho abria os braços para acolhê-lo. Então o pequenino dormia tranquilamente, recebendo carinhos em sua cabeleira. Em dias normais, ele deixava o filho no quarto ao lado do seu após chegar do trabalho. No entanto, deitava ao lado da criança e cantava uma música qualquer, algumas vezes ele até acabava por dormir na cama do alfa quando não resistia ao cansaço.
Esperava poder fazer o mesmo com Jeongguk.
Na verdade, queria muito poder dormir na mesma cama que ambos os pais.
Os pijamas combinando também eram uma boa ideia, mas era possível que as vestes de Jimin não coubessem no pedagogo.
— Eu posso chamar você de "Papai", não é, tio?
"Papai".
Não sabia descrever o quão bobo ele ficava quando ouvia o garoto chamá-lo assim. Apreciava, e seu lobo também, amolecendo e ronronando.
Jeon nem sequer sabia da existência de um filho, mas sentiu-se ligado a ele no instante que o viu. Foi uma reação em cadeia, uma conexão surpreendentemente boa, e agora aquela figura tão bonita o chamara de pai.
Se sentia como um idiota, sem conseguir parar de sorrir.
Encarou bem o filhote, as bochechas fartas evidenciando a semelhança para com Jimin, e, nossa, ele era tão lindo... Os olhos escuros, o cabelo preto e o cheiro característico eram seus, e essa junção embelezava a criança de forma graciosa. Admirava a inocência de Youngmin, ainda fitando o rostinho cheio de expectativa, por isso, não se deteve quando a vontade de puxá-lo novamente para seus abraços o atingiu.
— Você pode tudo — respondeu, esfregando o nariz no cabelo cheiroso, sentindo a essência do shampoo infantil. O seu aroma se misturava com o alheio, mas Jeon fazia questão de deixar seu cheiro no corpinho pequeno. Embora os odores fossem semelhantes, o do mais velho era mais forte e denunciava que ele queria marcar território, evidenciando que aquele garotinho era seu filho. Ninguém ousaria mexer com Youngmin, não mais. — Ei, cara, você não quer ir ao shopping com o papai?
— Sim! — gritou animado, correndo para fora do quarto para pegar sua mochila.
O mais velho pegou a carteira na cômoda, e saiu rapidamente atrás do menino, não se importando com a bagunça dos desenhos que deixou para trás.
Dentro do carro, o rapazinho tagarelava sobre Eunji ser uma ômega muito esperta, e que ela sabia que o papai dele iria aparecer. Com as bochechas infladas, reclamou que Yugyeom não estava mais brincando com ele, mas era um alfa muito legal e Jimin era muito amigo dele. Só conseguiu assentir, balançando a cabeça e focando na estrada. Apesar de falar muito, isso não incomodava o outro, era muito bom ouvir a voz do fedelho.
Jeongguk ficou um pouco incomodado, mas não disse nada, pois não cabia a ele perguntar sobre a vida amorosa de Park. Entretanto, ainda precisava conversar com o ômega sobre a paternidade de Youngmin, e se estava sendo um incômodo para ele.
— Young, não conte para Jimin que eu sei que você é meu filho, e que você também sabe sobre mim.
O menino o olhou confuso.
— Por que não?
— Seu pai e eu ainda precisamos conversar, certo? — MinMin assentiu sem entender muito bem o que eles iriam conversar, era coisa de adultos, mas ele ficou curioso. — Não quero assustá-lo depois de sair com você, e voltar dizendo que é meu filho. Seu papai pode ficar inseguro sobre deixá-lo comigo novamente, deve ser muita informação. Não vou forçar, ou incomodá-lo, quero que ele possa se sentir confortável comigo.
— Mas o papai disse para nunca mentir, ele fica triste se mentir pra ele. — O moleque fez um biquinho. — Ele vai chorar.
O rosto do adulto esquentou, e as bochechas ganharam um tom rosado. Era excepcional a forma como o loiro criou o menino, Youngmin seguia perfeitamente as regras do ômega, tão obediente. Seu filho era um alfa digno, e isso o orgulhava profundamente, queria e iria agradecer ao Park pela criação impecável.
Se surpreendeu consigo mesmo quando ficou incomodado ao pensar em Jimin chorando. Muito incomodado. O ômega não merecia chorar, principalmente se ele fosse o motivo das lágrimas.
Então suspirou, procurando uma forma de explicar para uma criança que ele estava com medo. Com receio que o genitor se sentisse desconfortável em sua presença, que odiasse sua volta e não gostasse da aproximação do filho com ele. Se Park decretar que, não, ele não teria contato com Youngmin, apenas aceitaria, por mais que a dor atingisse sua alma. Ainda assim, iria aceitar.
Em circunstância alguma iria contra o dono dos fios loiros, afinal, Park-Jeon Youngmin poderia sim ter seu sangue, mas o verdadeiro pai era Park Jimin. Jeon Jeongguk era apenas um doador, contribuiu de alguma forma para que aquele menino curioso que estava em seu carro pudesse nascer. Porém, quem enfrentou todas as possíveis e impossíveis dificuldades, fora o ômega, assim como quem cuidou e amou todo esse tempo.
Não sentia que tinha esse poder de se infiltrar na família, pedir alguma coisa, porque, não, ele era só um alfa que esteve longe por anos, e aparecer do nada exigindo alguma coisa era hipocrisia.
De qualquer forma, seu peito apertou ao imaginar viver novamente longe do filho. Porque queria poder abraçá-lo, apertar as bochechas gordas e enchê-las de beijos, até o ouvir resmungar para parar com aquilo. Foi inevitável imaginar o ômega fazendo isso com Youngmin, mimando-o e embrulhando em seus braços, protegendo o filhote do mundo. Refletir sobre isso fez seu coração se acalmar vagamente.
— Você pode esperar até eu conversar com ele?
Os lábios do menino formavam-se um biquinho saliente, e seus olhos ainda estavam duvidosos.
— O papai vai ficar triste?
Jeongguk demorou um pouco para responder, mas a criança parecia atenta aos seus movimentos.
— Não. Eu espero que não — sussurrou a última parte.
O filho balançou a cabeça, concordando e confiando nas palavras do adulto.
[...]
— Papai! O urso, olhe lá!
A criança correu em direção a loja, direto para o urso em destaque. Jeon disparou desesperadamente atrás do filho, temendo que ele pudesse se perder.
Estaria mentindo se dissesse que suas mãos não suavam e tremiam todas às vezes que o pirralho chamava-o de "papai". Enquanto o seguia, não pôde deixar de lembrar quando viu aquele serzinho sentado tristonho na sala de aula, automaticamente surgindo uma angústia imensa em seu peito.
Não importava quanto tempo tivesse ao lado do filho, queria vê-lo sorrir. O faria sorrir.
Ao se aproximar do moleque, tocou seu ombro, e em seguida, encarou o tal urso que ele comentou. Havia uma pelúcia amarela e um coelho rosa, ambos em destaque na vitrine. Os olhinhos do alfa brilhavam para os ursos, estampando as mãos no vidro da loja como se pudesse tocar os objetos. O preço absurdo dava para comprar dez brinquedos em lojas de feiras, até por aplicativos os preços provavelmente seriam menores. Apesar disso, para Jeongguk não era um grande problema.
— Você quer um?
Finalmente, Youngmin olhou para o pai.
Os olhos dele brilhavam como estrelas iluminando o céu, mas aqueles lumes cintilavam o mais velho.
— Quero os dois!
— Mas...
— Os dois, papai!
O suspiro derrotado do progenitor nem sequer foi ouvido pela criança. Segurou a mão do filho antes de entrar na loja, com um certo receio de que ele entrasse correndo e quebrasse algo.
As prateleiras estavam lotadas de pelúcias e outros brinquedos infantis, desde carrinhos a bonecas e tabuleiros. Por um momento, teve vontade de cobrir os olhos de Youngmin com as suas mãos, para que ele não pudesse ver os inúmeros brinquedos fantásticos. O dedinho minúsculo apontava para objetivos infantis e em seguida murmurava fascinado: "Wow, olha esse papai!".
"Eu quero!"
"Queria um desse!"
"Quero este, para brincar com Eunji"
E não parou por aí, o jovenzinho continuou tagarelando.
A partir do momento que a vendedora entregou os ursos, Young não os largou, apertou as pelúcias contra o peito, abraçando-os.
Algumas pessoas olhavam para MinMin, e em seguida, para o alfa mais velho, percebendo a semelhança de ambos. Discretamente, Jeon lançava sorrisos orgulhosos quando ouvia alguém cochichar que ele era um pai amoroso e bonito, apontando a parecença de ambos.
Seu ego foi miseravelmente alimentado.
Conforme passavam pelas lojas, Young apontava repetidamente para os brinquedos e lançava novamente os olhos brilhantes, e o professor não conseguia negar nada. Por isso, carregavam várias sacolas de um lado para o outro.
— Não corra tão rápido, o chão está escorregadio e você pode cair — avisou com a voz apreensiva. — Se você aparecer com um arranhão, seu pai vai me deixar muito dodói.
— Mas os beijinhos curam, papai!
Foi difícil não sorrir com a explicação óbvia. Em seguida, se abaixou um pouco para ficar rente ao filho, não se importando com os olhares alheios interessados.
— Você vai beijar o papai Gguk? — Fingiu-se estar triste e sentindo dores, porém o filho era tão astuto quanto o pai, sabia que estava fingindo.
— Sim! — MinMin balançou a cabeça, frenético, rindo quando o homem mais velho balançou desajeitadamente seus cabelos. — Papai Chim também vai beijar o papai Gguk.
O alfa suspirou.
Youngmin possuía uma imaginação fértil.
Aos poucos começou a perceber que, para o moleque, sua volta significava namorar Jimin, ser uma família. E de longe queria magoar os sentimentos do filho, por isso soube que ia ser quase que doloroso fazer entender que, sim, eram uma família, porém, não com o loiro sendo seu ômega. Casados.
Só de pensar nessa possibilidade sua cabeça já doía. E, não, não era uma ofensa casar-se com Park Jimin. Jamais seria.
Jeongguk nem sempre foi cuidadoso em seus relacionamentos, compromisso sério sequer já foi uma opção. Na juventude, foi muito travesso e gostava da libertinagem. Era de fato um vagabundo. Quando partiu para o exterior, ele amadureceu e focou nos estudos, obviamente acabou se tornando um dos assuntos na faculdade. Na Coreia, alguns comentavam que o jovem tinha contraído sífilis e, mais tarde, HIV. Quando o perguntaram por chamada de vídeo, ele disse: "Foda-se os rumores ridículos!". Não demorou muito para outro boato se espalhar, dessa vez foi do rapaz que deu início a toda fofoca. "Não tem nenhuma doença, Seok só inventou porque Jeon não aceitou dormir com ele".
Os assuntos sobre o "ex-libertino" se encerraram. No exterior, as coisas se desenrolaram de uma forma melhor do que Jeongguk esperava. Não tinha a pressão dos seus pais, a pressão dos alunos com o ranking de melhor nota, e a imagem fingida que teria que manter.
Muitos eventos bons e ruins que o fizeram amadurecer, crescer e se aprimorar. Talvez isso não teria acontecido se ele tivesse ficado na Coreia.
Ele era um canalha, infelizmente. Apesar disso, nunca agiria de tal forma com o loiro. Aquele rosto bonito não poderia ser manchado de tristeza e, embora eles não tivessem intimidade, beijaria as lágrimas dolorosas se fosse preciso.
Ele era pior, um libidinoso, pois já pensou em beijar a boca convidativa do Park. Ah! Sim, ele se imaginou mordendo os lábios carnudos, para depois chupá-los com cuidado, como uma forma de desculpas. Desde que o viu naquela roupa transparente, Jeon fugiu como um cachorro assustado.
Ele não podia tocar Jimin.
O ômega já tinha o porteiro, ou seja lá o que ambos tinham. Então reconheceu seu lugar, e de modo algum iria se meter entre os dois, mas se o homem estivesse disponível...
Por que caralhos ele estava fascinado e insistia em pensar nessas coisas? Era o pai do seu filho que estava desejando.
Se sentiu sujo. Tão sujo que o queria, nem que fosse só para ouvir sua voz.
Balançou a cabeça para afastar os pensamentos vulgares, logo em seguida, sorriu para o menino, assentindo levemente. Porém, não disse nada sobre os beijinhos que o "papai Chim" daria nele, caso ficasse doente.
— Ei, garotão, vamos lanchar? — Youngmin fez um bico, negando veemente. Ele correu em direção a área das crianças, o pai desastrado o seguiu tropeçando nas sacolas. — Young, você tem que comer!
— Depois, papai!
O pequenino largou seus pertences perto do progenitor, antes de correr para um pula-pula cheio de bolinhas coloridas.
[...]
As estrelas brilhavam no céu quando saíram do shopping, entraram no carro e partiram para casa da mãe de Jimin. O ômega ligara mais cedo, pedindo para que levasse MinMin para casa da mãe dele, e em seguida mandou a localização. Após a chamada encerrada, o alfa ainda sustenta um sorriso, seus ouvidos formigavam ao ouvir a voz tímida.
Se sentiu feliz porque iria vê-lo.
— Essa é a casa da vovó! — Young apontou, e o mais velho estacionou o carro do outro lado da rua.
A primeira coisa que avistou quando saiu do carro foi a imagem de Jimin, sorrindo para um rapaz que estava ao lado dele. Estava tão bonito com uma camisa gola alta de cor vermelha e branco, uma calça jeans colada. Estava frio, porém ele não parecia se importar em se agasalhar com mais precisão. As bochechas fartas e rubras foram capturadas pelos afiados de Jeon, que o admirava embasbacado.
Suspirou, tentando se livrar novamente dos pensamentos onde ele envolvia seus braços fortes em torno do rapaz, esquentando-o.
Somente percebeu que estava olhando demais, quando o loiro o encarou de volta, envergonhado. Mas o que realmente o fez sair do transe foi a voz de Youngmin o chamando.
— Papai, você não vai abrir a porta?
Desajeitado, se apressou em abrir a porta, um pouco nervoso e envergonhado. O menino saiu do carro e correu para o pai ômega, que se abaixou para abraçar o filhote. Os dois estavam tão alheios ao que acontecia ao redor, que Jeongguk não pôde evitar sorrir e se aproximar lentamente, com receio, como se a qualquer momento pudesse estourar a bolha ao redor deles. Por isso, apertou os passos para que ficasse mais lento.
— Pediu para Jeon comprar isso para você? — O menino balançou a cabeça, negando, mas o olhar travesso jamais enganaria Jimin. — O que eu falei para você? Não pode ficar importunando as pessoas e pedindo coisas.
Cruzou os braços enquanto tentava manter a pose emburrada, os olhos afiados fitando o filho com desconfiança.
— Eu só pedi uma vez! O tio que comprou tuuudinho, papá — Youngmin o imitou, do mesmo jeitinho, copiando a pose do genitor.
Eles eram tão parecidos, e a cena era icônica, o coração do alfa ficou quentinho.
— Senhor Park — chamou, odiando interrompê-los.
— Por favor, só Jimin. — O alfa assentiu.
— Não brigue com o Youngmin, a culpa foi minha, acabei ficando muito animado com o nosso passeio, e não pude evitar comprar presentes para ele.
— Tudo bem, mas tinha que ser tantos? — Ele apontou para o carro, pela janela dava para ver vários brinquedos. Rapidamente o moreno ficou envergonhado, enfiando as mãos no bolso da calças para que o ômega não percebesse o seu nervosismo.
— Desculpe — o alfa falou, sem jeito. — Ah, e, obrigado por permitir o Youngmin sair comigo, nos divertimos muito. Não é, pirralho?
— Sim! — Young foi até o professor, circundando os bracinhos na perna do mais velho, que logo acariciou sua cabeleireira.
Jeongguk sorriu para Jimin, um pouco constrangido, se abaixando e deixando um beijo na testa do menino. Em seguida, se afastou a contragosto, curvando-se em uma saudação formal.
Youngmin não gostou nem um pouco quando viu o pai se distanciar, indo embora. Correu até ele, segurou-o pela mão para ganhar a atenção do alfa, obtendo sucesso.
— Já está indo embora? — Seus olhos eram de alguém que não queria ser abandonado, isso fez arder e doer o coração do outro. — Fica, papai... — Para o alívio do educador, o sussurro foi tão baixo, que se não fosse pela audição apurada dos alfas, ele não teria escutado.
— Eu preciso ir para casa, pirralho — explicou, e o pegou no braço. Jeongguk não queria deixá-lo, assim como a criança também não queria soltá-lo, e se agarrou em seu pescoço. — Ei, ei... O que foi? — Abraçou forte enquanto seu nariz avantajado fazia um carinho gostoso na bochecha alheia. — Eu não vou deixar você, é uma promessa!
Sussurrou só para que o filho pudesse ouvir, tentando consolá-lo. No entanto, o pequeno afundou o rosto no vão do pescoço do progenitor, fungando.
— Você pode ficar para o jantar, se quiser. — Cauteloso, o loiro se aproximou deles. Ele conhecia muito bem o filho e suas artimanhas, esse fedelho talvez alcançaria um dos melhores rankings no mundo da atuação. — Minha família vai gostar de tê-lo aqui.
O aroma que o ômega emanava era tão bom e relaxante, deixava o alfa embriagado. Jeongguk gostou do cheiro, sua mão coçava para enlaçar a cintura delgada e trazer o corpo pequeno para o seus braços. Sentir o cheirinho bem de perto, direto da fonte.
Entretanto, ele se conteve.
— Obrigado pelo convite, senhor P... Jimin. — Logo se corrigiu quando viu o olhar indignado do outro.
— Você verá rostos conhecidos, aliás, sua irmã e mãe também estão aqui. — A risada de Park fez o estômago de Jeongguk embrulhar e lhe arrancar um suspiro.
— Não acredito que elas estão aqui! Eu estava preocupado em ir pra casa para elas não jantarem sozinhas. — Ele fingiu estar chateado, o que arrancou risadas do ômega. — Traíras.
— Talvez elas sejam um pouco.
Jeon não pôde deixar de sorrir, não quando o ômega estava por perto.
O moreno pensou que Park o levaria para dentro da casa, mas ele tocou suas costas e guiou o caminho pela lateral da casa, foi arrastado até chegar na parte de trás. Quando parou, viu uma grande mesa farta de comidas no centro do jardim, que perfumava o eflúvio das flores.
Haviam pessoas conversando no banco, este possuía algumas luzes coloridas enroladas nos galhos ao lado. Do outro lado, as risadas altas e descontroladas do conjunto de jovens junto a uma pilha de garrafas de soju. Foi quase automático encontrar Sunmi e sua irmã conversando com uma mulher bonita, de aparência tão bela quanto a do pai do seu filhote. A semelhança era incrivelmente linda.
Logo soube que ela era a mãe do rapaz ao seu lado.
— Ah! Olhe lá, Minseok, o alfa de Jimin realmente veio. Me deve duzentão! — O velho Kang estava sentado na mesa com alguns rapazes, que ficaram bastante irritados, mas logo começaram a sacar e colocar o dinheiro na mesa, o senhor de meia-idade só resgatou tudo com maestria. — Você também, Seokjin, vai passando o dinheiro.
— Você sabia que ele tinha alfa? — alguém perguntou.
— Não, isso deve ser invenção desse velho gagá — o tal de Seokjin responde.
— Claro que Jiminnie tem um alfa. Você está vendo com os próprios olhos, o que quer mais? Um beijo? — O velho estava se divertindo contando o dinheiro ganho pela aposta.
Enquanto o homem de meia-idade falava, Jimin e Jeongguk viraram a atração da noite. Aos poucos atraíam olhares curiosos e afiados, que logo se concentravam no alfa, que ainda segurava MinMin em seus braços.
As bochechas do Park enrubesceram, ele se encolheu um pouco rente ao pedagogo, que também parecia constrangido.
— Você é mentiroso! — apontou uma mulher.
— Claro que estou falando a verdade, e a prova está aqui. — Kang apontou para o mais alto, como se fosse óbvio. — Jiminnie até fez carinho nele em frente a escola, eu vi tudo.
O pobre ômega não pôde aguentar mais aquilo, marchou até o esposo da tia e puxou-lhe a orelha.
— Seu velho sem vergonha, do que você está falando? — Embora o resmungo fosse alto o suficiente, o loiro estava tão velho que suas orelhas estavam quentes.
— Não seja agressivo, filho. — A patriarca da casa apareceu como um anjo para salvar Kang, que suspirou de alívio quando teve sua orelha solta. — Jeongguk, desculpe por isso. Venha e sente-se aqui, vou deixá-lo o mais longe possível desse velho rabugento.
Com um sorriso trêmulo, o alfa fez o que a senhora pediu. Ele sentou longe do velho e dos rapazes, que ainda falavam dele e de Jimin. O ômega sentou ao seu lado, mas não o encarou dessa vez. Jeongguk sabia que ele estava tão envergonhado quanto, por isso quando o fitou, seus olhos afiados fisgaram a boca carnuda sendo maltratada pelos dentes alheios.
Jihyun sorrateiramente parou ao lado do irmão, pegando Youngmin no braço e o levando até Sunmi, deixando os dois rapazes sozinhos.
O alfa se odiava por não conseguir dizer uma palavra, seu olhar sério para o ômega não era proposital. Estava tentando manter o autocontrole, mas já estava quase no seu limite.
Era assim que o belo homem ao seu lado o deixava, carente e ardendo em desejo.
Embora eles não tivessem trocado muitas palavras, Jeongguk não conseguia compreender de fato o seu fascínio pelo ômega. Não soube quando começou, se foi quando o viu tropeçando nos próprios pés enquanto estava alcoolizado, despejando a culpa sobre o alfa, ou apontando o dedo em seu peito. Ou quando Park desabou, chorando em seus braços, fazendo aflorar a ânsia de cuidar, zelá-lo com o seu calor? Jeongguk não sabia.
Talvez fosse em ambos momentos.
A visão de um Park Jimin, enrubescido e inquieto, emanando a olência que deixava Gguk bêbado pra caralho. Dessa forma, ele não podia mais disfarçar, encarou descaradamente o ômega, deixando seus ombros se tocarem breve, mas o suficiente para o Park fincar mais forte os dentes nos lábios.
Jeon não aguentou.
Inconsciente, ele tocou o queixo alheio delicado, virando-o para si o rosto bonito e acerejado.
— Não faça isso, você pode se machucar. — A voz saiu mais rouca que o normal, profunda quando percebeu seu ímpeto.
— Jeongguk... — As pálpebras tremeram quando os lábios carnosos finalmente foram soltos. Os lumes cintilavam quando encarou o alfa, pois se assustara com a rouquidão da voz, parecia tão libido. Demorou um pouco para perceber que chamou Jeon, mas não sabia o que dizer. — Eles deixaram você desconfortável? Aquele velho é um sem vergonha!
O moreno riu um pouco, tentando disfarçar o assanhamento que foi tocá-lo sem permissão. Com isso, acariciou o queixo de Jimin com o polegar, quase resvalando sobre a boca convidativa, antes de soltá-lo.
— Eu quem deveria ter perguntado isso, acho que essa confusão é culpa minha. Quando ele mencionou que eu era o seu alfa, fiquei calado. — Coçou a nuca sem jeito quando o ômega riu. — Obrigado por permitir que eu passasse um tempo com Youngmin, ele é um garoto incrível. Sei que é desconfortável para você, aparecer aqui depois de quatro anos e pedir um tempo com ele.
— Confesso que não foi fácil, nunca foi — Jimin desabafou. — Eu que escolhi ser pai solteiro, escolhi criá-lo sozinho sem a ajuda de um alfa. É claro que eu não esperava que você voltasse, mas Jeongguk, você não pode tirá-lo de mim — disse sério, olhando nos olhos do homem à sua frente. — Não pode chegar aqui e dizer: "Eu sou o pai dele, e vou criá-lo", não pode. Dei tudo de mim para meu filho crescer em um lar com muito amor e carinho, não vai tirar ele de mim. — A voz era trêmula, mas não menos determinada. — Não foi isso o combinado com Sunmi e Jihyun, elas...
— Elas não me falaram nada. Eu juro, Jimin. — Inquieto, Jeongguk arrastou sua mão que estava na mesa, até tocar a semelhante. — Eu não vou tirá-lo de você, pelo amor de Deus, eu jamais vou fazer isso.
— Você estava com Youngmin na escola, elas conversaram comigo — rebateu.
— Não me contaram nada. No começo pensei que era coisa da minha cabeça, quando eu saí da Coreia não tinha filho, e quando volto, vejo um garotinho me farejando. Ele tinha o mesmo cheiro que o meu, pensei que era loucura, mas com o tempo fui percebendo e me surpreendendo com os planos da vida. Não acreditei, não quis acreditar que perdi todos esses anos. — Jeongguk usou a mão livre para afagar o próprio cabelo, puxando e bagunçando. Estava receoso, o olhar desconfiado do ômega era cruel e afiado, tentando encontrar traços de mentiras. — Acredite em mim quando digo que não voltei para tirar o MinMin de você, isso sequer passou pela minha cabeça, Jimin. Que direitos tenho de fazer isso com vocês?
Apesar da confidência, Park ainda não estava satisfeito. Seus pesadelos voltavam para assombrá-lo, ele tinha muito medo de perder o filho. Entretanto, deu um voto de confiança, já que o professor trouxe Youngmin de volta.
— Ele tem meu sangue, meus genes, mas é você o pai dele. — Jeon se achegou, perto o suficiente, tocando novamente seus ombros. — Não tenha medo de mim. Se você não se sentir confortável comigo por perto, basta dizer e eu me afastarei.
Atordoado com a aproximação, o ômega se encolheu um pouquinho e molhou os lábios, a língua passando lentamente pelos beiços carnudos.
— Eu...
— Papá, é o tio Baek, olha! — MinMin correu até Jimin, o celular sendo apertado entre os dedinhos miúdos. A tela brilhava de tão conforte o contraste, a luz incomodou os olhos do casal. A chamada já havia sido iniciada, então o rosto bonito de Baekhyun já estampava a tela. — Tio Baek.
Quando o ômega pegou o celular, ele viu a expressão nervosa do amigo.
— Baek, aconteceu alguma coisa? — questionou tão rápido, sem dar a chance do outro falar alguma coisa. — Onde está Eunji?
— O porteiro do apartamento em que eu morava com Chanyeol me ligou, disse que tinha um barulho estranho vindo de lá. Ele me pediu para que eu fosse checar, já que Chanyeol não o atendeu, Sr. Kim parecia preocupado — A voz do ex-Byun estava apreensiva. Park notou a movimentação do amigo, assistindo ele entrar no carro, e em seguida, Eunji pegou o celular para que o pai pudesse ajustá-la na cadeirinha infantil. — Sr. Kim não ligaria por qualquer coisa, eu não sei...
— Quer que eu vá com vocês? Posso pegar o carro do Kang.
— Não, está tudo bem! — Realmente, não estava. Baekhyun sempre se mostrou forte, mas quando se tratava de Chanyeol, de algo que o colocasse em risco, Baekhyun era como um gatinho — Eu só queria te ligar e...
— Tio Gguk! — De repente, Eunji apareceu na tela, empurrando levemente o pobre Baekhyun. — Papai, o tio Gguk é o pai do Young!
O ruivo arregalou os olhos, a bochecha colada ao da filha para que pudesse ter espaço na tela do celular. Youngmin subiu no colo do professor, tomando o aparelho da mão do genitor ômega. O loiro ficou pasmo.
— Tio Baek, esse é o meu pai! — Enquanto Baekhyun ainda estava descrente, os olhos arregalados encaravam um alfa envergonhado. Eunji, por outro lado, estava muito animada e acenava para o educador, este que estava com as bochechas rubras. O celular foi colocado bem perto do rosto de Jeongguk. — Meu papai Gguk.
Youngmin fitou o moreno, expressando felicidade e satisfação em dar a notícia. Até mesmo liberava feromônios, um odor suave e, ao mesmo tempo, dominante.
O menino pareceu ter esquecido do pedido que Jeongguk o fez hoje mais cedo. Apesar disso, o moreno sorriu completamente abobalhado para o filhote, beijando a testa alheia.
— Por que sinto que você está envolvida nisso de alguma forma? — O ruivo encarou a filha por alguns segundos, o que foi suficiente para notar que a linguaruda estava planejando algo. — Eunji, não!
— Mas papai, eu só ia dizer que o tio Jimin não vai mais namorar o Yugyeom, porque ele vai casar com o tio Gguk! — A pilantrinha fez um biquinho nos lábios, encarando inocentemente o pai.
O loiro não pôde mais suportar, ele estava embaraçado com toda a situação. A menina tinha o dom de deixá-lo no ápice da vergonha, no entanto, dessa vez não era o único. Ao seu lado, Jeongguk apertou Youngmin no braço em uma tentativa de disfarçar seu nervosismo. Os outros não conseguiram notar, mas as pernas longas e malhadas do alfa balançavam nervosamente embaixo da mesa.
Sorrateiramente, a mão pequena e gentil tocou o joelho nervoso e acariciou tentando acalmá-lo. Se dependesse da sua família e amigos, Jeongguk sairia dali correndo como um cachorrinho assustado.
— Baekhyun, esse é Jeon Jeongguk. — Ele também se juntou à ligação, aparecendo na tela para os outros dois do outro lado da linha. A linguaruda estava pronta para atacar novamente, quando Jimin a cortou. — Pai e professor do Youngmin. E eu não sei de onde a Eunji tirou essa ideia de namoro com Yugyeom, e... Casamento.
A menina sorriu inocente, seu olhar intercalava entre MinMin e o pedagogo. O ex-Byun não estava diferente, suas sobrancelhas arqueadas enquanto conferia as semelhanças entre os dois alfas.
— Oi, Jeon — saudou, tentando não rir do rosto vermelho do rapaz.
Estava certo que, após a ligação, ele iria ter uma boa conversa com a filha, uma boa fofoca tem que ser contada do início ao fim. Se a bruxinha se dispusesse a falar mais alguma coisa, com certeza Jimin morreria ali mesmo.
— Olá, Baekhyun — Jeon o cumprimentou com um sorriso trêmulo. Obviamente ele não deixara de ficar nervoso, principalmente quando a mão do ômega afagava sua perna. — A Eunji é uma figura.
— E, MinMin, você é muito esperto. Estava certo que o tio Jeongguk é seu pai — sussurrou.
— Shhh! Sua boba, é segledo — Youngmin sussurrou de volta, o que não adiantava muito, já que todos podiam ouvir.
Como um lampejo, Park franziu as sobrancelhas.
Quando observou discretamente o filho, que estava agarrado ao professor, Jimin não acreditou.
Youngmin já sabia sobre Jeon?
- - - - - - - - - - - ×∆× - - - - - - - - - - -
oooi, meu povo! ♡
eu não estou bem, mas trouxe esse capítulo e espero de coração que vocês tenham gostado. Estava morrendo de saudades ❤️ :(
obrigado pela betagem, eymeric e jiminduim. Não sei como agradecer<3
Amo vocês! Beijinho da chimmi ❤️
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