04. Um alfa esperto
A brisa tocava suavemente a pele frágil. A cada lufada, a tez se tornava mais gélida e sensível perante aquele frio tranquilo. As lágrimas deslizavam pelas bochechas fartas, dançando com a tristeza que insistia em lhe abraçar.
Jimin fechou as pálpebras, apertando-as enquanto os dedos curtos e salientes agarravam com força o lençol em volta do corpo. Chorava copiosamente, perguntando-se aonde tinha errado e por que não era um bom pai.
As palavras de Jeongguk tinham o atingido friamente, arrancando toda a felicidade e a paz que tinha em sua vida. Era um pai fracassado, que não sabia que o próprio filho sofria nas mãos de outras crianças maldosas. Como não percebeu que seu fruto estava em uma situação lastimável?
Era uma dor que espremia seu coraçãozinho, amassando como se fosse massa de modelar.
Tinha suportado todas as fofocas, o julgamento da sociedade, inclusive da própria família, com isso ele poderia lidar. Entretanto, quando era algo que machucava Youngmin, Jimin não sabia enfrentar tão fácil. Porque era simplesmente Youngmin, seu menino.
Outrora, quando Jeongguk o abraçou, Park não deixou de perceber o quão bom era aquele abraço. Não estava pensando de forma romântica, e sim que aquele alfa poderia abraçar MinMin do mesmo jeito que fez consigo, transmitindo amor e carinho.
Como se o enlace dos braços fortes pudesse minimizar a aflição, medo e todo sentimento que Jimin tinha pavor. O ômega não sabia se gostava dessa sensação, da essência boa e gostosa que fluía daquele alfa.
Estava se sentindo tão culpado, um pai miserável que não foi suficiente para ajudar seu filhote. Jimin conhecia a proporção de onde o bullying era capaz de chegar, e o que era capaz de fazer.
Foi angustiante saber que, todo esse tempo, a infelicidade de Youngmin não era só por não ter amigos, e pelas pessoas que o julgavam, no fundo, o real motivo era por causa das crianças malcriadas que faziam questão de deixar claro que o pai alfa do Park o deixou, que não o queria. MinMin, ao questionar Jimin sobre o outro pai, tinha a voz tristonha, quase implorando para que a realidade não fosse o que as crianças insistiam em dizer.
Quando o viu com o professor, a maneira que olhava para o mais velho, principalmente a animação de uma criança que quer contar para o pai sobre seus gostos. Jeongguk podia achar que Youngmin tratava-o só como amigo, no entanto, não era assim que o pequeno o via, e Jimin soube quando o brilho nos olhos sempre era dirigindo com tanta admiração. O mesmo que ele lhe dava e na mesma intensidade.
Percebeu aos poucos que o filho fazia Jeongguk entrar nas suas vidas, mesmo sem saber que aquele alfa era progenitor dele.
O que podia fazer agora? Jeongguk já estava em suas vidas, embora de modo de repente, e estava tão firme e decidido a ajudá-los, que Jimin não viu outra forma a não ser aceitar, dando a ele a oportunidade de ser pai, como o próprio disse.
Ainda procurava uma maneira de contar sobre o paradeiro de Youngmin, e esperava que ele não ficasse bravo consigo. Não era sua culpa, afinal. Quando planejou a gravidez e os caminhos futuros, ter um alfa não se encaixava na sua vida. Não esperava ficar amigo da mãe do doador, e ser introduzido na família dele como bônus.
— Papá?
Jimin ouviu a voz sonolenta do filho, rapidamente enxugou as lágrimas, esforçando-se para parecer que estava bem. Olhou para trás quando os passos se tornaram mais próximos, e viu a figura pequena vestida com um pijama azul.
— O que aconteceu, meu amor? — Pegou-o no colo, sentindo o rosto dele encostar em seu ombro, e o nariz em seu pescoço. O lençol, que estava em volta do ômega, caiu no chão e assim o frio alcançou a pele quente, fazendo-o arrepiar. — O que houve, filho?
— MinMin sonhou com o tio Jeongguk — respondeu com os olhos fechados, quase dormindo novamente.
Abraçando o filho mais forte, os lábios do Park tremeram quando segurou o choro.
— Você vai vê-lo amanhã e vão sair juntos, sim? Sr. Jeon disse que vai levá-lo para conhecer os desenhos dele — ao dizer isso, Jimin sorriu um pouco, porque os dois alfas eram tão parecidos. Além do mais, Jeongguk gostava de brincar com Youngmin e encorajá-lo.
— Papá? — chamou depois de um tempo, o qual Jimin julgou que ele estivesse já dormindo.
— Hm?
— Tio Jeongguk não vai me deixar, porque ele é meu amigo, não é? — Sua voz era esperançosa, mesmo que estivesse a beira do sono.
Caminhando para dentro de casa com o filho nos braços e o rosto um pouco inchado, Jimin respondeu o mais sincero que conseguiu.
— Ele sempre estará com você, MinMin.
Youngmin se deu por vencido, deixando-se mergulhar no sono calmo, e sonhos com o professor e seu papá.
O loiro o deitou em sua cama, e voltou para pegar o lençol, fechar a janela e, em seguida, as cortinas. Desligou as luzes e deitou ao lado do filho, abraçando-o como se fosse seu mundo.
E ele, de fato, era.
[...]
Voltar para casa era a melhor opção naquela noite, talvez beber um vinho em seu quarto pudesse amenizar a dor e a euforia, após obter uma resposta que o lobo queria, necessitava. Não estava sendo fácil controlá-lo, principalmente quando o cheiro igual ao seu adentrava suas marinas.
Sentia-se um tolo por demorar tanto para perceber que aquele pequeno alfa era seu filho.
Era um mini Jeongguk, que, apesar de parecidos, eram completamente opostos. Na idade de Youngmin, Jeongguk já não era nenhum santinho, e muito menos vivia encolhido por causa de outros alfas. Era um rebelde como os alunos que praticavam bullying com o menino.
Era um fruto dele... A frase se repetia miseravelmente em sua cabeça.
Não era burro e nem lerdo, Jeongguk apenas não sabia como agir. Lembrava-se muito bem de partir, e antes disso, não tinha se deitado com ninguém, pelo menos quatro meses antes da sua viagem, e, a pessoa com quem esteve, era estéril. Foi uma surpresa e tanto, quando sentiu o cheiro de Youngmin, ironicamente igual ao seu.
Entretanto, precisava de mais respostas.
O cheiro terrivelmente parecido não queria dizer que era sua cria, pensou que o menino poderia ser filho de alguém da sua família. Até mesmo de Jihyun. Mas aos poucos, notou que não era só o cheiro igual. O odor da criança estava impregnado no quarto e em alguns lençóis, sem mencionar que tinha foto dele no descanso de tela do celular de Sunmi.
Jeongguk ficou ainda mais confuso.
O nome que constava na ficha de chamada era apenas Park Youngmin.
Provavelmente Sunmi, como dona da creche, para não chamar atenção de professores e curiosos de quem aquela criança era filho, poderia ter apenas deixado somente Park, ocultando o nome Jeon, o que pareceu dar certo, se fosse pelo nome da caderneta sequer saberia desse detalhe.
Coincidência, ou não, Jeongguk decidiu ir mais a fundo, desconfiado que o Park encolhido na banca poderia, sim, ser seu filhote, e que a agitação do lobo não era por mísera coisa.
Ao ter o primeiro contato com MinMin, Jeon sentiu que o lobo tinha se acalmado aos poucos, como se gostasse de estar perto do menino. Isso nunca tinha acontecido, pois seu lobo era chato e seletivo. Contudo, ele também não tinha se incomodado com o aroma do ômega Park, o qual o alfa pôde sentir levemente em seu quarto.
"Cuidando das crianças enquanto Seulgi não estava na sala, ouviu a voz da mesma, que conversava com um homem bonito.
— Jeongguk, venha conhecer o pai do Youngmin!
O quê? Não era possível.
Jeongguk se lembrou do ômega atrevido, era o mesmo do restaurante. O próprio que jogou a culpa nelez e que derramou o vinho em um alfa. Oh, como lembrava dele.
Pôde ver as bochechas rechonchudas tornarem-se rubras prontamente quando se abeirou, ou melhor, quando tentou se aproximar.
Youngmin correu até si, parando-o, antes que pudesse alcançar o progenitor, abraçando suas pernas enquanto sorria, ele disse:
— Hyung! — Enlaçando a perna do alfa, a criança sentiu o cabelo ser bagunçado pelo professor. Aquilo já estava virando costumeiro, já que Jeongguk fazia isso sempre que podia.
Nervoso, o pai de Youngmin engoliu em seco, e Jeon prendeu um sorriso. Então Sr. Park havia lembrado dele também?
Encarou-o brevemente, com a feição falsamente brava.
Sabia que o ômega estava quase nervoso pela sua presença, e envergonhado pelo o que aconteceu no restaurante, mas agora estava em seu horário de trabalho. Era um professor, e não o Jeon Jeongguk que estava bebendo na noite anterior.
Por isso, decidiu tratá-lo formalmente sem mencionar sobre o ocorrido.
— Jeon Jeongguk. Professor substituto da Jihyun.
O Park estava atordoado demais para segurar a mão do alfa, como se o temesse, e o educador não gostou nem um pouco daquela reação, muito menos seu lobo.
Assustou-se quando, de repente, o corpo menor caiu sobre o seu, que por ímpeto, segurou firme em seus braços, enquanto o filho chamava desesperadamente pelo pai.
— Vai ficar tudo bem, Youngmin, eu prometo. — Por consequência do susto, a voz saiu trêmula e ofegante. Pegou o rapaz desfalecido no colo, e o apertou contra o peito, temendo derrubá-lo, pois estava tão nervoso quanto.
Seulgi também pareceu estar apavorada, enquanto chamou vários "Jimin, Jimin, por Deus, acorde!". Ela até tentou segurar Youngmin nos braços, mas o garoto se recusava a soltar a perna do professor, chorando copiosamente.
— Leve ele para a enfermaria, por favor — pediu, mais calma. — Sei que você pode lidar com essa situação, sim? Youngmin não vai soltá-lo, e não vai deixar ninguém se aproximar dele.
— Tudo bem, eu cuido deles. — Apesar de soar firme, Jeongguk não sabia o que fazer.
— Conto com você.
Então ela se afastou, indo para a sala de aula, ainda desnorteada.
Sobrou, então, apenas ele, um pai desmaiado e uma criança chorando. Jeongguk tentou acalmar MinMin primeiro.
— Não chore, Youngmin, os heróis não choram facilmente. Sim? — Ainda preso na perna do alfa mais velho, segurando a calça com força, o miúdo apenas soltou uma das mãos para limpar as lágrimas. — Agora seja um bom garoto, e vá na frente para a enfermaria, estarei logo atrás de você.
— N-Não! — choramingou trêmulo, recusando-se a se afastar do pai adormecido.
Jeon suspirou.
— Tudo bem, tudo bem. Solte a minha perna um pouco, para que eu possa levar seu pai até a ala da enfermaria. — Com os olhos ainda marejados, MinMin soltou um pouco a perna do professor, mas manteve a mão segurando a calça dele. — Isso, isso aí.
O garoto ainda fungava levemente quando se puseram a caminhar até a ala médica. Ao passar em frente a algumas salas, os alunos e professores arregalaram os olhos. O educador murmurava um "Eu não fiz nada, ele apenas desmaiou", para cada olhos arregalados e desconfiados em sua direção.
Ao chegar na enfermaria, Youngmin abriu a porta a pedido do mais velho, mas logo voltando a agarrar a roupa alheia. Suspirando por causa do peso, Jeongguk colocou Jimin delicadamente na cama, a qual os alunos ficavam quando ralavam o joelho, ou caíam, e o corte era mais complicado de tratar. O menino se agarrou ao pai, deitando a cabeça no tronco do ômega.
O moreno ficou encostado, encarando os dois como se nada mais fosse importante. Não sabia se era a folga de Rosé, mas rezou para que não. O cheirinho do ômega aos poucos acalmava, não só a criança, como o próprio educador. Respirou fundo em busca do cheiro do homem adormecido e, por um breve momento, o lobo tornou-se agitado.
— Tio Jeongguk, o papá não está acordando. Por quê? — E, novamente voltando ao tom choroso, Youngmin fungou, olhando para o pai.
O pequeno alfa tentou balançar o corpo maior, a fim de que olhos bonitos fossem abertos, mas isso não aconteceu. Sempre que Jimin estava dormindo e Young tentava o acordar com beijinhos ou abraços, Jimin ria confortado e envolvia-o, para em seguida lhe derrubar na cama entre risos e gritos. Mas, naquele momento, nada estava acontecendo.
Por esse motivo, desatou a chorar novamente.
Jeongguk, perdido e sem saber o que fazer, caminhou até o menino e estendeu os braços para ele. Os olhinhos cheio de lágrimas miraram o mais velho com receio, por não querer sair de perto do pai.
— Venha, filho. — O professor acariciou carinhosamente as bochechas molhadas, antes de puxá-lo para os braços fortes com todo amor.
O alfa não percebeu como aquelas pequenas palavras fizeram o coração do menino palpitar e, cheio de manha, ele se enroscou no ombro do educador, babando sua camisa. Ainda que a frase parecesse a mais boba possível, Jeongguk ficou incrédulo como saíra tão suave e verdadeiro.
Filho?
Oh, Deus. O lobo interior vibrou, como se estivesse aprovando suas palavras, pulando de alegria ao ter o alfinha deitando em seu ombro, mesmo que ainda chorasse pelo pai.
Não era a primeira vez que a sensação de paz, conforto e lar era sentida quando estava com Youngmin, como se possuísse uma ligação com ele, uma ligação que deixa seu lobo afoito.
Sensação de parental."
Um longo suspiro escapou dos lábios finos quando levou a mão ao cabelo, lembrando do carinho recebido ali. O afago por ímpeto de Jimin e o de Youngmin, que tentava lhe passar conforto.
Foi impossível não recordar como as bochechas salientes do ômega ficaram escarlate após o ato, por estar envergonhado. Jeon sabia que seus olhos estavam arregalados, e suas bochechas também possuíam um leve rubor.
Queria sentir ambas mãos dos dois novamente em seu cabelo, acariciando.
Assustou-se quando uma moto passou tão rápido em frente ao carro, ignorando o sinal vermelho. O alfa, por sorte, conseguiu desviar, e só então percebeu que o caminho que trilhava era completamente outro. Não era para um bar ou sua casa, mas, sim, a casa de Minho, pois ainda precisava de uma confirmação.
A casa de Minho não era muito longe, e, pelo o que lembrava, Lee havia comprado a casa a desejo do seu ômega. O mesmo rapaz que trabalhava na lanchonete onde sentiu cheiro de Jimin. Onde o perigo trabalhava.
Estava decidido a conversar com o amigo, afinal, foi ele que lhe deu a ideia. Jeongguk, em circunstância alguma, pensaria em dar o próprio esperma para a mãe. Mas Minho conhecia o adolescente problemático que era, por isso, a ideia absurda passou a ser aceita na cabeça de Jeongguk, que por sua vez, achava que a mãe surtaria e jogaria fora.
Jeongguk saiu de casa sussurrando para si mesmo: "Ela não vai usar".
Não que estivesse culpando-o, longe disso, só estava confuso pela situação em que se encontrava. Condenava a si mesmo por não ter voltado antes para casa.
Sem se importar com as horas, parou o carro em frente a casa do bairro de classe média. Suas mãos tremiam um pouco, Jeon sentia o coração acelerado. Suspirou algumas vezes, antes da coragem criar vida e fazê-lo sair do automóvel.
Com uma das mãos no bolso da calça, o alfa usou a outra para fechar a porta do carro. O reflexo no espelho mostrava a imagem de um homem crescido, forte e bonito, mas por dentro Jeongguk era como um vulcão em erupção, e ao mesmo tempo, era um iceberg.
Naquele momento, o professor era só um pequeno Youngmin; encolhido nas próprias roupas e amedrontado. Mas não desistiu. Seus pés lentamente guiaram-no até a porta do amigo, bateu levemente e só parou quando ouviu passos se aproximando.
— ... Ele saiu mais cedo do trabalho. Estranho, Chim não costuma fazer isso... — A frase morreu quase prontamente, ao que Taemin viu a figura do Jeon. — Minho, venha aqui. Você tem visita.
O moreno coçou a garganta quando estava pronto para murmurar um boa noite, mas o rapaz sumiu tão rápido quanto Minho apareceu na porta. O outro alfa, surpreso e um pouco nervoso, saiu da casa e fechou a porta atrás de si.
O brilho estranho nos olhos do Lee indicavam que ele sabia o motivo de Jeongguk estar ali.
— Não esperava que viesse tão cedo — comentou, andando até o jardim na frente da casa, aonde tinha um banco.
O mais novo seguiu.
— Cedo? Cara, já faz quatro anos. — Ainda que a irritação fosse notável em sua voz, o Lee apenas sentou no banco.
— Você sabe do que estou falando.
— É, eu sei — retrucou. A feição ainda permanecia séria e fria, embora isso pouco importasse para o outro rapaz. — Acho que mereço uma explicação, não é? Você é meu amigo, deveria ter me contado sobre Youngmin. — Jeongguk não entendia o porquê de Minho nunca ter lhe contado, ele tinha o seu número afinal.
— Você acha que eu ia adivinhar que sua mãe iria aparecer na porta da minha clínica com o seu esperma? Eu pensei que ela jogaria fora, e nunca mais entraria no assunto. — A verdade é que Lee achava a ideia tão absurda, que imaginou e calculou que Sunmi, envergonhada pelo o que o filho fez, esqueceria tudo aquilo. No entanto, não foi isso que aconteceu. E bem, Jimin apareceu como um anjo para ela. — Estaria mentindo se dissesse que o primeiro pensamento que passou pela minha cabeça foi te contar, porque, não foi. Só pensei no quanto estávamos fodidos, e não era no sentido literal. — Minho encarou um ponto fixo com um olhar vago, sussurrando as últimas palavras. — Ela me fez assinar um contrato de silêncio.
Jeon franziu o cenho, e se pôs a sentar do lado do amigo.
— Ela o quê? — Lee Minho não respondeu. — Que contrato é esse e, por quê? Minha mãe não faria isso.
— O contrato era justamente para não lhe contar nada. Você sabe, Jeon, Sunmi é uma mulher de influência na indústria. Um pequeno calo no seu pé, e já era a clínica, eu não tinha opção além de aceitar e cuidar o máximo possível para que ninguém soubesse sobre seu filho. — Incrédulo, o alfa mais novo sentia as mãos suarem, enquanto o queixo estava caído de tão abismado. — Não entenda mal, ela não fez isso para prejudicar você ou a mim, ela fez pelo Jimin.
— P-por quê?
— Ele não queria um alfa no seu pé, e muito menos que um jovem encrenqueiro voltasse do exterior, tomasse a criança e ele sofresse no final. Jimin é um ômega forte e independente, foi um verdadeiro pai para Youngmin, sempre fez o melhor que pôde. Não tire o MinMin dele, vai devastá-lo — concluiu, direcionando pela primeira vez os olhos sinceros para o mais novo.
Jeongguk jogou o cabelo longo para trás, fazendo assim alguns fios ficarem presos em um ou outro anel em seu dedo. Os cotovelos foram apoiados nos joelhos, enquanto mantinha a cabeça baixa.
Estava sendo um intruso na vida de Jimin, mas que culpa tinha se queria participar da vida de Youngmin também?
Nunca. Jamais. Em circunstância alguma tinha passado pela sua cabeça tirar a criança do ômega.
— Jamais faria isso. Jimin é tudo para Youngmin — disse, indignado. O Lee estava tratando-o como o jovem Jeongguk, o garoto estúpido de anos atrás.
— Você os conhece tão bem assim? — Pelo tom de voz quase trêmulo e surpreso, o moreno imaginou que Sunmi ainda não tivesse fofocado que ele era o professor de MinMin.
— Sou professor dele, irônico, não é? — Riu amargo.
— Ele é um garoto e tanto.
O alfa mais novo não pôde evitar, e nem queria, ostentar um sorriso de satisfação. Sim, Park-Jeon Youngmin é um alfa e tanto.
Lee Minho se levantou, enfiou as mãos no bolso da calça larga e confortável, encarando o amigo de longa data. Jeon Jeongguk havia mudado, e muito. Para sua surpresa, ele havia voltado completamente diferente. Era um homem formado, o mesmo que agora se importava com os sentimentos alheios em primeiro lugar. De verdade, uma grande mudança.
Esperava que essa mudança pudesse fazer o coração de um ômega teimoso permutar, fazê-lo perceber que nem todos os alfas eram ruins, que tinha alguém para amá-lo tão intensamente quanto, e esse homem era Jeongguk.
— Você quer entrar? Taemin acabou de fazer o jantar — perguntou baixinho, como se fosse um segredo.
O outro riu, pondo-se de pé.
— Agora você me convida? Poucos minutos atrás estava prestes a fechar a porta na minha cara. — Tentando confortá-lo, Minho apertou o ombro alheio, trazendo-o para perto.
— Pensei que tivesse vindo aqui apenas para me confrontar por não ter contado. A verdade é que eu queria muito ter te ligado, mas Sunmi tinha medo da sua reação e de uma possível rejeição, que isso pudesse ser mais um motivo para ficar longe por mais tempo, você não queria compromisso, e por isso foi embora. Ela só tentou fazer o melhor por Jimin e Youngmin.
— Eu que sou o filho dela — resmungou com falso aborrecimento. — Eu só... Não queria ter perdido tanto tempo.
Doía pensar em todos os julgamentos que Jimin tinha passado e o bullying que o filho sofria, e no final, não estava ali. De alguma forma, aquilo o fazia se sentir inútil, fraco e sozinho. Sunmi fez bem em não avisá-lo sobre o ocorrido, sabe-se lá o que poderia ter acontecido. Jeon nem queria saber que tipo de atitude teria na época.
Há três anos, Jeongguk ainda era só um alfa que agia como um idiota, festas e bebidas resumiam a vida que estava tendo no exterior, Yoongi era a prova disso. O rapaz conheceu um intercambista, sumiu por dois dias, e quando apareceu "apresentou" o desconhecido como namorado. Namoro que não durou uma semana. E Jeon nem lembrava o nome, assim como Yoongi.
Jeongguk lembrava muito bem quando perdeu um dos amigos em um "acidente" após a festa da faculdade. Ele sonhava em ser professor, resmungava que cuidaria de crianças, até achava graça quando os próprios amigos zombavam do sonho alheio. Isso o tornava mais forte.
Em razão disso, aos poucos o alfa começou a se afeiçoar pelo que o amigo vivia falando. Mark tinha o levado várias vezes para escolas infantis, orfanatos e clubes. Foi assim que o festeiro Jeon passou de baladeiro, para estagiário, em uma escola infantil. Para outras pessoas, a mudança repentina foi vista como um absurdo, até pelo próprio Yoongi, que só aceitou o que o Jeongguk queria após semanas.
Prometeu a uma pessoa que voltaria para encontrá-la, que o tempo que passaria na Coreia não seria estendido por um longo período.
No entanto, isso foi antes de saber sobre Youngmin.
Mordeu o lábio, indignado consigo mesmo. Sentia-se um completo inútil e covarde, talvez ele realmente fosse um.
— Você está aqui agora, é o que importa.
Como se soubesse que a cabeça do mais novo pudesse explodir a qualquer momento, Lee disse em um tom calmo e cauteloso para confortá-lo. Por outro lado, o mais novo apenas assentiu, seguindo-o para dentro da casa.
[...]
Os mirantes contemplavam a imagem do pequeno alfa andando como um soldado. O menino segurava a mochila, e marchava sorridente.
A criatura pequena e dona do mundo de Park Jimin cantava uma música infantil, enquanto ostentava o tênis novo, o qual fez questão de usar, já que naquele dia ele e o professor sairiam juntos. O pobre ômega ficou embasbacado quando ouviu de Youngmin que queria ficar tão bonito quanto o educador.
Até gastou boa parte do perfume de Jimin, não que ele estivesse reclamando, mas achava que o filho estava exagerando. Foi até divertido ver o menino correr pela casa atrás dos desenhos, socando-os dentro da mochila. Mas o que iluminou os olhos do loiro, foi ver MinMin em frente ao espelho, se arrumando, murmurando que queria ficar bonito como Jeongguk.
Entretanto, o ômega sabia que existia uma pontinha de competitividade ali.
O filho queria ficar mais bonito que Jeongguk.
Apesar de toda a calmaria pela manhã, o loirinho jamais conseguiu esquecer o que o filho de Sunmi disse. O rosto coberto pela maquiagem não escondeu totalmente o rosto inchado.
Youngmin abriu um sorriso largo quando pôde ver a figura do professor parado com as mãos no bolso da calça. Jeongguk olhava para o lado oposto de onde Jimin e Youngmin estavam, mas assim que ouviu passos desajeitados, rapidamente se virou.
Por Deus, o sorriso contagiante que o professor abriu ao ver MinMin correndo em sua direção, fez o ômega engolir em seco.
Jeon se abaixou, e logo MinMin foi envolvido nos braços fortes. O alfa não disfarçava o quão maravilhado estava ao ter a criança em seu aconchego, o abraço cheio de saudades fez com que as pessoas que passavam por eles pensassem que por meses, ou até anos, que os dois não se viam. E embora atraísse atenção, o foco era apenas Youngmin.
Jimin viu quando o nariz alheio resvalou sobre o cabelo de Youngmin, sentindo o cheirinho. Por outro lado, MinMin também farejava a fragrância do mais velho.
Um pouco receoso, o ômega se aproximou dos alfas. Ao sentir uma presença um pouco perto de si, Jeon abriu os olhos, que até então, não percebeu que havia fechado.
Os olhos intensos encararam Park, o que o fez se arrepiar.
O alfa pôde sentir levemente a essência de medo, e caramba, aquilo o deixava chateado. Porém lembrou do que Minho disse: "Jimin é um ômega forte e independente, foi um verdadeiro pai para Youngmin, sempre fez o melhor que pôde. Não tire o MinMin dele, vai devastá-lo".
— Tio! — chamou animado, e Jeon só assim conseguiu desviar os olhos de Jimin.
— Quem você está chamando de tio, pirralho? — Fingindo estar bravo, o moreno deu um peteleco fraco na testa do menino.
— Ai, hyung! — Youngmin acariciou a testa, fazendo um biquinho enquanto se virava para Jimin como se falasse "Olha o que ele fez comigo, pai". Porém o loiro riu, dobrando os joelhos para ficar na mesma altura que eles.
— Sr. Park. — Jeongguk o cumprimentou, e o rapaz abriu um sorriso nervoso, mas não lhe direcionou algum tipo de olhar. Na verdade, ele parecia temer fazer isso.
— Não precisa de tanta formalidade, Jeongguk, pode me chamar de Jimin. — O moreno assentiu. O ômega acariciou a cabeça de MinMin enquanto o alfa mais velho se pôs de pé. — Se comporte, sim? Não desobedeça o Jeon, e não saia correndo por aí sem avisá-lo. Está bem, filho?
A criança emburrou-se, inflando as bochechas.
— Não vou, papá. Eu não sou mais criança, sou igual ao tio Jeongguk. — Jimin soltou uma risada muito gostosa para os ouvidos do alfa, que rosnou baixinho.
— Claro, claro. Mas se comporte, ou não vai poder sair com o Baek e Eunji, que tal?
— Vou me comportar, papá. — Jimin beijou a bochecha do filho antes de se colocar de pé, mas ao sentir os dedos pequenos puxarem sua calça, inclinou-se. — Faz no tio Jeongguk também!
— Fazer o quê, filho? — questionou confuso, sentindo o peso do olhar de Jeon.
— No cabelo dele, igual na enfermaria. Faz, papá.
Jimin sentiu que poderia morrer a qualquer momento. As bochechas rubras esquentaram ainda mais quando encarou o professor, esse que também parecia envergonhado. Bendito seja Youngmin. O garoto estava andando demais com Eunji, principalmente o olhar choroso que fez ao perceber que o progenitor iria arrumar uma desculpa para recusar.
— F-filho, o Sr. Jeon é...
— Um bom garoto também! Bom garotos não merecem carinho? O papá disse isso, não disse? — Youngmin abraçou as pernas do pai, direcionando o olhar para Jeongguk, que parecia ainda mais envergonhado.
O alfa coçou a nuca, e enrugou o nariz, constrangido.
— Jimin, não precisa... — Antes que pudesse continuar a dar desculpas, o ômega deu um passo à frente, ainda com Youngmin preso ao seu corpo.
O loiro mordeu o lábio, um pouco nervoso.
— Você se importa se eu... Hm... — Ele não precisava terminar de falar para que Jeongguk soubesse o que o ômega pretendia fazer. Somente inclinou o corpo como reverência, a cabeça ficou na altura a qual Jimin pudesse acariciar.
E bom, ele o fez.
Os dedos gordos afagaram os fios alheios, de forma carinhosa e lenta. O toque era gostoso, os movimentos lerdos fizeram Jeon ronronar em deleite, apreciando o carinho. O alfa forçava discretamente a cabeça contra a mão pequena.
Sentir aquela mão novamente, céus, Jeongguk quase perdeu o controle. Tudo o que queria era poder abraçá-lo e enfiar o nariz na pescoço branquinho. Apreciar o cheiro doce que emanava quando estava por perto. Era bom. Tão bom que, poderia se tornar um vício para ele.
— Ei, casal. — Jimin quase revirou os olhos ao ouvir a voz de quem ele sequer queria ver. O velho Kang. — Oh, Jeongguk está recebendo carinho?
O velho tinha saído do táxi, e agora caminhava na direção dos três. O ômega afastou a mão de Jeongguk, e até mesmo tentou ficar distante dele, mas o alfa se colocou atrás de si. Perto demais. Na verdade, podia sentir a respiração contra sua nuca.
— Senhor — Jeon murmurou um pouco temeroso ao ver o velho com ferramentas e a roupa suja de preto. Consequentemente, por causa do medo, acabou colando o corpo no do loiro, tentando se proteger do velho.
— Meu caro Jeongguk, por que está se escondendo atrás do Jimin? Não é como se eu fosse atacá-lo com uma chave de grifo. — Ao mostrar a chave e se aproximar um pouco, Jeongguk segurou a cintura do Park com as mãos tremendo. Se aquele velhote tinha puxado uma arma para adolescentes, imagina para ele, que de alguma forma parecia ser alfa de Jimin. O sorriso no rosto parecia verdadeiro, mas também havia irritação em seu cheiro, para a própria segurança, Jeon preferiu se manter longe.
— Pare com isso, seu velho medonho. — Tentou ignorar aquela pressão dos corpos juntos, unidos. O professor parecia estar realmente com medo. — Jeongguk, você pode ir com Youngmin. Eu cuido do senhor Kang.
O alfa coçou a garganta quando percebeu como estavam. De onde havia tirado tanta intimidade assim? Queria se desculpar, mas sempre que olhava para o velho do sorriso malicioso, as palavras sumiam.
— Está bem. Voltarei com ele à noite. — Jeongguk soltou levemente o corpo do menor, que suspirou, só não sabia se era alívio, ou por querer novamente os braços ao redor de si.
Jimin apenas assentiu, e viu o filho ir embora com o professor. O velho Kang soltou uma risada.
— Acho que ele tem medo de mim. — A voz falsamente triste não enganava o ômega, nem de longe.
— Claro, seu velho safado. Quem não vai ter medo dessa sua cara feia? — o ômega brincou, e em seguida, sentiu a mão do senhor no ombro, acariciando. — Uh?
— Contei a todo mundo da família sobre Jeongguk ser seu alfa, marcaram um jantar para amanhã de noite.
Jimin arregalou os olhos.
— O quê?!
Definitivamente, Jimin quase morreu.
Jantar.
Jeongguk.
Eles juntos.
Sua família.
Nada sairia bem.
[...]
O trajeto não foi silêncio, pelo contrário. Youngmin foi o caminho inteiro tagarelando sobre os desenhos e brinquedos que ele colocara na mochila.
Jeongguk pouco se incomodava, era bom ouvir a voz animada dele. Diferente de como soava quando estava na escola, baixa e desanimada.
Somente quando parou o carro em frente a própria casa, foi que o menino ficou calado de repente. Jeon o tirou do carro e segurou a mão da criança, porém MinMin já conhecia cada cantinho da casa. Bastou abrir a porta, que o moleque foi direto para o sofá para deixar a bolsa.
— Preciso pegar umas coisinhas antes da gente ir, tudo bem pra você? — Young assentiu.
Ao entrar na casa, ambos perceberam o silêncio que denunciava, o que não era normal. Parecia não haver mais ninguém além deles, e a empregada na casa dificilmente fazia muito barulho, mas pelo ruído de panelas vindo da cozinha, Jeon soube que ela estava sozinha. Jihyun tagarelava mais que Youngmin, ou sempre ficava jogada na sala ouvindo música. Seu pai quase nunca parava em casa e, quando o fazia, ficava horas falando por ligação, seja por telefone ou vídeo no notebook. E Sunmi, bom, era tão barulhenta quanto a filha. Se elas estivessem em casa, aquele silêncio jamais iria permanecer.
— Tio Jeongguk?
— Hm?
O professor pegou o menino nos braços, mesmo que não precisasse, e caminhou para o quarto. Quarto que agora era de Youngmin também. Somente o pôs no chão quando chegou no quarto, o menino correu para a cama perfeitamente arrumada.
— Por que estamos na casa da vovó?
Aquela pergunta o atingiu em cheio. Foi como um soco no estômago, por isso, o mais velho tentou se recompor. Tinha medo de soltar a bomba que era o pai dele sem consultar Jimin, que poderia pensar que só tinha levado Youngmin para revelar o parentesco e tirá-lo dele.
Mas também estava sendo difícil para ele, poxa. Ouvir MinMin chamá-lo de tio quando ansiava pelas palavras papai. Então, sim, não estava sendo fácil para ele.
— Eu moro aqui — revelou baixinho, antes de dar as costas para o menino e ir até o guarda-roupa.
Jeonguk tentou se controlar, fingindo procurar alguma vestimenta. As mãos tremiam entre os panos, não conseguia reprimir o medo que sentia naquele momento, e esperava que Youngmin ainda não pudesse distinguir o odor de temor.
A criança desceu da cama e encarou o mais velho, um pouco assustado. Jeon, por sua vez, se virou e tentou suavizar a expressão temerosa, abraçando o menino. MinMin fungou choroso, fazendo o mais velho, que agora estava de joelhos e sentado sobre os calcanhares, se desesperar.
— Por que está chorando, Youngmin? — perguntou um tanto nervoso.
Se o menino começasse a chorar, Jeongguk em um estado nervoso como estava, não saberia lidar com a situação.
No entanto, ele não estava preparado para o que viria a seguir.
— O hyung está com medo porque é o meu papai? — Jeongguk abriu e fechou a boca várias vezes, sem conseguir pronunciar uma única palavra. — Vai embora de novo?
As palavras ficaram presas ao perceber o olhar esperançoso do menino, e puxou-o novamente para o seus braços, sussurrando: "Não, MinMin. Jamais temeria ser seu pai".
Molhando a camisa do educador com suas lágrimas, a criança afundou o rosto no peito alheio, roçando a bochecha ali, enquanto Jeon acariciava suas costas com carinho. Finalmente ele estava nos braços do seu pai alfa.
— Papai.
Jeon sorriu.
— Isso, filho. Seu pai está aqui.
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Espero que tenham gostado desse capítulo<3 foi betado por jiminduim, meu amor<3
Faz muito tempo que não atualizo, sim? A verdade é que eu abandonei todas as redes sociais. Eu precisava disso e ainda preciso, por isso, estou afastada de qualquer plataforma - seja Spirit, twitter, nyah, inkspired e wattpad. Não vou mentir que meu peito apertou ao ver algumas mensagens, e foi por elas que eu vim aqui. Essas mensagens me deram forças assim que baixei novamente o wattpad e as vi, por tanto, em breve estarei postando um comunicado na fanfic "Paternal Love", sobre o desfecho desse arco da minha vida. Obrigada a todos que ler minhas fanfics, que me mandaram mensagem. De verdade, amo vocês! Vou sumir de novo? Sim, mas volto sempre que tiver me sentindo confortável em postar alguma coisa ❤️ tenho uma conta secundária, softbichen lá é meu segundo mundinho. Não vou postar nada Kpop, provavelmente somente de animes.
Assim que eu postar o aviso lá em paternal love, eu jogo no quadro de conversas e assim alguns vão poder ler. Beijinho da chimmi ❤️
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