Capítulo 1
Budhaven, 02 de fevereiro de 2019.
Detetive Richard John Grayson / Asa Noturna.
Usando sua camisa social branca, calça preta e sapato na mesma cor também social, o homem entra na delegacia com sua cara de poucos amigos, sendo recepcionado pela maldita equipe de filmagens do novo reality show favorito do país.
— Animado para começar, detetive Grayson? — alguém da produção o pergunta recebendo um olhar desconfiado dele.
O programa "Police Justice" exibido no canal das seis às onze da noite em ponto duas vezes por semana, ao renovar sua segunda temporada optou por sair de New York e ir para segunda cidade mais caótica do país, onde poderiam explorar mais a fundo a vida de policiais sobre constante pressão e de brinde arrumar algumas imagens exclusivas sobre um vigilante desconhecido que cuidava da cidade.
— Pronto para trabalhar? Sempre. — o corrigindo divertido recebe risadas da produção.
— Será que hoje teremos uma foto do mascarado, detetive Grayson?
Bem, no que dependesse dele, não. Só nos sonhos mais quentes daqueles otários. Após anos vivendo sob a doutrina do Batman, se tinha uma coisa que Dick Grayson detestava era ter seu rosto estampado por aí. Ao menos como vigilante solo tentando se reestabelecer numa cidade só para ele.
— Quem sabe? Podemos ter uma foto do mascarado, eu posso me assumir gay, o país pode entrar numa nova recessão... — devolveu com sarcasmo que passou batido.
Nada contra Gotham, cidade onde cresceu e deu seus primeiros passos contra o crime, mas lá já havia toda uma corporação junto de Batman. Pessoas demais para lidar com os caras maus pr toda cidade.
E ele, que alguns anos vinha desenvolvendo sua nova identidade, Asa Noturna, sentia que não era lá muito legal começar prendendo batedores de carteira e delitos menores. Já que, bem, quando não usava sua máscara com traje de neoprene, era um detetive e essa era sua função como cidadão comum.
Havia acabado de chegar até sua mesa, até mesmo jogou sua pasta e mochila por lá, quando o seu capitão, senhor Tony Heath saiu da sua sala, o lançando um olhar consternado de longe.
— Me fudi... — foi tudo que concluiu ao ver seu ex parceiro, Roy Harper sair da sala o lançando um olhar de ódio, indo direto onde Dick estava.
Parando na mesa ao lado, ele apenas se sentou e se colocou a mexer nos seus papéis sem sequer olhar na cara de Richard, que precisou se esforçar para não rir.
— Para minha sala, detetive Grayson! — seu chefe o chama sem humor algum.
Talvez, tivesse sido um pouco cruel e ter deixado seu parceiro mediando uma briga entre mendigos sozinho fosse algo que não deveria ter feito, mas puta merda! Como o Dick Grayson riu ao ver as filmagens da surra que ele levou dos dois bêbados.
— Sim, senhor...
Felizmente, precisou ir as docas, tentar rastrear a chegada de uma remessa de uma nova droga na cidade, então... Não havia muito o que ser dito. Bastava colocar uma balança, briga entre mendigos versus caçar traficantes de grande porte. A escolha era fácil.
Entretanto, quando se era um vigilante pelas costas de todos, não podia sair por aí espalhando sua real justificativa para seus sumiços estranhos. Até porque, não sabia por aí dando seu nome real a toa. Sua identidade era secreta por um grande motivo.
— Quantos anos está na polícia, detetive? — Tony Heath o questionando sério recebe um olhar displicente.
Formou-se com dezoito, ficou uns seis anos como oficial e após isso foi promovido a detetive, passando-se já quase três anos desde a mudança de cargo.
Havia feito faculdade de gestão de empresa, começado depois uma formação superior em educação física, mas acabou largando por preguiça de ir estudar e depois trabalhar nos seus dois empregos paralelos.
— Quase nove?
Deixando claro que não estava entendendo o porquê da pergunta, Dick vê o senhor de cabelos já grisalhos sentar-se na sua cadeira de escritório confortável e grande, repousando sua arma e distintivos sobre a mesa.
— Detetives nunca trabalham sozinhos, senhor Grayson. Sabe o porquê? — mexe em seus papéis separando uma pasta com o símbolo da delegacia de polícia.
— Não tenho ideia, senhor Heath...
Se fosse pra bancar alguma coisa que fosse o João sem braço. Qual a necessidade daquele falatório chato que não os levaria a lugar algum?
Se tinha uma coisa que levava a finco era a política de seu tutor sobre não confiar em ninguém. Por isso mais cedo ou mais tarde, acabava perdendo seus parceiros por não os participar nada. Nem sua vida pessoal, muito menos informações sobre os casos que recebia do Capitão.
No geral os resolvia sozinho e deixava para seu parceiro apenas a papelada referente ao caso resolvido.
— Conhece o método espartano, senhor Grayson? — Tony Heath o questionou sério.
Tentando lembrar de algo relevante do filme "300" não lhe veio nada em mente, fazendo com que o senhor mais velho respirasse fundo.
— Cada um protege o irmão ao seu lado e todos saem vivos da guerra, garoto. Esse é o método espartano...
Se contendo pra não revirar os olhos ao escutar tal frase, Richard Grayson se limita a sentir saudades da polícia de Gotham.
“Não me meto no seu, você não se intromete no meu, todos nos ignoramos e no final do dia, ainda será cada um por si. ”
Aquele era um lema bem útil. Ainda mais quando se é vigilante e não precisa de muitas pessoas com olhos sobre si.
Agora além dos seus colegas de farda tinha um reality show e milhões de espectadores a procura do quem era o seu novo herói mascarado. O que levava a Dick perguntar-se no quão péssima foi a ideia que teve de ir pra Budhaven.
— Não estamos numa guerra senhor. Nunca estivemos, não aqui — expõe seu ponto de vista recebendo um olhar furioso.
Gotham era de longe bem mais perigosa. E ninguém estava ligando pra aquilo. Naquela cidade esquecida por Deus, entregue as mãos do diabo, as pessoas apenas tocavam o foda-se, arrumavam algum dinheiro e iam embora quando podiam.
— Eu vejo as ruas tomadas por monstros, homens que acham estar acima da lei fazendo da cidade uma zona e crianças perdendo seu futuro aos montes por culpa de adultos irresponsáveis, que distribuem drogas e armas pelas ruas... Isso parece ser normal para você?
Tentando não soar muito desrespeitoso, Richard ajeitou sua camisa, guardou seu “sim” para si e tentou ser o mais explicativo possível.
— Entendo, mas ainda sim, trabalho melhor sozinho. Com todo respeito, capitão.
Roy harper era um bom parceiro. Só ligava para mulheres, não ter trabalho algum e o melhor para si próprio. Dando ao detetive Grayson liberdade para fazer o que bem entendesse. O que outra pessoa ali não faria, logo Richard Grayson precisava fazer seu chefe entender que só funcionava trabalhando sozinho.
O que estava sendo difícil a longo prazo.
— Estamos no começo das filmagens de um programa. E foi exigido que todos os nossos homens estivessem de acordo com o regimento interno, todos sem exceções. Estou sendo claro?
— Sim, senhor. Vou agora mesmo falar com o detetive Harper... — Dick o responde de pronto olhando para os papéis que seu capitão avaliava durante a conversa.
Algo o dizia que naqueles papéis haveriam coisas sobre as novas drogas na cidade. E ele só precisava apertar um pouco o cara certo pra ter acesso a todas as respostas para suas dúvidas.
— Ele pediu por outro parceiro — Tony avisa sem esboçar nenhuma reação.
Repirando fundo, pois sentia sua esperança de ter privacidade ir pelo ralo, o detetive Richard riu e concordou em silêncio.
Deveria ter participado da briga com os moradores de rua. Assistir o carregamento chegar não trouxe muitas explicações de qualquer forma e o fez perder um grande trunfo.
— Não há detetives disponíveis, não é? — lembrando depressa recebeu um olhar contemplativo do Senhor a sua frente.
Fechando a pasta, ele manda Richard ir até a janela, onde a produção com suas câmeras filmava, solicitar que eles saíssem daí.
— Temos uma turma de cadetes chegando hoje, cada um de vocês ficará com um cadete...
— Crianças? Não sou babá de novatos. Muito mal cuido de mim! Qual é, capitão! Conversa com o Harper. Pede a ele para me dar uma segunda chance... — Richard Grayson solicita agitado ao policial que nega com a cabeça.
— Tenho um problema nessa turma — contou dando a pasta que lia a Richard Grayson.
Oficial Roth era um cara com um Qi que facilmente o levaria até o mais alto patamar da inteligência, formado em enfermagem, que inclusive já havia trabalhado no hospital Central de Gotham, antes de largar tudo e se inscrever na polícia.
Sua afiliação era uma mãe ex-prostituta, uma irmã de nome Zoe Roth que já havia sido presa por ser traficante e pai desconhecido.
— O cara é corrupto? — sugere ao capitão que apenas nega com a cabeça.
— Preciso que você fique de olho no seu parceiro e não o faça desistir, caso contrário, terei que acionar a corregedoria e não vai querer trabalhar com eles no seu encalço, garoto.
Prender um corrupto e ao mesmo tempo ser legal com ele. Ok, ele poderia fazê-lo.
— Só não prometo não deixá-lo sozinho numa briga entre bêbados... — Richard Grayson comentou recebe uma risada do seu superior.
— Vai se fuder, Grayson! Agora fora da minha sala!
Fazendo sua expressão mais séria, Richard abre a porta e caminha até sua mesa, onde sentou lá e ficou em silêncio, lendo e relendo os relatórios que recebeu dos oficiais, até que escuta Harper dizer:
— Assédio. Ela vai fazer queixa de assédio.
— Não! Ela parece ser uma garota de luxo... Alguém que não a pagou um programa talvez? — Holmes, o detetive a suas costas diz o fazendo virar se pra ele.
Usando uma camisa branca de mangas, saia de cetim e pano liso azul-marinho, com um cinto fino preto, uma mulher de óculos escuros e salto alto entra na delegacia com uma expressão séria, acompanhada de oficiais novatos.
— Bom dia, em que posso ajudá-la? — o detetive Luis questionando sorridente recebe uns segundos da atenção da mulher.
Tirando por alguns segundos seus óculos escuros, ela sorri e logo o responde:
— Capitão Tony Heath, está?
— Sim! Naquela sala no final... — Harper se intromete olhando descarado a mulher parada perto dele.
Foi então que ela voltou seu olhar para o parceiro de Richard e o deixa em choque.
Os olhos dela eram de cor lilás. E ele já havia a visto antes.
Havia até mesmo dormido com ela e ido embora sem se despedir no dia seguinte. Que dia merda. Precisava acabar logo.
Usando a pasta para esconder mais seu rosto, escuta o som dos saltos em contato com o piso de madeira da delegacia até que Roy e os outros detetives começam a falar sobre o quanto ela era bonita e deveria estar ali pra noticiar o desaparecimento de seu marido velho e bilionário com toda certeza.
— Essa mulher na cama deve ser de outro mundo! — Luis pensando alto leva Richard a lembrar de alguns meses atrás, quando descobriu aquilo em primeira mão.
A noite foi ótima, o único problema foi ter acabado e ele minado qualquer chance de um relacionamento com ela, indo combater o crime e a deixando sozinha no hotel.
— Cala a boca que eles estão saindo...! Preciso ver se ela tem alguma aliança...
Voltando a colocar sua ficha na frente do rosto, Richard Grayson se manteve por lá, fingindo demência até que, escuta seu chefe o chamar.
Só esperava que não tivesse sido designado o caso dela. Seja lá qual fosse.
— ... Detetive Grayson.
Depressa ele se colocou de pé, estendeu a mão para a mulher que a segura sem pressa falando com polidez:
— Oficial Roth ao seu dispor, detetive. Espero que possamos trabalhar bem juntos.
Eles haviam transado alguns meses atrás. Não foi do tipo uma noite que em uma semana outra mulher faz o mesmo. Ela de fato deu tudo de si e Richard havia feito o mesmo.
E ainda naquele momento que estava vestida e bem arrumada ele conseguia lembrar com muita precisão de como era tocá-la, senti-la e ouvir a sua nova parceira de trabalho dizer as quatro palavras que após Rachel dizer nunca mais foram as mesmas.
— ... Mais forte, por favor — escuta Rae dizer o trazendo a realidade e fazendo sua mente se ocupar com mais lembranças.
— Vou ali e já volto. Espera só uns dez minutos! — Roy Harper disse agitado saindo da sua mesa como se o lugar estivesse em chamas.
Não havia para onde Richard Grayson correr de qualquer jeito. Ela seria sua colega de serviço e andariam juntos de qualquer forma.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top