VINTE E SEIS


2014

- E aí, o que me diz?

Gabriel estava deitado ao meu lado, com todos os seus músculos à mostra.

- Você só pode estar maluco.

O dia lá fora estava muito bonito, mas também muito frio. Apesar de não ter uma nuvem sequer no céu, o vento forte atravessava a única fresta aberta da janela, cantando e trazendo um rastro gelado para dentro do quarto. Da janela do quarto, eu podia ver as árvores peladas e suas folhas alaranjadas espalhadas por toda a rua.

- Não, Liz! Vai ser divertido!

O problema era exatamente esse. Sempre que me convenciam a fazer alguma coisa divertida, outra coisa ruim acontecia. Como exemplo mais recente, tínhamos meu pequeno episódio embriagado pós festa com Belle.

- Não posso me ausentar por tanto tempo. Uma semana é muita coisa longe do meu pai. Sabe, eu não tenho dado muita atenção pra ele desde que Belle voltou de viagem. – Eu preferi não citar que foi justamente quando terminei com Benjamin, meu ex-namorado, que era praticamente da família também.

Como eu podia deixar meu pai, que naquele momento mesmo estava esperando que eu me levantasse para ler o jornal com ele ou comentar sobre o que eu fizera na noite anterior.

- São só quatro ou cinco dias! – Gabriel insistiu.

- Isso sem contar que eu preciso trabalhar!

- E suas assistentes?

- Já ouviu aquele ditado, de que o gado só engorda aos olhos do dono? Por mais que eu confie em Flora, eu ainda não conheço bem a Maeve e não posso abusar da Lyanna. – Também resolvi ocultar o fato de que Lyanna era mãe de Benjamin.

Achei que seria um tanto quanto complicado explicar como minha vida estava conectada a Benjamin.

Depois de muito insistir, Gabe pareceu concordar que não iríamos simplesmente largar tudo em Nova York para curtir as ondas no Havaí – palavras dele.

Mas, tínhamos uma tarefa difícil pela frente.

Nós estávamos na minha casa. Eram quase 9am. E o que isso significava?

Significava que:

1. Eu estava atrasada.
2. Meu pai já estava acordado.
3. Ele conheceria Gabriel em poucos minutos.

Separei uma calça cigarrete preta, uma camisa de seda creme com pois pretos e um trench coat, já que fazia um outono mais frio do que o normal lá fora. Eu tinha uma reunião com a noiva Anne para a prova final do vestido e, se íamos no ateliê de Michelle Johnson, eu precisava me vestir à altura.

- E se fôssemos só durante o final de semana? Três dias! – Gabriel pediu. – Não me diga que não pode ficar três diazinhos fora.

- Você sabe que são umas 10 horas de voo? Isso se encontrássemos um voo direto, o que, nessa altura do campeonato, não seria muito fácil.

- Assentos de primeira classe estão sempre disponíveis.

- E custam uma fortuna.

A única vez que eu tinha viajado de primeira classe foi em uma viagem para Paris. Foi uma viagem surpresa que fiz com Ben, logo depois que a confusão com a doença de papai tinha se acalmado. Ele quis que fôssemos para espairecer um pouco a cabeça.

A minha humilde ideia de espairecer incluía um final de semana em sua casa nos Hamptons, um monte de dvd para assistir e muitas caixas de sorvete de banana com chocolate. Mas é claro que Ben quis me levar para Paris.

- Eu posso pagar.

Sem que ele visse, revirei os olhos. É claro que ele podia simplesmente dar 10 mil dólares em um final de semana de última hora.

- A questão não é essa, Gabe. Eu não posso simplesmente ir para o Havaí assim. Não desse jeito, de uma hora pra outra. Meu pai precisa de mim. Ele precisa que eu esteja aqui para administrar seus remédios quando Donna não está. Ele precisa me dar conselhos, mesmo que seja para vestir um casaco no dia mais quente de verão. Ele precisa se sentir útil na minha vida pra não surtar completamente. E eu preciso que ele precise dessas coisas, porque isso significa que eu ainda posso fazer algo por ele. Isso significa que ele ainda está aqui.

Gabriel se levantou, até se recostar na cabeceira estofada da cama.

- O que aconteceu com seu ele? A Belle mencionou outro dia que ele era doente só.

- Meu pai sofreu um Acidente Vascular Cerebral. Mas não vamos falar muito sobre isso. O que importa é que ele está bem, na medida do possível, mas ainda requer atenção 24 horas por dia. Eu não posso ir pra muito longe, simplesmente não posso. Se acontecer qualquer coisa com ele e eu não estiver aqui, eu nunca conseguiria me perdoar.

Ele pareceu aceitar, porque se pôs em pé em um salto e vestiu a roupa que estava ontem: uma calça cáqui e blusa polo azul marinho.

Apesar da apreensão que estava sentindo por ter que sair do quarto com Gabriel, eu sabia que não podia mais adiar o momento. Meu pai estranharia se eu demorasse muito mais para ir me encontrar com ele na sala.

- Está pronto? – Perguntei.

- Vou conhecer a fera?

Assenti e abri a porta.

Era isso. Não podia mais voltar atrás.

Meu pai estava sentado em sua poltrona preferida, como sempre. Uma mesinha servia de apoio para seu café da manhã: torradas, ovos e um copo exageradamente grande de suco de laranja, que ele tomaria de canudinho ao longo da manhã.

- Bom dia, paizinho!

Sentei no braço da poltrona e beijei o topo de sua cabeça quase sem cabelo.

- Bom dia, Lizzie! Você está atrasada. – Ele notou por causa do programa que passava na televisão.

- Sim, eu perdi a hora. Como você está?

- Cansado. Minhas pernas doem um pouco. – Ele fez uma pequena pausa para tossir. – Podemos ler o jornal agora?

- Paizinho, hoje eu queria te apresentar uma pessoa.

Fiz um pequeno gesto para que Gabriel saísse do corredor. Visto por esse ângulo, ele parecia um lorde de verdade. Ele mantinha uma postura impecável, o peito estufado, como se parecesse ter orgulho simplesmente de ser quem era.

- Lizzie, esse rapaz estava no seu quarto?

É claro que meu pai escolheria o melhor momento do mundo para ter uma crise de lucidez.

- Ele é um amigo, pai.

- Prazer, Gabriel White.

Gabe estendeu a mão sorrindo, mas, para minha surpresa, meu pai se esforçou para se levantar antes de esticar o próprio braço.

- Robert Harvey. – Ele disse com a voz quase firme. – O que você estava fazendo no quarto da minha filha?

- Nada, pai. – Tentei justificar. – Ontem saímos para jantar aqui perto e, como já estava muito tarde, eu disse que ele podia dormir aqui em casa.

Não demorou muito para que papai sentisse necessidade de sentar novamente. Mesmo com ambos de frente um para o outro, Gabriel era bem maior e intimidador do que Benjamin jamais fora, e alguma coisa me disse que meu pai não tinha gostado muito disso.

- Senhor Robert, pode ter certeza de que tenho as melhores intenções com a sua filha. – Gabe sorriu. – Eu quero só o melhor para ela.

- Eu também. – Meu pai respondeu. Sua voz ficava cada vez mais rouca e difícil de sair. – Eu também só quero o melhor pra ela.

E, sem que eu conseguisse impedir, Gabriel me lançou um olhar malicioso e perguntou para o meu pai se tinha algum problema se ele me levasse para curtir o final de semana fora de Nova York.


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OI GENTE!

Faltam 10 capítulos! =O

Vocês acham que eles vão mesmo viajar? Eu achei um pouco de intromissão do Gabe, mas é aquilo né, as intenções são boas, então fico meio dividida hahaha

E, pra terminar, vou responder a tag (?) que a JuliaBT me marcou, me desafiando a contar 10 fatos sobre o livro:

1) Para Sempre Nova York foi meu primeiro projeto real desde que parei de escrever, lá em 2011/2012.
2) Eu tinha medo de postar e receber críticas muito negativas, porque sei que ainda estou enferrujada e preciso melhorar muito.
3) Eu já terminei de escrever o livro e minha maior alegria foi vê-lo impresso e encadernado junto com os livros das minhas autoras nacionais preferidas.
4) PSNY é o livro que terminei que mais me orgulho da história e dos personagens por terem traçado uma trajetória, pelo menos na minha cabeça, coerente.
5) Quando fiz o planejamento do livro, eu tinha dois finais possíveis: um que queria muito que acontecesse e outro que não poderia deixar de acontecer. Eu sofri bastante pra escolher, mas acho que foi a melhor decisão.
6) A Liz tem muito de mim, mas é muito diferente ao mesmo tempo. Aliás, todas as minhas personagens tem alguma característica minha, boa ou ruim. Me ajuda a compor algo mais palpável, mais humano.
7) De alguma forma, o Mark é inspirado em um dos meus melhores amigos, que também está do meu lado sempre que eu preciso, sem nem eu ter que pedir.
8) Existe um total de zero possibilidade de PSNY ter continuação. Eu até cheguei a pensar em alguma coisa, mas simplesmente não cabe uma continuação. Mas isso não significa que eu não postarei projetos futuros (por favor, não os abandonem também haha).
9) Apesar do item anterior, eu pretendo fazer um spin-off da Belle. Já até comecei a rascunhar alguma coisa, mas ainda estou decidindo o plot.
10) Eu achei que ninguém fosse ler e, além do medo das críticas, outro medo era postar para o vento. Mas vocês são as melhores pessoas do universo inteiro e nunca me abandonaram e eu fico mega emocionada de ver que já somamos quase 5k views!  CINCO MIL VIEWS!!!! Eu não tenho nem como agradecer vocês por isso 

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