DEZESSETE

2014

Como sempre, Belle resolveu me embonecar. Ela decidiu que não me deixaria ficar em casa sozinha nem mais uma noite sequer. E, na cabeça dela, como Mark precisou voltar para Boston e Jon foi acompanhá-lo, a única solução era eu ir com ela para essa tal festa, mesmo eu dizendo mil vezes que tinha uma reunião importante no dia seguinte.

- Você vai ver, vai ser incrível!

O problema é que tudo para Belle era incrível e maravilhoso e exagerado.

Ela tinha dito que era uma festa de um amigo que chegara hoje da Inglaterra. Conhecendo Belle, eu não duvidava que ela estivesse falando do próprio Príncipe Harry.

- Quem me dera conhecer o Príncipe Harry. – Ela riu. – Mas Lizzie, veja bem, ele pode não estar na sucessão do trono da Inglaterra, mas tem a melhor profissão de todos os tempos.

- Ah é? E qual é?

- Herdeiro! – Ela deu um gritinho. – Lizzie, ele é lindo, maravilhoso, super gostoso e herdeiro. Você quer mais que isso?

- Hmm... Que interessante. – Ri, ativando instantaneamente o modo sarcástico.

Com algum esforço, convenci Belle que seus vestidos super justos, colados e curtos não ficavam tão bem em mim quanto nela. Ela, então, escolheu um vestido lilás, quase acinzentado, com duas alças mais grossas, sendo uma bordada que prendia atrás do pescoço. Era um modelo acinturado, com uma a saia em várias camadas de crepe que ia até um pouco acima do joelho.

Não sei se Belle aprovou totalmente, mas ela não falou nada depois que eu disse que era assim ou eu não iria.

Papai ainda estava na sala quando saímos do quarto. Ele e Donna assistiam um documentário sobre os avanços tecnológicos em países asiáticos.

- Uau. – Ela disse. – As duas estão lindíssimas!

- Lizzie, minha filha, coloque um casaco, está esfriando.

- Por deixar, papai. – Dei um beijo em sua cabeça, me dirigindo para a porta.

- O Benjamin veio buscar vocês? Essa cidade anda muito perigosa, minha filha.

Em uma situação normal, Ben teria estacionado o carro e então subido para falar com meu pai. Ele teria vindo me buscar mesmo depois que eu dissesse que eu podia pegar um táxi e, muito provavelmente, me coberto com seu blazer ou jaqueta para que meu pai pudesse ver que eu estava bem agasalhada.

- Ele está lá embaixo, pai. – Eu disse com a voz um pouco falha. – É melhor irmos logo, para não o deixar esperando.

E, sem dizer mais nada, eu e Belle nos dirigimos ao elevador.

Eu estava um pouco nervosa por ter falado de Ben, mas não quis admitir para Belle.

- Eu te proíbo de se deixar afetar. – Ela disse, adivinhando meus pensamentos.

- Como se fosse um interruptor que eu pudesse ligar e desligar dentro de mim.

- Lizzie, me promete uma coisa?

- Talvez...

- Sim ou não? – Ela insistiu.

- OK, ok!

- Hoje não tem chororô nem desânimo. Nós vamos para a festa do Lionel e você vai se divertir como nunca na vida. Você vai deixar todos os seus problemas aqui nesse elevador e nós vamos zerar essa noite! Eu não quero ver você se reprimindo por nada, ouviu? Se alguém chegar para conversar, converse. Se alguém te oferecer um drink, beba. Liz, eu quero que você saia da sua zona de conforto e se divirta! Esqueça o Ben por essa noite, ok?

- Eu vou tentar.

- Você vai conseguir.

A rua estava bem movimentada, apesar do vento mais frio da noite. O motorista de Belle já estava a postos, esperando com a porta aberta para nós duas.

O caminho foi curto, mas atravessamos para o outro lado do Central Park.

Belle tinha uma garrafinha de vodka na bolsa, da qual tomou alguns goles antes durante o caminho. Ela me estendeu e insistiu quando eu recusei.

- O que você me prometeu? Aceite!

- Belle, eu não vou beber nada aqui no carro, por favor! Chegando lá, se eu sentir que é a coisa certa a fazer, eu tomo alguns drinks, ok? Eu preciso estar inteira amanhã cedo, não se esqueça.

Nós estávamos em prédio bem alto, todo envidraçado. O porteiro logo veio nos receber e perguntou se estávamos indo para a casa do Sr. White e pediu nossos nomes.

- Isabelle Mason e Liz Harvey. – Ela respondeu, assumindo a pose "modelo superfamosa e esnobe", que eu raramente a via usar.

- Ah, estou vendo aqui seus nomes. Por favor, podem usar aquele elevador ali. – Ele apontou para uma porta de aço escovado mais destacada.

Nós subimos para a cobertura e, quando a porta do elevador se abriu, já estávamos dentro da sala onde acontecia a festa.

Belle havia me dito que seria algo pequeno, só para alguns amigos próximos. Mas o que eu vi ali era um verdadeiro show de ostentação.

Toda a iluminação da casa foi substituída para criar um ambiente mais escuro, como uma boate. Um bar foi instalado logo na entrada e outro do outro lado da sala, que devia ser maior do que todo o meu apartamento. As mulheres estavam quase todas vestidas como Belle, pareciam que todas tinham ido à mesma loja.

- Lionel! – Belle gritou.

O homem que descia a escada virou para ela e abriu um sorriso tão grande que era quase contagioso.

- Belle!

Assim que chegou perto, ele puxou Belle pela cintura e a beijou de um jeito muito íntimo. Quando ela falava que seria a festa de um amigo, eu não imaginei que ele seria, de fato, mais do que amigo.

- Liz, esse é o Lionel. – Ela disse depois de recuperar o fôlego.

- Prazer. – Sorri.

- Então você é a famosa Liz? O prazer é todo meu! – Ele disse.

Lionel me apresentou para algumas pessoas e pediu desculpas, mas teria que raptar minha amiga por alguns minutos.

Quando eles desapareceram pela mesma escada que Lionel vira Belle a hora que chegamos, me vi completamente sozinha no bar.

Desconsiderando a festa do outro dia, havia milênios que eu não saía para me divertir. Ben preferia programas caseiros, como assistir filmes, ou, no máximo, ir a um restaurante ou museu.

Lembrar de Benjamin me fez querer ir embora. Tracei mais de uma rota de fuga e pensei nas desculpas possíveis que poderia dar à Belle no dia seguinte.

Mas eu havia feito uma promessa de tentar me divertir de verdade e eu tinha a intenção de cumpri-la.

Arrisquei alguns passos de dança, mas eu ainda não tinha álcool suficiente dentro de mim para dançar sozinha, então sentei num banco no bar e esperei que algum barman viesse me atender.

- Dois drinks do Lionel, por favor.

O homem ao meu lado não precisou gritar ou fazer qualquer sinal. Na mesma hora em que falou, um dos homens atrás do balcão parou o que estava fazendo e veio atendê-lo.

- Laranja ou cramberry, senhor?

- Laranja para mim e... – Ele virou o rosto para mim. – O que você prefere?

- Cramberry, por favor.

Ele era fisicamente muito parecido com Lionel. O rosto era bem marcado, o maxilar destacando uma linha forte. O cabelo era muito escuro, mas seus olhos eram verdes. E o sotaque... Ah, o sotaque... A maneira como ele pronunciava cada letra, cada sílaba, me deixou encantada.

- Prazer, Gabriel White.

- Meu nome é Liz. – Sorri. – Lionel é seu irmão?

- Sim. – Ele riu. – Por parte de pai.

O homem colocou os dois drinks em nossa frente e se retirou na mesma rapidez com a qual aparecera.

- E você é a melhor amiga de Isabelle.

Não foi uma pergunta.

- Isso! Como você sabe?

- A pequena Belle me falou muito sobre você. – Ele sorriu. – Quando estávamos em Londres, ela disse que eu precisava vir para Nova York te conhecer. E cá estou eu.

Quando eu o encarei com uma expressão curiosa, ele complementou:

- É aniversário de Lionel e ele quis vir para comemorar em grande estilo. Eu pensei que seria uma boa ideia acompanhá-lo.

Gabriel me contou como ele e o irmão conheceram Belle. Eles estavam em Lisboa, em um barzinho no Bairro Alto. Ele jurou que Belle estava sozinha, bebendo uma cerveja direto de uma garrafa pequena, mas eu não consegui imaginar minha amiga com algo que não fosse vodka ou champagne nas mãos.

Fora isso, eu podia visualizar Belle perfeitamente em cada vírgula da história de Gabriel. É claro que ela contou que era uma viagem em busca de se reencontrar e todo o resto do discurso que fez para convencer o mundo. Mas no fundo, talvez apenas eu e Mark soubéssemos, ela viajou mesmo para curar o coração longe das câmeras. Belle podia parecer muito autossuficiente, mas, na verdade, era ainda uma menina deslumbrada.

- Por favor, mais dois drinks. – Gabriel pediu ao garçom.

- Não! – Eu quase gritei. – Acho que já bebi muito.

- Claro que não, Liz. – Ele sorriu. – Olhe, não se preocupe, eu não vou deixar que nada de mal te aconteça.

E eu cedi. Não era do meu feitio, mas eu cedi na mesma hora em que ele falou com aquele sotaque que me deixava arrepiada.

- Me fale mais sobre você. – Ele pediu.

- Não tem muito o que falar. Moro com meu pai aqui em Manhattan, trabalho com organização de casamentos, conheço Belle desde que éramos crianças e terminei um namoro de 8 anos há pouco mais de uma semana.

- Então você precisa se divertir!

Tomamos mais alguns drinks com champagne enquanto Gabriel me contava as histórias que ele presenciou de Belle na Europa e mais um pouco sobre ele.

Eu estava me sentindo muito mais leve, provavelmente por causa do álcool. Desde antes do pedido de casamento no Central Park não me sentia tão em paz comigo mesma.

Então Gabriel resolveu que seria uma boa ideia dançar. Eu precisava lembrar de cuidar do vestido cada vez que ele me girava e fazia minha saia subir e rodar.

Ele me segurou todas as vezes que eu ameacei cair enquanto dançávamos ao som de uma batida incessante.

Mas eu não estava me importando com o que poderiam pensar de mim. Pela primeira vez em muito tempo, eu me preocupei só em me divertir.

Gabriel aceitou duas taças do garçom que parou ao nosso lado. Era quase meia-noite e, de acordo com ele, nós não podíamos recusar o brinde especial em homenagem ao aniversário de Lionel.

Eu estava completamente tonta quando paramos de dançar.

Belle estava ao lado de Lionel, em frente a uma lareira no meio da sala. Os dois seguravam uma taça de champagne erguida no alto.

Segurei no ombro de Gabriel para parar de tropeçar, embora ele fosse muito mais alto que eu e dificultasse um pouco o processo.

- Por que está tudo girando?

- Acho que alguém exagerou um pouco. – Ele riu.

Não ouvi direito o que Lionel falava. Eu precisava prestar atenção nos pés para não cair.

Belle também falou algo que não ouvi. Ela estava linda e parecia uma versão sóbria e responsável da minha amiga, a mesma que guardava uma garrafinha de bebida na bolsa para momentos de nervosismo.

Precisei fechar os olhos por alguns segundos para que tudo parasse de girar.

- Você quer sentar? – Ele perguntou, mas estava quase rindo.

- Não precisa, estou bem.

Eu não tinha muita certeza, mas não ia dar o braço a torcer. O que eram alguns drinks? Eu podia lidar com isso.

Gabriel permaneceu me dando apoio, embora fizesse de um jeito que parecesse que eu estava me escorando nele, e não que ele estava praticamente me segurando.

Belle veio saltitante em nossa direção. Seu cabelo ruivo parecia ter saído de algum comercial de shampoo de tão brilhoso que estava.

- E aí, está tudo bem por aqui? – Ela perguntou.

Até sua voz transmitia a felicidade que ela devia estar sentindo.

- Está tudo ótimo. – Eu respondi.

- Liz? – Belle riu, me apoiando quando eu quase caí para frente. – Você está bêbada?

Mas Belle estava longe de ter um tom agressivo. Na verdade, ela estava rindo de mim.

- Claro que não. Só estou um pouco alta.

- Aham! Amiga, você está completamente bêbada!

Talvez fosse uma situação rotineira na vida de Belle. Mas não na minha. Eu nunca tinha tomado um porre. Nunca. O máximo que eu bebia era uma taça de champagne ou vinho e só.

- Acho melhor te levar pra casa. – Belle disse, já tomando a iniciativa de passar meu braço por seus ombros para trocar de lugar com Gabriel.

Mas Belle também era bem mais alta que eu, uns 20 centímetros. E é claro que ela estava se equilibrando em um salto maior o que o meu, o que me atrapalhou um pouco.

Gabriel estava rindo ao lado, mas fez o favor de assumir novamente o posto de me fazer ficar em pé.

- Pode deixar que eu cuido dela. – Ele disse.

- Gabriel, olha lá hein. – Belle brincou. – Estou colocando a vida da minha melhor amiga nas suas mãos. Vou te mandar uma mensagem com o endereço dela.

- Confia em mim, vou colocá-la para dormir como uma princesa.

- É claro que eu confio.


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Oizinho!

E Belle ataca novamente!

O que acharam da ideia dela de ficar levando a Liz em eventos sociais pra ver se ela sai da fossa?

E O MAIS IMPORTANTE! O que acharam do Gabriel? Lembrando que a Belle, apesar de doidinha, é uma boa amiga e só deixou a Liz ir com ele porque ela conhecia ele.

Espero que tenham gostado do capítulo <3

E não esqueçam de comentar e dar estrelinha pra me deixar felizona hehe

<3 <3

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