73. Um ciclo sem fim

"É O Ciclo Sem Fim

Que nos guiará

a dor e a emoção

pela fé e o amor

até encontrar

o nosso caminho

neste ciclo, neste ciclo sem fim."

Ciclo sem fim - O rei leão



Meses depois...

Os passos de Giuseppe soavam pesados e apressados naquele quarto que nem mesmo era o seu, sua impaciência e preocupação o faziam andar de um lado para o outro sem cessar, já não sabia há quanto tempo estava naquele ciclo sem fim. As mãos cruzadas atrás das costas e os olhos sem se prender a nenhum lugar específico.

Se sentia tão sufocado que arrancou o lenço e o atirou em um canto qualquer, chegando até mesmo a abrir seu colete e os primeiros botões da camisa, a cada minuto seu desespero aumentava e os resmungos e gritos de Emeline vindos do outro quarto não o ajudavam a se acalmar.

Graham, que apenas o acompanhava com os olhos, se cansou de ver o estado de seu amigo e resolveu intervir:

De nada adiantará ficar agitado assim. Precisa manter a calma.

Manter a calma como, Graham, se eu não posso fazer nada? Eu queria poder entrar lá...

Mas não deve.

Claro que devo, eu que deveria estar lá com ela. E é o que farei.

Ele rumou em direção a porta, mas foi impedido por Graham que entrou na sua frente, e apoiou as mãos em seus ombros para o deter.

Nada disso, fique aqui e se acalme, não pode fazer nada.

Mas ela está gritando, Graham! Eu não aguento ouvir como ela está sofrendo enquanto eu fico aqui parado.

Ela está tendo um filho, Giuseppe, sem dúvida não é um processo confortável. Ela está sendo bem cuidada, pode ter certeza. O médico e as melhores parteiras estão com ela, vai ficar tudo bem.

Voltando a caminhar pelo quarto, Giuseppe bufou e passou as mãos pelos cabelos, os bagunçando ainda mais. Era clara sua angústia, o trabalho de parto já durava quase metade do dia e ainda não tinham notícias. Quando ele finalmente se sentou, abaixando a cabeça e entrelaçando os dedos, Graham relaxou pensando que talvez ele tivesse se contentado. Como estava enganado, Giuseppe se aproveitou do descuido de seu amigo e rapidamente se levantou, atravessando a porta e seguindo apressadamente pelo corredor, com Graham gritando atrás de si:

Majestade, por favor, não vá...

Parou abruptamente ao notar que tudo havia se silenciado, nem um resmungo de Emeline era ouvido, mas teve a ligeira impressão de ouvir um choro fraco. Começou a correr e quando chegou ao quarto, teve se socar para poderem destrancar e ele finalmente entrar. Ele sequer deu atenção aos xingamentos de Thanatos, seus olhos se fixaram em Emeline, que estava encostada na cama, recebendo um pequeno embrulho das mãos de uma mulher.

Apesar de sua expressão de cansada, ela exibia um enorme sorriso, enquanto mantinha os olhos fixos naquele pequeno ser que segurava. Giuseppe nunca viu tanto amor estampado em um olhar. Se aproximou devagar, ainda perplexo, recendo a atenção de Emeline, que o olhou diretamente.

É... uma menina, majestade. – Disse uma mulher, de modo receoso.

Uma menina? – Repetiu ele, finalmente deixando um enorme sorriso cruzar seus lábios. Quando finalmente estava ao lado da cama, observou bem a pequena, que tinha os poucos cabelos tão negros quanto os dele. Balbuciou baixinho, se sentando ao lado de Emeline – Ela é linda!

Os cabelos se parecem com os seus. – Respondeu Emeline, o encarando.

Giuseppe encarou a esposa por alguns segundos, e tirou os cabelos que lhe caíam na face, depositou um beijo delicado em sua testa e disse:

Mas a beleza é toda sua.... Obrigado.

Pelo quê?

Por me proporcionar uma das maiores alegrias da minha vida.

Nossa alegria. – Respondeu ela, sorrindo.

Acariciando a pequena bochecha rosada da filha e recebendo um resmungo como resposta, Giuseppe deixou uma risada escapar antes de questionar, ainda com os olhos fixos nela:

Já escolheu o nome dela?

Eu estava pensando em... Cassandra. – Respondeu Emeline, o encarando com expectativa – Se não se importar.

Giuseppe ergueu os olhos rapidamente, permaneceu mudo, com os olhos cravados na esposa, sem reação alguma. Emeline já começava a se arrepender quando um sorriso iluminou o rosto dele, os olhos voltaram a brilhar e antes de responder, ele se voltou para Graham, que permanecia parado na porta do quarto. Este também tinha um sorriso reluzente, demonstrando o quanto de sentia grato por aquela homenagem.

Com a permissão do valete, Giuseppe se voltou para Emeline e respondeu:

A que brilha sobre os homens.... É um lindo nome!

Naquele mesmo dia, Giuseppe mudou a lei de que todo herdeiro do trono deveria ser o primogênito homem, passando então a sucessão de seu reinado para sua filha, Cassandra, sua primogênita.

Naquela mesma noite, quando estava terminando de escrever a lei, Giuseppe foi interrompido por Graham, batendo a porta e parecendo confuso por ter sido chamado àquela hora da noite.

Mandou me chamar? – Perguntou adentrando.

Ah, sim, Graham. Aproxime-se, quero que faça algo para mim.

Claro, o que deseja?

Giuseppe abriu uma gaveta de sua escrivaninha e de lá tirou uma única chave, entregando para Graham, que pareceu mais confuso ainda. Estendeu um papel, contendo um endereço e ainda outro, contendo uma autorização.

Há uma propriedade em nosso nome, na verdade, era da família de minha mãe, mas acabou se incorporando às propriedades que já tínhamos. Se chama Blackmore, e pelo que ouvi é um lugar que tem muito minério, e muitas pedras brutas que podem se transformar em lindas joias. Como meu pai jamais deu a devida importância a essas terras, ele não tocou nela, então quero que vá até lá e ache essas pedras. Quero o valor equivalente ao que está escrito nessa autorização.

Graham ainda permanecia de cenho franzido, sem entender muita coisa e nem motivo de Giuseppe se interessar por aquelas terras de repente, mas não contestou. Apenas pegou os papeis e a chave, dizendo:

Nunca me pediu para fazer esse tipo de serviço.

Estou pedindo agora. – Respondeu Giuseppe, com um sorrisinho cínico.

Está tramando algo?

De maneira nenhuma. Apenas quero conhecer mais daquelas terras e preciso que alguém de confiança faça isso por mim. O único em quem confio é você.

Obrigado pela confiança, mas quanto tempo tenho até trazer essas pedras.

Três meses. Acha que consegue?

Creio que sim, se eu conseguir localizar rapidamente onde devo minerar, creio que terei tempo suficiente.

Ótimo. Partirá amanhã pela manhã, disponibilizarei uma carruagem e um cocheiro para acompanha-lo, se alguém o questionar, mostrará essa autorização que assinei.

Tudo bem. Algo mais?

Apenas isso, Graham. Pode ir para casa preparar suas bagagens, nos vemos em três meses.

Com uma reverência, Graham se despediu saindo da sala, ainda desconfiado, mas sem questionar. Giuseppe não pôde deixar de se sentir um pouco culpado por esconder sua verdadeira intenção de Graham, mas não havia muita escolha. Em todos aqueles meses o viu trabalhar dobrado e até investir seu dinheiro para obter algum lucro e quem sabe assim, poder pedir a mão de Olívia. Trocavam cartas com a ajuda de Emeline, que sempre colocava seu nome no envelope para que os pais de Olívia não desconfiassem, assim, não perderam contato um mês sequer. Giuseppe sabia que precisava agir e ajudar, e foi daquela maneira que viu uma solução, sabia também o quão seu amigo era esperto, mas acima de tudo era eficiente, não objetaria uma tarefa que lhe fora incumbida.

Um pouco cansado, Giuseppe deixou os documentos de lado e apagou todas as velas do escritório, deixando apenas uma para iluminar seu caminho até o quarto.

Ao adentrar, encontrou Emeline já adormecida sobre a cama, ao seu lado, o pequeno berço onde Cassandra também dormia. Os dois haviam entrado em um acordo de que eles mesmo cuidariam da filha durante as noites, ninguém ousou contraria-los, todos sabiam que Emeline odiava que fizessem tudo por ela e que sempre faria questão de cuidar da filha.

Se aproximando devagar para evitar fazer barulho, Giuseppe parou à beira do berço e acariciou levemente a bochecha da filha, para depois de inclinar e deixar um beijo terno em sua pequena cabeça. Contornando a cama, retirou o sobretudo que cobria suas roupas de dormir e devagar se deitou ao lado de Emeline, passando os braços pela cintura dela e a abraçando por trás.

Já falou com Graham? – Questionou ela, ainda de olhos fechados.

Pensei que estivesse dormindo.

Estava esperando por sua resposta.

Se é isso que deseja saber, a resposta é sim. Já falei com ele e lhe disse o que tinha que fazer.

Ele desconfia de algo?

Desconfiar creio que desconfia, mas não me contestou. De qualquer forma, duvido que saiba do meu verdadeiro intuito.

Se virando de frente para o marido, Emeline enfim abriu os olhos e com curiosidade e esperança brilhando neles ao mesmo tempo, perguntou:

Então já posso mandar a carta para Olívia.

Giuseppe deixou escapar uma risada ao notar a empolgação estampada no rosto de Emeline, e deixando um beijo delicado em sua testa, respondeu:

Pode. Enfim pode lhe contar tudo.

Amanhã mesmo pela manhã lhe escreverei, mal posso esperar. Acredito que sejamos ótimos cupidos.

Não duvido, mas tenho certeza que assim que Graham souber a verdade, irá querer me matar. Mas ele não me deixa muitas escolhas.

Ele não aceitaria de bom grado?

Não, conhecendo-o bem, sei que Graham não aceitaria algo assim como um simples presente, mesmo pelo tempo em que me prestou serviço. O orgulho dele precisa que algo assim venha por um grande esforço também, por isso precisei desse tempo. Precisava verificar se a propriedade era adequada para dar a missão a ele.

Entendo. Mas enfim tudo acabará bem, e os dois terão a felicidade que merecem.

Assim como nós.

Assim como nós. – Concordou ela, se aconchegando mais a ele.

Aninhando Emeline em seu peito, Giuseppe sentiu como se sua vida estivesse completa, como se ela e sua filha Cassandra enfim preenchessem o espaço vazio que havia em seu peito. Porque por muito tempo ele esteve imerso em uma escuridão, se recusando a sair, com medo de que a luz o cegasse, sem perceber que ele já estava cego antes. Pensava que estava se protegendo quando, na verdade, estava apenas negando a si mesmo a oportunidade de ser feliz, estava se privando de viver. E embora Emeline o tivesse tirado daquele limbo, daquela escuridão, ela também o fez perceber que a felicidade só viria se ele permitisse que ela entrasse, se ele se permitisse sentir novamente.

E ele tinha a certeza de que sua amada Cassandra estaria orgulhosa dele, orgulhosa de quem se tornara, orgulhosa por ele ter finalmente rompido com aquele ciclo e seguido adiante. E ainda que mil anos passassem, ele jamais se esqueceria dela, ainda a amaria, um amor somente dela. Assim como amava Emeline tão intensamente que seu peito ardia e seu coração se agitava ao vê-la.

E assim ele sabia que seria. Até o último dia de sua vida.

FIM.


"Sim, eu coloquei a música do Rei Leão nesse capítulo simplesmente porque amo e acho que combina com a temática hahaha.

Mas, enfim chegamos ao último capítulo da nossa história, no entanto, não nos despedimos aqui. Ainda terão os epílogos e os mimos que eu disse. Obrigada por acompanharem até aqui e vejo vocês nos próximos capítulos."

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