61. Escândalo do século
SAINDO VAGAROSAMENTE do quarto, carregando apenas uma vela, Giuseppe encostou a porta de modo que não fizesse nenhum ruído. Caminhou com calma pelos corredores, procurando absorver tudo o que havia acontecido e acalmar o coração que ainda batia ensandecido dentro do peito. Pensou até mesmo em ir até o quarto de sua mãe confrontá-la sobre o que ela havia feito e como havia tratado Emeline, mas estava tão cansado que não possuía disposição sequer para discussões.
Acabou descendo a escada e quando deu por si já estava sem seu escritório, aquele cômodo sempre fora seu lugar de refúgio, acendendo as outras velas que se encontravam ali, ele caminhou em direção à lareira e também a acendeu. Se serviu de um copo cheio de uísque e se sentou em sua poltrona, observando o fogo consumir lentamente a madeira. Sentia o cansaço o abater cada vez mais e ali no completo silêncio seu corpo cobrou o sono perdido daqueles dois dias em claro, nem ele mesmo sabia como ainda estava acordado.
Os olhos ardiam e as pálpebras pesavam mais a cada minuto, ainda assim, sua mente insistia em continuar em alerta, e mesmo que quisesse não conseguiria dormir. Não enquanto a preocupação ainda o tomasse por inteiro. Perdeu a noção do tempo enquanto estava ali sentado, até pensou que a bebida o ajudaria a se manter acordado, esperando por notícias. Quem sabe Caleb chegasse trazendo Graham consigo, quem sabe o guarda pudesse ser bem-sucedido e se sair melhor que ele.
Na noite anterior, Giuseppe havia vestido as roupas escuras de Nox e procurado por Graham. Não havia obtido êxito. Aquilo o abalou de tantas formas que se sentia inútil, e agora, sentado naquele escritório, sequer tinha forças para se levantar e tentar uma nova busca. Ele só desejava que tudo aquilo acabasse de uma vez por todas, que seu melhor amigo voltasse, que se livrassem de Denis e que finalmente ele pudesse viver sua vida com Emeline e seu filho.
Seu filho....
Seu filho!
Havia mais alguém a quem ele devia proteger agora, não permitiria que seu herdeiro fosse criado por um crápula, não permitiria que aquela criança passasse pelo mesmo que ele passou. Ele seria o melhor para aquela pequena vida. Seria um pai melhor do que o seu foi. Infinitas vezes.
Os dois copos de uísque que havia entornado acabaram o fazendo relaxar e se sentir um pouco letárgico, deixando o copo em cima da mesa de centro, se acomodou melhor na poltrona e suspirou.
" Só mais alguns segundos e logo começarei a planejar como cancelar esse casamento", pensou consigo mesmo.
Mas os segundos se tornaram minutos, que se tornaram horas, que engoliram toda a percepção de Giuseppe, principalmente quando os olhos finalmente se fecharam e a cabeça pendeu para frente. Nunca se sentira sonolento como naquele instante, embora fosse uma sensação conhecida. Não conseguia mais abrir os olhos, não conseguia se mexer, tampouco reagir, era quase como o tivessem influenciado aquilo. Como se o tivessem... drogado.
Tentou levantar a cabeça ou mexer os braços e as pernas, mas nada funcionou, seu corpo não reagia mais. Sem dúvida alguma o uísque o levara aquilo e misturado ao cansaço e ao que quer que estivesse em sua bebida, o fez mergulhar em uma escuridão total, onde não conseguiu ver, ouvir ou sentir mais nada.
Quando voltou a abrir os olhos, teve a impressão de ter visto Graham à sua frente, o chacoalhando freneticamente, enquanto alguém permanecia parado ao lado dele. Abriu os olhos lentamente e tentou focar, mas a claridade do local e a dor de cabeça o impediam. Não se lembrava de deixar as cortinas abertas.
- Giuseppe, acorde! Vamos, acorde, precisa despertar.
Aos poucos recobrou o controle do próprio corpo e conseguiu focar sua visão, de fato Graham estava à sua frente, o encarando de modo preocupado. A situação de seu amigo, no entanto, não era das melhores. Suas roupas, antes tão alinhadas, estavam rasgadas e sujas, seu rosto repleto de cortes e um em específico parecia maior e mais profundo que os outros, colorindo a sobrancelha loira com o vermelho opaco do sangue seco, os cabelos igualmente loiros estavam desalinhados e apontavam em todas as direções, mas foram os olhos castanhos e alarmados do valete que fizeram Giuseppe despertar de vez e se levantar rapidamente da poltrona onde havia dormido.
- Graham! - Bradou, parecendo se certificar de que não estava sonhando - Graças a Deus!
Ele puxou o amigo para um abraço apertado, sem esconder seu contentamento por ele estar bem.
- Como chegou? - Perguntou se afastando.
- Caleb me encontrou.
Só então Giuseppe percebeu a presença do guarda no escritório e acabou lhe agradecendo com um abraço também, ao que Caleb respondeu:
- O mérito é todo seu, majestade, o senhor me disse onde ir. Eu apenas obedeci e consegui encontra-lo, procurei a noite inteira e tive êxito agora pela manhã.
Giuseppe abriu um sorriso e se voltou para Graham, o segurando pelos ombros, disse com entusiasmo na voz:
- Estou tão feliz de que esteja bem, estávamos todos preocupados.
- Agradeço todo o esforço em me encontrar..., mas agora não deve se preocupar comigo. Deve apenas trocar de roupa e se apressar.
- Apressar para quê?
- Impedir um casamento.
A expressão consternada de Giuseppe entregou que ele já sabia do que se tratava, um certo desespero se apoderou de suas feições e com certa aflição consultou o relógio de pêndulo que ali ficava. Quase onze da manhã. Como poderia ter dormido tanto daquela forma?
Se voltando para Graham, balbuciou:
- Emeline...
- Acabaram de a levarem praticamente arrastada. - Explicou Graham, agarrando o fraque de Giuseppe e o arrastando para fora - Nos encontramos com a senhorita Denkworth ao chegarmos, ela conseguiu despistar alguns guardas e nos dizer o que estava acontecendo. Ela pediu que eu procurasse por você a o alertasse do que estava acontecendo.
- Maldição! - Esbravejou Giuseppe, se recuperando do choque inicial e tomando total controle de suas ações. Se voltando para Caleb, que os acompanhava, pediu - Peça ao cavalariço que sele o cavalo mais rápido que temos.
- Não acha melhor uma carruagem, senhor? Com apenas um cavalo ficaria muito exposto.
- Uma carruagem apenas iria me atrasar, é preferível o cavalo.
- Sim, senhor.
Caleb se separou deles, correndo por um corredor, enquanto Giuseppe e Graham subiam a escada às pressas. Nenhuma palavra fora trocada entre eles, naquele momento, nenhuma dos dois estava disposto e tampouco preparados para qualquer conversa.
Enquanto Giuseppe se dirigia para o quarto de banho e usava a água fria que fora deixada em um jarro para lavar o rosto e umedecer os cabelos, Graham separava uma roupa melhor e menos abarrotada. E embora tivesse acabado de sair de seu cativeiro, o valete não demonstrava nenhuma hesitação ou trauma, continuava agindo naturalmente como se passasse por aquilo todos os dias.
Giuseppe não poderia deixar de admirar o autocontrole de Graham, seu amigo sempre fora ótimo em esconder seus sentimentos, embora ele soubesse que o loiro naquele instante se remoesse com tudo o que lhe havia sido feito. Giuseppe não gostava nem se pensar nas possibilidades. Definitivamente precisaria ter uma conversa com Graham sobre tudo o que acontecera, mas não naquele momento. Primeiro, ele precisava impedir um casamento, ainda que tivesse que causar o maior escândalo do país e da monarquia.
Quando voltou para o quarto, encontrou suas roupas perfeitamente arrumadas em cima da cama, e com a ajuda do valete as vestiu e alinhou ao corpo. Ao terminar de se arrumar, Giuseppe encarou o amigo no fundo dos olhos e declarou:
- Eu fico muito feliz mesmo que esteja de volta, me perdoe por não conseguir encontra-lo. Eu tentei.
- Sei que tentou, mas agora já estou de volta e não tem que se sentir culpado. Agora vá, não pode perder muito mais tempo.
Com um último sorriso, Giuseppe concordou com a cabeça e partiu rapidamente para fora do palácio, onde Caleb já o esperava ao final da escada, segurando o cavalo preto e mais alto que tinham. Giuseppe sequer deu tempo para que os guardas também montassem em seus cavalos, subiu rapidamente, tomando as rédeas e cutucou as costelas do animal, o fazendo iniciar um trote rápido e logo em seguida disparar em direção à saída.
Giuseppe ignorou os gritos dos guardas atrás de si, que praticamente imploravam que ele os esperasse e que não saísse sem escolta. Ele pouco se importava com isso, apenas pensava em chegar rapidamente à igreja, tinha certeza de que Denis escolhera a catedral, principal igreja da cidade, era grande o suficiente para sua ostentação, e principalmente para alimentar seu ego.
Enquanto galopava rapidamente pelas ruas, pouco se importando com as pessoas que passeavam e que paravam espantadas ao vê-lo, Giuseppe só sabia sentir raiva, e temia que a qualquer instante fosse ter um ataque do coração de tanto que aquele órgão batia contra suas costelas. Quanto mais ele incitava o cavalo a correr, mais ele parecia distante da catedral, ouvia o arquejo das pessoas na rua, ouvia suas saudações e cumprimentos, mas estava focado em um único objetivo, seu olhar era fixo apenas à sua frente. Poderia ter se passado cinco minutos ou uma eternidade até que ele avistasse a torre principal da catedral e acelerasse mais ainda o galope.
"Por favor, Deus, me permita chegar a tempo", clamava interiormente.
Não sabia do que seria capaz se chegasse tarde demais, talvez ele mesmo tratasse de fazer Emeline ficar viúva antes que saísse da igreja, e que Deus o perdoasse por tal pensamento sórdido, mas não se arrependeria um só dia de sua vida se tivesse de fazer aquilo. Foi questão de minutos até chegar à escadaria da catedral e avistar várias carruagens paradas perto da entrada e alguns guardas no lado de fora da porta.
Subiu as escadas ainda montado no cavalo e mal esperou que o animal parasse, quando chegou a porta, para saltar de cima dele e estender as rédeas para um guarda que o olhava espantado. Caminhando determinadamente em direção à porta, ordenou aos outros guardas que a guardavam:
- Abram.
Não foi preciso uma segunda ordem, eles rapidamente atenderam ao pedido, dando passagem para o lado de dentro, onde vários convidados se acomodavam nos bancos decorados com rosas e bem à frente, no altar, se encontravam Emeline e Denis. O sangue de Giuseppe ferveu naquele instante e sem pensar rumou pelo corredor, com passos firmes e quando chegou ao meio, gritou para que todos na igreja ouvissem:
- Parem! Eu não autorizei que esse casamento acontecesse.
Instantaneamente todos se voltaram para ele, cochichos começaram a se espalhar, enquanto ele continuava a caminhar em direção ao altar, com seus passos ecoando secos pelo corredor. Os olhos de Giuseppe estavam fixos no rosto de Emeline, que esboçava um enorme sorriso, Denis o encarava de olhos arregalados, assim como o bispo e padre Dominic. No primeiro banco, Valerie tentou esconder a expressão contrariada, enquanto Olívia e Beatrice, ao seu lado, pareciam querer dar saltinhos de comemoração.
Antes que Giuseppe se aproximasse mais do altar, sua mãe parou bem à sua frente, o censurando:
- Por favor, não cause um escândalo agora, Giuseppe.
Ele simplesmente a ignorou, sequer dirigiu o olhar para ela, apenas se desviou e respondeu:
- Com a senhora eu me resolvo depois.
Assim que se subiu os degraus até o altar, se pôs entre Emeline e Denis, olhando fixamente para o homem e se forçando a manter a calma, não poderia agredi-lo ali, dentro de uma igreja, na frente de todas aquelas pessoas.
- Majestade, há algum motivo para esse alarde todo? - Questionou o bispo, encarando Giuseppe diretamente.
- Existe sim, e eu já o disse. Não dei autorização para que esse casamento ocorresse.
- Mas a licença...
- A licença especial deve passar por mim e não passou. Minha mãe concedeu e convenceu o senhor a conceder também sem que eu soubesse e agora eu estou a retirando.
- Não pode fazer isso! - Bradou Denis, indignado.
- Não posso? - Voltou Giuseppe para ele, se aproximando intimidante - E quem é você para dizer o que posso ou não fazer?
- Tenho certeza de que há um bom motivo para isso. Não é mesmo, majestade? - Se intrometeu padre Dominic, tentando acalmar a situação.
- É claro que há. Eu amo Emeline e não permitirei que ela se case com o primeiro ministro.
O burburinho na igreja aumentou consideravelmente, ecoando pelas paredes de pedras, enquanto as pessoas se encaravam chocadas e algumas até indignadas. Porém, Giuseppe manteve a postura e os olhos cravados em Denis. Sentindo Emeline atrás de si, se agarrando a seu braço, ele tateou até encontrar a mão dela e entrelaçar seus dedos aos dela, apertando levemente e afirmando silenciosamente que tudo ficaria bem.
- Ora, mas isso não é motivo. - Rebateu o bispo, indignado - Aqui é a casa de Deus, majestade, não um lugar para escândalos.
- Não é motivo? Então eu lhe darei um bem convincente, vossa eminência. Eu já havia pedido a senhorita Black em casamento e ela havia aceitado, desse modo ela já era minha noiva, quando o senhor Romano a armou contra ela, a arrastando para um lugar afastado e tentando manchar a honra dela sem sua permissão. Ele a agarrou. Acha isso justo?
O homem pareceu pensar por alguns segundos, enquanto padre Dominic permanecia em completo silêncio, assim como os convidados, que agora estavam focados em saber mais sobre o que estava acontecendo.
O bispo ainda pigarreou antes de retomar a palavra e com um tom baixo de voz, pedir:
- Acho melhor conversarmos na sacristia, longe dos olhos das pessoas.
- Tem toda razão. - Respondeu, Giuseppe. Soltando a mão de Emeline, ele desceu dois degraus, se voltando para os convidados e disse - Eu sinto muito que tenham perdido seu precioso tempo vindo até essa cerimônia hoje, porém, ela se encerra aqui. Podem ir para suas casas. - Quando ninguém se mexeu e todos permaneceram o encarando boquiabertos, Giuseppe aumentou o tom de voz, bradando - Vão!
Rapidamente as pessoas se levantaram, saindo de seus lugares e caminhando para fora da igreja, o burburinho ainda se fazia presente e Emeline podia ver vários olhares julgadores voltados para ela, sorrisinhos e até cochichos de pessoas que insistiam em olhar para trás antes de deixar o local definitivamente. Voltando os olhos para Giuseppe, percebeu os ombros dele ainda tensos, enquanto observava os últimos convidados saírem da igreja. Então, calmamente se voltou para os restantes e subiu os degraus novamente, passando o braço pela cintura de Emeline.
- Agora sim podemos conversar. - Disse.
Ainda com uma expressão de reprovação, o bispo começou a caminhar em direção a sacristia, seguido de padre Dominic, que parecia tão confuso quanto as pessoas que haviam deixado o local. Denis caminhou atrás deles logo em seguida, por último, Giuseppe, segurando a mão de Emeline e a arrastando junto.
Quando todos já haviam chegado até a sacristia e pensaram que ninguém mais poderia se juntar a eles, Valerie surgiu em sua entrada, encarando todos em seu modo habitual de superioridade, ainda assim, havia algo hesitante na mulher. Talvez fosse efeito do olhar de desprezo que Giuseppe lhe lançava.
Emeline apenas desejava que tudo aquilo acabasse de uma vez por todas, era o pior dia de sua vida e definitivamente não estava interessada em participar de discussões, mesmo assim, se forçou a se manter firme, ao lado de Giuseppe, que ainda lhe sustentava com o braço circundando a cintura.
- Então? Como resolveremos isso? - Questionou o bispo, olhando todos os presentes.
- Já resolvemos. Não haverá casamento. - Respondeu Giuseppe.
- Mas ela está desonrada, foi pega aos beijos com o primeiro ministro.
- E qual parte de "ele a agarrou" o senhor não entendeu?
Percebendo que Giuseppe se aproximava perigosamente do bispo, padre Dominic resolveu intervir e se interpôs entre os dois, dizendo:
- Nós entendemos, majestade, que as acusações contra a senhorita Black são indevidas e que o comportamento do senhor Romano foi condenável...
- Como o senhor ousa? - Bradou Denis, sem esconder sua raiva.
O padre, no entanto, não se deixou intimidar pela expressão furiosa ou pela proximidade de Denis e continuou em seu tom afável:
- Mas há de se concordar que infelizmente aos olhos das pessoas ela ficará manchada e será rejeitada depois de todo esse escândalo e principalmente por continuar solteira.
- Eu não disse que ela não se casaria. - Respondeu Giuseppe, com calma - Como eu já havia declarado antes, eu já havia feito o pedido de casamento e ela havia aceitado.
Uma risada zombeteira preencheu a sacristia, tornando o ambiente mais tenso do que já estava. Os presentes ali assistiam Denis gargalhar sem entender muito o motivo pelo qual ele ria, nada daquilo era engraçado. Enquanto ele caminhava pelo local, rondando a todos como um lobo traiçoeiro, retirou um lenço do bolso e limpou o rosto antes de parar em frente Giuseppe e o encarar fixamente, dizendo:
- A pediu em casamento, mas não tornou público. Não anunciou que tinha uma noiva. Que tipo de compromisso é esse? Estava com vergonha de declarar que estava noivo de uma simples dama de companhia?
Giuseppe cerrou a mão em punho, pronto para desferir um golpe contra o rosto daquele homem asqueroso, que o enfrentava na frente de todos sem a menor hesitação. O maxilar ficou tenso, junto com a respiração acelerada e o olhar fixo. Tentando evitar que acontecessem mais escândalos, Emeline segurou firme a mão de Giuseppe, tentando impedir que ele perdesse o controle.
Por fim, ele apenas respirou fundo e respondeu:
- Não anunciamos porque eu respeitei a decisão dela de esperar ao menos mais um pouco.
- Então não era um compromisso de fato. Dessa forma, quem tem direito ao casamento com a senhorita Black sou eu, já que cheguei as vias de fato.
- Não tem direito de nada. Nenhum de nós dois têm direito sobre ela porque Emeline não é um objeto para ter um dono.
Novamente Denis riu e dessa vez se afastou, balançando a cabeça e parecendo incrédulo com aquela resposta.
- Essa é a coisa mais ridícula que já ouvi. Olha o que acontece com um homem apaixonado, se transforma em um tolo. E o país ainda está nas mãos desse rapaz que sequer tem pulso firme.
Giuseppe já ouvira demais, toda sua paciência havia se esgotado. Atravessou a sala a passos largos até chegar onde Denis estava e o agarrar pela lapela, o chacoalhando e esbravejando:
- O que o senhor está querendo, hã? Por acaso quer que eu o desafie? Quer um duelo? Porque eu vou sem pestanejar e não descansarei até mata-lo.
- Não vamos perder o cavalheirismo apelando para algo tão pueril.
- E desde quando agiu com cavalheirismo?
- Senhores, por favor, tenham respeito pelo menos aqui. - Implorou Padre Dominc.
Lentamente Giuseppe soltou Denis, que por pura provocação, ajeitou o fraque, passando a mão sobre ele para o desamassar. Antes que outra discussão se iniciasse, Emeline tomou a palavra e tentou manter a o tom de voz confiante.
- É verdade... Giu... o rei, havia me pedido em casamento muito antes e eu havia aceitado. A meu pedido, mantivemos segredo porque não queríamos que nada fosse frustrado.
- Ainda assim, não haviam oficializado. Eu a trouxe até aqui, o compromisso é real.
Cansada de argumentos cautelosos lançados, Emeline deu um passo à frente e resolveu arriscar. Talvez sua alegação aumentasse o escândalo, talvez ofendesse e causasse indignação em quem estava ali presente, principalmente nos sacerdotes, mas ela já não se importava mais com nada. Já estava envolvida em um manto de indecorosidade mesmo.
Erguendo o queixo em desafio e abrindo um sorriso matreiro, respondeu em alto e bom som:
- Sim, mas foi com ele que me deitei, não com o senhor. Então se estamos julgando minha "honra" aqui... a perdi com Giuseppe primeiro.
Um silêncio pesado se instalou no lugar, os sacerdotes a olhavam com os olhos arregalados de espanto, Denis estava rubro, talvez por raiva, Valerie estava estupefata e Giuseppe... sua boca estava entreaberta, demonstrando sua surpresa, ao mesmo tempo em que um sorriso se abria e sua postura relaxava.
- Penso que já resolvemos esse problema. - Disse ele - Eu irei me casar com ela.
O bispo por fim cedeu, procurou uma cadeira para se sentar e suspirou cansado, ainda apertando a ponte do nariz, constatou mais para si mesmo:
- Santo Deus, essa é a situação mais escandalosa com a qual me deparei. Neste caso, o senhor tem o dever de reparar isso, majestade.
- É o que estou tentando dizer nos últimos dez minutos, vossa eminência. - Respondeu, Giuseppe impaciente.
Mais alguns segundos de silêncio mortal foram feitos, padre Dominic encarava um por um na sala, procurando analisar suas reações, mas eram quase todas iguais, os únicos que pareciam estar tranquilos eram Giuseppe e Emeline. Ele havia voltado para perto dela e envolvido a cintura fina da moça com seu braço, em um gesto de proteção. Percebendo que ninguém ali esboçaria qualquer outra reação, Dominic tomou a palavra:
- Bom, creio que temos a solução então.
- Sim, temos. - Respondeu Emeline, sem titubear - Ninguém aqui pensou em considerar minha palavra ou minha opinião sobre minha vida, mas essa é minha decisão. Eu amo Giuseppe e é com ele que aceitei me casar.
Novamente o local caiu em silêncio, todos constrangidos com a fala de Emeline, inclusive o próprio Giuseppe, que se sentia envergonhado de tratar a vida dela como um objeto de venda. O momento de constrangimento foi quebrado por Denis bufando de raiva e seus passos pesados ecoando altos enquanto saía apressadamente.
Valerie esperou mais alguns segundos por alguma reação, mas percebendo que ninguém ali faria nada, também saiu, porém, silenciosamente. Foi seguida pelo bispo, que ainda resmungava alguma coisa, deixando apenas Emeline, Giuseppe e o padre Dominic.
O sacerdote ainda encarava os dois, porém, seus olhos se demoravam mais em Giuseppe, não por estar escandalizado com a cena pública que havia sido feita, mas por um certo reconhecimento cair sobre ele. Queria estar errado sobre o que pensava, mas em seu âmago, sabia que reconhecia aquela voz, uma voz que ouvira apenas uma única vez, depois de semanas de silêncio daquele homem que frequentava sua igreja pela madrugada, apenas por alguns minutos. Até ele tomar coragem e sair pela porta, arriscando a própria vida.
E Dominic jamais pensaria que aquele homem era seu próprio rei.
Teve seus devaneios interrompidos quando os dedos de Giuseppe estalaram em frente ao seu rosto e a voz dele o chamou de volta:
- Padre? Está tudo bem?
- Ah... está. Está sim, meu filho, eu estava apenas divagando um pouco, me perdoem.
Giuseppe, abriu um sorriso terno, nutrindo certa admiração por aquele homem, sabia que ele não havia tido qualquer relação com o que havia acontecido, estava apenas fazendo uma de suas atribuições como sacerdote. E era justamente sobre isso que ansiava falar com o homem. Entrelaçando os dedos nos de Emeline, a arrastou para perto e pediu:
- Há como o senhor marcar nosso casamento?
- Mas é claro! Claro! Quando desejarem.
Voltando os olhos para Emeline, Giuseppe completou:
- Quando você quiser e se sentir melhor.
- A data mais próxima possível. - Disse ela.
- Bom, nesse caso, terei que verificar se não há outros casamentos, mas posso dar prioridade.
- Fique descansado, esperamos até que esteja disponível. - Respondeu Giuseppe, se voltando para a noiva, completou - Vamos? Precisa descansar.
Ela apenas acenou com a cabeça e enroscando o braço no dele, caminhou tranquilamente para fora da sacristia e da igreja, sabendo que pelo menos aquele problema havia sido resolvido. Se livrara do maior pesadelo de sua vida.
O sacolejar da carruagem no caminho de volta até o palácio, parecia ter deixado Emeline desconfortável. Ela enterrara a cabeça no peito de Giuseppe, descansando ali, e o deixando sem saber se ela de fato estava passando mal ou se só precisava de um momento de quietude para se acalmar. De qualquer forma, preferiu continuar calado, apenas com seus braços a rodeando e protegendo, mesmo que o maior perigo já tivesse passado.
Ele não havia visto sua mãe, tampouco sua irmã ou a senhorita Denkworth, era provável que já tivessem ido embora antes mesmo que ele e Emeline saíssem da sacristia, Giuseppe achava melhor assim. Não tinha a menor vontade de encontrar Valerie naquele momento.
"Olá, meus amores! Como vão? Resolvi trazer dois capítulos essa semana porque não conseguiria segurar por muito tempo essa "fofoca" hahaha. Espero que tenham gostado desse escândalo, que com certeza vai ser lembrado por muito tempo!
O capítulo ficou grandinho, mas foi por uma boa causa, o Giu não ia deixar a Emie se casar com alguém que não seja ele, não é mesmo?
Obrigada pela leitura e boa semana. Beijos,
Rafa."
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