55. Más notícias

CAMINHOU em silêncio pelo corredor, ao lado de Graham, observando a postura austera do valete, era claro que ele não estava à vontade com a presença anterior do médico, mas mesmo depois que ele foi embora, Graham continuou com uma expressão séria que Emeline jamais havia visto do rosto dele.

- Aconteceu algo? - Questionou ela.

Ele pareceu se surpreender com a pergunta repentina e por algum momento seu rosto se suavizou, parecendo ponderar alguma resposta. Sua expressão revelava certa dúvida. Por fim, apenas suspirou e balançou a cabeça, colocando um sorriso forçado no rosto e respondendo:

- Não. Não aconteceu nada, é só um pouco de cansaço, cheguei aqui muito cedo.

- Sabe que se precisar de ajuda ou quem sabe até uma amiga... estou aqui.

- Muito obrigado, senhorita Black, mas é apenas cansaço mesmo.

Percebendo o desejo de Graham de interromper o assunto e o quanto aquilo o perturbava, Emeline apenas sorriu timidamente e seguiu pelo corredor, se aproximando das escadas, pronta para se juntar a Olívia. Prometera passar o dia com a amiga, já que não poderia fazer muito mais por Giuseppe e permanecer ao lado dele levantaria suspeitas. No entanto, a voz tão conhecida e que lhe causava arrepios soou vinda do saguão.

- Não gosto de trazer esse tipo de notícia, mas infelizmente dessa vez não pude adiar.

- Oh, mas quanta tristeza! - A voz de Valerie reverberou em resposta - Giuseppe ficará devastado com a notícia.

- Por isso vim avisá-lo, majestade. Não queria que ele ficasse sabendo por terceiros, seria melhor se eu mesmo lhe contasse.

Emeline duvidava muito de que Denis estivesse ali querendo dar a notícia que fosse por consideração a Giuseppe, era mais provável que sua intenção fosse perturbar. Uma respiração pesada soou atrás dela, a fazendo se sobressaltar e voltar os olhos para Graham que continuava parado atrás dela, mas seu semblante estava contraído em uma expressão de estranheza, enquanto os olhos espiavam além dela, no andar de baixo.

- Do que falam? - Questionou.

- Não sei, posso apenas dizer que são más notícias, a rainha disse que poderá afetar Giuseppe.

Graham não respondeu, nem direcionou os olhos para a expressão preocupada de Emeline, apenas pareceu pensar por alguns segundos, remexendo impaciente os dedos sobre o tecido da calça. Por fim, ajeitou a postura e passou por ela, dizendo:

- Espere aqui, verei o que está acontecendo.

- Não! Vão perceber que estamos bisbilhotando.

- Sou o valete do Giuseppe, qualquer notícia boa ou ruim passa por mim antes de chegar a ele, me encarregaram disso. Não irão suspeitar de nada.

Continuou o caminho, até terminar de descer a escada e parou ao pé dela, mantendo a postura ereta e os braços escondidos atrás de seu corpo, observando Denis e Valerie que ainda estavam em sua conversa. Notando o valete parado ali, Valerie abriu um sorriso e disse:

- Que bom que apareceu, senhor Thorn. Como está meu filho?

- Melhor, o deixei dormindo agora e desci justamente para comunicar a senhora que ele provavelmente dormirá o resto do dia.

- Estava justamente contando ao senhor Romano sobre o pequeno acidente de Giuseppe hoje pela manhã e de como ele ainda está impossibilitado para conversas.

Graham se voltou para Denis observando bem sua expressão desconfiada, mas resolveu ignorar e o cumprimentar com uma mesura elegante, permanecendo voltado na direção do homem, à espera do que quer que ele tivesse a dizer.

- Bom, nesse caso, peço que lhe expliquem a situação assim que ele acordar. Creio que ele infelizmente vá perder o funeral... - Começou Denis.

- Funeral? - Interrompeu Graham, incapaz de esconder sua surpresa. Ainda sob o olhar austero de Denis, Graham pigarreou e voltou à postura sóbria, completando - Perdão pela interrupção, senhor.

- Não há problemas, senhor Thorn, essa notícia pegou a todos de surpresa, principalmente depois de ontem pela noite.

O valete notou o olhar fixo de Denis nele, o homem o observou por inteiro, desde suas botas até o modo como seu lenço estava arrumado, se demorando um pouco na perna, à procura de algo. Escondeu seu descontentamento atrás de uma expressão forçada de tristeza, quando continuou:

- Estava contando à rainha sobre a nossa infeliz perda na noite passada. O senhor Galaretto foi encontrado morto em sua residência pela manhã.

Involuntariamente Graham deu um passo para trás, o coração acelerou e um temor repentino tomou conta do seu corpo naquele instante, tentava controlar a respiração pesada e disfarçar com outro pigarrear. Desviando o olhar brevemente, se forçou a perguntar:

- Morto? Como... como aconteceu?
- Me disseram que o crime pode ter ocorrido por volta das duas da manhã.

- Crime?

- O senhor Galeretto foi assassinado, senhor Thorn.

Mais uma vez Graham respirou fundo e levou a mão ao colarinho, puxando o lenço levemente, como se de repente lhe faltasse o ar. Abaixou a cabeça, murmurando:

- Meu Deus.

- Pode dar a notícia a ele assim que acordar? - Pediu Velerie, direcionando os olhos repletos de lágrimas para Graham.

- Posso. Posso sim, senhora. - Sussurrou em resposta.

Ainda permanecia com a cabeça baixa, quando sentiu a mão de Denis pousar sobre seus ombros e a voz grave, contendo certa entonação de sarcasmo, dizer:

- Por favor, diga a ele também que já estamos nos mobilizando para descobrir quem foi o responsável por isso.

- Só pode ter sido um monstro! O senhor Galaretto era tão bondoso. - Comentou Valerie, horrorizada.

- Certamente. Deve ter se aproveitado da mobilização de ontem para capturar Nox Nocture e atacou o pobre lorde Moreti. Ou quem sabe o próprio Nox Nocture fez isso.

Graham queria poder reagir depois daquela fala de Denis, porém, a única reação que esboçou foi fechar as mãos em punhos, apertando fortemente e se controlando para que nada inconveniente escapasse de sua boca. Levantou a cabeça e aprumou a postura, confirmando com um leve acenar de cabeça, dizendo:

- Cuidarei de dar a notícia a ele, não se preocupem. Se me dão licença, voltarei para minhas obrigações.

- Claro. Pode ir, senhor Thorn. - Concordou a rainha.

Com uma reverência dirigida a ela e um cumprimento a Denis, Graham começou a caminhar de volta para o andar de cima, e daquela vez, propositalmente, fingiu mancar da perna esquerda. Sentia-se em completo torpor, forçava a pernas a caminharem sem vacilarem, mas seus pensamentos não paravam. E por mais que mantivesse seu mesmo ritmo acelerado ao caminhar, o mundo ao redor lhe parecia mais lento, se aquela notícia já o tinha abalado daquela forma, que dirá o que poderia causar em Giuseppe.

Graham sabia que Denis poderia muito bem estar por trás daquilo, apenas não podia afirmar, não entendia porque o primeiro ministro poderia ter feito aquilo, não via motivo algum. Henry Galaretto era o maior aliado e confidente que Giuseppe tinha, e talvez isso tenha acontecido unicamente para atingi-lo, a única coisa que o velho homem havia feito fora levar à pista de Ieda Collalto, ele confirmara que Ettore tinha uma amante e despertara em Giuseppe a curiosidade. E se Graham não soubesse as respostas para aquela questão de Ieda, não teria entendido o interesse de Denis nela, mas agora que sabia... seus pensamentos giravam em sua mente e inúmeras possibilidades surgiam. Uma delas, fazia até seus ossos tremerem.

Terminando de subir a escada, encontrou Emeline escorada na parede, se escondendo e pela expressão que viu em seu rosto, soube que ela ouvira a conversa toda. Ele permaneceu calado, a encarando por alguns segundos e permitindo que as lágrimas empoçassem seus olhos escuros e quando pensou em apenas continuar, sentiu os braços de Emeline o envolverem. Graham sabia que naquele abraço não era ela quem buscava acalento, era unicamente para consolá-lo, porque Emeline conseguiu ver em seus olhos o quanto Henry significava para ele também.

- Vai ficar tudo bem? - Questionou ela, depois de o soltar.

- Eu não sei. Acho que ainda teremos de enfrentar muita coisa antes de tudo acabar, ao que parece, a situação só piora. Mas por enquanto... tenho apenas que pensar em como contaremos isso para Giuseppe, ele é o que mais sentirá.

- Se precisar eu o ajudo.

- Não será preciso. Apenas descanse, passou boa parte da noite acordada e ao lado dele, precisa repousar também, deixe que eu cuido de tudo.

- O senhor também está acordado desde muito cedo e até agora não parou para descansar. - Comentou ela, triunfante.

Graham deixou uma breve risada escapar, para depois continuar seu caminho pelo corredor, respondendo:

- A diferença é que esse é meu trabalho, senhorita Black.

- É seu trabalho também fingir que está ferido apenas para desviar a atenção de Denis sobre Giuseppe?

Ele não se voltou para ela, continuou parado, lhe dando as costas, sua voz não tinha mais a entonação suave de antes, ele parecia um pouco mais angustiado quando replicou:

- É preferível que ele pense que sou eu.

- Mas agora entrará em sua mira, está em perigo!

- Antes sua desconfiança esteja depositada em minha pessoa do que em Giuseppe. Ele é importante demais para ser alvo de Denis, o reino não sobreviveria sem ele e seria provável que afundasse se caísse em mãos erradas. Quanto a mim... sou apenas um valete.

Ele sequer deu chances para que Emeline o contestasse, partiu apressadamente como sempre fazia, a deixando sozinha no corredor.

- Você não é só um valete, é o melhor amigo de Giuseppe. - Sussurrou para si mesma.

Atravessando rapidamente o espaço que a deixaria exposta, Emeline rumou na direção de seu quarto e de Olívia. Não havia muito o que ser feito e naquele dia em especial ela mais uma vez se sentia mal, não saberia dizer se era devido à falta de sono ou talvez o desjejum exagerado que fizera pela manhã, mas seu estômago se revirava em contradição dentro de si e novamente aquela dor de cabeça incômoda a atormentava.

Encontrando Olívia pelo corredor, vindo em sua direção, a arrastou para dentro de seu quarto, onde poderiam ter um pouco de paz.

- Emie, está um pouco pálida! - Constatou, Olívia parando em frente Emeline.

- Mesmo?

- Sim. Aconteceu algo?

Emeline balançou a mão no ar e caminhou em direção a sua cama, se abaixando e pegando o quadro que faltava apenas alguns detalhes na pintura para que enfim estivesse pronto.

- Estou apenas um pouco indisposta, ou talvez seja a notícia que acabei de ouvir.

- Que notícia? - Se aproximou Olívia, curiosa.

- Ao que parece um grande amigo de Giuseppe e do senhor Thorn foi encontrado morto hoje pela manhã. O senhor Thorn não sabe como dará a notícia.

- Pelos céus, que horror!

Olívia se sentou na cama, parecendo chocada com o que ouvira mesmo que nunca tivesse visto o homem em questão. Ela sempre fora muito mais sensível e altruísta nesses assuntos, e essa era a qualidade que Emeline mais admirava na amiga, Olívia constantemente se compadecia dos sentimentos dos outros e sempre estava disposta a ajudar.

A ruiva poderia muito bem ter ficado quieta com seus sentimentos altruísticos, mas o que ela fez, na verdade, foi saltar da cama e correr na direção de Emeline, que já preparava seus materiais, e dizer:

- É por isso que está indisposta? Sua preocupação com o que o rei sentirá a deixou perturbada?

- De onde tira tanta sandice, Olívia?

- Ora, Emeline Black, não há mais como negar o quanto se importa com ele. Ou o quanto ele se importa com você. Passou a manhã toda com ele e não sossegou até que ele estivesse bem!

Emeline voltou na direção de Olívia e não conseguiu segurar a risada ao ver a amiga com a mão plantada na cintura e a encarando firmemente, esperando uma resposta. Eram raras as vezes que Olívia deixava sua postura de lado.

- Eu não disse que não me importava. - Confessou Emeline - Apenas acredito que preocupação não pode ter me abalado tanto. - Se sentando no divã, ela esfregou a barriga e resmungou - Acho que não deveria ter exagerado no desjejum.

- Pois bem, esse é o preço da gula. É um pecado capital, sabia? - Comentou Olívia, na clara intenção de provocar.

Dirigindo um olhar irritado dessa vez a Olívia, Emeline esbravejou:

- Ora, eu estava faminta, não foi gula.

- Quer que eu peça algum chá? Talvez ajude.

Emeline suspirou, se levantando, e acenou positivamente com a cabeça, voltando a pegar o pincel e as tintas.

- Nem mesmo parece que a dama de companhia sou eu.

Foi surpreendida pelo abraço apertado de Olívia e pela risada contagiante da moça, que plantou um beijo em sua bochecha e respondeu, já saindo do quarto:

- Damas de companhia também precisam ser cuidadas, resmungona.

Emeline simplesmente não sabia como reagir, permaneceu parada por alguns segundos encarando a porta pela qual sua amiga acabara de sair, para depois deixar escapar uma risada. O humor de Olívia sempre fora de uma alegria contagiante.

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