5. Uma incógnita
Quando chegou ao pé da escada novamente e ajudou Olívia a colocar seu chapéu, sua amiga inquiriu:
— Está pálida, Emeline! Aconteceu algo?
— Não. Não aconteceu nada, talvez seja apenas falta de sol.
— Tem certeza?
— Sim. Ah, veja! A princesa já está vindo. - Disse ela, rapidamente mudando de assunto e se voltando para as escadas, onde Beatrice vinha acompanhada de sua dama de companhia.
A princípio um silêncio se estabeleceu, e as quatro caminharam em silêncio, com dois guardas as seguindo de perto. Mas graças aos céus, Olívia tinha o dom da comunicação e começou um assunto qualquer, apenas para banir o clima desconfortável que havia se estabelecido. Emeline não acompanhava sobre o que falavam, estava perdida em seus próprios pensamentos, tentando evitar que aqueles olhos voltassem à sua mente.
Sequer percebeu que ficou para trás e agora estava muito próxima aos guardas. Pela segunda vez naquele dia acabou se chocando contra alguém, ao que parecia, seu modo desastrado estava dando as caras.
— Perdoe-me. - Pediu ao guarda.
— Sem problemas, senhorita. - Respondeu o rapaz alto, de cabelos castanhos ondulados.
Emeline percebeu que era o guarda que as encarava mais cedo. O olhando de perto seus olhos não pareciam tão escuros, talvez um tom mais forte de castanho, mas o sorriso simpático estampado em seu rosto aliava aquela aura misteriosa dos olhos.
— Você estava nos encarando mais cedo. - Disse ela, agora o acompanhando na caminhada.
O rapaz corou um pouco e abaixou os olhos, respondendo:
— Perdão. Não achei que se incomodaria tanto, mas é que a senhorita se parece muito com alguém que conheço.
— Hum... Só fiquei curiosa com o motivo de tanto nos encarar, senhor...
— Emor. Caleb Emor, mas... Se a senhorita preferir, pode me chamar de Cal.
— Isso é íntimo demais, senhor Emor. Acabei de conhecê-lo. - Respondeu Emeline. Apesar da repreensão, havia uma nota de diversão em sua voz – Pais ingleses?
— Apenas meu pai. Minha mãe nasceu aqui mesmo.
— Trabalha aqui há muito tempo?
— Apenas dois anos. Desculpe-me ser indelicado, mas isso é uma avaliação?
Emeline parou no meio do caminho e encarou Caleb, com um sorriso divertido no rosto.
— É o que está parecendo? - Perguntou.
— Está sim. - Respondeu ele, devolvendo o sorriso.
— Me desculpe. - Ambos riram e voltaram a caminhar lentamente. Permaneceram um pouco em silêncio, até Emeline retomar – É que é tudo muito novo para mim. Acho que estou um pouco intimidada com o ambiente.
— Logo a senhorita poderá se acostumar. A família real não é muito sociável, como pode-se notar, mas estão longe de ser más pessoas. Talvez só sejam cercados por protocolos demais.
— Ainda assim é intimidador.
— Não posso discordar. Quando comecei a trabalhar aqui, sentia a mesma coisa. - Respondeu Caleb, abrindo outro sorriso – Mas no caso da senhorita é diferente. É convidada aqui.
— Sou acompanhante, é diferente... Acha que se o rei se casar com Olívia ele será bom para ela?
Caleb franziu o cenho, confuso com aquela pergunta repentina, mas balançou a cabeça em negativa, suspirando e dizendo:
— Não posso afirmar nada. Ele é uma incógnita.
— Oh, não precisa esconder de mim. Por incógnita quer dizer libertino?
— E qual de nós homens não é, senhorita?
— Eu já desconfiava.
— Então ele sai muitas vezes para se divertir? Se é que é possível ele sair.
— Está querendo que eu faça fofoca do meu patrão? - Perguntou ele, se divertido.
— Não! Por Deus, não!
Emeline acabou dizendo a frase alta demais e posteriormente caindo na risada, o que atraiu a atenção do grupo mais à frente. Ela se desculpou e se voltou para Caleb:
— Eu só queria saber... Se ele seria bom para Olívia.
— Eu não posso ser útil quanto a isso, senhorita Black. Peço desculpas por isso. Meu dever é apenas proteger o rei. E mesmo que eu pudesse ajudá-la, ele mal sai do palácio. - Ao ver o olhar tristonho, que Emeline fazia propositalmente, Caleb suspirou acrescentando – Exceto noites de sexta-feira.
— O que ele faz às noites de sexta?
— Eu não sei. Meu único dever é acompanhá-lo a um lugar desconhecido e protegê-lo, só posso dizer isso, não posso dizer mais nada. Ele sai com poucos guardas, o suficiente para não deixar ninguém se aproximar dele. Principalmente com o cavaleiro a solta por aí...
— Que cavaleiro?
Caleb olhou ao redor e se voltando para Emeline, abaixou o tom da voz quando inquiriu:
— Não conhece a lenda do cavaleiro que assombra Norean?
— Não! Que lenda é essa?
Quando ele abriu a boca para responder, a voz de Olívia soou mais à frente:
— Emie, por que não se junta a nós? Estamos sentindo sua falta.
Ela apenas deu um sorrisinho para a amiga e dirigindo último olhar para Caleb, se desculpou e andou rapidamente, até alcançar a amiga, a amaldiçoando mentalmente por interrompê-la justo quando estava ficando interessante.
Um pouco mais tarde, conseguiu escapar de Olívia e procurou por Caleb novamente, sabia que seria indecoroso, mas ela queria que o decoro fosse aos ares, sua curiosidade falava mais alto. Emeline tinha uma paixão indecifrável por mistérios.
Encontrou aquela cabeleira ondulada já saindo da casa. Para impedi-lo, Emeline correu atrás dele e o chamou. Quando se voltou para ela, Caleb não conseguiu esconder a expressão surpresa.
— Senhorita Black! Precisa de algo?
— Que termine de me contar a história do cavaleiro.
— Bom. Eu já estou saindo, é a troca de turno.
— Poderá contar-me amanhã então? - Perguntou esperançosa.
— Amanhã só venho no período da noite, senhorita... É sexta-feira. - Emeline suspirou decepcionada, e ele logo tratou de acrescentar – Mas podemos dar um jeito. Geralmente chego mais cedo e faço uma refeição na cozinha antes de começar o turno. Se a senhorita quiser...
— Eu irei! Muito obrigada. - Respondeu ela, animada, fazendo uma mesura e sendo correspondida de forma elegante.
Olívia estranhou quando a amiga chegou animada no quarto e começou a procurar pelo diário que havia levado consigo. Ela observou a movimentação de Emeline pelo quarto, andando de um lado para o outro, falando sozinha e com um sorrisinho muito suspeito no rosto.
— Devo me preocupar com essa empolgação repentina? - Questionou a ruiva.
Emeline parou no meio do cômodo, se dando conta da presença da amiga, piscou algumas vezes e retorquiu:
— Não deveria estar no seu quarto?
— Eu deveria, mas senti falta da minha amiga que sumiu repentinamente e resolvi procurar por ela. Pelo que vejo estava ou está tramando algo.
Aquele sorrisinho voltou aos lábios da morena e ela logo correu para fechar a porta do quarto, se sentou ao lado da amiga e disse:
— Eu descobri algo incrível... Quer dizer, me contaram.
— O que descobriu?
— Há uma lenda sobre um cavaleiro nessa cidade.
Olívia abriu a boca para responder, mas parou no meio do caminho. Achava que seria algo escandaloso, mas aparentemente Emeline não se importava com escândalos, sua atenção era voltada somente para mistérios.
— Está falando sério, Emie?
— Claro! Foi o senhor Emor que me contou, quer dizer, ele não me contou tudo exatamente. Ele apenas mencionou e disse que amanhã eu deveria procurá-lo e ele me contará tudo.
— Espera, quem é o senhor Emor?
— O guarda que eu estava conversando.
— E você vai encontrá-lo, Emeline? Isso seria indecoroso e poderia levantar vários mexericos...
— E eu lá me importo com mexericos, Olívia?! - Respondeu ela, se levantando e andando agitada pelo quarto - É uma lenda, um mistério! Não há nada melhor do que isso. Além de tudo, sem dúvida haverá mais pessoas na cozinha.
— Acha prudente visitar a cozinha?
— Sou apenas uma dama de companhia, acho que não se importarão.
— Não se menospreze, Emeline, sabe que não gosto quando faz isso.
— Não estou me menosprezando, apenas dizendo a verdade. Tenho certeza que não me notarão lá.
— Você é uma cabeça dura! - Bradou Olívia, rindo e lhe atirando uma almofada.
— Sou mesmo. Mas vamos deixar esse assunto para outro momento, temos de nos arrumar o rei lhe espera para o jantar. - Brincou Emeline, fazendo uma reverência exagerada.
— O que seria de mim sem você, mocinha?
— Talvez tivesse se casado com o Nigel e não seria uma candidata a futura rainha.
— Ah, não me lembra dele!
Ambas riram e se dedicaram a se arrumar para o jantar, esperando apenas serem avisadas de que o jantar estava sendo servido.
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