49. Minha luz

RELUTANTE, Giuseppe se separou de Emeline e se deitou de lado, com ela se acomodando em sua frente, ficou mudo por alguns segundos, apenas tirando as mechas de cabelo que haviam caído sobre a face dela, e acariciando o pescoço, enquanto estudava cada parte de seu rosto.

- O que está pensando? - Perguntou ela, de repente.

- Se realmente estou acordado.

Emeline se aproximou dele novamente, respondendo com um beijo e o sentindo enlaçar sua cintura e puxar uma perna sua para cima do quadril dele. Sentiu sua intimidade pulsar novamente e sabia que recomeçariam o que tinham acabado de terminar se não se afastassem. Precisava conversar com ele ali, agora, ou então perderia a coragem que tinha tomado no momento em que o sentiu tocá-la. Se afastando, ela o encarou bem nos olhos e disse seriamente:

- Precisamos conversar. Sem mentiras, sem segredos dessa vez.

A soltando, Giuseppe se sentou na cama e ajudou Emeline a se sentar também, colocou os pés para fora e vestiu as calças, sabendo que estava sendo observado pelo olhar confuso dela. Abriu um sorriso e a pegou no colo, sem que ela esperasse. Caminhando para o quarto de banho, explicou:

- Tem toda razão, precisamos conversar. Mas antes precisa de um banho.

- Como pode saber se já deixaram a água preparada?

- Eu pedi que deixassem.

Com delicadeza, ele a depositou dentro da banheira, verificando antes se a temperatura da água era do agrado de Emeline. O cuidado que ele tinha, fazia o coração dela se apertar em um sentimento de culpa, porque mesmo com tudo o que ela havia feito, mesmo tendo o machucado, ele demonstrava uma devoção que ninguém nunca demonstrara em sua vida. Ele ainda a ajudou a se banhar lhe passando o sabonete e as loções que ela usava, se sentou em um pequeno banco que havia perto e enquanto Emeline espalhava a espuma que havia feito, Giuseppe pegou outro sabonete e esfregou os fios escuros do cabelo, para depois apenas deixa-la tirar toda a espuma.

- Já se banhou? - Perguntou ela, quando terminou seu banho.

- Antes de vir para cá. - Respondeu ele, pegando uma toalha que estava dobrada sobre uma pequena mesa ali perto.

A ajudou a se enxugar e colocar roupas limpas e depois apenas esperou até que ela desembaraçasse o cabelo para que voltassem para a cama. Ali sob a luz das poucas velas, ele se sentou na cama, com as pernas esticadas e esperou Emeline se aproximar para fazê-la se sentar de lado em seu colo. Não fez nenhuma pergunta, dando a ela seu próprio tempo de falar.

Enquanto Emeline tinha a cabeça abaixada, procurando as melhores palavras para começar aquela conversa, sentia a mão quente de Giuseppe subindo e descendo por suas costas e a respiração dele bater contra a lateral de se pescoço. Por fim, se voltou para ele e a primeira coisa que disse foi:

- Me perdoe. Eu não confiei em você. Não no sentido de achar que poderia me fazer mal, mas no sentido de que não poderia proteger a si mesmo.

- Proteger de quê?

- De Denis Romano.

O movimento da mão de Giuseppe parou por alguns segundos, e mesmo que seu rosto não revelasse nada, seus olhos se tornaram tempestuosos, contendo uma raiva que Emeline nunca o vira exalar. Era notório o quanto ele queria esconder dela o que sentia naquele momento. Ele já sabia o que tinha acontecido, mas sem a confirmação dela, não poderia fazer nada, não poderia enfrentar Denis, não sem causar alguma consequência com a qual não conseguiria lidar.

- Não precisa me proteger. - Sussurrou ele, subindo a mão para os cabelos molhados dela.

- Eu sei, mas..., mas algo eu deveria fazer. Ou não fazer. Fiquei com medo e fui uma covarde. Tentei lidar com isso de outra maneira, tentar me livrar dele de uma forma que não te atingisse, mas ele tem pessoas me vigiando em todos os lugares. É impossível escapar dele!

- Não, não é! Me conte exatamente o que ele lhe disse.

Emeline se remexeu, ajeitando melhor a postura e praticamente ficando de frente para Giuseppe, com um tom de voz firme relatou o que havia acontecido no dia que ela encontrara Denis no corredor. Se concentrando na ameaça que ele fizera ao próprio Giuseppe. E ele escutava tudo atentamente, sem esboçar nenhuma reação, senão por um leve comprimir em seus lábios e a respiração um pouco alterada.

- Ele ameaçou fazer algo a você? - Perguntou ele, por fim.

- Diretamente não. Mas eu não me importaria se a ameaça fosse dirigida a mim.

- Eu me importaria. Ninguém... absolutamente ninguém, pode ameaça-la. Deveria ter me contado antes.

- E o que faria, Giuseppe? Ele quer mata-lo, não pode se arriscar assim!

- O maior risco que já corri foi o de perdê-la. Não estou disposto a passar por isso novamente.

Tomando o rosto de Giuseppe entre suas mãos, Emeline depositou um beijo demorado em sua testa e alisou os fios negros do cabelo, antes de pedir:

- Então me prometa que tomará cuidado.

- Apenas se me prometer que não me afastará novamente, que ficará comigo.

- Por ficar, quer dizer que...

- Quero que se case comigo, Emeline. Se esse for também seu desejo, quero que seja minha esposa.

Ela permaneceu alguns segundos estática, boquiaberta sem saber como responder, não conseguia formular nenhuma palavra, mas seus lábios a traíram quando se esticaram pala os lados e abriram um sorriso. Nunca imaginou que alguém a conseguiria deixar muda algum dia de sua vida, Giuseppe foi o único que conseguiu isso, mas de uma forma boa.

- Emeline? - Retomou ele, ansioso - O que está pensando?

- Se estou acordada.

Lentamente ele entrelaçou os dedos nos cabelos dela e a trouxe para um beijo que durou o tempo suficiente para deixá-los ofegantes novamente. Quando se separaram, Giuseppe ainda deixou sua testa colada à de Emeline, enquanto questionava:

- Foi o bastante para saber se está acordada?

- Sim.

- Ainda não me respondeu se aceita se casar comigo. Sou um pouco ansioso.

Emeline deixou uma risada terna escapar e se afastou, enquanto observava cada traço do rosto dele, dos olhos escuros ao maxilar bem marcado, os cabelos pretos e densos onde seus dedos se enroscavam.

- Eu aceito. - Disse por fim - Eu aceito me casar com você.

- Então amanhã mesmo providenciarei um anel.

- Podemos manter em segredo ainda?

Ele estranhou aquela pergunta e franziu o cenho por alguns segundos, inclinando a cabeça para o lado, perguntou em tom preocupado:

- A incomoda a ideia de saberem sobre o noivado?

- Não, não me incomoda. Mas queria resolver toda essa situação primeiro. Não quero que o senhor Romano tenha motivos para atingi-lo e anunciar um noivado justamente agora seria perigoso.

Parecendo um pouco mais aliviado Giuseppe voltou a sorrir e depositando uma mecha de cabelo atrás da orelha de Emeline, acariciou seu pescoço com os dedos leves. Deixou um beijo casto em sua testa e a trouxe para perto, a fazendo se deitar sobre seu ombro, onde ela aproveitou e se aconchegou mais, encaixando o rosto no pescoço dele.

- Minha luz, ele não pode nos atingir, isso eu lhe prometo. - Disse ele, enquanto passava um braço pelas costas de Emeline e o outro puxava as cobertas para cima - Mas se é isso que deseja, esperarei até que se sinta mais segura.

- Obrigada.

Se lhe concedessem um único pedido, Emeline sem dúvidas desejaria nunca sair dali, que aquele momento nunca se acabasse. Sentir o braço de Giuseppe lhe rodeando as costas, sentir a mão dele subindo e descendo por sua perna, fazendo uma carícia aconchegante a deixava mais calma. Ali ela se sentia segura, mas em seu âmago temia que algo arruinasse aquilo, temia que se apagasse como aquela vela que Denis soprara. Nunca se deixou dominar pelo medo, mas nunca havia enfrentado uma situação como aquela também, tentava convencer a si mesma de que era natural sentir medo em ocasiões como aquela, mas seu orgulho... ah, seu orgulho! Ele praticamente gritava raivoso dentro de si por se deixar abater, se sentia contrariada ao ser obrigada a ceder.

No entanto, naquela noite algo havia voltado a se acender dentro dela, talvez fosse sua coragem que há dias perdera. Em partes, aquele momento tão precioso a ajudara a se reerguer e voltar atrás com sua decisão de partir. Ela ficaria. Ficaria e daria até a última gota de seu sangue se pudesse acabar com aquilo de uma vez por todas.

Se perdeu tanto em seus pensamentos e no conforto dos braços de Giuseppe que sequer percebeu quando adormeceu ali mesmo, sendo embalada por ele.

Quando acordou no dia seguinte a primeira visão que teve foi Giuseppe ao seu lado, ele estava em um sono tranquilo, a respiração era lenta com o peito desnudo subindo e descendo calmamente, os cabelos estavam bagunçados, os fios apontavam em todas as direções possíveis. Emeline esticou a mão para ajeitar uma mecha que caía sobre a testa dele, com movimentos leves para não o acordar. Por um momento sentiu paz, sentiu como se só existissem os dois ali, naquele quarto, naquela casa imensa, naquele mundo, e desejou que pudesse ser assim para o resto dos dias.

Se levantou devagar, ainda o observando dormir e se arrumou sozinha, dispensando a ajuda de Denise que a chamou pelo lado de fora. Terminava de arrumar os cabelos, sentada em frente à penteadeira, quando sentiu as mãos quentes dele lhe abraçarem por trás e seus lábios depositarem um beijo em sua bochecha.

- Bom dia. - Disse Giuseppe, com a voz rouca.

- Bom dia! Como dormiu?

- Nunca dormi tão bem.... Sabia que você ronrona enquanto dorme?

- Eu o quê?

Se virando rapidamente, Emeline encarou Giuseppe com certa indignação banhando o rosto, enquanto ele tentava esconder a risada abaixando a cabeça e arrumando a camisa por dentro da calça.

- Parece uma gatinha manhosa.

- Eu não ronrono quando durmo!

- Não foi o que ouvi ontem.

- Está inventando coisas, Giuseppe.

- Como pode saber? Estava dormindo!

Se levantando revoltada, Emeline caminhou até uma poltrona e tomou uma almofada nas mãos a atirando e acertando em cheio a cabeça de Giuseppe, que havia se sentado para colocar as botas.

- E você baba enquanto dorme. - Rebateu ela, irritada.

- Está inventando isso porque não aceita seu ronronar? É até gracioso! É algo mais ou menos assim "prrr".

Dessa vez ela atirou o travesseiro que ele dormira, fazendo Giuseppe rir mais ainda da expressão indignada que ela fazia, embora também tentasse esconder a risada. Saltou sobre ele, o fazendo cair de costas na cama e se sentou sobre ele, prendendo as mãos dele com as suas. Ela permaneceu ali por alguns segundos, esperando que ele reagisse de alguma forma, mas tudo o que Giuseppe foi abrir um largo sorriso e encará-la de volta.

Quando Emeline afrouxou o aperto na mão dele, Giuseppe tocou seu rosto e baixinho disse:

- Precisamos sair, daqui a pouco tenho certeza que virão atrás de nós.

Ela simplesmente se jogou contra ele, deitando por cima e resmungou:

- Eu queria mesmo era desaparecer.

- Não apenas você. Mas precisamos começar a traçar um plano para deter Denis, seja lá o que ele esteja preparando.

Emeline ergueu o corpo e se levantou, caminhando por todo o quarto, parecendo pensativa, enquanto Giuseppe a acompanhava com os olhos, esperando até que ela lhe dissesse o que estava pensando.

- Não pode ser possível que ele apenas queira abrir as docas para um comércio ilegal, sendo um homem perverso como é não me surpreenderia se seu plano fosse ainda mais ambicioso.

- Mas o que mais ele pode querer além do que já tem? Abaixo de mim todos respondem a ele. É o primeiro ministro.

Ela estacou no lugar e por alguns segundos permaneceu estática, a pele ficando cada vez mais pálida e daquela vez Giuseppe se levantou, preocupado com ela. Se aproximou e a segurou gentilmente pelos cotovelos, temendo que ela caísse a qualquer momento.

- Giuseppe, se por um acaso acontecer algo com você... ele pode assumir seu lugar?

Desviando os olhos pensativo por alguns instantes, Giuseppe uniu as sobrancelhas e procurou as palavras certas antes de falar:

- Bom, como não tenho herdeiros e não há mais nenhum parente distante de que eu tenha conhecimento, segundo a lei do país creio que haveria uma votação. Talvez nomeassem um novo rei, ou talvez mudassem a forma de governo.

- E se ele tiver o apoio da maioria...

- Como já tem. - Completou ele.

- Também teria apoio dos donos de comércio ilícito, conquistaria também o povo. Precisamos denunciá-lo, expô-lo.

Foi a vez de Giuseppe se desprender de Emeline e caminhar impaciente pelo quarto, vez ou outra se detinha e a encarava preocupado, mas não dizia nada. Permaneceu cerca de três minutos daquela forma, até parar no meio do quarto e abrir os braços derrotado.

- Não há o que fazer no momento. Eu não posso acusá-lo sem alguma prova, o que temos é somente teoria.

- Mas você é um rei, pode acusar qualquer um.

- Não é assim que funciona, Emeline. Infelizmente aqui no nosso país até mesmo eu preciso de provas concretas para acusar alguém, principalmente algo tão grave. Inferno! Fiquei tão obcecado em descobrir se aquele era o maldito nome da amante do meu pai e achando que Denis me escondia algo sobre isso que não me concentrei no que ele poderia estar fazendo.

- Mas e se ele estiver mesmo escondendo algo relacionado ao nome dessa mulher? - Sugeriu ela, empolgada.

- Que relação esse nome ou talvez uma amante do meu pai teria com os planos dele?

- Não sei, mas se ele omite informações, se mentiu para você, significa que algo dele há nisso tudo. Se investigarmos todos os lados das histórias talvez elas se encontrem e consigamos algo.

Ainda um pouco hesitante ele concordou com ela. Parecia ainda traçar um plano em sua mente quando a voz dela soou novamente o tirando de seu devaneio:

- Disse que encontrou aquele canhoto no meio das coisas de seu pai, certo? Talvez eu possa encontrar mais coisas.

- O quarto está fechado há anos, ninguém entrou lá desde que ele morreu.

- Exceto você, não é mesmo? - Questionou ela, plantando as mãos na cintura.

Com um sorriso envergonhado, Giuseppe balançou a cabeça em concordância e por alguns segundos pareceu um garotinho travesso.

- Exceto eu. Mas eu já revirei o quarto, nada encontrei.

- Talvez uma perspectiva nova como a minha possa ajudar a encontrar algo novo.

De nada valeria tentar dissuadir Emeline, Giuseppe soube pelo olhar confiante que ela lhe lançava que ela arranjaria ótimos argumentos para qualquer desculpa que ele lhe desse. No entanto, daquela vez a teimosia dela o deixava extremamente empolgado, saber que não estaria sozinho, saber que ela estaria ao seu lado lhe bastava.

Acabou cedendo e concordando com ela mais uma vez, depois saiu apressadamente do quarto e voltou já arrumado para o dia, apenas para entregar a chave do quarto de Ettore. Parecia um pouco mais agitado e sequer terminou sua conversa com Emeline, se despediu com um beijo rápido e logo partiu.

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