4. Dama Indômita
Tendo terminado tudo Olívia foi encaminhada para seu quarto, onde Emeline se hospedaria logo ao lado. Sua dama de companhia se dedicou a desfazer as malas e arrumar as roupas no guarda roupa. Geralmente uma camareira seria designada para isso, mas ela preferia fazer isso por conta própria, assim como cuidar e ajudar sua amiga com tudo o que ela precisasse.
Olívia era a única amiga que Emeline tinha, desde criança. Elas sempre se entenderam muito bem e a ruiva era a única que sabia lidar e até se divertia com o jeito temperamental de Emeline. Ambas só queriam o bem uma da outra, e agora a morena se questionava se o rei era um bom pretendente para a amiga. Em questão de qualidade de vida, de títulos, era inquestionável o quanto ele era perfeito. Ele era o rei!
Mas pensando pelo lado sentimental... Ele não parecia tão bom assim. Não parecia alguém estável ou amável, pelo contrário, parecia alguém frio. Alguém que não sabia o que era amor há muito tempo, e Emeline sabia o quanto Olívia era romântica, o quanto ela valorizava aquilo.
Bom, não poderia julgar a situação tão prematuramente assim! Ela sequer sabia se sua amiga iria se casar com ele, até então era apenas uma visita, apenas algumas semanas ali para conhecê-lo. E se talvez essa união acontecesse, quem sabe ele poderia mudar, ou quem sabe ele apenas não demonstrasse, talvez aquilo tudo era apenas aparência.
- Está muito quieta. - Soou a voz de Olívia, a tirando de seus devaneios - Você não costuma ser assim, geralmente quando conhece um rapaz faz algum comentário de como ele é um idiota ou narcisista.
- Só estou pensando. - Respondeu, ainda ajeitando as roupas.
- Pensando em quê.
Emeline parou de mexer em um vestido rosa, se sentou na cama grande, com dossel, e ficou olhando para o nada, ainda permanecendo em silêncio por alguns segundos. Logo depois se voltou para sua amiga e franziu o cenho, perguntando:
- Não o achou estranho?
- Estranho como?
- Não sei, ele me parece um pouco... Frio. Não consigo achar a palavra certa.
- Ah... Eu só o achei um pouco retraído, mas isso é normal. Ele mal nos conhece.
- Penso que tem algo a mais. Ou talvez seja apenas a primeira impressão.
- Também creio que seja isso. Mas não podemos negar o quanto ele é bonito.
Emeline revirou os olhos e se pôs de pé novamente, retornando ao trabalho.
- Você só pensa nisso. - Resmungou.
- Ora, vamos! - Retorquiu Olívia, se jogando na cama - Ele é muito bonito e sabe disso.
- É claro que ele é bonito, eu jamais disse o contrário, mas tem que pensar em outros atributos também.
- Teremos tempo para descobrir os outros atributos... E quem sabe você ache algum duque por aqui também.
- Ah, não! Nem venha com essas ideias. - Bradou Emeline, atirando uma almofada na amiga que emitia um risinho divertido.
- Vamos, já passamos da idade de arrumar um marido. Você já tem vinte anos!
- Isso não faz diferença para mim.
- Porque espanta todo pretendente que se aproxima de você. Não vou me esquecer do pobre senhor Hawkins.
- Em minha defesa ele tinha um cérebro de ervilha... E tinha dentes de coelho!
- Pegou pesado o jogando no lago, Emeline.
- E eu lá tenho culpa se ele não tinha equilíbrio?
- Deveria ver como seu pai ficou rubro. - Olívia riu mais uma vez.
- Meu prazer é ver o desgosto dele. - Respondeu Emeline, dando de ombros.
Aquele era um hábito muito criticado por sua governanta, mas ela não se importava muito. Passou a vida toda se esquivando das tentativas falhas de suas babás em "domá-la". Nunca tiveram muito sucesso. Emeline era no máximo comportada em público, o título de dama era uma hipérbole.
- Você é pior que seu irmão, e olha que ele já tem dezesseis!
- Julius ainda tem muito o que aprender para chegar aos meus pés.
Dessa vez as duas riram juntas e tornaram a arrumar as roupas, Olívia se dedicou a ajudar a amiga, assim poderiam terminar tudo rapidamente e sair para conhecer a propriedade.
Assim que desceram novamente, tiveram de esperar um pouco do lado de fora, até que Beatrice estivesse devidamente apresentável. Aproveitaram para observar a fachada do grande e imponente palácio. Seus tijolos claros como areia eram expostos e sustentavam as grandiosas janelas que compunham toda sua fachada. O lugar parecia ser dividido em blocos, o principal possuía uma espécie de arco, como cobertura, que era sustentado por quatro grandes pilastras que levavam à porta principal de carvalho.
Os outros dois blocos, um de cada lado do principal, pareciam mais simples, mas não menos elegantes, lhes faltando apenas o arco e as pilastras. Bem em frente à escadaria branca, uma fonte com anjos esculpidos, jorrava água para todos os lados, e a estrada de cascalho devia ter no mínimo um quilômetro, levando aos portões negros da entrada.
Para onde olhavam se podia ver guardas circulando em seus uniformes azuis marinhos com detalhes em verde ciano e entralhes de dourado.
Emeline não pôde deixar de reparar que um deles lhe lançava um olhar curioso a todo momento, os olhos escuro do rapaz pareciam não conseguirem ficar longe delas por alguns instantes. Ela até o afrontaria em outras ocasiões, mas como tinham acabado de chegar, queria evitar qualquer tipo de desordem.
Foi tirada de seus devaneios pela voz urgente de Olívia, soando:
- Emie, esqueci meu chapéu! Não poderei sair assim.
- Deixa comigo. Vou pegá-lo e volto rapidamente. - Respondeu, já se direcionando para a escada.
- Não demore, por favor.
- Não irei.
Emeline continha o impulso de sair correndo para pegar o chapéu, andava cuidadosamente pelos corredores tentando não se perder naquela imensidão toda. Quando alcançou o quarto, entrou rapidamente e começou a procurar pelo chapéu mais adequado, demorou mais do que achava necessário, mas por fim encontrou o que procurar e saiu apressadamente do quarto.
Mal teve tempo de fechar a porta e começar a caminhar, e se chocou contra uma parede de músculos. Teria se desequilibrado e caído, se não fosse pelas mãos fortes que seguraram seus cotovelos e a mantiveram de pé. Emeline ergueu a cabeça a fim de se desculpar, mas perdeu totalmente a voz quando se deparou com aqueles olhos negros e profundos a encarando. Agradeceu por ele ainda a estar segurando, ou teria realmente caído.
Aquilo a incomodava, nunca havia ficado sem reação na frente de homem algum, pelo contrário, eram eles que ficavam sem reação sempre que ela estava por perto. Mas aquele homem à sua frente era diferente, ele parecia engolir toda e qualquer outra personalidade que estivesse por perto dele. A simples presença dele no ambiente deixava tudo mais pesado e... Intimidador. O que a força de um título podia fazer!
- M-majestade. - Gaguejou ela, se afastando e fazendo uma reverência - Me desculpe, não o vi. Prestarei mais atenção da próxima vez.
- Eu que peço desculpas, acabei me distraindo.
- Claro... E-eu preciso ir. Tenho que levar o chapéu para Olívia.
- Tome cuidado para não se esbarrar em mais nada.
Ela apenas concordou com a cabeça e saiu apressadamente, dessa vez não fez questão de manter a postura, andou o mais rápido que pôde, tendo a certeza de que o olhar do rei queimava em suas costas.
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