Prólogo
"A Beleza é uma tirania de curta duração"
Verão, 2006
ERA a primeira vez que via uma corrida de cavalos, seus olhos escuros como a noite brilhavam iguais estrelas e acompanhavam cada detalhe. O Turfe era um desporto muito tradicional, pois envolvia o treino dos animais, a competição e as apostas.
Quando seus pais disseram que tinham conseguido bilhetes para assistir àquele evento, seu coração tinha disparado de alegria, diferente da sua prima Jamie sentada ao seu lado e que soltava um e outro muxoxo repetidos para exalar sua indignação por estar num hipódromo naquela tarde de sábado, quando preferia ficar a estudar para entrar numa faculdade de medicina.
Darcelle era magra, com os cabelos crespos entrançados e um rosto simples e harmonioso, mas não era nada que chamasse atenção, diferente da sua prima cuja beleza saltava aos olhos de qualquer um, embora muitos afirmassem que se não fosse dona de um corpo cheio, pudesse ser mais bonita.
O hipódromo Beauchamp era constituído por pistas de corridas e alguns pavilhões. As bancadas bem organizadas estavam cheias e as pessoas empolgadas urravam a cada volta que os cavalos davam. Aquela pista em especial era em volta fechada com curvas, com um circuito fechado de um percurso de 2000 metros e continha obstáculos a serem transpostos.
Estavam a assistir o último páreo – como era chamada cada corrida, e já tinham feito alguns intervalos por conta das apostas dos sócios, simpatizantes e investidores. Era um evento especial por destacar o Grande Prémio que era disputado com calendários tradicionalmente definidos.
O locutor cuja voz ecoava pela arena já tinha anunciado partida, todos estavam curiosos para ver quem seria o grande vencedor, a medida que os jóqueis dominavam montados em suas corridas a galope. Tony, pai de Darcelle, saltou no lugar quando o cavalo Beauchamp traçou a meta em primeiro lugar, estava tão empolgado como a filha. O herdeiro dos cavalos Beauchamp mais uma vez tinha provado a razão de fazer parte da família, sempre determinado e numa forma implacável.
— Incrível! — Tony estava radiante com o seu chapéu para proteger os raios do sol alto que irradiava o céu azul opalino. Riu com a filha adolescente que também estava em pé a aplaudir com entusiasmo. Sua mulher Amabel e sua sobrinha Jamie – de quem cuidavam desde sempre, continuavam sentadas e mortalmente aborrecidas por não verem nenhuma graça naquilo.
Darcelle ainda estava em pé quando os prémios foram entregues, um jovem loiro recebia a taça dourada. Era muito alto, com um rosto muito bonito e só pela forma como se mexia dava para perceber que exalava um certo poder. Era certo que merecia ter vencido aquela competição.
— Vamos embora. — Jamie estava impaciente porque tinha a certeza de que mesmo se conseguisse a bolsa de estudos para fazer a sua faculdade de medicina no Hospital Central de Belmore, não conseguiria se manter lá sozinha até porque os tios não tinham as melhores condições financeiras. Então precisava esperar Darcelle concluir o ensino médio para deixarem San Luis Obispo e procurarem emprego e casa na maior cidade do país, a fim de poder juntar dinheiro suficiente para conseguir fazer o curso dos seus sonhos.
— Eu quero um autógrafo. — Darcelle decidiu naquele momento, pensava que tinha de ter uma lembrança daquele momento. As saídas com seus pais eram escassas, os dois trabalhavam muito e mal tinham tempo para estarem presentes, e ela gostava de guardar cada memória de tudo o que estimava.
Amabel suava e balançava a própria mão para procurar algum ar fresco, mesmo assim não deixou de menear a cabeça quando a filha saiu das bancadas e desceu os degraus em direcção a entrada principal para onde os jóqueis seguiam, mas rapidamente foi quase esmagada pela multidão que se movia de um lado para o outro.
Tony assobiou alto e ainda em risadas, colocou a mão no bolso e retirou de lá um pequeno cartão e acenou para o ar. Darcelle estava ofegante quando voltou para perto deles, pequenas gotículas de suor brilhavam na sua testa. Não entendia o que o pai queria dizer com aquele gesto.
— Isso te dá o acesso de trinta minutos no clube jóquei. Meu patrão me deu, mas como era uma espécie de buffet privado, não iria para lá sem vocês. — Justificou com um sorriso que fazia seus olhos pequenos quase se transformarem numa única linha. — Vai buscar o teu autógrafo!
A adolescente saltou no lugar e segurou aquele cartão como alguém que segura a própria vida. Quando metia uma coisa na cabeça era quase impossível de a fazer mudar de ideias, por isso sua família a foi esperar no carro que estava no parque do Hipódromo enquanto ela foi até ao clube que ficava num dos pavilhões.
Vestia umas calças jeans surradas, uma blusa de alças que se colava no seu tronco magro e umas sandálias douradas simples, o que chamou a atenção do porteiro quando ela lhe mostrou o cartão, porém sua entrada foi permitida para o interior do grande salão. Uma recepção tinha sido feita e tinha longas mesas com comidas e bebidas variadas. As pessoas conversavam com certo requinte, o assunto geral era quase o mesmo, sobre quem tinha vencido nas apostas e os elogios aos participantes.
Darcelle estava deslumbrada, sua cabeça levantada para cima a apreciar o tecto alto com pinturas muito parecidas à das igrejas, com anjos e querubins rodeados por panos esvoaçantes na cintura. Um pouco distante estava o jovem loiro, vencedor do campeonato e parado junto a uma mesa perto de outras pessoas.
Era ainda mais bonito de perto, com lábios cheios e uns ombros largos que davam uma elegância natural. Ela não era tímida de jeito algum, por isso quase correu até perto deles e esboçou um sorriso de dentes brancos e certos, quando se aproximou.
— Boa tarde. Desculpem a intromissão. — Pediu e o pequeno grupo se silenciou, curiosos pela súbita abelhudice. Uma jovem loira estava de sobrancelhas levantadas, outro moreno de cabelos bagunçados parecia ter interesse em ouvi-la. Outros jogadores também faziam parte, todos atléticos e menores de vinte e cinco anos. — Foi a primeira vez que vi um Turfe. Fiquei admirada e quero muito dar os parabéns pela vitória e pedir um autógrafo.
O loiro deixou escapar um riso nada simpático dos seus lábios bonitos, chegou a revirar os olhos e demonstrou toda impaciência do mundo. Olhou-a de cima a baixo a respirar uma certa incredulidade, franziu o sobrolho em total arrogância e sequer se mexeu no lugar.
Darcelle ainda nem tinha tirado a pequena agenda da sua bolsa de pano, pois não era burra e nem foi preciso muito para perceber que tinha sido desprezada porque o campeão lhe virou a cara e voltou a conversar com os acompanhantes ignorando-a por completo. Nem tinha sido necessário abrir a boca para lhe depositar tamanho desprezo.
— Me desculpe, mas eu falei com você. — Estava nervosa quando o questionou, suas mãos tinham ficado frias, ainda mais ao vê-lo voltar o rosto preguiçosamente e estreitar os frios olhos azuis.
— E foi claro que não intenciono responder. — Ele disse e revelou a voz inexpressiva.
— A isso se chamaria educação. — Darcelle retorquiu, sua entonação saiu um pouco trémula.
— Não a vou gastar com um estranho. Agora se me der licença. — Ele voltou o rosto novamente, ainda de nariz levemente plissado como se a estranhasse.
Um clima tenso se tinha transformado pelo lugar, mas ninguém disse nada por parecer estarem acostumados com aquele tipo de situações. Darcelle ergueu o queixo antes de dar meia volta e sair dali, mas nunca de cabeça baixa.
Era um homem bonito sim, mas de coração feio!
Oieeeeee.
Sejam bem-vindos de novo! Espero que gostem. Muitas coisas podem estranhar agora, mas prometo que vão se conjugar no futuro. Lembrem-se que se você já votou na versão passada, pode sempre comentar para dizer o que está achando da nova experiência.
Mil Beijos Embelezados.
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