O sol da manhã filtrava-se pelas cortinas do quarto de Hyunjin, aquecendo seu rosto enquanto ele despertava lentamente. Os sons familiares da casa ao redor e o cheiro de café estavam no ar, mas havia algo que fazia seu coração bater de forma diferente naquela manhã. Algo que ele não conseguia identificar.

Ele levantou-se da cama, espreguiçou-se e deu uma olhada rápida no espelho e percebendo, pela primeira vez, uma sensação de estranheza ao olhar para si mesmo.

─── Isso não está certo. — murmurou, mas não sabia bem o que estava errado. Sentia-se inquieto, como se algo estivesse se movendo dentro dele. Algo novo. Algo que ele não podia entender ainda.

Com um suspiro, Hyunjin decidiu sair. Pegou sua mochila e se dirigiu à casa de Felix, como fazia todos os dias desde que eram crianças. Não havia como negar: Felix sempre fora uma presença constante na sua vida. Eles haviam crescido juntos, lado a lado, tendo aventuras no parquinho perto da casa de Hyunjin, risadas e até as desilusões da adolescência. Nada jamais tinha mudado entre eles... ou pelo menos, ele pensava assim.

Quando chegou, Felix estava na varanda, debruçado sobre a cerca de madeira, olhando distraidamente para a rua. Os cabelos bagunçados e a camiseta de mangas curtas que ele usava, típicas de um dia preguiçoso de verão, faziam Hyunjin sorrir.

Como sempre, Felix era a pessoa que trazia uma sensação de calma, uma sensação de "casa". Mas algo havia mudado. Algo no jeito que Hyunjin o olhava. Ele sentiu seu estômago revirar por um motivo que não podia explicar.

─── Ei, Lixie! — chamou Hyunjin, tentando soar casual.

─── E aí, Hyun! Pronto para mais um dia de tédio? — Felix virou-se, com um sorriso fácil no rosto. Ele riu, um som que sempre fazia o peito de Hyunjin apertar um pouco, como se fosse um segredo entre os dois.

─── Ah, sei lá. —  respondeu Hyunjin, caminhando até ele. ─── Talvez a gente dê uma volta pela cidade ou algo do tipo. O que acha?

─── Ótima ideia. — disse enquanto abraçava levemente o amigo. ─── Vamos entrar? Quero te mostrar o jogo que eu comprei.

─── Claro, vamos.

Felix, com as mãos no bolso da sua calça moletom, abriu a porta da casa e se jogou no sofá, pegando o controle do videogame. Lee fechou a porta atrás de si assim que entrou na residência, pedindo licença em um murmúrio.

Ele retirou os seus sapatos e, com calma, se sentou no sofá. Felix entregou um segundo controle na mão do amigo, agora iniciando o jogo onde eles jogaram juntos.

─── Esse é o mais novo lançamento da franquia, você viu, não é? Cara, a variedade de carros que nem aqui é coisa de maluco! Eu queria ter dinheiro suficiente pra comprar todos os pilotos do jogo. — Felix sorriu enquanto iniciava uma corrida no jogo.

─── Eu não vi, mas parece ser legal... —  abaixou a cabeça, respirando fundo enquanto massageava sua nuca e alguns fios de cabelo, preocupado.

Felix olhou-o com curiosidade.

─── Você tá bem, Hyun? Tá com a cara estranha hoje.

─── É só o calor. — Hyunjin disse, forçando um sorriso. ─── Nada demais.

Mas mesmo após a resposta, ele não conseguiu se livrar da sensação de desconforto. A forma como seus olhos encontraram os de Felix, com mais intensidade do que o normal, fazia seu estômago se contorcer. O que estava acontecendo com ele? Ele se afastou mentalmente, tentando afastar os pensamentos desconexos.

O dia passou de forma estranha. Fizeram o que sempre faziam: andaram pela cidade, pararam em sua lanchonete favorita e conversaram sobre os planos para o futuro. Mas Hyunjin não conseguia deixar de sentir que havia algo não dito entre eles. Algo que pairava no ar, mas que ambos pareciam ignorar.

Quando o sol começou a se pôr, eles se despediram, como sempre, com um abraço apertado. Mas, dessa vez, o toque de Felix não parecia apenas reconfortante. Era como se houvesse algo mais ali. Algo que ele não conseguia entender. Algo que ele temia. Hyunjin entrou em casa e fechou a porta, tentando afastar essas novas sensações.

A noite foi longa. Hyunjin se deitou na cama, olhando para o teto, perdido em pensamentos. Ele tentou focar em outras coisas, mas seu cérebro parecia insistir em voltar ao que acontecera naquela tarde. Ao toque de Felix. Ao jeito que se olhavam agora.

Foi então que, no meio da madrugada, ele teve o pesadelo.

[...]

Hyunjin acordou de um pulo, o coração acelerado e a mente em turbilhão. O pesadelo ainda estava fresco em sua memória. Ele sonhara que estava de volta naquele campo, com Felix ao seu lado. Mas, dessa vez, algo estava diferente. Quando ele olhou para Felix, havia algo nos olhos dele, uma intensidade que nunca havia visto antes. Ele tentou falar, mas as palavras não saíam. O toque das mãos que haviam compartilhado na infância estava agora carregado de algo que ele não conseguia entender.

Ao acordar, Hyunjin se sentiu perdido. Seu corpo suava, e o quarto estava em silêncio, exceto pelos batimentos fortes de seu coração. O que aquele sonho significava? E o que ele sentia agora? Ele não sabia, mas uma coisa era certa: algo estava prestes a mudar. Algo que ele não estava preparado para enfrentar.

Com um suspiro, Hyunjin se levantou da cama. Ele precisava ver Felix. Precisava entender o que estava acontecendo com ele. Mas, mais do que isso, precisava entender o que estava acontecendo entre eles.

A amizade deles estava prestes a ser testada de uma maneira que nenhum dos dois imaginava.